Nesse capítulo a Juvia e o Gray se conhecem um pouco mais. Já tivemos um leitor(a)!!!
Espero que gostem. :)
Depois do meu choque inicial ao reconhecer o Gray, e um silêncio constrangedor que perdurou por alguns segundos, eu finalmente me pronunciei.
– Olá, Gray. – disse corando.
– Vocês já se conhecem? - perguntou Ur me observando confusa.
Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, Gray se pronunciou:
– Não.
Eu não estendi o motivo de ele mentir, mas não disse nada. Depois daquilo, o assunto foiencerrado. Mesmo assim, eu continuava envergonhada. Quero dizer, ele sabia que eu era a novata e não tinha dito nada sobre também morar ali. Isso também explica o sorrisinho de mais cedo.
– Bom, a gente pode conversar mais na hora do jantar. – disse Ur. – Você deve estar cansada da viagem, Juvia. Pode subir para o seu quarto e tomar um banho. O Gray e o Freed vão levar sua bagagem lá para cima e a Ultear pode te mostrar seu quarto, etc.
– Obrigada. – eu me curvei levemente.
– Nada de formalidades aqui, ok? – perguntou Ur.
Lembro-me de ter ficado chocada no momento, pelo modo como Ur parecia não exigir de mim nenhum respeito em especial.
– O.K...
Quando eu me virei para subir as escadas me deparei com um Gray já segurando as caixas e com aquela expressão de tédio inquebrável. Gray era impressionantemente bonito e exalava um ar fortemente masculino. Os ombros largos ressaltavam os músculos por debaixo da camiseta, e ele continuava com o mesmo cheiro de cloro e suor de mais cedo.
Ele começou a subir a escada com Freed, e eu os segui, Ultear ao meu lado. Ur, Cana e os outros foram terminar o jantar. O segundo andar era composto pelos quinze quartos para os atletas, sendo que apenas quatro estavam ocupados até agora. No final do corredor havia uma escada para o terceiro andar e uma última porta.
– Nem todos os quartos estão ocupados, então nós tomamos a liberdade de escolher um e limpá-lo antes que você chegasse aqui. – disse Ultear. – O seu vai ser o segundo quarto à direita, ou seja, esse aqui.
Paramos em frente à porta de madeira do quarto enquanto Ultear pegava a chave para abrir a porta. Os garotos foram logo entrando e colocando as caixas em cima da cama, que ficava no centro do quarto. Percebi, logo antes de entrar, que o quarto ao lado do meu estava com a porta entreaberta.
Ultear dispensou os garotos, dizendo que para o desempacotamento não era necessária a ajuda deles.
– Eu sei que vocês bem querem dar uma olhada nas coisas da Juvia, mas...
Freed apenas riu enquanto Gray revirou os olhos. Logo foram embora, fechando a porta atrás de si. Ultear se sentou ao meu lado na cama se solteiro, que, aliás, era enorme.
– E aí? O que achou? Você é meio calada então eu fiquei na dúvida.
– Do que? Da casa? De vocês?
– De tudo, eu acho. – ela deu um sorrisinho.
– Eu gostei. Só não estou tão acostumada, sabe, com esse clima familiar. Mas acredito que vou aprender e me divertir muito por aqui.
Ela fez um carinho na minha cabeça e se levantou sorridente.
– É assim que se fala. Bom, você tem alguma pergunta? – disse enquanto tirava um estilete do bolso do short do pijama e começava a abrir minhas caixas.
– Duas, na verdade. A porta no final do corredor é o que?
Ela começou a retirar meus poucos pertences da caixa destinada a objetos pessoais.
– Ah, ali é o banheiro. Por isso que nesse quarto não tem nenhum. Todos nós, exceto minha mãe, dividimos o banheiro no fim do corredor.
Não consegui evitar ficar um pouco chocada. Ela riu.
– Como a gente não sabia se o Casarão iria dar certo, ou se receberíamos nadadores suficientes, como até hoje nós não temos, preferimos não gastar dinheiro desnecessário na construção de quinze banheiros. Mas não se preocupe, é tudo bem organizado durante o dia, o único problema é na hora do banho. Os meninos quando saem do treino às vezes brigam por quem vai primeiro.
– Entendo...
Ultear passou para outra caixa e eu me toquei de que ela estava fazendo tudo sozinha, então me levantei e passei a ajuda-la.
– E qual era a outra pergunta?
Parei o que estava fazendo e olhei para ela.
– Eu notei que o quarto ao lado do meu está ocupado, quem é que dorme lá? E o resto de vocês?
– Bom, minha mãe dorme no andar de cima, eu no quarto em frente e o Freed no ao lado do meu. E no quarto ao lado... – ela se virou para me olhar sorridente. – é o Gray.
...
Eu e a Ultear passamos cerca de duas horas desempacotando as caixas, por que mesmo que não eu não tivesse tantas coisas tivemos de arrumar tudo. Três das caixas eram de roupas, uma de materiais para a natação e troféus de antigas competições. Na última eu guardei minhas economias (pouquíssimas), porta retratos e produtos de cabelo, maquiagem, etc.
