Capítulo 02 – O reencontro na “Magica”
Boquiaberta, Homura não consegue tirar os olhos do rosto de Tatsuya. A “Magica” era uma cafeteria que ela frequentava quase todo santo dia, um lugar que não tinha como acontecer algo de diferente ou surpreendente de tão comum e cotidiano que se tornara aquele café da manhã naquela mesma mesa. Acontecimentos anormais, como encontrar alguém que não vê há mais de oito anos, não deveria ocorrer durante um processo rotineiro de sua vida. Depois de um sorriso tímido dele, o olhar de Homura baixa para cadeira à sua frente, e estendendo o braço com a palma da mão para cima, oferece o lugar para o rapaz. Posiciona-se na frente dela e agradece-a, agora, com um sorriso amável sem falsidades, chegando a parecer infantil de tão ingênuo e puro que aquelas perfeitas dentições conseguiam demonstrar.
Por uma fração de segundos, o sorrido de Tatsuya hipnotiza Homura, quebrando o efeito rapidamente pela contorção do rapaz para tirar a mochila das costas. Devagar, ela pega a asa da xícara de café ao lado do notebook e leva até a boca, onde percebe o gosto vazio do nada. Do mesmo modo, coloca o utensílio de volta e, com uma leve força, respira o ar discretamente para expira-lo, impondo ao cérebro e coração que acalmassem. Não queria acreditar, mas estava nervosa por ter reencontrado o irmão, ou melhor, o antigo irmão de Madoka. A visão nada de um lado para o outro como se fosse o melhor modo para encontrar um assunto que não desse para sentir a alienação de oito anos existente entre eles, sendo uma sensação muito esquisita e desconfortante comunicar-se com alguém que não conversava havia anos. Mas, tendo ou não o mesmo incômodo, Tatsuya exprime as primeiras palavras.
“- Há quanto tempo, Homura-san.”
A voz suave, mas que emanava a masculinidade do rapaz, fez Homura lembrar-se de quando ele ainda conversava como uma criança, com tom indeterminável, se era de menino ou de uma menina.
“- Pois é, olha como você cresceu!” Seguido da frase do Tatsuya, a nervosidade e preocupação de alguns segundos atrás evapora parecendo ter sido tudo uma mentira. Não perdendo a oportunidade, Homura conecta a conversa com um jeito alegre. “- Quando o vi pela ultima vez você ainda era uma criança fofinha e bonitinha que mal tinha chegado na pré-puberdade.”
“- Realmente, pensando bem, eu só tinha onze anos.” O semblante que mantinha o sorriso ingênuo emana a tristeza, uma tristeza sentida e guardado durante vários e vários anos. “- Na minha lembrança, foi o ano que a vi pela ultima vez...”
Novamente, Homura perde a fala. Não tinha como não perder. Após mudar-se para cidade de Akiyuki, o excesso de trabalho na “Magica Quartet” impedia-a de entrar em contato com a família Kaname, e depois da quebra do celular, em que perdeu todos os contatos, tornou-se algo sem sentido, fazendo o corte do ultimo laço existente entre ela e Mitakihara, e talvez, com Madoka. O pedido de desculpas insistia em parar no meio da garganta, sabia da sua culpa, mas sentiu que não era isso o desejo do rapaz. Quieta, espera somente o que ele tinha a dizer.
“- Você vem sempre aqui?” Uma máscara parecia cobrir o rosto infantil de Tatsuya, trocando a hora que quisesse por qualquer tipo de sorriso que os lábios deveriam formar.
Exposta repetidamente àquele rosto alegre, a única ação de Homura foi responder da maneira mais gentil à pergunta dele.
“- Sim, o café da manhã nessa cafeteria tornou-se um vício para mim. Recomendo o croissant junto com o café daqui. E você, costuma vir muito aqui? ”
“- Na verdade, não. Passei a noite passada inteira na casa de um amigo terminando o trabalho da faculdade, aí para reabastecer as energias, resolvi passar na cafeteria mais próxima para uma refeição.”
“- Faculdade? O que você está cursando?”
“- Estudo artes na federal. Já estou no terceiro ano.”
De repente, mais lembranças revivem na mente de Homura. Lembra-se de Tatsuya, ainda criança, desenhando na terra do parquinho com um graveto de árvore. Os rabiscos pareciam formar a figura de uma menina sorridente, que o pequeno Tatsuya chamava de Madoka. Já nos primeiros anos de vida, o garoto demonstrava vocação para seguir o caminho das artes.
