Areia & Neve

Tempo estimado de leitura: 58 minutos

    12
    Capítulos:

    Capítulo 4

    Memórias de uma Vida Sofrida

    Heterossexualidade, Spoiler, Violência

    Voltei com mais um capítulo pra vocês! ^^ Esse capítulo é composto principalmente por flashbacks que contam um pouco sobre a vida de uma certa kunoichi.

    Espero que gostem!

    *Flashback*

    A neve continuava a cair no país da Neve mesmo depois de dias com grandes nevascas. Os flocos de neve cristalinos caíam sobre os cabelos dourados da menina que dançava sob a neve. Ela sorria enquanto cantava uma lenta canção de ninar que sua mãe sempre cantara para si enquanto a embalava na cama para que pudesse desfrutar de uma noite de sonhos coloridos. Usava um quimono branco e azul claro, entrando em perfeito contraste com a neve branca.

    – Apenas durma, criança...Apenas durma. – Ela terminou de cantar sua canção favorita com um sorriso de satisfação nos lábios. Foi distraída de seus pensamentos com uma movimentação atrás de si.

    – Ei, Mai! Será que dá pra você voltar pra casa agora? – Gritou Lyin. Ela, por sua vez, usava a roupa tradicional de treino dos Kirigazure. Mai já estava acostumada com a semelhança que possuía com sua irmã gêmea. Era impossível distingui-las, pois não possuíam nenhum traço diferente. O único modo de diferenciá-las eram suas roupas. Mai gostava de usar quimonos e pequenos cristais para prender em seus cabelos, e Lyin preferia roupas tradicionais de treinamento do clã. Ela parecia estar com raiva e Mai encolheu os ombros. Não gostava de ver Lyin com raiva, pois nunca vencia as brigas. – Já estou cansada de ter que ficar te procurando por aí! Anda logo!

    Mai voltou os olhos para o pescoço da irmã e percebeu que ela não estava usando o amuleto de contenção do clã. Ele servia para conter os poderes do raeghar, sendo que todos tinham que usar. Se ela estava sem o amuleto, só podia significar uma coisa: Ela havia começado seu treinamento da linhagem avançada.

    – P-Por que... está sem o seu amuleto? – Perguntou. Já sabia a resposta, mas precisava ter a certeza.

    – Não é óbvio? Eu comecei a treinar com o papai. – Respondeu ela. – O clã precisa se fortalecer mais e mais. Você devia começar a treinar também, Mai.

    – Eu? Mas, por que?

    – Pra deixar de ser criança. Devia crescer mais, sabia? – Disse a irmã e Mai encolheu os ombros.

    – M-Mas, só temos 7 anos...- Começou a dizer quando foi interrompida.

    – E o que isso tem a ver!? Você não sabe a importância que nosso clã possui para o mundo!? – Gritou Lyin, Mai estava prestes a responder, mas preferiu ficar calada. – Não, é claro que você não sabe Mai. Você só pensa em ficar aqui cantando essas músicas ridículas que a mamãe canta!

    Mai abaixou a cabeça. Aquelas palavras foi um golpe duro para a menina. O pior de tudo é que Mai sabia que Lyin estava certa, pois o clã precisava de ninjas fortes para proteger seu tão temido legado.

    – Desculpe Lyin. – Sussurrou.

    Havia perdido aquela batalha.

    De novo.

    * Fim do Flashback*

    ******************************************************

    Enquanto corria pela imensidão gelada, Mai sentia que sua cabeça iria explodir. Suas memórias invadiam seus pensamentos e ela sequer conseguia resistir. Uma dor extremamente forte surgiu em sua nuca e Mai escorregou, tombando na neve. Contorceu-se no gelo, com ambas as mãos na cabeça.

    Memórias invadiram seus pensamentos novamente...

    *Flashback*

    Fogo. Gritos. Sangue.

    A menina estava imóvel perante o portão principal da morada de seu clã. O lugar que um dia fora sua casa agora não passava de escombros e morte. Labaredas de chamas devoravam as casas e Mai arregalou ainda mais os olhos azuis. Era a primeira vez que via o fogo. Olhou para a esquerda e viu o jardim onde sua mãe costumava cantar para ela. Agora, nada havia restado daqueles momentos, somente as cinzas das flores.

    Lágrimas escorreram pelo rosto pálido da criança. Estava com tanto medo!

    Caminhou até o jardim, coberto de escombros e neve. Mas, a visão de um corpo a fez tombar no chão. Gritou. A voz infantil sequer foi ouvida em meio aos gritos do massacre. Ela reconhecia aquele corpo.

