Único

-las; e sua boca — ah! Sua boca era um tanto longa e meio esbranquiçada, principalmente nos seus cantos. Dela saía alguns barulhos indefinidos, enquanto seus cílios longos davam a impressão de estarem se mexendo a cada ruído solto.

Nico di Angelo era bonito. Mas era de uma beleza um pouco fora do convencional.

Esse mesmo garoto gostava de passar a imagem de que era uma pessoa fria.

Ele sempre tentava convencer a todos que era sim forte sozinho e não precisava de ninguém. Ele sempre mantinha a postura de não ligar para nada. Ele sempre parecia um tanto... Cruel.

E com isso Nico realmente convencia a todos que estava melhor sozinho. Droga — ele conseguia convencer até a si mesmo disso.

Mas Jason Grace, o precioso filho de Júpiter, conseguia ver através da máscara de Nico.

  O ex-praetor sabia que Nico não precisava da solidão e de ser taxado como estranho, como acontecia nos momentos em que ele passava no acampamento. Não, não. Ele precisava de amizade. De amor. Nico precisava de alguém que o fizesse entender que ele merecia sim ser feliz e que não era só um saco de desperdício de ar.

Jason Grace estava disposto a ser a pessoa que faria isso. Mas diferente do que todos achavam, isso não era por pena.

E no meio de tudo isso, Nico já havia começado a gritar em seu sonho.

Seus gritos eram quebrados e terríveis, vindos sempre com várias lágrimas. Eram nesses momentos que Nico demonstrava o quão frágil ele estava depois de tudo. Eram nesses momentos que sua máscara quebrava e ele se sentia derrotado e com medo. Muito medo. Porque era tudo tão escuro...

Depois de Nico começar a gritar, não demorava para Jason adentrar o chalé 13 correndo.

— Hey, Nico... — O loiro murmurava, traçando leves círculos nas bochechas molhadas de Nico, que soluçava desesperadamente. — Siga a minha voz, ok? Vamos contar então. Que tal do 70? Ok, vamos lá. 70, 69, 68...

Jason continuava contando, mesmo quando o garoto começava a engasgar em seu próprio choro. Agora, as mãos do loiro já estavam acariciando os cabelos negros e rebeldes de Nico, num gesto protetor.

— 92, 91, 90... — Nico sussurrava. Era normal ele se perder nas contagens, porque era assim que ele se sentia quando voltava ao normal. Perdido.

Era sempre nesses momentos que Jason se enfiava debaixo das cobertas e abraçava fortemente Nico, lhe dizendo o quão bom e importante ele era, enquanto o outro afundava contra seu peito e chorava.

— Quer falar sobre? — Jason murmurou, agora fazendo carinho em suas costas.

— Não. — O garoto moreno fungou. Nico passou os braços pela cintura do filho de Júpiter e entrelaçou suas pernas, puxando-o para mais perto. Ele respirou o cheiro de Jason, sentindo-se ficar mais calmo. Nico sabia que aquela posição que ele compartilhava com Jason era bastante íntima; talvez Jason não tivesse ficado daquele jeito nem com Piper. Nico não ligava. Ele só...

Era disso que o filho de Hades precisava. Jason não tinha nojo nem medo de tocar em si e sempre ficava lá, acariciando suas costas e seus cabelos, murmurando palavras gentis ao pé do seu ouvido, enquanto puxava cada vez mais o garoto contra si.

Jason era o único que podia acalmar totalmente Nico.

Mas do mesmo jeito que Jason era o apoio de Nico, Nico era o apoio de Jason.

Por mais que Jason tivesse toda aquela pose de herói, ele era inseguro.

Ele também se sentia abandonado.

Era egoísta de sua parte, mas ele sentia raiva de Júpiter e de Thalia. Principalmente de Thalia. E de sua mãe também. Porque os três haviam o abandonado. E essa sensação era terrível.

E depois que ele e Piper terminaram, as coisas não melhoraram.

Todos esperavam que Piper e Jason ficassem juntos para sempre. Levando isso em conta, foi um grande choque para ambos os acampamentos quando os dois decidiram seguir rumos diferentes. Ainda havia várias pessoas que não entendiam que eles tinham terminado para valer e ficavam dizendo que os dois logos se resolveriam porque eles eram um belo casal e... Por favor, parem.

Jason, de fato, era o típico herói estereotipado — talvez até mais que Percy — e Piper era como sua, bem, como a sua princesa.

E ele odiava tanto isso.

Jason não queria ser o herói de todos. Ele só queria ser um campista normal e não ter medo do que os outros iriam achar dele.

Mas não.

Ele não podia fazer isso porque todos o enxergavam como uma espécie de mini-deus. Jason era um líder nato e tinha sempre que se portar daquele jeito e ser perfeitamente perfeito.

Tem ideia do quanto isso o sufocava?

E era sempre nesses momentos que Jason ia procurar o filho de Hades em seu chalé.

Era naqueles momentos que Jason se deitava na cama de Nico di Angelo e deixava o outro garoto abraça-lo enquanto acariciava suas madeixas loiras.

E então Jason falava. Ele falava sobre como odiava suas responsabilidades e o quanto odiava ter que se esforçar ao máximo para agradar a todos.

Nico sempre ficava calado, mas Jason sabia que ele ainda o ouvia. E quando Jason concluía seu desabafo, Nico ainda continuava em silêncio, às vezes abraçando Jason um pouco mais forte.

Era nesse silêncio que os dois simplesmente ficavam aproveitando a companhia um do outro.

Tanto Nico quanto Jason sabiam que os laços que compartilhavam eram bem maiores do que os de uma simples amizade. Eles também tinham quase certeza que num futuro não muito distante eles poderiam até ter algum envolvimento mais romântico.

Mas nenhum deles estava pronto para isso. Principalmente Nico, que ainda se odiava. Se ele não gostava de si mesmo, como iria gostar de outra pessoa?

Então enquanto isso não acontecia, Jason ia continuar desabafando com Nico e aproveitando o seu cheiro de naftalina; enquanto Nico ia continuar a se agarrar em Jason em meio aos seus piores pesadelos e só relaxar quando finalmente sentisse o cheiro de limpeza que Jason exalava; porque depois de tudo que eles passaram, os dois não eram fortes o suficiente para viverem separados novamente.