Os pensamentos de Homura são interrompidos pela aparição da garçonete na mesa. Ela retira da bandeja um pratinho de pão de queijo e uma caneca de chocolate quente colocando, de modo devagar, na frente de Tatsuya. Inclinando o corpo para frente, deseja-lhe uma boa refeição e segue para uma mesa perto da entrada atendendo uma moça loira. Homura verifica se não tinha mais ninguém ao redor de sua mesa, e voltando a olhar o rapaz, prossegue com a conversa.
“- Está gostando?”
Seguido de um gole no chocolate quente, coloca a caneca na mesa e responde a dúvida de Homura.
“- Gosto sim. Apesar de que, ultimamente tenho matado algumas aulas por causa de matérias com conteúdo chato.
Homura sorri como se estivesse olhando para uma criança e fala com um tom de voz malicioso.
“Quem diria, aquele menininho bonitinho matando aula. Se seus pais soubessem não iriam gostar nem um pouco.”
Risada do rapaz paira no ambiente, e acalmando-se, expõe os brancos dente formando mais um de seus maravilhosos sorrisos.
“- Homura-san, eu não sou mais uma criancinha de três anos de idade.”
Por um momento, Homura é mais uma vez absorvida por aquele sorrido charmoso no rosto infantil do rapaz, sentindo de imediato a temperatura de seu corpo aumentar. Mas a sensação logo fora esquecida. Tatsuya pegara a caneca de chocolate quente para dar mais um golo e sorrir como uma criança que bebia algo deliciosamente doce. Ela coloca a mão na testa e balança a cabeça para os lados não acreditando no que viu. Ele podia ser bonito e fazer o seu tipo, mas era óbvio que era jovem demais para uma mulher de trinta anos. Não que isso fizesse alguma importância para ela.
Desviando o olhar para tela do notebook, ainda ligado, um suor resvala pelo rosto arredondado de Homura. Com uma expressão assustada levanta da cadeira e leva a mão até o encosto do assento ao lado para pegar a bolsa bege pendurada, e sem desligar o computador, fecha e enfia-o dentro da bolsa. Dá uma olhada para Tatsuya, e com a expressão ainda assustada, fala.
“- Desculpe-me, Tatsuya-kun, mas tenho que correr para o trabalho. Perdi a hora.”
Agarra o capacete do chão e segue a passos largos para o balcão para efetuar o pagamento da refeição. Sem esperar os agradecimentos da garçonete, sai apressada pela porta de vidro em direção ao hyper sport preta, estacionada bem na frente da cafeteria. Ajeitando a bolsa no ombro, ergue o capacete acima da cabeça para coloca-lo. Nesse momento, Tatsuya sai do estabelecimento como um touro em direção à Homura, agarrando seu braço esquerdo impede-a de colocar o capacete. Ela olha surpresa para o rapaz, não fazia a menor ideia do porque daquele ato no momento em que ela estava prestes a seguir caminho para a empresa.
Baixa, de vagar, os braços até a altura do peito e olha para o rapaz com uma expressão nem um pouco amigável. Percebendo o que acabou de fazer, Tatsuya solta o braço dela e pede desculpas com uma voz lânguida, desviando o olhar do rosto da mulher de cabelos negros. Para acalmar os nervos, Homura solta um suspiro e pergunta com sua voz serena de sempre.
“- Algum problema? Eu disse que estava atrasada para o trabalho. Se tem algo a dizer, fale logo.”
Em silencio, Tatsuya olha para o chão sem dizer uma palavra. Nesse instante, o coração de Homura dá um salto e começa a acelerar os batimentos. Uma despedida totalmente injusta com o rapaz. As palavras ditas por ele há alguns minutos atrás ecoam pela cabeça junto da lembrança da ultima vez em que se encontraram, ou seja, o dia da despedida há oito anos atrás. Para Tatsuya aquele acontecimento marcou a vida dele, se não, nunca teria nascido as diversas expressões de tristeza que esboçaram a face do rapaz. O desaparecimento de uma pessoa que considerava uma amiga, talvez até melhor amiga, foi um fato suficientemente expressivo para marcar um trauma no coração de um garoto de onze anos de idade. E novamente, Homura estava prestes a cometer o mesmo erro, sumindo sem dar uma garantia de um reencontro.
A garganta move-se para engolir em seco o ar dentro da boca, e como se em fim as palavravas subissem querendo sair pra fora, Homura diz.
“- Me perdoe, Tatsuya-kun.”
