Pokémon Ree laii

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    12
    Capítulos:

    Capítulo 4

    Capítulo 003 - Ponte

    Álcool, Nudez, Violência

    Capítulo 003 ? Ponte

    - Vocês estão bem? ? disse uma voz rude e ríspida.

    Próximo ao riacho alguém se aproximava, talvez a explosão também o tenha levado até ali. Aparentava ter a mesma idade que eu, cabelos azul petróleo, olhos castanhos, pele clara, feições formosas e os contornos do rosto bem definidos. Usava uma calça jeans azul e camiseta de algodão em listras horizontais, preto e brancas.

    - Ele... Rrrrrrrrrrssss. ? novas lágrimas caíam e não conseguia mais falar. ? Eeeeuuu.

    - Não se preocupe. ? disse ele jogando água sobre o corpo inerte e escarlate. ? Ele não está ferido. Aconteceu algo, mas este aí não se feriu.

    O sangue foi se misturando a água enlameada lavando a pele do jovem desmaiado. Ainda continuava a derramar lágrimas, mas de felicidade por nada ter ocorrido com o garoto. O que me preocupava agora era o que teria se passado neste local.

    - Vou largar de perder tempo com dois idiotas, já que não tenho mais o que fazer aqui. ? o jovem agressivo foi-se embora, desaparecendo por entre as árvores.

    Concentrei minha atenção em tirar o garoto dali. Seu corpo pesava, mas consegui arrastá-lo para perto do riacho. Retirei suas vestes lavando-as na água que ainda estava límpida. O sangue ainda estava fresco facilitando sua retirada diluindo-se completamente.

    O cheiro de sangue adentrava pelos meus pulmões penetrando profundamente em minha mente. Aos poucos não me encontrava mais na floresta danificada. O piso de pedras cor de marfim, pilastras arqueadas em meio à chuva fria ia me consumindo até conseguir voltar a mim.

    Levei às mãos a cabeça, temendo estar ficando louca. Olhei o garoto seminu ainda desacordado. Seus cabelos ruivos avermelhados embaraçados a grama amarelada, maxilar corpulento, maçãs do rosto vívidas, seu aspecto de frieza ao mesmo tempo abrasador me assustaram de alguma forma.

    Recolhi suas roupas para vesti-lo, e comecei a preparar uma fogueira para montar acampamento. Era melhor permanecer ali até que ele acordasse.

    A luz do sol desaparecia aos poucos, restando apenas o brilho da lua cheia para iluminar o céu nesta noite silenciosa. A brasa queimava os galhos de madeira já chamuscados, cozinhando algumas hortaliças que encontrei próximo a nascente do riacho. O garoto repousava em meu saco de dormir, enquanto me aquecia próximo ao fogo.

    Liberei Mudkip e Natu para me fazerem companhia oferecendo um pouco de ração Pokémon. Natu não aprovou deixando de lado, enquanto Mudkip se deliciava entupindo-se de comida.

    - Vai com calma. ? pisquei para o pequenino comilão e aproximei-me de Natu. ? Olha, nós vamos dividir a comida, já esperava que não fosse comer essa ração, Afinal é específica para pokémons aquáticos. Apesar dos últimos acontecimentos, quero ser sua amiga.

    - Na... ? chiou olhando fixamente para a fogueira.

    Não sabia se ele tinha percebido o que tinha dito. Entender os pokémons era mais difícil do que eu imaginava.

    - Acha mesmo que conseguirá se comunicar com ele? ? uma voz grave soou atrás de mim. ? Está perdendo seu tempo.

    - Se você acha? ? fui em sua direção, ficando cara a cara. ? Quando eu te perguntar, você fala. Devia me agradecer por ter te achado e tomado conta até que acordasse.

    - Não pedi que me ajudasse. ? disse olhando para o vazio. ? Você poderia ter seguido em frente. Não tinha obrigação de cuidar de mim.

