As crônicas de Atilia e a Trombeta de Bronze

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    Capítulos:

    Capítulo 2

    Lagrimas

    Linguagem Imprópria, Nudez, Violência

    "As lagrimas são o espelho dos sentimentos, ao derrama-las temos o dom de expor o que estamos sentindo"

    ~~~

    Naquela manhã de sábado a grande casa de esquina da solitária rua dos Campineiros amanhecera como qualquer dia normal. O gramado sempre esverdeado denunciava a delicadeza e a organização de quem cuidava do lugar. As enormes roseiras misturavam-se com diversas plantas formando um lindo jardim de frente, que era impossível de quem passara não se deslumbrar. Mas não era um jardineiro que deixavam as lindas rosas avermelhadas de um tom sangue maravilhoso, e sim uma pequena garota que tirava seu tempo livre para cuidar do jardim.

    E como toda manhã lá estava ela. Com seu enorme regador de cor rosado, ficava nas pontas dos pés para alcançar as maiores plantas, sorrindo fazia os afazeres de seu lar. Sempre com um vestido branco e com suas sapatinhas rosas. Flora era uma doce criança, considerada pequena para sua idade. Seus olhos verdades como as folhas do jardim destacavam-se com seu enorme cabelo negro, e seu tom de pele branco como a neve. Era atenciosa principalmente com seu velho avô que estava sempre doente. Mas não impedia da garotinha sempre estar a cuidar do seu jardim. A casa se destacava nas demais, pois fora a única com a beleza de rosas e flores de todas as cores. Era como se fosse um dom, pois a garota jurou um dia poder até mesmo escutar uma vozinha fraca sair de dentro de um botão de rosa, claro fora sua imaginação. A inteligência e a astucia da garota dos cabelos negros fora discutido milhares de vezes na escola. Flora nunca tirou notas baixas, sempre altas e as melhores do colégio era considerada a melhor em tudo o que fazia. Mesmo as vezes passando uma impressão de solidão a menina era realmente especial aos olhos dos mestres em seu colégio, diferente de seu irmão.

    Demétrio era o oposto de Flora, mas idêntico fisicamente, pequeno com sua pele palidíssima e seus cabelos cor negra destacavam seus olhos da mesma cor de que sua irmã. Era atencioso, mas fora chamado a atenção ao seu avô sempre que fazia alguma travessura no colégio ou até mesmo em sua casa. O garoto era corajoso e muito forte, não levava desaforo para si e sempre metia-se em confusão, por ser pequeno os garotos mais velhos do bairro sempre arranjavam um meio de ferir Demétrio, mas isto era impossível, pois mesmo pequeno conseguia defender-se de qualquer um que pudera enfrente-lo. Um dia o garoto jurou que pudera dar um soco tão forte em um valentão que sentiu até mesmo uma estranha sensação sair da palma de sua mão, quebrou o nariz desde garoto que era duas vezes maior que ele, por consequência duas semanas sem jogar videogame. Suas notas não eram as melhores, mas em questão de esportes era o melhor em tudo que fora fazer. Futebol, corrida, voleibol, salto em distancia, tudo que Demétrio era inscrito ganhava em primeiro lugar este era o um dom para o garoto que decidira ser um atleta para seu futuro.

    Gostavam de morar naquele solitário bairro, poucas casas na vizinhança, uma cidade que quando ficava frio era como se o polo norte mudasse para a pequena Santa Cruz do Oeste. Porem quando a cidade entrava no verão, o calor era infernal, Flora adorava o calor já Demétrio gostava do frio. Seus gostos eram totalmente diferentes, mesmo sendo gêmeos idênticos, não dividiam seus hobbies. Demétrio era frio e preferia manter-se afastado de sua irmã, mesmo ela tentando de varias formas desfrutar da amizade de seu irmão. O quarto de Flora era ao lado do quarto do garoto que vivia a vida trancada.

    Diferente do quarto de Demétrio que era bagunçado e as paredes era forrada com pôsteres de bandas e de jogos de videogame. O quarto de Flora era impecável, pintado de um branco límpido e brilhoso, mantinha seus ursos de pelúcia que ganhara de seu avó desde bebe em cima de uma prateleira arrumada, e ao lado de sua cama uma enorme estante de livros. Livros de todos os tipos e tamanhos, de todos os gêneros e temas. Era o refugio da garota quando não estava a fazer nada.

