Desliguei o celular e me peguei rindo ao mesmo tempo em que chorava. Eu não sabia o que ia acontecer quando ele chegasse – minha mente estava confusa com tudo aquilo que tinha lembrado – nem sabia como nós ficaríamos depois de hoje. Mas eu não estava pensando nisso agora. Agora, a única coisa que eu queria era vê-lo e sentir o doce sem igual dos lábios do dono dos mais belos olhos azuis do mundo.
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Cap. 11
Cada segundo que passava, meu coração batia mais rápido. Aquilo parecia uma eternidade, e quando vi os primeiros minutos passarem, resolvi ligar de novo.
Na 3ª vez que chamou, avistei um homem saindo da escuridão de um beco, e meu coração saltou ao pensar que ele poderia ser David.
Mas quando ele entrou no raio de luz do poste e apontou um objeto metálico em minha direção, não só percebi que não era David, mas também que eu estava sozinha ali para enfrentar aquele homem.
- Passa o celular, passa o celular! – gritou o homem com a arma apontada para minha cabeça, enquanto minhas mãos trêmulas mal conseguiam o segurar direito.
- Calm... calma, por favor... – gaguejei ao entregá-lo o objeto de última geração, mais um dos presentes que Guilherme havia me dado.
E, como se fosse em um segundo, o ladrão se virou e vi um homem vir por trás de mim e pular em suas costas. Eles se estaperam no chão por alguns segundos até que em meio a um soco e outro percebi que era David. Fiquei paralisada.
Quando pensei em gritá-lo para parar com aquilo, um som forte estrondou em meus ouvidos. O ladrão se levantou e correu, assustado, enquanto David ficou no chão.
Corri ao seu encontro e minha visão ficou turva com o sangue espalhado em sua camisa. Se não fosse por isso, diria que ele estava lindo, com seus olhos cor de safira brilhando para mim. Mas agora eles pareciam ter perdido um pouco o foco.
- Ah meu Deus, David! Por favor, fique acordado! Por favor! – puxei sua cabeça para o meu colo e dei batidinhas em seu rosto. – Socorro! Por favor, alguém me ajude! – gritei, mas a cada segundo parecia que existiam apenas nós dois naquela noite escura.
Tirei a sua camisa e vi onde a bala acertou: diretamente no coração. Tive de respirar fundo para conter o desespero. Pressionei a ferida com a camisa, sem muito saber o que mais poderia fazer. Consegui encontrar o celular dele no bolso da calça e liguei para uma ambulância. Apenas o tempo era o nosso inimigo agora.
- David, você está me ouvindo? Vai ficar tudo bem, ok? Fique acordado! – gritei para tentar mantê-lo de olhos abertos, mas, meu Deus, eu sentia que ele estava indo. Mas eu não podia perdê-lo. Não agora que eu o encontrei. Não agora que eu me lembrei de quem somos. Eu não podia...
- Re...be...cca... – ele falou baixinho, engasgando nas sílabas. – Eu...
- Não, está tudo bem. Você vai ficar bem, eu prometo! – disse, enquanto as primeiras lágrimas caiam no meu rosto. Sua mão já enfraquecida apanhou uma delas, e terminou o que iria dizer.
- Te... amo...
Não há palavras para descrever o que eu vi naquele instante. Toda a nossa vida, em um pequeno flashback veio à tona. David, antes mesmo de ser Alex, foi Dan. O Dan que da mesma forma que morri em seus braços, ele morria agora nos meus.
Uma lágrima mais pesada rolou dos meus olhos e caiu em seu rosto. Ele sorriu, e eu sabia que era a hora. Eu precisava dizer aquilo antes que fosse tarde demais. Como todas as outras vezes, sempre era tarde. Mas eu precisava, pelo menos uma única vez...
- Eu também te amo, David! Por favor, viva! Viva por mim!
Era tarde. Sua respiração falhou e o sorriso desapareceu. Agora era meu coração que doía, e doía tão forte que queria morrer com ele naquele instante. Agarrei-o mais perto de mim ao ver uma luz forte brilhar ao nosso redor, e como se fossem minhas últimas palavras, gritei aos céus por Deus.