    - Como se eu fosse fazer isso. ? disse irritada. ? Eu fiquei desesperada ao ver você todo ensangüentado, se não fosse aquele garoto desaforado, eu estaria em choque.

    - Eu não faço idéia do que está falando.

    - Agora me explica o que aconteceu aqui e não finge que não sabe de nada. ? em meu íntimo não gostaria de saber o que houve. ? Algo de muito grave... E eu nem posso, ou melhor, quero imaginar o que se passou.

    Não conseguiria tocá-lo. Se fizesse isso ele desmoronaria na minha frente, como um frágil cristal.

    - Como você mesmo expôs, esqueça. ? disse erguendo-se. ? Pode continuar o seu caminho.

    Mudkip irritou-se jorrando água no garoto.

    - Mande esse bicho parar. ? falou berrando. ? Porcaria.

    - Muito bem, Mudkip.

    - Vejo que os pombinhos estão se dando bem. ? o garoto mal educado surgiu por entre os cedros.

    - Agora não. ? gritei aborrecida. ? Achei que não voltaria a vê-lo.

    - Infelizmente, pra você. Eu estava procurando rastros para pegar o desgraçado que causou essa situação. ? disse rispidamente, liberando seus pokémons. ? Zubat, Squirtle descansem.

    Meus olhos brilharam animadamente esquecendo-me dos garotos. A tartaruga azul clara de olhos grandes e bondosos se abrigou dentro de seu casco. O morcego sem olhos, com suas orelhas roxas e boca enormes virou de ponta cabeça num galho alto, envolvendo-se em suas asas azul escuras.

    Apontei a pokedex para coletar informações sobre eles.

    ?Zubat: Pokémon morcego. Emite ondas ultra-sônicas de sua boca para se localizar no ambiente.?

    ?Squirtle: Pokémon pequena tartaruga. Quando ameaçado se esconde em seu casco, atirando jatos de água poderosos em seus inimigos.?

    - Seus pokémons são lindos. ? disse sorridente. ? Eu iria pegar um Squirtle hoje, mas consegui um companheiro incrível, presente de meu pai.

    Quando percebi, os garotos estavam se engalfinhando no chão duro. Eu era um pouco avoada, contudo não esperava que eles fossem se atracar.

    - Parem agora. ? um soco levou o garoto de cabelos ruivos ao chão.

    - Esse imbecil me atacou. ? disse o garoto desaforado ajeitando-se. ? Eu queria algumas informações. Ai. ? guinchou ao alongar o braço. ? Ele é muito esquentadinho, esse seu namorado.

    - Não somos namorados! ? dissemos ao mesmo tempo.

    - Está bem. Sei que não vão se importar de eu dormir aqui, então. ? comendo os legumes tostados próximo a fogueira.

    O garoto ruivo se afastou.

    - Acho que vou sim. Por mim os dois poderiam ir embora. Eu e meus pokémons não precisamos de vocês. E essa comida é minha! ? disse arrancando de suas mãos.

    - Assim vai ficar gorda. ? meus nervos ferveram nesse momento.

    - Gorda vai ficar a sua cara quando eu acabar com essa sua pose. ? me posicionei para a batalha. ? Natu, prepare-se.

    - Está nervosinha. ? disse levantando-se. ? Certo, mas se eu ganhar... Vou ficar.

    - Feito. ? disse decidida.

    Natu deu um salto a minha frente abanando suas pequenas asas.

    - Até que você tem personalidade. ? falou coçando a testa. ? Não costumo me apresentar, mas meu nome é Zackie. Qual o ar de sua graça? ? disse debochado.

    - A gracinha aqui, não vai te dar esse prazer. ? ele estava brincando comigo. ? Natu, Peck.