    As férias escolares havia chegado, sem deveres de casa e nem tarefas extra para Demétrio era a época que o garoto mais glorificava, pois poderia desfrutar do novo jogo de aventura que havia ganhado de seu avó. O aniversario de treze anos dos gêmeos estava para chegar, e os presentes que o avô dará a todo ano sempre chegavam na mesma data, três dias antes de cantar o parabéns os dois já abraçavam os mimos do velho avó. Mas este aniversario seria um tanto que diferente, pois não poderiam ir a loja para escolher o que queriam, nem mesmo fazer aquele bolo gostoso que Flora sempre fazia com o avô, pois o velhote estava tão doente que não poderá sair de sua cama.

    A sua doença era grave, câncer no sangue. Mesmo fazendo vários tratamentos, sua doença já não haveria cura. Faziam exatamente dois anos desde que Gregório Fontenelle havia descoberto a doença. Sua maior preocupação não era a morte e sim os dois netos. O que seria deles se Gregório viesse a morrer, a única fonte de carinho e proteção que os dois gêmeos tinham era os braços finos e pelancudos do velho avó. Não tinham mais ninguém, nem mesmo um tio ou tia, uma avô ou um primo. Gregório havia perdido a mulher a quase trinta anos em um terrível acidente de carro que o único que sobreviveu fora ele. A mulher nunca pode lhe dar algum herdeiro, pois a mesma era estéril e nunca pode engravidar. Gregório filho único jamais teve irmãos e seus pais fora falecidos quando ele ainda era uma criança, fazendo assim ser o único parente dos gêmeos. Por isto o medo de morrer antes deles completarem a maior idade. Mas parecia que seria impossível acompanhar a adolescência dos netos, poder ver Flora e Demétrio crescer era o seu maior desejo, mas a cada dia Gregório se sentira pior. Já havia sido internado em um hospital, mas esta ideia era absurda para o velho, não poderia ficar longe das crianças, então contratara uma enfermeira particular para lhe tratar em casa. A quase um mês que ele não sairá da cama, e sempre precisava de cuidados para continuar a respirar, seus pulmões não funcionavam corretamente. Monica era a enfermeira de Gregório que de tão atenciosa se tornou mais que apenas uma enfermeira, mas uma amiga da família.

    – Você precisa relaxar Gregório, precisa lutar para começar a reagir ao tratamento.

    – Minha cara Monica, sinto que a cada dia minha vida escorre para um ralo sujo e escuro.

    – Não pode simplesmente desistir. - Os olhos fundos do velhaco poderá ate mesmo responder por ele, estava pálido e seus lábios estavam frios e secos, com rachaduras e feridas. Monica regulava o soro que pingava lentamente e adentrava a veia do velho, a moça de cabelos enrolados e de uniforme branco sabia que o senhor de aparência abatida não sobrevivera por mais tempo, mas sentia uma dor imensa em pensar nas crianças, curiosa perguntava para o senhor enquanto sentava em sua poltrona ao lado da cama do velho.

    – Desculpe tocar neste assunto seu Gregório, mas um dia comentou comigo que as crianças fora adotada pelo senhor, mas não quis entrar em detalhes. - Ele a fitava apenas mexendo seus olhos e levantou sua mão magra ao encontro da moça que a segurava com delicadeza.

    – Monica não lhe contei ainda o que aconteceu a quase treze anos não é? - Ela o olhava curiosa e o velho com sua voz fraca continuava, - os encontrei na porta de minha casa, com apenas uma carta nada reveladora e um livro, que fora deixado como herança.

    – Como assim? Então não os adotou em um orfanato?

    – É o que eles acreditam, não tive coragem de lhes contar a verdade, eles não sabem do paradeiro do livro, pois no bilhete dizia claramente para o entregar quando completassem treze anos, e este dia está chegando.

    – Mas isto é tão misterioso, não sabe se a família biológica deles estão ainda vivos, ou onde apossemos encontrar?

    – Isto é um grande mistério, tentei procurar a família verdadeira dos meus netos, mas não obtive êxito, simplesmente eles apareceram como magica na minha porta, nenhum orfanato, nenhum hospital, nenhuma mãe os registraram apenas pareceram para mim como um presente. - Monica ficou boquiaberta, como dois pequenos não poderá ter família biológica?

