Flor de inverno.
Finalmente tinha chegado. Muitos anos tinham passado, mas eu finalmente estava ali, e não iria embora por nada.
O frio e o vento aumentavam, mas tais não me fariam recuar. Puxei mais a faixa da minha cintura. O sobretudo negro que protegia o meu corpo do frio do inverno era pesado, graças a ele não sentia tanto frio.
O vento soprava forte contra o meu rosto, mas eu não me importei. Olhei em volta, tudo, definitivamente tudo, estava coberto por uma camada espessa de neve, ocasionada pela nevasca do dia anterior. E a neve voltava a cair.
Dei alguns passo para frente, e as minhas botas afundaram. Continuei a caminhar e a afundar na neve fofa. Após algum tempo de caminhada cheguei ao meu destino. Parei. Parei e fitei o galpão, velho mais bem conservado. Bem conservadas também estavam as lembranças, as lembranças daquele terrível dia de inverno, que voltavam à tona...
[FLASH BLACK -- ON]
? Estava voltando da escola, caminhava pelas ruas cobertas por uma camada fina de neve. Estava cansada depois de ter pegado dois ônibus para poder voltar para casa. E esse era o percurso que fazia todos os dias,era cansativo mais eu gostava. Com doze anos a única coisa que eu fazia era ir para a escola e voltar para minha casa no Brooklyn.Depois de uma longa caminhada cheguei em casa, e , como de costume, ela estava fazia. Já deveria ter me acostumado, mas eu ainda sentia falta deles. Tudo o que eu queria era chegar em casa e encontrar meus pais, mas eu tinha que me conformar e entender. Os dois trabalhavam muito e raras eram as vezes que ficavam em casa. Eram cientistas falidos que tinham um pequeno laboratório em um bairro bem distante do Brooklyn, pelo menos era o que eu os ouvia dizer, afinal nunca tinha ido lá.
Ao voltar para casa naquele dia fiz exatamente o que fazia todos os dias. Jantei e fiz o meu dever, mas aquele dia não iria fazer o mesmo de sempre, iria esperar os dois acordada. Liguei a televisão e assisti um filme qualquer, mas acabei adormececendo no sofá.
Quando acordei novamente já estava em minha cama, e ainda um pouco sonolenta vi minha mãe me cobrir.
- Volte a dormir, Gwen - a voz suave de minha mãe me embalou e senti minhas pálpebras pesarem - Eu te amo, meu anjo...
Foi tudo que ouvi antes de adormecer novamente.
Na manhã seguinte acordei atrasada. Como de costume minha mãe deixou meu café-da-manhã pronto em cima da mesa. O tomei o mais rápido que pude e corri para a escola.
Quanto voltei para casa naquela mesma tarde, sequer toquei no jantar ou nos livros, fui direto para a cama, queria dormir mais cedo para poder acordar mais cedo e poder ver os meus pais.
Acordei no outro dia às quatro e meia da manhã. Fui até a cozinha e ela estava vazia e sem meu café sobre a mesa, fui ate o quarto dos meus pais e eles também não estavam lá. Voltei para a cozinha e não vi nenhum papel grudado na geladeira. Normalmente quando não dormiam em casa deixavam um bilhete. Achei tudo aquilo muito estranho, mas não pude fazer nada.
Três dias se passaram sem que meus pais dessem sinal de vida. Realmente aquilo me preocupava. Eram quase seis horas da tarde e eu rondava pelo pequeno apartamento. A hipótese que poderia ter acontecido algo com meus pais rondava a minha cabeça. Então tomei uma decisão, era algo que normalmente não faria, algo que eu só faria quando se tratasse de uma emergência. Mas aquilo era uma emergência! Fui até o quarto dos meus pais e na gaveta da cômoda encontrei um cartão, era o único cartão com o telefone e o endereço do laboratório aonde eles trabalhavam. Peguei o telefone e disquei alguns números, mas ninguém atendeu, tentei novamente e não tive êxito. Uma única coisa me veio à mente: ir ate o laboratório. Peguei minhas botas e meu casaco mais pesado, busquei um par de luvas e alguns dólares. Por fim peguei o pedaço de papel com o endereço e sai. Não fazia a mínima idéia de como chegar ate lá, mas eu estava motivada.