    - Squirtle, Headbutt. ? o casco se moveu numa velocidade excepcional em direção ao Natu, e no último instante acertou uma cabeçada, abatendo-o com um único golpe. ? Acho que eu vou ficar. ? sentando-se próximo a fogueira e alimentando-se com o meu jantar. ? Quando desafiar alguém tenha certeza de estar próximo ao seu nível, senão, os seus pokémons sairão machucados. Não espere que sejam bonzinhos contigo, só porque é uma garota.

    - Não enche. ? ainda queria dar uma lição naquele garoto, mas meu nível não era o bastante, precisava melhorar muito caso quisesse derrotá-lo. ? Natu, você está bem!

    Ele piscou com seus olhos enigmáticos, parecia ótimo. Pousou em meus ombros acariciando meus cabelos azulados com seu bico amarelo. Apesar de não conseguir interpretar os meus pokémons, eles conseguiam me entender.

    - Vamos comer? ? cochichei indo em direção a fogueira. ? Antes que ele acabe com tudo.

    - Natu. ? pipitou alegremente.

    - Estou te fazendo um favor... ? mal conseguia falar com a boca cheia. ? Não quer ficar gorda, quer?

    - De novo com isso. ? respirei fundo tentando controlar os meus impulsos. ? Quem vai ficar gordo é você. Se continuar a comer com essa voracidade.

    - Vocês poderiam conversar um pouco mais baixo. ? o garoto ruivo estava escorado ao cedro, possivelmente se preparando para dormir. Sua presença era quase imperceptível.

    - Se me disser o seu nome, sim. ? disse sem rodeios.

    O silêncio se instaurou. Aos poucos, o som da floresta ia entoando seus hinos, as folhas se tocando entremeadas pelo vento, pios de corujas, seres rastejantes abaixo da terra, insetos caçando suas presas e se tornando presas de pokémons mais fortes, a vida em movimento.

    Ao som da floresta, pesei o meu primeiro dia de jornada. Estava sendo de fortes emoções. Um menino loiro de olhos verdes que mexeu comigo de uma forma inusitada. Um garoto ruivo que não iria abrir a boca para me contar com o quê ele se meteu, e ainda apareceu um desaforado, o único ao qual conhecia a identidade, no entanto não queria sequer saber que existia.

    Dois maravilhosos pokémons, um fofucho de barbatanas alaranjadas e uma bolinha verde intempestuosa. Minha primeira batalha. Minha primeira vitória.

    Retornei meus pokémons às pokebolas e me recolhi no saco de dormir, procurando explicações para meus recentes lapsos da realidade. Sangue. Algo me dizia que o meu pesadelo e a visão estavam relacionados a isso. Algum tipo de alucinação que poderá abalar a minha sanidade e o pior é que eu não tenho resistência mental para agüentar essa provação. Entre divagações, acabei adormecendo.

    Os primeiros raios de sol surgiam por entre as folhas, o cantar dos pássaros ordenados como em uma orquestra, o cheiro da relva fresca e o som da água em contato com as pedras animaram o meu coração atormentado.

    O garoto ruivo continuava no mesmo local. Não aparentava um sono tranqüilo, demonstrado pelo seu cenho enrugado. Percebi que ele não carregava uma mochila, embora soubesse que não iria revelar nada para mim, fiquei tentada há descobrir um pouco sobre ele.

    Comecei a guardar os materiais e notei a ausência de Zackie. Não poderia comemorar. Ele poderia voltar para comentar sobre a minha condição física.

    - Hora de levantar. ? disse para o garoto ruivo.

    Ele se espreguiçou esfregando os olhos em seguida. Mesmo após dormir durante a tarde de ontem e a noite, aparentava exaustão.

    - Para onde pretende seguir? ? não acreditava que fosse me dizer.

    - Ainda não sei. ? disse em tom um abatido. ? Provavelmente irei para Fuschia. É a cidade mais próxima.

    - Como assim? ? peguei minha pokegear, procurando o mapa. ? A cidade mais próxima é Pewter.