Quando nos demos conta Ur já estava nos chamando para o jantar.
– Ai, minha mãe vai me matar. – resmungou Ultear colocando uma mão na testa.
– O que foi?
– Ela mandou você tomar banho... É claro que ela não vai brigar com você, mas ela odeia quando todo mundo vai jantar sujo. – ela deu um suspiro. – Vamos.
Quando saímos no corredor, ela pareceu se lembrar de algo.
– Tinha esquecido, mas eu tenho de fazer uma ligação agora, pode ir na frente. – disse indo para o seu quarto. – A propósito, as toalhas e roupas de cama ficam no armariozinho ao lado da sua cama.
Ela entrou no seu quarto e eu comecei a descer a escada. Atrás de mim, ouvi o barulho de uma porta sendo aberta. Gray veio andando em direção aos degraus e parou ao meu lado, que tinha ficado observando-o. Ele também não tinha tomado banho.
– O que foi? – ele perguntou olhando para meus pés.
– Ah, nada. – eu corei e voltei a descer a escada em silêncio. – Quer dizer, tem uma coisa sim.
Ele descia atrás de mim e parou na minha frente no saguão.
– O que?
– Por que você disse que nós não nos conhecíamos?
Ele pareceu ficar confuso por m momento e então respondeu:
– Teoricamente, a gente não se conhecia de verdade. Aquilo não foi nada. E além do mais, se eu falasse que sim, só iria gerar mais perguntas.
“Aquilo não foi nada”. Bem, para mim, tinha sido uma grande ajuda, mas ele não perecia se importar com o ocorrido. Isso era meio decepcionante. Acho que ele era o tipo de pessoa que ajudaria qualquer um naquela situação.
Ur nos viu parados ali e da cozinha nos chamou para nos sentarmos à mesa. Enquanto esperávamos Ultear, começamos a conversar.
...
– ... e foi então que isso aconteceu...
Eu ouvia o que eles diziam, e ria às vezes, mas não me sentia confortável o suficiente para falar muito. Não ainda.
Quando Ultear chegou, sentou-se ao meu lado e todos começaram a se servir. O prato era estrogonofe de frango. Percebi que ela estava sem seus óculos. Se eu ficasse encarando, talvez ela notasse a minha curiosidade, como Ur havia feito mais cedo quando olhei sua perna, mas tomei coragem para perguntar.
– Ultear, por que você está sem os óculos?
Ela terminou de mastigar e me respondeu:
– Eles são só para leitura. Como quando você chegou eu estava lendo um livro da faculdade, eu acabei não os tirando.
– A Ultear faz faculdade de direito. – disse Ur orgulhosa. – Meus filhos são assim mesmo, podem não prestar para mais nada, mas cada um tem um talento especial.
– Mãe! – exclamaram Ultear e Gray dos meus dois lados, envergonhados.
Todos caíram na gargalhada, mas eu fiquei um pouco confusa. Ur, que estava sentada na cabeceira da mesa, pareceu notar.
– Acho que me esqueci de dizer. – ela apontou para Gray. – Esse aqui é o meu filho adotivo.
Fiquei um pouco surpresa, e observei Gray por alguns momentos.
– A propósito, esse é meu filho adotivo que ainda não tomou banho. – disse sarcasticamente.
Dessa vez eu ri também, enquanto Gray jurava que estava esperando eu sair do banho, como um perfeito cavalheiro. Em minha opinião, porém, o cheiro dele estava ótimo.
Quando num grupo grande, como naquele momento, ele parecia mais um garoto, sorrindo e inventando desculpas. A conversa continuou por muito tempo, até que o assunto caiu em mim novamente. Chelia, a quinta e última moradora da casa, virou-se e me perguntou:
– E você, de que escola veio, Juvia?
Sabia que em alguma hora eu teria de responder aquilo, então respirei fundo e falei sem hesitar.
– Phantom Lord.
O silêncio foi imediato. Gray, ao meu lado, levantou as sobrancelhas surpreso. Os outros me olhavam espantados.
Se havia uma escola com má reputação, era a Phantom. Praticamente todo ano saíam notícias de suborno de júris nas competições, uso de anabolizantes pelos alunos... Eu não acreditava em nada disso até descobrir do pior jeito possível. E ainda pior, a Phantom tinha uma rixa histórica com a Fairy Tail. Talvez pelas teorias de ensino e competitividade serem completamente diferentes nas duas escolas, e fora exatamente por isso que eu escolhera a Fairy Tail.
Eu já esperava uma reação semelhante, mas ainda sim me intimidei um pouco pelos olhares. Ultear, porém, pareceu mais incomodada com isso do que eu.
– Ei, gente, mas ela saiu. – disse enquanto encarava feio os outros.
Eles pareceram se tocar que estavam me encarando e baixaram os rostos com vergonha. Ur era a única que havia se mantido normal diante a situação. Parecia não se importar de onde eu vim e me deu uma piscadela incentivadora quando a observei de canto.
