Segunda feira ! apesar de tudo que aconteceu, eu podia sentir uma enorme leveza, tinha certeza de que tudo que havia acontecido não passou de um pesadelo estranho. Eu finalmente poderia voltar a escola e a minha rotina normal, e sem perder muito tempo, ponho meu uniforme e vou de encontro a minha mochila, em um ato repetitivo e diário troco meus livros da sexta para os de hoje, mas ao retirar o ultimo livro sinto um enorme desconforto e meu sangue gela rapidamente, minhas pupilas dilatam e eu não consigo piscar... estava lá ! uma maldita bolsa com um símbolo estranho na frente, eu não precisava de mais nada, a sensação de desespero havia voltado.. Foi tudo real ! Tudo o que aconteceu na noite passada foi real !
Quando pude finalmente me acalmar, terminei de por o resto dos livros e sai em busca de Koji, sem saber ao certo o que isso me ajudaria, mas ele era o único que poderia entender a situação, afinal, estávamos lá juntos... desci as escadas rapidamente, e mal cumprimentei meus pais, café da manhã era algo trivial para alguém que fosse morrer ainda hoje !
Ao chegar na escola olho para todos os lados como em um ato desesperador, mas foi em vão, Koji não estava lá, só me restava seguir com o dia.
Apesar do esforço, não podia parar de pensar no que havia ocorrido, e a aula de história simplesmente não me acalmava.. então, dei a desculpa de estar com dor de barriga, o que sempre dava certo, e com o positivo do senhor Takeshi, corri da sala com minha mochila em direção ao banheiro mais próximo.
Trancado lá, pude pela primeira vez abrir a tal mochila que me acompanhará desda última noite, afinal, o que tinha lá dentro ? então eu despejei tudo no chão. Nada muito chamativo eu diria, uma faca de combate militar, um bracelete do qual eu não fazia idéia do que fazia, e uma carta gorda com exatos 200 mil ienes dentro, tudo isso acompanhado de um bilhete que continha as regras ditas pelo ser bizarro que nos abordou na noite passada e uma frase escrita " O sacrifício da meia noite ergue-se do limbo " com um pingo vermelho ao lado, provavelmente feito a sangue bem no final do bilhete.
Kenjiro Sakamoto : Certo Kenjiro.. mantenha a calma, se desesperar não vai te ajudar em nada agora, você precisa pensar a melhor maneira de sair dessa..
Eu fechei os olhos mesmo que de joelhos no banheiro sujo da escola, podia ouvir meus pensamentos e apesar da situação eu não tive medo de encara-lá, mas antes que eu tomasse qualquer idéia a frente eu escuto choros vindo do banheiro feminino ao lado.
Abro meus olhos, um choro feminino óbviamente.. será que ela está na mesma situação que eu ? antes de concluir esse pensamento, o bracelete que veio na mochila confirma que é verdade, um apito como de um despertador, e em um visor embutido a foto da pessoa.
Sayuri Nakajima, 18 anos, ocupação estudante.. esse bracelete mostra praticamente tudo sobre a pessoa, como dados de um jogador dentro do videogame.. Bom, eu não a conheço.. isso torna tudo mais difícil, mas tenho que conversar com ela.
Depois de ter me levantado, com minha mochila e equipamentos eu vou de encontro a menina que chorava no banheiro ao lado, e então bato na porta.
Kenjiro Sakamoto : (Batidas) Sayuri Nakajima ?? Meu nome é Kenjiro Sakamoto, acho que estamos passando pelo mesmo problema, será que podemos conversar ?
Então o choro cessa.
Estou saindo, dizia ela com um tom de voz mais fraco que o normal, graças as lágrimas que derramou não somente agora, mas pela noite que passou, pensava eu..
Kenjiro Sakamoto : Sei o que está passando, eu também estava lá, e não consigo acreditar que tudo aquilo foi real !
Sayuri Nakajima : Foi tudo real.. e agora corremos risco de morte! Você tem noção disso ?
