Esse capitulo irá abranger um poucos dos personagens e suas vidas. Ficou um pouco grande, mas deixei assim pois se cortasse iria ficar 2 capitulo chatos de se ler e eu queria desenvolver a historia logo no segundo. Pra quem não tiver muita paciência pode ler só onde os asteriscos aparecem, que é o mais importante (lembrando que se fizerem isso não irão conhecer os personagens tao plenamente.) é isso, boa leitura!
05:00HRS. 8 DE MAIO DE 2020. CIDADE DE DEP IRAPLAN
A longa noite chegava ao fim. A lua chamava seu companheiro que iria substitui-la durante o dia, o obrigando a mostrar seus primeiros raios solares. Os grilos soltavam seus últimos barulhos irritantes, que impediram a noite de ser silenciosa. Os postes do meio da rua iluminavam os últimos minutos de escuridão, já cansados de terem trabalhado noite inteira. Um cachorro desce a rua tranquilamente, como se fosse dono dela, enquanto passa em frente a um prédio, de cor predominantemente branca. Os cincos degraus feitos de modo caprichado leva a entrada do prédio, com portas de vidro escuro refletindo a área. O nome que vem em cima da porta logo chama atenção, as letras prateadas feitas com todo o cuidado formando a seguinte descrição: LABORATORIO TECNOLOGICO E PESQUISAS AVANÇADAS INDUSTRIAS MARCK.
O cachorro se assusta quando vê a porta do prédio sendo bruscamente aberta, um homem saindo as pressas do laboratório. Em suas mãos há um notebook aberto, que mostra uns gráficos complicados, com cores azuis e pretos. Ao digitar rapidamente nos teclados, a tela mostra a imagem de uma planta, com vários corredores e compartimentos. De repente, uma cor vermelha preenche a planta do prédio, a frase embaixo do gráfico mostrando o que é:Infecção em 45%. Som de portas pesada é ouvido, as placas de metal fechado tudo que é buraco, desde janelas até dutos de ar.
– Como previsto. Agora, só falta fazer a conexão com o servidor e... pronto! - Ele olha o relógio em seu pulso - Acho que umas 15:00hrs está bom. Com o vírus que instalei nas máquinas, será impossível que eles descubram o que está acontecendo aqui. Vocês vão pagar caro, Industrias Marck, muito caro.
O homem sai andando no meio da rua, colocando seu notebook na bolsa.
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07:00 HRS. CIDADE DE DEP IRAPLAN
O despertador grita loucamente nos ouvidos de Rhay. Enrolado em seu lençol, a única parte que se move é seu braço, que vai em direção do aparelho irritante, parando quando ele o desliga. Toda a manhã é o mesmo sacrifício para se levantar, seu corpo sendo puxado pela cama bem quentinha, o sono aos poucos se dispersando, seus olhos sendo um pouco abertos por causa da claridade. Lentamente ele senta na cama, esfregando o rosto e expulsando os últimos índices de sono. Seu dia será longo, e ele já estava planejando cada minuto em sua cabeça. Mal sabia que tudo na sua vida iria mudar em instantes.
Descendo rapidamente a escada, Rhay atravessa a sala e se dirige à cozinha, atraído pelo cheiro de ovos e bacons sendo fritos. Passando pelo balcão americano, ele logo avista sua mãe mexendo o conteúdo dentro da frigideira, e seu irmão na mesa, degustando um pão deliciosamente recheado.
– Bom dia, mãe.
– Bom dia amor. Vai sentando que já coloco no seu prato.
Rhay puxa a cadeira e coloca a mochila ao seu lado, sentando.
– E ai, passou daquela fase? - pergunta Jason.
Jason era o irmão mais novo de Rhay. com seus dezessete anos, ele era um jovem que gostava de coisas eletrônicas, internet, e tudo de novo que o mundo apresentasse. Rhay era achegado a Jason, sempre estando presente na vida do irmão. Irmão que ele tanto amava.
– Consegui. Foi difícil, mas, no final deu certo. Segui a dica que você me falou. - Responde Rhay.