O rapaz que se mantinha imóvel levanta o braço e leva a mão até a cabeça, segurando firme uma parte do cabelo. Ainda com o olhar na direção dos pés, começa a falar com um sorriso autodepreciativo nos lábios.
“- Tive minha primeira namorada aos quatorze anos. Uma garota do primeiro ano do ensino médio que tinha longos cabelos negros e charme de mulher mais velha, mesmo que a nossa idade diferisse somente em um ano, conseguia sentir a presença dela como sendo de uma mulher madura.” Soltara o braço como se tivesse perdido as forças, ele ergue a cabeça e olha para Homura com o mesmo sorriso desconfortante preenchendo a face. “- No começo, foi bom. O que tinha para aproveitar de um namoro jovial consegui aproveitar. Mas não durou mais que seis meses. De repente, aquele namoro pareceu tudo muito falso e fútil como se estivesse gastando tempo e energia em algo que nunca me faria feliz.”
Parecia como se Homura compartilhasse dos mesmos sentimentos de Tatsuya. Aquelas sensações ela já sentiu com diversos homens com quem se relacionou. O vazio que um relacionamento se torna depois de alguns breves meses, a repugnância repentina por ter cedido o seu corpo a um individuo que era totalmente desconhecido, e a mistura de alivio e ódio após uma fácil e sem graça separação.
“- Enquanto não for possível encontrar um significado no relacionamento com sua parceira será tudo vazio e insignificante.” Tatsuya dá uma breve pausa para respirar o ar, levemente fresco da manhã, em seguida, forma em seu semblante uma expressão séria e determinada. “- Homura-san, acho que esse significado que eu tanto esperava está em você.”
Com olhar surpreso, Homura só consegue esperar pela próxima frase do rapaz.
“- Seja minha amada, Homura-san.”
O Sopra do vento faz balançar as longas madeixas de Homura, refrescando, juntamente, o cálido corpo por baixo do terno preto. A sensibilidade do coração e da mente, na hora que recebia uma declaração amorosa, deixava-a inoperante por segundos, parecendo processar as palavras do indivíduo. Certamente não era a primeira vez, então, a próxima etapa seria sentir uma satisfação pessoal por ter atraído e conquistado a atenção de um sexo oposto. Mas, naquele momento, a figura de um garoto dez anos mais jovem cortara totalmente o meio para a vanglória. O fato da idade era o de menos, o que mais afetou Homura foi a declaração amorosa ter saído da boca do irmão de Kaname Madoka. O passado, depois de oito anos, percorre o tempo trazendo fragmentos da cidade de Mitakihara como se quisesse prender, ou talvez, salvar Homura de uma grande maldição que persiste desde a divinização de sua amiga.
Coloca o capacete no banco da moto e começa a vasculhar a bolça bege em seu ombro, retirando de dentro um smartphone preto. Passeando o dedo pela tela, Homura, com um tom sério na voz, diz.
“- Me passa o número do seu celular.”
Pego totalmente desprevenido, não era o que Tatsuya esperava ouvir dela. “Sim” ou “não”, de modo mais curto, seriam as únicas respostas para esse tipo de situação. Mesmo observando-a com um olhar insatisfeito diz com a mesma voz suave o número do celular, em seguida, retira do bolso da calça jeans um smartphone menor que da Homura.
“- Qual é o seu?” Inexistia qualquer tom de brincadeira na voz do rapaz.
Por um instante, Homura pensa estar diante de um caçador silencioso disposto a atirar se a presa tentasse fugir. Tentando não fazer movimentos bruscos ela diz, calmamente, seu número, registrado rapidamente por Tatsuya.
“- Tatsuya-kun, entenda o meu lado. Preciso pensar melhor sobre o que você me disse. Te ligo para marcarmos um almoço ou qualquer coisa assim.” Antes que o rapaz dissesse algo, Homura deixa bem claro quais eram suas intenções.
“- Tenho consciência que foi algo repentino, mas não se esqueça que sou apaixonado por você, Homura-san. Sempre fui apaixonado.”
Sobre o olhar penetrante do rapaz, um sorriso discreto esboça a feição de Homura que, já há algum tempo, mantinha um semblante preocupado e rígido.
Guardando de volta o smartphone preto, pega o capacete em cima do banco da hyper sport e enfia na cabeça, baixando, por fim, a viseira transparente. Com um leve balançar da mão, Homura despede-se do rapaz, que voltara a mostrar aquele lindo e ingênuo sorriso. E sobe na mota acelerando para pegar o caminha em direção ao trabalho, já atrasado mais de quarenta minutos.