    Do lado de fora da casa, no quintal Flora ainda cuidava das pequenas mudas que estava plantando, muda de hortaliças que delicadamente as colocava em pequenos vasos. Demétrio aparecera com um videogame portátil e se divertia aos berros em um jogo de aventura RPG. Este jogo já havia lhe dado muito prestigio, pois ganhara em primeiro lugar em uma feira de games, seu premio fora dois mil reais, e ele teve a audácia de adquirir com o dinheiro do premio o melhor videogame lançado no ano, com isto despertando a inveja de muitos garotos. Por ser bom em quase tudo o que fazia, não sobrava muitos amigos que o seguiam, e muito menos para Flora que por sua inteligência deixava todos para trás, era por este motivo que se sentia excluída, era a nerd estranha de sua turma. Mas tudo isto estava instinto por um mês e meio, férias. Ah férias querida era o que os pensamentos dos dois implodiam de alegria, pelo menos neste quesito os dois concordavam.

    – Flora, deixe de mexer no barro. - Ironicamente Demétrio falara sem ao menos olhar para a irmã, mantendo a atenção na pequena tela do seu portátil enquanto sentava na porta de sua casa.

    – Isto não é barro seu imbecil, minhas mudas cresceram fortes e corresponderam ao que estou sentindo, elas tem vida como nós, brilham e deixam um ar de vida neste quintal que se não fora por mim estaria as tralhas. - Respondia também sem ao menos olhar para o irmão, e ele continuava uma conversa paralela a dela.

    – Ganhou o que do vovô este anos?

    – Ganhei um colar, este que estou usando, não é bonito? - Empolgada em saber a opinião do irmão ela olhara para ele que respondeu frio.

    – É bonito, legal. - Flora desanimava na mesma hora, sabia que o irmão ao menos tinha visto o seu colar novo.

    – Vamos ver o vovô, ainda não fomos ao quarto dele hoje. - Flora levantava retirando as luvas que usava para o jardim e encaminhando-se até a porta levantou Demétrio pelo colarinho.

    – Espere deixe terminar, estou quase pegando a espada.

    – Deixe para depois este jogo violento e sem graça. - Ela fizera um bico retorcendo os lábios rosados, e Demétrio a seguiu mesmo sem sua vontade.

    Subiram as escadas de sua casa ao encontro do quarto do avô que permanecera sempre fechado desde que a doença fora piorada. Flora parecia sentir algo em seu peito, uma sensação anormal, uma magoa que nunca sentira em sua vida, o que seria que estava sentindo? Com suas brancas e pequenas mãos apertava o colar que havia ganhado de seu avô, que não havia explicado o que ele significava, pois estava em cima de sua escrivaninha pela manhã. Sentia como se seu avô estivesse despedindo-se dela, mas era a única coisa que não queria pensar era naquele sentimento estranho que estava sentindo. Os dois pararam por um segundo em frente a porta de madeira vernizada de seu avô e colocaram as mãos a emburra-la, mas antes de acontecer escutavam por ventura uma conversa, e ao invés de entrarem colocavam as orelhas para escutar, pois tratava-se dos dois.

    – Senhor, mas não acha apropriado mostrar para eles aquele livro?

    – Sim, mas só poderão ler daqui três dias. - Os dois se olharam por detrás da porta, e Demétrio sem ao menos falar algo dava de ombros para a irmã e empurrava a porta com violência e curiosidade.

    – Que livro é este vovô? - A enfermeira e até mesmo o velho se olharam surpresos, mas este era o destino dos dois, o velhaco sorria e chamava os dois ao encontro dele.

    – Monica obrigado pelo cuidado que teve comigo até hoje, mas poderia me dar licença para conversar com meus netos?

    – Claro Seu Gregório. - E dando um beijo suave na bochecha do velho ela deixava o quarto. Flora e Demétrio estavam com olhares trêmulos e desconfiados, queriam por fim saber o que estava acontecendo. Flora fechava a porta e junto com o irmãos sentavam ao lado de avó na macia cama que por tempos fora o refugio do senhor doente.

    – Vocês são muito espertos sabia? - Sorrindo para os garotos que o fitava ainda desconfiados o velho começava a dizer, - meus queridos acho eu este é o memento certo de lhes contar uma historia, uma velha historia que teve inicio a quase treze anos atrás. - Os dois jovens abraçavam e debruçavam a cabeça nos ombros de Gregório que começara a sua historia.

    – Em uma noite muito fria, uma noite qualquer para um velho solitário que lia seu jornal até a tardar da noite enfrente a sua velha lareira e tomando um bom café quentinho para tentar aquecer os dedos que sempre insistiam em ficarem frios como gelo. Sim era uma noite como qualquer outra, a não ser por uma coisa. Um barulho intenso de lâmpadas sendo destruídas, achei no exato momento que era algum delinquentizinho com o tamanho que vocês tem agora, por mais que não pareça, não suportava ter que dividir meu sossego com crianças que insistiam em destruir a grama de meu quintal. o barulho vinha das lamparinas dos postes, tinha a certeza que era alguma travessura. Coloquei meus chinelos de dedos e fui checar o que poderia ser, já com uma frase ótima para intimidar os arteiros, mas não era ninguém, ninguém estava no meu quintal a não ser... - Flora e Demétrio demonstravam não entender o que ele estava querendo dizer, e curioso como sempre o garoto perguntava antes de o velhaco terminar a frase.

