Prólogo

Estava sentada em sua velha e confortável poltrona em frente à janela que lhe dava a vista para fora de sua casa. Podia ver a neve caindo freneticamente, como se fosse a mais bela de todas, exuberante, tão exibida, que poderia causar-lhe até mesmo raiva. Mas Lucy já não se importava tanto, afinal é exatamente nesse tempo tão gélido que ela pode sentir como se suas veias não fossem mais tão altas, ou quem sabe, que sua pele não fosse tão rugosa, era naquele tempo que ela podia sentir-se jovem novamente. Gostava de sentir os ventos gélidos das manhãs frias, era reconfortante, ainda mais quando estava novamente sozinha.

A manta aveludada cobria as finas pernas, e ela segurava com os longos dedos aquele livro, tão antigo, que muitas vezes tinha de forçar a memória para lembrar o que realmente havia acontecido no momento em que a foto fora tirada ou que o pequeno trecho de palavras que fora escrito. E quando finalmente podia-se lembrar de tais memorias, sentia falta... Muita falta. Principalmente daquele homem irritante, aquele no qual a fez se apaixonar tantas e tantas vezes. E aquilo nunca se tornou algo cansativo, pelo contrário, para ela a melhor sensação do mundo era estar ao seu lado... Até o momento em que ele foi embora, deixando um vazio, e restando apenas aquelas doces e amargas lembranças, que Lucy Heartphilia teimava em recordar, para que o passado fosse mais presente e para que quando sua hora chegasse, ela realmente estivesse preparada para reencontra-lo... ‘Dignamente’.

– Não me tornei tão ranzinza quanto você dizia, não é mesmo? – A velha de cabelos grisalhos, levemente bagunçados em um coque frouxo, disse colocando a mão na foto do homem. Ela ainda podia ouvir a voz dele gritando consigo, dizendo que a mesma nunca iria sobreviver naquele lugar, e que ele acabaria a matando. “Como se ele fosse capaz de me matar...” – Pensou dando logo em seguida uma risada abafada, mesmo que dentro de si, um turbilhão de sentimentos teimava em deixa-la louca. 

Fechou os olhos, juntamente o álbum, já não estava mais aguentando, realmente aquilo sempre a abalava. Colocou o livro cuidadosamente, sobre uma pequena mesa de carvalho que se postava ao seu lado e no mesmo instante olhou para fora, dando suspiros consecutivos, lembrando-se de tudo que havia acontecido ali , um sorriso involuntário escapou de seus lábios envelhecidos pelo tempo... E lembrou-se de como tudo aquilo havia se iniciado.