Já tinham se passado quase três horas desde quando tinha saído de casa em busca de meus pais. Tinha pegado três ônibus e metro, mas finalmente tinha chegado à rua que correspondia ao endereço escrito no papel.
Caminhei pela rua deserta, o vento estava forte e o frio aumentava. Senti um calafrio percorrer toda a minha espinha. Eu estava assustada, não havia dúvidas, mas continuei a caminhar até chegar a um enorme galpão. O número pregado na parede era o mesmo do cartão. Engoli seco, provavelmente minha mãe brigaria comigo, mas ela me devia uma explicação. Empurrei a enorme porta que se abriu sem excitar. O lugar estava em completa escuridão, eu não conseguia ver um palmo a minha frente. Então, às cegas, fui tateando a parede, até que encontrei um interruptor, liguei-o, e as lâmpadas uma a uma se acenderam. A principio, fechei meus olhos por causa da forte luz que era emanada pelas lâmpadas brancas, mas aos poucos os abri e pude ver pela primeira vez o local aonde meus pais trabalhavam. Tudo era extremamente limpo, a principio achei estranho que cientistas falidos tivessem tantos equipamentos e que pareciam tão caros. Mas deixei isso de lado, deixei de olhar para os equipamentos e direcionei a minha atenção para o que tinha me impulsionado a ir ate lá. Andando entre os tubos de ensaio e os microscópios, eu gritava pelos meus pais sem obter respostas.
Caminhei ate o final do galpão aonde encontrei uma porta semi-aberta. Outro calafrio percorreu a minha espinha, engoli seco. A passos lentos e bem calculados adentrei no cômodo sem fazer barulho. Mas teria sido melhor não ter entrado. Logo após ter pisadp no chão de cerâmica branca, encontrei um rastro de sangue. Dei alguns passos e segui com os olhos o rastro vermelho, até que meus olhos sustados se depararam com dois corpos jogados no chão completamente ensaguentados. Eu os reconheci de imediato: Eram os meus pais.
Meus olhos se encheram de lágrimas, que caiam compulsivamente. Mesmo com a visão distorcida por causa das lagrimas, pude ver parado há alguns centímetros de distância de meus pais, um homem com uma arma em punho e um sorriso maléfico.
- O... O que a - aconteceu aqui? ? tropecei em minhas próprias palavras, o medo e o choro contribuíram para tal fato.
- O que faz aqui criança? ? a voz aveludada e ao mesmo tempo fria dele entrou por meus ouvidos me causando arrepios.
- O que aconteceu com eles?
- Estão mortos, é isso que aconteceu. ? disse secamente, e apontou a ama na minha direção, amedrontada dei um passo para trás, mas acabei caindo de encontro ao chão ? E vai acontecer o mesmo com você...
Sentada no chão completamente assustada, tentei me afastar dele me arrastando para trás. Mas minhas costas bateram na parede, não tinha mais para onde ir. Fiquei completamente apavorada quando ouvi ele gargalhar. Fechei meus olhos ainda úmidos, e reuni toda a minha coragem e força e sai correndo dali. Corri sem olhar para trás, esperando a qualquer momento uma bala atravessar o meu corpo, mas isso não aconteceu. Então continuei a correr ate não poder mais, correr ate ter certeza que estava longe o suficiente daquele monstro e daquele pesadelo.?
[ FLASH BACK -- OFF]
Treze anos haviam passado desde aquele terrível dia... Desde então venho vivendo com um único objetivo: Vingar-me.Alguns anos depois daquele dia horrendo, descobri que meus pais não eram o que eu pensava que fossem. Sim eram cientistas, mas não falidos. Os dois trabalhavam em um projeto do governo, no qual queriam discrição. Eu nunca soube exatamente sobre o que era o projeto, apenas que se tratava de algo sobre manipulação de genes mutantes.
Recentemente entrei para o FBI, e há dois anos venho seguindo o rastro do homem que tirou a vida de meus pais: Peter Rerdson. Descobri que o tal assassino trabalha no crime organizado, e que sua organização queria as tais informações que meus pais tinham tanto sobre os projetos do governo quanto sobre os tais genes. Peter Rerdson os matou simplesmente por eles não terem dado essas informações, os matou a de forma rápida e a sangue frio...