Kenjiro Sakamoto : Mas talvez..
Sayuri Nakajima : Não há talvez, ta rolando de verdade, eu mal consegui dormir ontem a noite, você sabe o que vai acontecer não é ?
Kenjiro Sakamoto : ...
Sayuri Nakajima : Se não matarmos alguém até as 22 horas de hoje, vamos morrer ! e.. e... eu não sou uma assassina sabe ? , como vou fazer isso !
Kenjiro Sakamoto : Vou pensar em algo, eu prometo, só não podemos fazer nenhuma besteira até lá, nem ao menos sabemos se isso vai acontecer mesmo, afinal, quem é aquele cara pra controlar a vida das pessoas.
Sayuri Nakajima : Eu não sei.. mas não é algo natural, essa... essa coisa, ela não é desse mundo, então não podemos escapar assim... Deus! o que vamos fazer...
Kenjiro Sakamoto : Sayuri, por agora, não vamos fazer nada precipitadamente, há outro na escola que está na mesma situação, e eu preciso me encontrar com ele, podemos nos ver ao meio dia, na área aberta da escola, e então conversar sobre um plano ok ?
Sayuri Nakajima : Tudo bem.. é bom saber que não estou sozinha nisso, espero por vocês lá.
Após esse dialogo volto a procurar o maldito Koji desaparecido, quando eu mais preciso dele ele resolve sumir. Afinal onde ele estaria...
Então eu recebo uma ligação (toque de celular).
Koji Sakurai : Kenjiro, Kenjiro, cara é você ?
Apesar da ligação estar uma droga eu pude ouvir as suas palavras.
Kenjiro Sakamoto : Droga Koji, onde é que você está !
Koji Sakurai : Preciso que você me encontre na minha casa,será que pode faltar aula hoje ?
Kenjiro Sakamoto : Faltar aula, você é louco ? eu já estou aqui, e você também deveria !
Koji Sakurai : Aiai, é importante Kenjiro, o que aconteceu ontem a noite... você não pode fingir que foi tudo um sonho, eu descobri algumas coisas sobre esse jogo, e preciso te mostrar.
Kenjiro Sakamoto : Droga.. vou tentar matar aula, te encontro em meia hora.
Koji Sakurai : Certo ! Te aguardo.
Apesar da raiva, o que estava acontecendo realmente era mais importante, não havia o pôrque de ficar ali, tendo aula como se nada tivesse acontecido, então preparei minhas coisas e pulei pelo muro de traz, e fugindo fui em direção a casa de Koji.
Chegando lá me deparo com Koji na porta, ele não aparentava estar preocupado com a situação, e com um sorriso de meia boca no rosto ele meche o braço simbolizando que eu poderia entrar, e então segue para seu quarto, a casa de Koji era uma casa bem mais simples que a minha, aliás ele morava sozinho, e até onde eu sabia, não tinha nenhum emprego fixo, ele era um cara estranho, mas ainda sim era uma boa pessoa, isso eu nunca tive dúvida, e por falar nisso, não tive medo de que ele pudesse tentar me matar, Koji ? não faria mal a uma mosca, principalmente a um amigo de tanto tempo. Eu entrei, e entrei sem medo.
Chegando ao quarto, Koji sem muitas apresentações aponta o dedo da mão direita ao seu bracelete, e com o dedo da mão esquerda apresenta a folha de regras das quais eu também havia recebido, pelo visto, os equipamentos dados a cada um não variavam muito, a não ser pela arma que ele recebeu, que ao invés de uma faca de combate, assemelhava se muito mais a uma foice, como a de um ceifador da morte.
Koji Sakurai : Esse bracelete, ele é a chave pra se ganhar esse jogo, olha só, ele mostra no visor quem está se aproximando, desde que essa pessoa também esteja no jogo, e emite um som semelhante ao despertador do meu quarto, mas isso não é tudo.
Kenjiro Sakamoto : Não é tudo ?