A mãe de Rhay coloca os ovos com bacons no prato em frente a ele, seguido de um beijo na testa.
– Obrigado, mãe.
Desde que tinha chegado aos dezoito anos, Rhay não tinha parado nenhum minuto para descansar. Querendo alcançar seu objetivo de ser policial, ele ralou muito para conseguir, contando horas de estudo e esforço. Chegando ao vinte e um anos, ele finalmente conseguiu o que queria, e agora recebia o treinamento para ser um homem da lei. Ainda assim, ele continuava a estudar, buscando novos conhecimentos que o iria ajudar em sua carreira promissória.
– Você pode fazer isso quando estiver prendendo bandido. - Fala Jason.
– A vida não é um videogame. Lembre-se disso. - Rhay olha para o relógio do celular. - Droga, vou me atrasar se não sair agora. - Ele se levanta. - Mãe, qual o segredo pra ter mais tempo? eu preciso disso.
– O que você precisa é de uma namorada, isso sim! - Brinca Jason.
– Ah cala a boca!
O Irmão não sabia, mas Rhay era apaixonado por uma garota. Todo dia pensava nela, distraído pelos encantos da mulher, imaginando como seria estar com ela. E por um momento, o instinto de Rhay o vez acreditar que esse dia estava próximo.
BAM! BAM! BAM!
– Ótimos tiros garoto!
– Obrigado Sr.
Rhay era o que mais se destacava no treinamento. Sempre tirando notas máximas, acertando alvos de madeira, mirando na cabeça e no peito, manuseando as armas de forma muito correta, como se tivesse nascido para isso. Depois do treinamento, Rhay trocava de roupa e ia direto a faculdade, na maioria das vezes de bicicleta. Ao chegar no local, ele a colocava em um canto do muro e se dirigia ao corredor, onde vários alunos iam e viam.
– E ai cara tudo show?
– E ai Stevem, tudo ótimo.
Stevem era o amigo mais achegado de Rhay. Desde pequenos eles brincavam juntos, dando um trabalhão para os pais quando faziam molecagem. Ao crescerem juntos, os dois compartilhavam tudo: segredos, historias, paixões... eles eram inseparáveis.
– Então, tá a fim de sair hoje? - Pergunta Stevem.
– Depende de onde vamos.
– Estava pensando em ir pra uma balada, a galera estava marcando pra ir pro Night Club. Bora?
– Sei não cara, tô meio cansado hoje.
– Ah qualé, vamos lá! Vai ser legal. - Retruca Stevem.
– Sei não.
– Tá, vou ter que jogar sujo. E se eu disser que Julia Thiessem vai estar lá?
O coração de Rhay dispara, a imagem da garota vindo em sua mente.
– Julia? Não, ai é eu não vou mesmo! - Responde Rhay.
– Porque? Para de ser gay! É a sua chance! Pode conseguir uns amasso, beijinhos...
– Para de falar isso!... - Suspiro - Tudo bem, eu vou, mas quando eu quiser ir embora eu vou.
– Tá legal, marcado então... Eu vou indo pra aula.
Eles dão as mãos, fazendo um toque maluco que viram na internet.
– Nos vemos lá.Não vai furar não viu! - Fala Stevem, já se distanciando de Rhay.
– Ok!
– Ah, vou chamar a Tifany também! - Virando no corredor.
– Certo! - Grita Rhay, não sabendo se o amigo o ouviu.
Festa einh, pensou Rhay. Ele estava mesmo precisando se distrair, e quem sabe o que poderia acontecer lá.
O som da batida era alto, fazendo todos pularem e dançarem quando os feixes de luzes passavam sobre eles, a música de David Guetta contagiando as pessoas presentes. Rhay, que acabara de chegar, passa entre as pessoas dançantes, seu olhar atento e ao mesmo tempo perdido procurando seus conhecidos. A mão balançante de Stevem chega ao seu campo de visão, que logo abre um pequeno sorriso e vai ao encontro do amigo, próximo do bar.