E agora treze anos depois eu estava muito próxima de concretizar minha vingança. Desde quando entrei para a policia há seis anos atrás eu venho sonhado com esse dia. Aos pouco subi de nível até chegar ao FBI, aonde cuido e mando em meus próprios agentes. Mas agora estava em uma missão individual, e daria tudo para conseguir meu objetivo: decapitar aquele infeliz.
Voltei a caminhar sobre a neve, até chegar na frente do velho galpão. Parei. Finalmente tinha chegado à hora. Respirei vitoriosa, e segurei firme o cabo de minha espada. Sim, uma espada presa em minha cintura. Mesmo com um arsenal de armas a minha disposição, escolhi a espada. Sempre admirei a arte dos samurais, e segundo por que queria tirar a vida dele com minhas próprias mãos, mas por precaução havia colocado um revólver na parte de trás de meu cinto.
Dei mais alguns passos para frente e parei na frente do portão... Eu estava disposta a entrar lá e tirar a vida dele, mas tinha a noção que poderia sair de lá sem a minha vida, mas era um risco que eu teria que correr.
Com violência arranquei a corrente que perdia a porta, e empurrei a mesma com força fazendo com que batesse com violência na parede. O vento soprou forte balançando meus cabelos negros, respirei fundo, estava pronta.
Adentrei no lugar pouco iluminado e que cheirava a mofo. Entre os caixotes de madeira, exatamente no centro estava ele. Parado, imóvel. Eu havia conseguido uma informação que ele estaria ali esperando por um de seus aliados, mas ele não teria aquele encontro.
- Estava esperando por você! ? a voz aveludada dele invadiu meus ouvidos.
Ele estava exatamente igual há treze anos atrás, parecia não ter envelhecido um único dia. O cabelo castanho-claro e comprido cobria metade de rosto.
- Você é a garota que vem me seguindo há alguns anos, eu te admiro afinal você conseguiu encontrar meu esconderijo duas vezes, mas eu consegui fugi. ? ele levou a mão ao rosto e jogou o longo cabelo para trás, me possibilitando ver por completo suas duas orbes azuis. ? Eu estava te esperando, cansei de fugir... Por que me persegue durante tantos anos?
- Não se faça de cínico, seu miserável... Você sabe muito bem porque, você matou meus pais agora vai pagar! ? respondi com ódio, aquela conversa toda estava me deixando irritada.
- Você é aquela garotinha do laboratório? Se eu soubesse que ficaria assim tão gostosa não teria te deixado fugir.
Fiquei enjoada, senti os olhos dele percorrem todo o meu corpo. Fitei-o com repulsa, a pele branca, os cabelos longos, lisos e castanhos, e os olhos de um tom assombroso de azul. Vários anos haviam se passado, mas ele tinha se tornado extremamente atraente. Nojento, assassino e atraente.
- Calado! Eu não vim aqui para conversar, vim te matar! ? arranquei meu sobretudo, precisava de liberdade para realizar meus movimentos. ? Espero que esteja pronto para ter a cabeça decapitada ? tirei minha espada da bainha e me pus em posição de luta, minha espada era velha, mas a lâmina era extremamente afiada.
- E acha que será assim tão fácil? - Ele sorriu ao terminar a frase, era óbvio que ele não acreditava em minha determinação.
- Vou morrer tentando.
Fiz menção de atacá-lo, mas antes que pudesse realizar qualquer movimento um caixote de madeira voou em minha direção. Esquivei me, e vi o caixote se quebrar ao bater com violência no chão. Fitei Peter Rerdson, seus olhos tinham um brilho excepcional.
- Realmente foi uma pena ter te deixado fugir... ? os olhos dele percorriam meu corpo com mais intensidade.
O meu casaco agora jazia no chão, me arrependi amargamente de ter me desvencilhado dele. Os orbes azuis dele pareciam querer me devorar.
- Você me causa nojo, mata, rouba e ainda por cima é um pervertido.
- Minha querida Gwen, esse é o seu não, não é? Eu mato e roubo por prazer, mas tenho que confessar que me arrependerei amargamente por ter que coloca-lá em minha lista. ? ele sorriu um sorriso aberto de dentes perfeitos.
