Capítulo 1-Que o jogo comece...
O meu corpo estava gelado e, consequentemente, tremia involuntariamente.
Estava escuro, nada se via naquela imensa escuridão.
Os meus pulsos e tornozelos estavam apertados e doíam-me. Sentia alguma coisa na minha boca para me impedir de falar. Queria mexer a cabeça mas o meu cabelo estava preso a alguma coisa e eu não conseguia sair dali.
Estava a começar a ficar com medo.
Ouvi um gemido ao meu lado e, depois de se ouvir um segundo gemido, uma lâmpada conseguiu iluminar aquele lugar.
Demorou um bocado até os meus olhos se habituarem à luz mas, ao fim de uns meros segundos, pude ver o sítio onde estava.
Aquele quarto era grande e espaçoso. Havia apenas três colchões, três garrafas de água pequena e, para o meu horror, dois homens presos.
Um deles era alto e forte. Tinha cabelo e barba branca e tinha vestido umas calças e colete pretos de cabedal, uma t-shirt cinzenta escura e tinha um lenço vermelho na cabeça. Ele tinha ambas as mãos presas à parede e tinha uma espécie de máquina à frente dele com a frente toda coberta de lâminas grandes e afiadas.
O outro homem era mais novo. O cabelo era curto e tinha uns olhos azuis secos. A sua roupa era normal, mas o que me chamou mais à atenção nele foi a bata branca que ele tinha vestido. Os pés dele estavam amarrados e presos por uma corrente forte de aço e, nas mãos, havia uma espécie de pulseira que, por algum motivo, estava a fazer os seus pulsos escorrerem sangue.
À frente do homem com a bata, havia uma mesa alta, redonda e pequena, com uma jarra negra em cima e, no meio de nós os três, estava uma televisão.
A televisão começou a fazer uns barulhos estranhos e, por fim, ligou-se.
-Olá amigos. - falou uma voz na televisão. – Quero jogar um jogo. Cada um de vocês está frente-a-frente com a morte neste preciso momento e vão jogar para ganhar à morte. Vocês, ao longo da vossa estadia na Terra, desafiaram a morte inúmeras vezes e eu estou curioso para saber quem ganha neste velho jogo.
A voz soltou uma gargalhada rouca e depois prosseguiu.
-Senhor Zak, você que ama ultrapassar os limites de velocidade, de andar livremente nas estradas deste país, terá o que é necessário para passar de nível? À sua frente está uma máquina curiosa, a quem gosto de chamar “O colchão da dor”. A sua função é simples: tem um mecanismo que a faz aproximar-se cada vez mais de si a cada minuto que passa e, o que acontece quando o colchão lhe tocar? Uma bela, dolorosa e lenta dor é o que lhe espera, senhor Zak.
Deu uma gargalhada.
-Mas não se preocupe. – continuou a voz. – Existe uma forma de evitar tal acontecimento, e é bastante simples. Penduradas numa das lâminas, estão umas chaves. O que tem que fazer é, quando as chaves estiverem ao seu alcance, agarrar nelas e encontrar a única chave que abre a fechadura do cadeado que lhe prende as mãos. Muito simples não acha?
Não, não era nada simples! Antes das chaves estarem ao alcance dele, no mínimo, umas seis lâminas já estariam a perfurar o corpo dele. Ele pode muito bem morrer sem chegar a tocar nas chaves, se uma das lâminas atingir um órgão vital!
-Senhor Matthew, senhor Matthew… Você é um médico tão novo, como conseguiu? – perguntou a voz. – E, uma questão ainda melhor, como você se sente quando se arma em Deus na mesa de operações? Estou curioso para saber a sua resposta, mas infelizmente não temos muito tempo. Consegue ver essa jarra que está à sua frente? Pois bem, para você se livrar dessa dor que sente nos pulsos e para libertar os seus tornozelos, basta colocar lá uma das mãos e a chave já é sua. Fácil, não acha?
Por acaso aquela parecia ser fácil, bastante fácil até… Qual será o se não? O que iria acontecer quando ele tirasse a chave? Falta aqui informação… Crucial…
-Miss Watson, como está? – estremeci quando a voz proferiu o meu nome. – Não muito bem pelo que vejo. Aposto que sente algo preso ao seu cabelo, estou certo? Pois muito bem, o seu cabelo está preso a uma roldana que, conforme vai girando, vai puxando o seu cabelo e fazendo com que uma pequena serra elétrica se aproxime de si. Com esse pedaço de vidro que você tem, precisa de encontrar a chave que está no seu braço que abre as suas amarras. Muito simples.
Ele deu mais uma gargalhada rouca e eu apercebi-me, finalmente, que estava metida em grandes sarilhos desta vez.
-Ah, e mais uma coisa. Têm apenas um minuto para completarem este nível. – informou a voz. – Que o jogo comece.
Continua...