– Dois Whisky, por favor. - Pede Stevem ao barman, que vai logo preparando o copo.
– E ai meu chapa - Dando um tapinha nas costas de Stevem - A casa tá cheia hoje.
– É cara. Melhor cheio do que vazio. E olha o tanto de gatas!
– Você sabe que eu não vim com esse objetivo. - Pegando o copo com metade da bebida e dando um gole.
– Claro. Seu objetivo está lá na outra ponta. - Dando um gole, a bebida rasgando a garganta.
Rhay olha pra extensão do balcão e avista Julia, junto com suas amigas. Seus cabelos loiros e lisos caiam sobre o ombro, seu sorriso angelical enchendo os olhos de Rhay. Por um momento ela vira a cabeça em sua direção, ele escondendo o rosto de modo nada discreto.
– Merda! - Fala Rhay. - Droga. Será que ela percebeu?
– Relaxa cara. Ela é bonita, já se acostumou com caras olhando pra ela. Você não vai fazer muita diferença... Não pera, não foi o que eu quis dizer. Soou mal né?
– Eu entendi. - Dando outro gole no Whisky. - Se eu tivesse ao menos coragem para falar com ela.
Dois braços de pele macia envolvem os pescoços dos dois, os fazendo se aproximarem junto com o novo rosto.
– Oi meninos! - Cumprimenta a garota.
A voz logo é reconhecida, e os dois abrem um sorriso.
– Oi Tifany! como vai você?
– Bem, e você Rhay?
– Levando a vida.
– Stevem, essa festa tá um máximo! - Tifany fala entusiasmada - Eih moço me trás um desses também!
– Onde está seu namorado? - Pergunta Stevem.
– Alan? nós meio que... terminamos, sei lá. É complicado.
Que noticia maravilhosa! Pensou Stevem. O amor que ele tinha por ela começou quando eles ainda eram pequenos. As brincadeiras que faziam juntos eram bem guardadas na memoria de Stevem. Rhay compartilhava dessas lembranças, os três sendo muito unidos quando se falava de amizade. E Rhay sabia que aqueles cabelos longos e castanhos, meio liso meio enrolado, olhos verdes e lábios atraente deixava o amigo louco pela amiga de infância.
– Vocês vão dançar? - Pergunta Tifany.
– Só se for o Stevem. Eu tô meio cansado hoje. - Retruca Rhay.
– Eu danço mal pra caramba, Tifany. - Fala Stevem.
– Ah deixa de queixo! - Rebate Tifany.
– É serio!
– Dá última vez você dançou a festa inteira.
– Eu estava inspirado.
– Eu não aceito um não como resposta Sr. Stevem!
– Tá tudo bem, mas... só seu eu dançar aquela minha dança!
– O quê? Nem pensar, aquilo é horrível!
– Porque? Só porque eu faço isso!... E isso!
Stevem começa a mexer os braços e o corpo de uma forma desengonçada e engraçada, levando todos a gargalharem. De repente Tifany o pega pelo braço e arrasta-o para a multidão.
– Voltamos já! - grita Tifany ao se perder no meio das pessoas dançantes.
Que amigos doidos que eu tenho, pensa Rhay. Mas ele não desejaria ninguém mais para ser seus melhores amigos. Distraído em seus pensamentos, Rhay leva o copo de Whisky á boca, quando olha discretamente para o lado de Julia.
– mas o que está acontecendo lá?
Um homem meio alto conversa com Julia, que com um gesto de negação, dispensa o rapaz. Insistentemente ele fala com ela, e quando não consegue o que quer, bruscamente a segura em seu braço e tenta um beijo forçado, levando um tapa da mulher. Pela reação do homem, ele não gostara nada disso. Rhay rapidamente se levanta da cadeira, indo em direção da garota, seus pensamentos de puro instinto tomando conta de suas ações.
– Você vai ficar comigo, gostosa! - Fala o homem meio cambaleante.
– Me larga! - Fala Julia ao tentar se livrar de suas mãos.
– Eih, você! Largue a garota!