Ainda sorrindo, eu o vi pegar um dos caixotes e jogá-lo em minha direção. Afastei-me e assim que o caixote atingiu o chão, eu o segurei com o pé, e o empurrei da direção de Peter. Ele era rápido e se esquivou com habilidade, mas enquanto ele se distraía com o caixote me aproximei com um salto e segurando com força a espada. Mas, como antes, ele conseguiu se esquivar com categoria. Assim que atingi o chão, rodei sobre meus calcanhares e estendi a lâmina da espada. Ouvi um gemido de dor.
Parei de rodar e abri os olhos devagar, e vi o corte longo, mas superficial de seu peito. Olhei para a espada, na ponta da lâmina escorria o sangue de Peter, mas ainda não era o suficiente. Eu iria tirar todo o sangue dele, até não sobrar uma única gota.
- Sua puta! ? as palavras grosseiras dele não me atingiram.
Peter levou a mão ate o corte de seu peito, analisou o sangue e gemeu de dor novamente. Sorri vitoriosa.
- Espero que goste do inferno! ?gritei furiosa.
Coloquei-me em posição de batalha e ataquei. Dessa vez ele não teve tempo de se esquivar, minha espada atravessou seu corpo. Não tinha conseguido acertar seu coração, mas pela lamina da espada seu sangue escorria e pingava no chão.
- Morra seu des... ? não consegui terminar o insulto, senti um desconforto acima do diafragma.
- Eu não vou morrer sozinho. ? ele sorriu abertamente e o sangue escorreu por seus lábios.
Abaixei meu olhar e vi o cano de um revólver encostado no meio do meu peito. O tiro disparado pela arma de Peter havia me acertado. A dor aumentou, larguei a espada e dei um passo para trás. O corpo de Peter caiu de encontro ao chão,ele gargalhava.
- Espero que no inferno exista espaço suficiente para nós dois...
Ignorei o que ele dizia,a dor era maior naquele momento do que a repulsa. Levei minhas mãos até o ferimento,pelo mesmo escorria uma quantidade enorme de sangue,e na minha boca aquele gosto era dominante. Ouvi um baque e senti uma pontada aguda perto do estomago,ele havia me acertado outro tiro,mesmo a beira da morte ele ainda tinha forças para atirar pela segunda vez em mim. Gemi de dor,o gosto de sangue em minha boca aumentou,minhas pernas estavam fracas,mas eu não cairia de joelhos na frente dele. Levei uma das mãos até a parte de trás de meu cinto e peguei a arma, apontei na direção de Peter, não deixaria que vivesse nem mais um segundo.
- Isso atire...O que vai ganhar me matando? Tudo que conseguiu é uma passagem só de ida para o inferno junto comigo,sua vadia...
A voz de Peter foi calada pelo barulho do tiro. Acertei em cheio no meio de sua testa. Ele finalmente estava morto. Sorri, deliciando me com o gosto da vingança, mas a dor soou estridente. Larguei a arma e levei novamente as mãos aonde o sangue escorria abundante. Gemi de dor dessa vez mais alto, minhas pernas estavam ainda mais fracas e a minha visão se escureceu por um momento. Fitei com ódio o cadáver de Peter, com um buraco na testa e outro no peito, eu iria morrer mais não junto a ele.
Cambaleante e fraca me arrastei para fora do galpão, deixando para trás um rastro de sangue, meu sangue. Quando finalmente sai do velho galpão, o vento forte bateu em meu rosto, a neve voltara a cair se tornando uma forte nevasca. Dei alguns passos sobre a neve, até que não aguentei e cai de joelhos sobre a neve branca.
Eu sentia cada órgão do meu corpo morrer... Sentia cada um dos meus sentidos sumirem aos poucos. Olhei para minhas mãos ensangüentadas, o meu sangue havia se misturado com o dele. Com um pouco de esforço levantei a cabeça e forcei minha visão. No meio da nevasca, um pouco distante de mim, pude avistar uma das coisas mais linda que já vira: uma árvore completamente congelada. Nas pontas congeladas dos galhos haviam se formado pingentes de gelo. Aquela visão me trouxe a lembrança do dia mais feliz que eu já tivera... Tinha sete anos e passeava com meus pais pelo coração New York, fomos até uma praça onde vi a coisa mais linda, uma árvore completamente congelada. Haviam outras no mesmo estado, mas nenhuma tão bela quanto aquela. Aquele foi o dia mais divertido que já tive, brinquei com meus pais até adormecer sobre a neve... Um sorriso irônico surgiu em meus lábios, à lembrança do dia mais feliz de minha vida se misturava agora com o gosto do sangue.