– E... Por que você saiu de lá, Juvia? - questionou Chelia.
Eu hesitei. Gray se levantou para lavar os pratos, como se não quisesse ouvir aquilo.
– B-bom, Juvia saiu de lá... – ajeitei minha postura. – Eu saí de lá por que eu não concordava com a postura do colégio.
– Em relação aos esportes? – perguntou Freed.
Eu observei as costas de Gray. Ele se mantinha concentrado na limpeza dos pratos e parecia não prestar atenção.
– Acho que em relação a tudo. Era muita pressão para vencer... Eu quero competir, mas por diversão.
E não falei mais nada. Todos pareciam ter entendido que por enquanto eu não queria falar mais nada sobre o assunto. E passamos então a falar sobre outras coisas.
...
Cerca de nove horas, terminamos o jantar. Gray saíra um pouco antes, eu não sabia para onde. Ultear estava me levando ao banheiro quando eu lhe perguntei se poderia dar uma olhada na piscina.
– Na piscina? Agora? – ela pareceu um pouco surpresa.
– É. Eu queria dar uma olhada antes de começar o treino amanhã.
Como naquele dia era uma quinta, e eu começara a me preparar para a mudança na segunda, eu não entrava em uma piscina fazia quatro dias.
– Ok, então. – disse ela e começou a me guiar pelos corredores do primeiro andar.
Saindo pela porta dos fundos da casa e dando em uma continuação do jardim da frente, a estrutura da piscina coberta cobria meu campo de visão. Era a mesma que eu vira por trás do Casarão quando chegara mais cedo.
Como Ur ainda não havia a trancado, abrimos as portas de metal e Ultear me conduziu pelo caminho escuro que dava na piscina. Na área havia banquinhos espalhados pelos cantos, armários de objetos e saídas para os banheiros. E a piscina era enorme. Sendo a única área iluminada dentro da estrutura, a água da piscina refletiu o meu rosto quando me agachei para molhar minhas mãos. As raias dividiam a piscina em oito partes, e a distância da mesma era de cinquenta metros no mínimo, ou seja, uma piscina olímpica.
Respirei fundo.
– Será que eu poderia...? – perguntei excitada.
Ultear pareceu confusa.
– Pode. Mas antes você tem que pegar um biquíni...
Ela se calou ao me ver já tirando as roupas, mostrando o maiô que eu vestia por baixo. Vendo-me já preparada para entrar na piscina, ela soltou uma gargalhada.
– Vocês são mesmo loucos por natação, hein? Ai, ai. – disse enquanto se dirigia à saída. – Pode se divertir aí. As toalhas ficam no vestiário feminino.
E foi embora.
Ao ver-me sozinha, pulei na água e atravessei a piscina nadando algumas vezes sem parar. Crawl, borboleta, peito... Quando cansei, passei a ficar boiando e encarando o teto. Me lembrei de como era na Phantom. Não sabia quando havia sido a última vez em que eu nadara sem pensar nos resultados. Sem perceber, algumas lágrimas escaparam pelos cantos dos meus olhos. Lágrimas de alívio.
Quando parei de boiar e olhei para a fora da piscina, me deparei com Gray Fullbuster me encarando em silêncio. Ele estava parado em pé, de sunga, como se fosse mergulhar. Ao notar o meu olhar ele coçou a nuca, envergonhado, e sentou-se na borda da piscina.
– Então quer dizer que você não concorda com a forma de pensamento da Phantom? – perguntou, dessa vez me olhando.
Então ele estava ouvindo, mais cedo.
– É. – respondi. – Mas você não parecia muito interessado na hora.
Ele deu um sorriso sarcástico, o mesmo de mais cedo, e entrou na água.
– Verdade. Não acho bom forçar as pessoas a falarem sobre assuntos que elas obviamente não querem, como mais cedo. – disse, seco.
Senti vontade de perguntar: “mas você ouviu do mesmo jeito, não é?”, mas me contive.
– Não tem problema. Acho natural todos quererem saber sobre porque alguém da Phantom viria para cá. Eu só quero fazer isso, sabe... – falei, olhando para o outro lado da piscina.
Mas acho que me esqueci com quem eu estava falando. Quando eu olhei para o lado, Gray já colocava os óculos de natação na raia ao lado. Me surpreendi, ao, antes de mergulhar, ele dizer, mesmo que sem olhar para mim:
– Entendo. Então... Por que não ficar aqui mais um pouco, não é?
Após disso ele mergulhou, e o observei ir e vir algumas vezes. Considerei aquela fala como uma permissão para continuar ali, e voltei a nadar também.
Não me lembro quanto tempo ficamos naquela piscina. Não conversamos, mas nadamos em perfeita sincronia e com paixão. Quando acabamos, pegamos nossas toalhas, nos vestimos, e voltamos para o Casarão. Após tomar meu banho, caí exausta na cama. Havia sido um longo dia.
Não consegui tirar o sorriso do meu rosto.