A voz de Rhay sai de trás do homem alto, que olha em sua direção.
– Você tentou cara. - continua Rhay - Mas ela não quer. Tem tantas mulheres por aqui, pode se dar bem com outra. Vamos, largue ela, você a está machucando.
O homem vai em direção de Rhay, seu corpo musculoso parando bem em sua frente.
– Sai fora mané! - Rhay sente todo o bafo de Vodca do homem, possivelmente bêbado - Se não vazar você é que vai sair machucado!
Com essas palavras o homem dá as costas para Rhay e continua com Julia.
– Então boneca, onde estávamos?
– Eu disse para a deixa-la em paz! - Fala Rhay, suas palavras firme.
– Tá certo. Se quer brigar, que assim seja!
Rhay mal consegue ver o punho do homem próximo á sua face quando leva em cheio o golpe. Cambaleando e meio desorientado, Rhay cai no chão, as pessoas logo percebendo a briga e dando espaço para o homem. Quando consegue normalizar sua visão, Rhay percebe que o homem avança em sua direção, e raciocinando rápido, ele o chuta no estômago, fazendo o homem recuar de dor. Rapidamente Rhay levanta e, já erguido, desfere um golpe de direita no musculoso, que cai nos braços da multidão vibrante.
– Seu filho da ....!
O musculoso avança em Rhay e joga seu braço contra o rapaz.
Mas Rhay é rápido.
Aproveitando a sua percepção e encontrando uma abertura em seu oponente, Rhay desvia do golpe e já vai aplicando o seu. o punho atinge forte o rosto do oponente, que inclina o corpo para trás e cai como um saco de batatas. A galera vibra com a vitória de Rhay, que sente um pouco de emoção e felicidade, até encontrar o olhar de Julia. Seu pequeno sorriso de vitorioso se desmancha quando percebe o rosto de meio assustada da garota. Rapidamente a multidão se silencia e dois seguranças sai do meio das pessoas.
– Senhor, aqui não é local para briga. vamos ter que leva-lo para fora, agora!
– Mas ele estava protegendo aquela moça ali! - Stevem aparece, vendo a encrenca que o amigo se meteu. - Quem é o culpado é esse idiota no chão!
– Não é isso que eu estou vendo! o que eu vejo é um brigão pronto pra sair daqui!
– Mas ele...
– Calado, ou você também vai junto!
– Calma, calma. Eu saio. deixem ele - Olha para Stevem - Fique aqui e aproveite a festa. Eu já estava indo mesmo!
Pego pelo braço, Rhay é levado á porta, os olhares de todos o acompanhando.
Do lado de fora, o frio enrola Rhay com um forte abraço, o fazendo se aconchegar em suas roupas. O gosto ferroso de sangue espalha pela sua boca, e só então que ele percebe o ferimento nos lábios e um pouco de sangue descendo pelo nariz. Mas até que não tinha sido tão ruim, afinal, ele ganhou sua primeira briga na vida e ainda tinha protegido sua amada, apesar que não sabia da tanta habilidade. Só que isso lhe custou o possível encontro com Julia, e talvez a sua única chance fora por água abaixo. Perdido em pensamentos, Rhay começa a descer a rua.
– Eih, espera!
A voz macia logo chega aos seus ouvidos, e instintivamente olhando para trás, ele vê a visão da bela mulher.
– Eu só queria... - Se aproximando - Eu só queria agradecer pelo que você fez por mim lá atrás. - Fala Julia.
– Ah, aquilo? Não foi nada. Não pude ficar parado só olhando, tive que fazer alguma coisa.
– Ainda bem, você foi meu salvador... Alias, eu sou Julia Thiessem - Esticando a mão.
– Rhay. Rhay Silvers - Apertando a mão quente, fina e macia.
– Eu acho que já lhe vi em algum lugar... Talvez tenha sido na faculdade. - Fala Julia.
– Sério? Estranho, nunca te vi lá.
– Tem certeza? Pelo que eu me lembro você fica me olhando toda vez que passo.
– Droga. Você me pegou. É, desculpa, é que...