    A mulher de longos cabelos dourados presos em uma trança sorriu ao ver a criança cair ao seu lado. Seu rosto era perfeito, mas agora, depois do massacre, o raeghar havia sobrecarregado o corpo da mulher de chakra e todos os seus órgãos foram danificados, fazendo com que suas veias e vasos sanguíneos marcassem a pele branca.

    – Mamãe! Mamãe! – Mai gritava em meio ao choro. – Por que mamãe? Por que isso está acontecendo?

    Mas, a mulher apenas sorriu. Olhou para a filha e Mai viu seus olhos mudarem do belo verde para o branco com traços negros.

    – Apenas durma, criança...Apenas durma. – Cantou ela.

    Mas não houve tempo de Mai responder. O raeghar de sua mãe, sugou seu chakra e a criança desmaiou ao seu lado.

    * Fim do Flashback*

    *******************************************************

    Usando toda força que possuía, Mai levantou e continuou a correr. Seu corpo queria cair na neve, mas sabia que precisava ser forte. Precisava chegar até o esconderijo de Syren. Precisava lutar contra o selo. Sua vontade estava sendo revivida.

    Mai Kirigazure estava renascendo de suas memórias.

    *Flashbacks*

    – Mai, por favor, acorda! Mai! Por favor, mana! – Implorava Lyin, sem nem se preocupar com as lágrimas que escorriam de seu rosto. – Não morra, por favor! Fale alguma coisa!

    Mai sentia seu corpo inteiro dolorido. Se lembrava do fogo, dos gritos e da sua mãe. Seus olhos transbordaram novamente. Sem perceber, começou a soluçar baixinho.

    – Mai! Eu estou aqui, mana... – Lyin chorava baixinho junto com a irmã. Mai abriu os olhos e viu o rosto vermelho da irmã repleto de lágrimas e respingos de sangue.

    – O que aconteceu, Lyin? Eu vi a mamãe... – Soluçou de novo enquanto tentava se sentar. Lyin baixou a cabeça.

    – Sinto muito, Mai. Todos estão mortos.

    *Fim do Flashback*

    *******************************************************

    Enquanto corria, Mai deixou que uma lágrima caísse por seu rosto. Estava começando a se lembrar...

    *Flashback*

    Três anos já haviam se passado desde o massacre. Mai e Lyin agora viviam juntas, mas não tinham casa, já que o território de seu clã havia sido destruído. As irmãs se viram obrigadas a mudar para uma vila próxima e começaram a viver nas ruas com outras crianças, embora Lyin obrigasse Mai a ficar longe de todas elas.

    – Elas não são boa companhia pra você, Mai. Vão tentar roubar tudo o que puderem. – Era o que afirmava a irmã. Mas, apesar dos avisos de Lyin, Mai ajudava todas as crianças que encontrava, dando a pouca comida que Lyin conseguia para elas. Mai uma vez perguntou para a irmã como que ela conseguia comida e roupas, mas ela nunca lhe dava uma resposta. Uma vez ela também perguntou o que realmente havia acontecido com seu clã, mas Lyin dizia apenas que não era possível mudar o que já havia acontecido, portanto esse assunto continuou sem quaisquer respostas.

    Um dia, Mai caminhava pelas ruas quando ouviu um grito infantil vindo do lago. Correu e quando chegou viu uma garotinha de uns 5 anos lutando para se manter na superfície.

    – Socorro! Por favor!

    – Eu vou te ajudar! – Gritou para ela. Mas, quando começou a correr em direção ao lago sentiu um forte golpe em seu pescoço. Seu corpo encontrou o chão brutalmente e Mai soltou um gemido de dor. O ouvido zunia e ela sentia a cabeça pesar. O corpo perdeu as forças. Mas os gritos da menina persistiam.

    – Por favor!

    – Eu...- Tentou dizer, mas sua voz falhou. Sentiu braços a segurarem bruscamente pelos cabelos.

    – Olha o que temos aqui! – Disse um homem que Mai não conseguiu identificar. – Acho que essa vai servir. Costumam pagar caro por garotas com cabelos bonitos.

    – Concordo – Riu outro homem. – Mas antes, deixe que ela veja o fim da amiguinha.

    Os dois riram o posicionaram Mai de uma maneira onde ela pudesse ver a menina que gritava no lago. Ela tentava se manter na superfície, mas seu corpo insistia em ir para baixo.

    – Por favor! Me ajude!

    – Eu...Vou... – Sussurrou, mas sentiu muita dor na cabeça e sua visão começou a oscilar. A criança continuava afogando-se no lago e Mai tentava reunir forças, mas outra pancada forte na cabeça á fez cair no chão.