Koji Sakurai : Lembra do tal do Shussan que o palhaço gordo havia comentado ?
Kenjiro Sakamoto : Bom.. eu lembro mais ou menos, e algo que da poderes e tal não é ?
Koji Sakurai : Exato, ele está aqui, e eu estou prestes a aprender como usa-lo, além disso, você também pode ver a tabela de todas as 60 pessoas que estão jogando, e quantos pontos cada uma tem, há pelo menos o registro de todo mundo aqui, olha só, Kenjiro Sakamoto, 0 mortes normais, 0 dorobos mortos, Shussan desconhecido, vivo a 18 horas e 37 minutos. e o meu também está aqui. estamos todos sendo monitorados cara !
Kenjiro Sakamoto : Bem.. e quanto,você sabe... as regras...
Koji Sakurai : Bom, teremos que fazer isso, mais cedo ou mais tarde, pra ser mais exato, antes das 22 horas, isso se quisermos ficar vivos não é rsrs.
Kenjiro Sakamoto : Como pode levar isso tão de boa, é assassinato cara, não sei se consigo...
Koji Sakurai : Bom, pelo que tá escrito aqui, não precisa ser um jogador, pode ser qualquer pessoa viva, e quanto a quantidade de pontos, não precisamos mais que 1 ponto cada.
Kenjiro Sakamoto : Vai fazer o que ? matar algum inocente ? e depois disso, quando a coisa se tornar maior ? Você vai vir atrás de mim cara ?!! VAI VIR ATRAS DE MIM !!! ???
Então Koji franziu as sombrancelhas e me segurou pela camisa, me lançando na parede.
Koji Sakurai : Você é idiota ou o que ? acha que eu queria estar nessa situação ?? não temos escolha Kenjiro, temos que sobreviver, nem que pra isso.. Ah droga ! eu vou pensar em algo até as 22 horas... Mas... e se não tiver outra opção cara, você simplesmente vai se deixar morrer ?
Kenjiro Sakamoto : ... Vou dar uma volta Koji, me liga se descobrir uma outra maneira.
E então eu fui embora, Koji simplismente ficou ali, me olhando, como se aquela fosse a única opção e eu tivesse a obrigação de aderi-la, e realmente.. a cada hora que passava minhas esperanças em não cometer nenhuma loucura diminuiam.
Aquela altura, eu não poderia voltar para a escola, e Koji já não era mais a esperança que eu contava, eu precisava parar de pensar e agir, fazer algo a respeito, nem que.. nem que eu tivesse que matar alguém.
Então fui até o parque da cidade, o relógio já batia a casa das 2 horas da tarde e eu não podia parar de pensar em como sair dessa... não, na verdade, eu não pensava mais nisso, em como escapar, meus pensamentos mais puros se tornaram em meios e maneiras de matar um ser humano sem se tornar tão culpado.. aquela altura de campeonato, eu só tentava julgar os tantos que passavam por aquele parque, e então avalia-los eu mesmo, esse merece ? esse não ? Estava ficando louco.
Então de repente passa pelo parque um casal de idosos, um deles aparentando estar no fim da vida, com aparelhos respiratórios e uma muleta de madeira, ele não duraria muito, não estava em condições, então, seria essa a melhor escolha ? tirar a vida de um homem que está para morrer de qualquer forma.. sim, talvez essa seja a resposta, a vida de um jovem, pela vida de um velho, porque não ? afinal, ele já viveu o suficiente não ? talvez, talvez eu esteja fazendo a coisa certa, talvez ele esteja sofrendo naquele estado, com aquele respiração forçada, a dificuldade de puxar o ar para seus pulmões, eu poderia estar fazendo um favor a ele.
Eu resolvi segui-lo, estava pronto pra fazer aquilo, ele seria minha vítima ! Eu não queria, mas tinha que ser feito !
Então eu acompanhei seus passos por mais uma hora mais ou menos, o sol já se preparava para ir embora, apesar de estar cedo, essa era a sensação que eu tinha, uma corrida contra o relógio.