– Ah, não esquenta. Afinal, sou uma mulher. Querendo ou não os homens vão ficar me olhando.
– Meu amigo me falou quase a mesma coisa... Então, está indo pra casa?
– Sim.
– É... Eu posso te acompanhar?
– Pode é claro. Talvez você precise me salvar de novo.
– É, talvez.
Rhay não sabia o que pensar. Finalmente tinha conseguido falar com ela e a estava levando para casa! Mal sabia ele que teria que salva-la de coisas piores.
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08:00HRS. LABORATORIO TECNOLÓGICO E PESQUISAS AVANÇADAS INDUSTRIAS MARCK.
Os papéis voam silenciosamente para o chão. A maioria das luzes estão apagadas, e as únicas que ainda funcionam piscam constantemente. O escuro predomina, e o complexo bagunçado parece mais uma casa de horrores. Escorado em uma mesa de computador, o homem ofegante e trêmulo segura uma machadinha de incêndio coberta de sangue. O músculo de seu braço esquerdo está exposto, a carne aberta como um pão cortado ao meio, o fluido vermelho escorrendo como se fosse um rio. As formas que o homem usou para estancar o sangramento foram quase inúteis, e a essa altura, sua cabeça girava de tontura, suas esperanças quase no fim. Um gemido atemorizante ecoa pelo corredor, fazendo o homem levantar a machadinha em modo de defesa. De repente, uma forte luz aparece por cima de sua cabeça, que vagarosamente o faz levantar e olhar o que é.
Na tela do computador aparece uma simples mensagem: Sistema sendo restaurado. Por favor, aguarde.... Comando aceito. Deseja abrir os portões? Y/n?Como em um passe de mágica o botão y é apertado, e logo a entrada do prédio abre a passagem antes bloqueada por um portão de ferro reforçado.
E o coração do homem enche de alegria.
– E-eu não acredito! Posso finalmente sair desse inferno! Graças a Deus!
Desesperadamente o homem corre pelo corredor em busca da saída, o som de seus passos ecoando alto. uma onda de gemidos se espalha pelo prédio, o fazendo se arrepiar da cabeça aos pés.
– Vão se ferrar, seus bostas!
Quase chegando ao portão, o homem corre loucamente, como se ninguém o fosse impedir.
E seu corpo vai ao chão.
Alguma coisa o agarrou, e por mais que lutasse para sair, não conseguia. Estava muito escuro para ele perceber outra criatura saindo da sala próxima e colocando as mãos em seu corpo.
– Não, por favor não! AAAAAAAAAAAAAAAA!!!!!
O grito de desespero se espalha pelo corredor, sangue escorrendo pelo chão em meios de rosnados, como se cães o tivesse devorando. O portão abre completamente, liberando o odor de carne podre e som nunca ouvido antes.
E uma mão ensanguentada, com os dedos rasgados, segura a parede branca, a manchando de sangue.
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09:00HRS. CASA DE RHAY
O sorriso de Rhay estava estampado em seu rosto quando ainda acordava. O final da sua noite tinha sido maravilhosa, e ele não se cansava de lembrar daqueles momentos gloriosos. Depois que saíram da boate, eles foram direto para a casa de Julia. As conversas que tiveram foram boas, e de tudo se tinha assunto: Filmes, livros, interesses pessoais, objetivos para o futuro. A noite estava escura e Julia não tinha percebido que Rhay havia sangrado, mas não demorou muito para ela perceber, o que foi uma coisa boa para ele. Ela insistira em cuidar dele, afinal ele estava sangrando por causa dela, e com um pedido delicado daqueles, Rhay não tinha como negar, aceitando entrar na casa da garota. Ele nunca iria esquecer aquele momento: Julia passava delicadamente o pano em seu rosto, debaixo do nariz, limpando o sangue já quase seco, enquanto sua outra mão segurava sua testa com delicadeza. Rhay sentia o cheiro da moça, seu coração a mil, seu corpo querendo agarrá-la e beijá-la. Mas ele se controlou diante da situação, pois não queria estragar tudo. Ele poderia passar o dia lembrando disso, mas sua consciência o faz logo despertar e olhar para o relógio.