    A última visão que teve antes de perder a consciência foi a garotinha afogando para as profundezas do lago...Para sempre.

    –--

    Os dias se passavam e Mai não fazia ideia de para onde estava indo. Havia sido sequestrada e mantida com um saco na cabeça dolorida. Costumava chorar quando os homens que a levaram não estavam por perto. Se pelo menos soubesse lutar igual a Lyin. Agora entendia o por que da irmã sempre ter insistido pra ela aprender a lutar e a se defender. Sentia-se idiota...Mas pelo menos pagaria por seus erros.

    O som do grito do sequestrador a despertou de qualquer pensamento. Mai ouviu movimentação e som de golpes. O cheiro de sangue invadiu suas narinas e a menina encolheu-se de medo. O outro sequestrador também gritou. Mas o som foi abafado. Mai escutou apenas o som de um corte de alguma lâmina e o barulho de liquido. Prendeu a respiração quando uma mão desamarrou a corda que prendia o saco em sua cabeça.

    – Mai! – Lyin gritou e a abraçou. – Graças a Deus!

    Mai abriu os olhos e ficou horrorizada. Os sequestradores estavam completamente mutilados e Lyin estava coberta com o sangue de ambos. Lágrimas se formaram em seu rosto e ela retribuiu o abraço. Sua irmã havia matado duas pessoas para salvá-la.

    – Achei que nunca mais fosse te ver, Mai. – Ela sorriu tristemente e virou-se, ficando de costas para a irmã. Com uma das mãos segurou os próprios cabelos longos e com a outra usou a espada manchada com sangue para cortá-los. Mai arregalou os olhos.

    No clã Kirigazure havia tradições que precisavam ser seguidas rigidamente, e uma delas era cortar os cabelos quando sujasse as mãos com o sangue de outra pessoa. Era um ato simbólico, onde a pessoa admitia a todos que era um assassino e que, portanto, poderia matar quantas vezes fosse necessário. Também representava a vergonha, pois os longos cabelos dourados do clã Kirigazure representavam a honra, sendo que se estivessem curtos, a pessoas perderia sua honra e orgulho para viver uma vida medíocre matando pessoas.

    Mai queria gritar. Aquilo não poderia ser real. Lyin são podia perder a honra, que era a coisa mais importante pra ela! Isso tudo era sua culpa e ela sabia disso. Se não desobedecesse as ordens de Lyin, jamais teria sido levada.

    – Mai, está tudo bem. Vamos embora. Juntas. – Ela virou-se e sorriu para a irmã.

    Um sorriso embalado de lágrimas.

    *Fim do Flashback*

    **********************************************************

    Mai chegou no esconderijo subterrâneo onde Syren mantinha os prisioneiros e entrou. Caminhando pelos corredores, Mai sabia o que precisava fazer. O selo queimava em sua nuca e fazia seu corpo parar de responder a suas vontades, porem, Mai não se importou. As palavras daquele ninja de Suna havia despertado sua vontade e agora ela queria viver de novo.

    *Flashback*

    Mai e Lyin corriam ela imensidão gelada com saudade estampada em seus corações. Já fazia anos desde a última vez que estiveram lá. Depois do massacre, as irmãs passaram por períodos turbulentos, mas agora estavam quase superando o que havia acontecido. Mai olhou para a irmã. Os cabelos dourados iguais aos seus agora estavam curtos, representando sua desonra. Depois daquele dia, onde Lyin havia matado dois homens, Mai jurou que seria forte igual a irmã e desde então Lyin havia começado a ensiná-la o taijutsu Kirigazure e o controle do raeghar.

    Lyin nunca havia dito a irmã o verdadeiro motivo do clã ter sido massacrado. Entretanto, prometeu a ela que um dia contaria.

    O País da Neve continuava lindo. Mai sentia-se feliz com a sensação da neve pousando sobre si enquanto corria. Mas, voltou sua atenção a estrada quando sentiu uma presença a frente delas.

    – Olá, jovens. – Disse uma voz masculina. Lyin rapidamente assumiu posição de batalha á frente de Mai.

    – Lyin, já disse que não precisa me proteger. – Protestou Mai, porem a irmã não deu ouvidos.

    – Não precisa ficar com raiva, Lyin Kirigazure.

    – Como sabe meu nome!? Quem é você? – Gritou Lyin. O homem em meio a neve nada disse e nenhuma delas podia vê-lo com a nevasca que os cobria.