Tudo aquilo sumiu de minha mente quando senti uma dor aguda no peito. Gemi de dor e cai para frente, sentindo o ar me faltar. Eu iria morrer, não tinha ilusões quanto a isso, mas não tinha certeza se iria morrer por causa da hemorragia ou de hipotermia.
Senti a neve acariciar meu rosto. Ela não merecia. Algo tão puro quanto à neve não merecia se misturar com o meu sangue imundo e com meu corpo desprezível.
Tentei erguer a cabeça para olhar pela última vez aquela árvore congelada, que um dia havia me feito muito feliz. Quando usei de toda a minha força para olhar para a árvore, vi em minha frente algo tão belo quanto. Um pequeno botão vermelho crescia na neve. A pequena flor tentava a todo custo conseguir se desenvolver e tornar uma flor, mesmo que tudo conspirasse para que tal ato nunca acontecesse. Uma lágrima escorreu por meu rosto, não consegui mais manter a cabeça erguida e a deixei cair sobre a neve.
Utilizei minhas últimas horas de vida para pensar em tudo que havia feito nos últimos anos.Eu havia vivido com o único objetivo de matar um homem que havia acabado com minha vida... Esse era o diário de minha vida nos últimos treze anos, e agora que eu finalmente havia alcançado meu objetivo o que faria? Esperaria a morte chegar, não podia fazer mais nada.
Mas o que eu realmente havia conseguido com a morte de Peter Rerdson? Vingar a morte de meus pais? Mas meus pais realmente queriam isso? Que eu saísse por ai com o único objetivo de matar? Provavelmente não... Eu nem ao menos tive a chance de desfrutar de minha vingança, afinal, ele também havia acabado comigo. E agora depois de tanto anos de rancor de ódio, eu estava jogada esperando a morte chegar...
Talvez se eu tivesse encontrado aquele botão de rosa há alguns anos atrás, nada disso teria acontecido. Eu deveria ter aprendido com ele, a lutar mesmo que não tivesse mais ninguém a me encorajar, mesmo que todos já tivessem ido e apenas eu havia ficado. Eu deveria ter lutado pela minha vida e não para tirar a vida de outro. Aquele pequeno botão me mostrou, tarde demais, que mesmo quanto tudo estava perdido eu não podia perder a fé de que tudo acabaria bem. Aquele botão provavelmente morreria e não chegaria a se tornar uma rosa antes da chegada da primavera, mas ele não deixaria de tentar se tornar algo melhor. Eu deveria ter feito tudo ao contrário, deveria ter me tornado tudo que meus pais sempre esperavam que eu fosse, deveria ter me tornado alguém melhor, porque, depois que matei Peter Rerdson, só havia me tornado alguém tão desprezível, fútil e horrível quanto ele. Eu não deveria tê-lo matado, claro deixá-lo impune também não era o correto, mas quando tomei a decisão que matá-lo seria a melhor opção, eu havia me tornado um ser repugnante. Eu deveria fazer tudo aquilo, mas não fiz.
Comecei a chorar compulsivamente, a dor dos ferimentos era grande, mas não tão grande quanto à da alma. Eu estava morrendo aos poucos, utilizando a neve como meu leito. Eu estava morrendo de forma lenta e dolorosa, a forma mais adequada para um lixo como eu morrer, sentindo a agonia da morte que nunca chegava.
Minha visão estava embaçada por causa das lágrimas, mas era tomado por uma mancha negra. Vi na minha frente à figura de meus pais. Sorri, porque eles sorriam, esperavam por mim de braços abertos.
Acho que Deus nunca gostou muito de mim, ele havia me feito sofrer durante intermináveis anos, mas naquele momento o sofrimento começava a desaparecer. Eu esperava que ele tivesse pena de mim e que tivesse amor pela aquela flor, que visse a minha morte como um sacrifício para que ela pudesse continuar a viver. Eu sabia que o Céu não era o lugar para mim, mas ter a chance de ver pela última vez meus pais encheu minha alma de alegria. Sentia-me livre de todos os erros que havia cometido, e ,mesmo sem muita esperança, ansiava poder ficar com eles aonde quer que eles estivessem.
Editado e Postado por Mal_com_U