– Tô ferrado!
O relógio marcava 09hrs05mim, fazendo Rhay cair da cama, já procurando suas calças, vestindo a blusa e passando a mão no cabelo rapidamente.
As passadas são firmes e rápidas pela escada, ele praticamente correndo nos degraus. Sua mãe varria a casa quando se encontra com ele na sala.
– Bom dia querido, não vai tomar o café-da-manha?
– Não mãe, tô atrazadasso. O Jason já foi pra escola?
– Sim... Eih, tome cuidado hoje. Os jornais estão falando de pessoas que estão atacando outros. Parece que estão mordendo, algo do tipo.
– Ah mãe, isso é só a mídia querendo vender. Não acredite em tudo que passa na TV.
Rhay fecha a porta e deixa sua mãe segurando a vassoura.
A catraca roda a mil, sendo puxada pela corrente. Desviando de um carro a outro, Rhay vai a toda velocidade, o vento balançando seus cabelos. Uma esquina aqui, outra ali, uma pressionada brusca no manete de freio, e ele se encontra no meio da cidade, impacientemente esperando o sinal abrir. Ele nem percebe que a cidade está um pouco estranha, com pessoas alvoroçadas ao seu redor, gritando e correndo como baratas tontas. O sinal abre, finalmente, e Rhay aplica uma força na bicicleta, que responde quase instantaneamente, ele já atravessando o cruzamento.
Até que a frente de um carro surge.
O veículo atinge em cheio a bicicleta, jogando Rhay contra o para-brisa, o transporte de duas rodas virando um monte de ferro retorcido. O carro só para quando atinge uma parede de um dos prédios, jogando novamente Rhay no concreto duro. Instantaneamente ele apaga, seu corpo ficando em cima do capô.
Sua cabeça dói bastante, como se fosse explodir. Lentamente Rhay abre os olhos, mas por causa da pancada , sua consciência não organiza bem os fatos, deixando ele semiacordado. Os vultos passando perto de si o faz acreditar que são pessoas desesperadas, e em poucos instantes ele ouve as sirenes se aproximando, o fazendo apagar de novo. Ao recobrar a consciência, ele sente seu corpo sendo mexido, outros vultos o levando. Seus olhos só assimilam poucas informações, como algumas pessoas o olhando enquanto é levado para um local onde sua consciência não o permite ver, apagando na vasta escuridão.
Onde eu estou?... O que aconteceu?... Essas perguntas surgiram logo que Rhay recobra a consciência. Ele acordara em uma espécie de maca, dentro de uma ambulância. Nada estava enfiado em suas veias, o que era estranho, mas aquele não era o momento de questionar. Ainda tonto pelo motivo ao qual não sabia, Rhay levanta da maca e se dirige a porta traseira do veículo. Ele pressiona a maçaneta, mas a porta não abre, que ótimo, pensa ele, preso em uma merda de ambulância.Ele olha seu relógio no celular, que marca 15hrs07mim.
–Ah cara! Eu tinha prova hoje! Mas, talvez se eu correr eu consiga fazer.
Ao olhar pela pequena janela de vidro da porta traseira, Rhay consegue ver a cidade, mas não como ele a conhecia.
– Ei! Ei! - Batendo na porta - Alguém abre aqui, por favor!... Ei!!!
Nada de resposta. Rhay estava sozinho, mas não sabia o porque. Ele teria que sair de algum jeito, afinal, o tempo estava passando e sua preocupação era a prova. Pegando um pequeno extintor, Rhay o bate bruscamente na janela de vidro, que trinca com a pancada. Mais uma vez ele tenta, aplicando mais força, agora obtendo resultado. Com a janela quebrada, finalmente Rhay pode se libertar, pondo o braço para fora e pressionando a maçaneta, que libera a porta.
E a visão da cidade o assusta.