    – O que esta querendo nos contar vovô?

    – Demétrio você sempre curioso, como dizia... Quem encontrei no quintal de minha casa foram vocês dois, em uma cesta magnifica, um bilhete e um livro. - Os dois o olharam como se explodissem em uma surpresa grandíssima, Flora levantava da cama e perguntava eufórica.

    – Mas não disse que havia nos adotado em um orfanato? - E Demétrio parecia assustado, mas por sua personalidade forte não se manifestava em meio a revelação do avô.

    – Venham aqui - Gregório estende as mãos secas para os netos, que no mesmo instante fora recebido pelas pequenas mãos deles. - Não os contei, pois tive medo que algo acontecesse com vocês dois, pois no bilhete havia uma condição, que contasse para os dois do livro apenas quando fizessem treze anos.

    – O que há de tão especial neste livro, ele revela onde estão nossos pais biológicos é isto? - Demétrio perguntava e o velho responderá tossindo uma tose seca, que fez Flora se preocupar.

    – Não pude abrir, e não pensem que não tentei a minha curiosidade fora grande, mas o livro nunca abriu. - A garota levanta a cabeça do velho avó, e falara breves palavras preocupadas.

    – Não se esforce vovô.

    – Preciso dizer onde o livro está, e só poderão abrir quando completarem treze anos, no dia do seus aniversários, entenderam? - Os dois engoliram suas salivas secando suas bocas, um ar de mistério invadia o coração dos pequenos, então o velho falava. - O livro se encontrara acima da casa no sótão, embaixo do terceiro piso de madeira, retirem a madeira do piso e ele estará lá. - E ele tose mais uma vez, agora respingando um pouco de sangue na coberta que o cobria.

    – Meu Deus, irei chamar a Monica.

    – Não Flora, preciso compartilhar este momento apenas com vocês dois. - Flora voltava ao encontro do avó, que apontando seu fino dedo na altura do pescoço da garota completava. - Este colar fora de minha esposa, comprei para ela quando sobe que estava gravida, este colar leva o espirito dela e de meu filho que não pode nascer neste mundo, mas sobreviveu em meu coração. - Flora derramou lagrimas, e Demétrio retorcia os lábios quase a chorar.

    – Obrigada vovô, - ela abraçava o velhaco que sentia-se cada vez pior.

    – Vovô o senhor ira se curar. - Falara Demétrio que ate então estava calado, mas neste instante estava grudado aos prantos no pescoço de quem demonstrava imensa admiração.

    – Estou sentindo que não conseguirei continuar, mas sinto uma grande felicidade no meu coração em ver vocês grandes e fortes.

    – Do que está falando, como Demétrio disse o senhor ira viver muito mais.

    – Gostaria de ter está esperança que vejo nos olhos de vocês dois. - E ele tose mais uma vez, uma tose aguda e sofrida. - Olhem bem para o velho aqui, e me prometam que sempre seguiram o caminho do bem, não importa quanto o coração de vocês estejam machucados e confusos, sempre seguiram o que condiz ao que ensinei a vocês.

    – Tudo bem vovô, iremos seguir o que o senhor nos disse, mas agora descanse. - Flora chorava um choro a quase soluçar. E Gregório sorria, talvez o seu ultimo sorriso, e pensava até alto demais "- Obrigado a vocês que permitiram que cuidasse destes dois por treze anos, obrigado."

    Os olhos do velho começaram a se fechar, seu braço que estava sobre Flora caia lentamente ao encontro do lençol. Demétrio arregalou os olhos em uma expressão de pânico, balançou o velhaco que não reagia, os aparelhos que o mantinha vivo agora apitava um som devastador para os dois, os sinais cardíacos do senhor estavam a zerar. Correndo e em berros Flora chamava Monica. Que ao chegar apenas olhou tristemente para os dois, já não havia o que fazer. Chorando lagrimas de tristeza os dois abraçavam o velho já sem vida, o homem que cuidou dos dois com amor e carinho já não estava mais com eles. Mas o segredo fora revelado a tempo, o coração e os sentimentos dos dois foram destruídos, mas poderiam achar respostas no tal livro que o avó os contou, afinal quem realmente são eles?


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