3:30 da tarde, o idoso para em um restaurante com sua acompanhante, pff, ele não poderia comer nada do que tinha naquele cardápio, então porque ? Claro... pouco tempo depois entram filhos e netos desse que tanto almejo a vida, e isso me abala profundamente, eu fecho meus olhos e respiro fundo, não, não ! eu não tenho esse direito, não posso fazer isso, tirar a vida de alguém, talvez para Koji isso não soe tão ruim, mas eu, eu sou diferente, sou como a garota do colégio, Sayuri, não posso cometer um assassinato para continuar vivo, não posso ceifar uma vida todos os dias, só pra continuar vivendo a minha. Isso não estaria certo...
Por falar nisso...Droga !! Sayuri !!
Eu esqueci completamente, prometi encontra-lá ao meio dia no pátio do colégio. Droga, espero que ela esteja bem, preciso voltar lá agora.
Se não podemos cometer tal maldade, que morramos os dois hoje !
Eu estava certo quanto a isso, era o que tinha de ser feito, não matar, mas aceitar meu destino.
Eu corri o mais rápido que pude para a escola, e fazendo o caminho contrário, fui em direção ao pátio escolar, mas Sayuri não estava lá, na verdade, ninguém mais estava, já eram mais de 4 horas da tarde, era fim aula.
Então fui as salas onde Sayuri poderia ter aula, mas ela também não estava por lá. Será que ela foi embora ? Não... não parece ser o que ela faria, ela ficaria aqui, esperando uma solução lógica, esperando sua morte talvez, por isso eu voltei, ela tinha que estar aqui !
Então eu lembrei, o banheiro ! É claro, ela voltou pro banheiro feminino, só poderia estar lá ! Então eu corri pelos corredores e bati na porta que se encontrava trancada.
Kenjiro Sakamoto : Sayuri San !! Sayuri !!! você ta ai ?
Eu não ouvia nada... tentei novamente.
Kenjiro Sakamoto : Sayuri San !!! Sayuri !!! por favor responda se estiver aqui !
Mas eu não ouvi nada, então a culpa me veio rapidamente, eu fechei meus olhos e deixei minha cabeça ir de encontro com a porta, então de repente eu escuto um soluço.
Era ela, mas que droga, o que ela estava fazendo ? Sem pensar duas vezes eu arrobei a porta com pontapés, e pra minha surpresa Sayuri estava lá dentro, seu rosto estava roxo, uma blusa estava envolto de seu pescoço, e um balde virado que ela provavelmente usará para cometer tal ação, ela estava se suicidando, era um fato, mas ainda estava viva, eu precisava fazer algo !
Corri em sua direção e a retirei da melhor maneira possível, ela abriu os olhos e virou os para mim.
Sayuri Nakajima : Você... está aqui...
Kenjiro Sakamoto : Sim Sayuri, o que você... porque fez isso ?
Sayuri Nakajima : Você prometeu... estar aqui, mas não esteve, você prometeu...
Eu não pude me conter, e as lágrimas vieram a tona, era culpa minha... ela estava em choque e eu prometi ajuda, mas não estava lá, eu não a reencontrei ao meio dia como o prometido... foi tudo minha culpa, fui eu o responsável...
Sayuri Nakajima : Não se preocupe, eu estou bem agora, não vou precisar cometer nenhuma maldade...
E em choro eu tentei dizer ao menos um sim, mas apenas consegui balançar minha cabeça, foi o tempo certo dela fechar os olhos e descansar, Sayuri Nakajima estava morta.
Eu não sabia como, mas tinha que sair daquele pesadelo, o dia ainda estava na metade, e eu precisava de um sacrifício, a culpa havia me dominado, precisava assassinar alguém, a culpa que Sayuri me deixou, me fez ver que não posso ser fraco mentalmente, eu que já estava pronto para morrer, agora desejo mais que tudo, a vida !
Continua