Nada de barulho, nada de carro indo e vindo, nada de pessoas... A cidade estava deserta, morta. A maioria dos veículos pegava fogo, tendo poucos intactos. Vidros se espalhava por toda a parte, as janelas dos prédios quebradas, manchas de tinta vermelha no asfalto. Tinta? Isso é verdade? Será que estou em um vídeogame, uma realidade paralela? Rhay não conseguia entender, estava tudo bem algumas horas antes. Já fora da ambulância, ele anda um pouco mais, o cheiro de fumaça entrando em suas narinas. Aquilo era surreal, um cenário que só se via em guerra... Talvez realmente tivesse acontecido isso, mas, onde estavam os soldados? E os tiros? Não, não era uma guerra. Era outra coisa, e Rhay estava para descobrir.
Uma coisa o chama atenção, e como um menino curioso, ele vai até o local. A porta do prédio estava praticamente destruída, os cacos de vidro fazendo barulho quando ele andava. Mas isso não era nada diante do que Rhay estava vendo. A frente do ônibus estava totalmente destruída, indicando que o impacto com a parede fora forte. Dentro do prédio, o veículo estava com algumas janelas quebradas, e os restantes estavam pintados com um líquido vermelho.
– Isso... isso é sangue?
Seu coração estava a mil, parecia que ia sair de seu corpo. Andando mais um pouco, finalmente Rhay encontra uma pessoa, totalmente parada. O homem fica sem mover um músculo, e pelo uniforme, deveria ser um policial.
– Ah, graças a Deus, é um policial. Ei, Sr., o que aconteceu?...Sr.?
Parece que o homem o tinha ouvido, e lentamente se vira para Rhay.
– A meu Deus, o que aconteceu com o Sr.? Você está bem?
O homem friamente olha para Rhay, a boca cheia de sangue, escorrendo pelo queixo, uma enorme e feia ferida no seu pescoço. O homem abre a boca, mas em vez de palavras o que sai é um assustador gemido.
E o policial começa a andar na direção de Rhay.
Rhay não sabe o que fazer, o homem parecia um zumbi...Ah mas que besteira Rhay, o homem está ferido, vá ajudá-lo! -Pensa ele.
– Espera um pouco, deixa eu ajudar.
O policial avança em Rhay, que com um movimento rápido impede que o ser lhes dê uma mordida. Os dois caem no chão, Rhay segurando o pescoço do homem que tenta desesperadamente morder ele, os dentes fazendo barulho ao se encontrarem.
– Pare... Por- fa-vor, pare!
O homem não obedece, continuando suas investidas com a cabeça. Rhay percebe que a arma do policial ainda está no coldre, e com um pouco de dificuldade ele consegue pegar o revólver.
– Sr. por favor pare! Pare ou vou ter que atirar!
Sem resultado, Rhay puxa o gatilho, a bala atravessando o peito do homem.
Mas o policial mal reage.
– É impossível! te dei um tiro! Você...é um zumbi! não pode ser! isso não existe!
A boca do homem chega bem próximo do pescoço de Rhay, o gemido de fome saindo de suas cordas vocais. Sem opção, Rhay coloca a arma na têmpora do homem.
E puxa o gatilho.
A arma recua, o som ecoa, o projetil sai. A bala estoura a cabeça do anormal, que instantaneamente pára de se mover. A mente de Rhay se esvazia, sua mão tremendo a arma, seu coração mais acelerado do que cavalo decorrida. Vagarosamente ele tira o homem de cima de si, e já em pé, lentamente se dirige para a entrada, com a arma na mão.
Ao sair do prédio, Rhay passa por um carro destruído, uma moto vermelha no chão e sua bicicleta remoída. Virando a esquina, sua mente volta ao normal e finalmente ele aceita a realidade. Ele estava em um mundo morto, onde teria que sobreviver a ... a zumbis. A prova? A prova estava bem ali, diante de seus olhos quando vários zumbis andavam cambaleantes entre os carros da rua, com seus corpos faltando parte e seus gemidos pedindo carne fresca.
– Mas...MAS QUE MERDA ESTÁ ACONTECENDO?!!!!