    – Eu sou Syren Ootsutsuki. – Sussurrou no ouvido de Lyin. Ela virou-se, assustada, mas não houve tempo para fazer nada, ele tocou-lhe a nuca e uma luz alaranjada se fez presente. – Selar!

    – Lyin!!! – Gritou Mai, correndo para atacar Syren. O corpo da irmã caiu na neve, inerte. O símbolo brilhava em sua nuca. – O que você fez maldito?

    – Eu apenas selei suas memórias. Agora vocês vão trabalhar pra mim. – Disse ele. Seu corpo transformou-se em neve e ele desapareceu.

    Mai permaneceu em alerta. Suas mãos apertavam o amuleto de contenção. Sabia que não devia usar o raeghar, mas precisava derrotar esse tal de Syren.

    – Tarde demais, criança. – A voz dele no seu ouvido a fez arrepiar-se de tensão.

    Não houve tempo para mais nada. Mai sentiu uma forte dor na nuca e de repente sentiu sua alma sendo presa dentro de sua própria mente.

    *Fim do Flashback*

    ***************************************************

    Agora tudo estava claro. Ela lembrava-se da luta contra Syren e o selamento que ele usou para que ela e Lyin o ajudasse com seus planos. Caminhou pelos corredores com uma trilha formada.

    “Ninguém precisa aceitar um destino que não quer...”

    As palavras do kazekage de Suna ecoavam em sua mente. Ela não queria aquele destino. Mai estava decidida a não ser controlada por Syren eternamente.

    Chegou até um corredor de celas e dirigiu-se para a primeira. Nela havia duas garotas. Uma era uma Hyuuga de Konoha e a outra era uma ninja sequestrada recentemente.

    – O que você quer aqui!? – Gritou a kunoichi presa. Sua colega de cela pareceu preocupada.

    – Tenha cuidado, Temari-san. – Sussurrou.

    – Escutem. – Mai lutava para pronunciar as palavras. Sentia o selamento ficar mais forte. – Eu não tenho tempo pra explicar, mas eu quero que fujam daqui.

    – O que? Você acha que vamos acreditar nisso?

    – Syren planeja matar vocês amanhã. Se quiserem viver, precisam confiar em mim. Infelizmente não posso provar que sou inocente. – Mai colocou as mãos na cabeça com a dor. Sua nuca queimava.

    Quebrou o dispositivo que mantinha as celas fechadas e todas abriram-se automaticamente.

    – Fujam daqui, vão logo! – Gritou. Os ninjas hesitaram, mas logo se puseram a correr. Havia sobrado apenas uma kunoichi chamada Temari e sua companheira de cela, uma kunoichi Hyuuga.

    – Porque fez isso? – Perguntou Temari.

    – Porque... – Ela sorriu em meio a dor. – Ninguém precisa aceitar um destino que não quer.

    – Entendo. Obrigado. Vamos Hinata!

    Elas se prepararam para fugir, mas foram surpreendidas por uma silhueta no corredor.

    – O que pensa que está fazendo, Mai!? – Gritou Syren, furioso. A kunoichi da neve, por sua vez, liberou Akyn, sua espada e se colocou em posição de batalha.

    – Eu seguro ele aqui! Fujam Temari e Hinata!!!

    Mai não deu tempo de elas responderem, correu em direção a Syren e desferiu um golpe potente em sua direção. Mas ele defendeu e acertou um chute em cheio em sua barriga, fazendo com que a kunoichi fosse arremessada contra a parede do corredor. Mai sorriu ao ver que havia conseguido liberar todos os reféns.

    Estava pronta para morrer. A única coisa que Mai ainda desejava fazer, era agradecer ao ninja de Suna pelas suas palavras.

    Mas, sabia que seu desejo não seria atendido. O ardor cresceu tanto em sua nuca que sua visão escureceu e ela caiu no chão novamente.

    – Estou decepcionado, Mai. Olha pra você...Não passa de lixo agora. Se não fosse por seu raeghar já estaria morta.

    Mai gemeu de dor ao sentir seus cabelos sendo puxados bruscamente. Syren riu.

    – Está pronta pra morrer...imprestável?

    Não, ela queria responder. Mas logo sorriu, pois pelo menos, havia sido capaz de trazer de volta suas memórias. Lutou contra o selamento de Syren e conseguiu libertar os reféns.

    Mas não estava satisfeita. Havia ficado sem respostas para muitas perguntas. Iria morrer sem saber o real motivo do massacre de seu clã...Morreria sem conseguir salvar Lyin... e, principalmente, Mai morreria sem agradecer a pessoa que a salvou...

    Naquele momento, Mai só conseguia pensar em uma coisa.

    Não estava pronta para morrer.


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