    - Você não tem senso de direção. ? disse apontando para a direita. ? Eu estava vindo pelo leste. Cinco horas de caminhada e estamos na ponte.

    - Ponte? ? disse confusa.

    - Ponte dos bicicleteiros. ? falou erguendo-se. ? Se não sabe, fizeram uma junção com a ponte que une Celadon a Fuschia para Pallet. Esta região ficava muito isolada. Isso facilita a movimentação pela região.

    - Certo. Então vamos. ? pus a mochila nas costas e me dirigi para onde o garoto assinalou.

    - Garota, nós temos de esperar. ? disse jogando água sobre a face.

    - Por quê? ? dei a volta no próprio eixo.

    - Zackie, por isso.

    - Ele que vá sozinho depois. ? voltei a caminhar em direção a ponte.

    - Bbbbbbbbbbbbbbbbbbbzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz. ? um enxame de abelhas amarelo-mostarda enormes passou a minha frente. Apresentavam brocas em vez de patas, seu tórax listrado conectado as patas em v e ao ferrão venenoso, olhos vermelhos luminosos emanando fúria. Apesar de quase me chocar com algum deles, não se importaram com a minha presença.

    - Isso foi por um triz. ? disse aliviada. ? Ainda bem que nada de pior ocorreu.

    - Não é um comportamento normal de Beedrills. ? disse observando o céu. ? Bom. Já que não quer esperá-lo vamos seguir em frente.

    - Bbbbbbbbbbbzzzzzzzzzzz. ? o barulho era próximo.

    Furtivamente por entre as árvores, um Beedrill se encontrava ao chão, bastante ferido.

    - Não se aproxime. ? o garoto ruivo me puxou para trás. ? Eles podem ser perigosos.

    - Me solta. ? me desvencilhei dele indo em direção ao Pokémon.

    Quando me aproximei tentou se erguer e me golpear com suas brocas, entretanto, devido ao seu estado lastimável nada conseguiu fazer. Tirei de minha mochila a potion que consegui em minha primeira batalha e borrifei em suas lesões. Instantaneamente, os danos sofridos diminuíram.

    - Ótimo. ? disse tentando acalmar o Pokémon de natureza furiosa. ? Em breve ficará bem.

    Afastei-me dele permitindo que sossegasse. Não parecia gostar de humanos. Aproveitei para coletar informações sobre este Pokémon.

    Beedrill, Pokémon abelha. São extremamente territorialistas, atacando com seus poderosos ferrões venenosos quem se atreve a invadir seu ninho.

    Percebi que nada mais poderia fazer e fui embora.

    - Não deveria ter feito isso. Foi muito arriscado.

    - Eu não pedi a sua opinião. ? prossegui. ? Se você quer continuar ocultando o que aconteceu com você eu não me importo, mas não se meta nas minhas decisões.

    - Ok, não digo mais nada. ? disse me seguindo.

    Andamos por algumas horas em meio à floresta densa e verdejante, até chegarmos à praia. O som das ondas era agradável, mas a areia fofa incomodava. A cada passo minhas meias abarrotavam-se de flocos de areia, pesando os meus pés.

    - Agora seguimos por aqui e chegaremos à entrada da ponte. ? o garoto ruivo disse logo a minha frente.

    - Certo. Huu. Huu. ? o ar úmido incomodava para falar.

    O sol do meio-dia estava extremamente forte sob nossas cabeças. O suor escorria da nuca me obrigando a amarrar o cabelo em um rabo de cavalo, com o meu rabicó mocassim.

    - Vamos parar um pouco. ? disse bufando. ? Podíamos nadar um pouco para espantar o calor.

    - Estamos quase chegando. ? o garoto se virou para mim extremamente cansado. ? Há um centro Pokémon na entrada para podermos descansar.

    - Está bem. ? disse contrariada.

    Percebi um pequenino caranguejo de carapaça laranja na parte superior e creme na inferior que procurava se esconder do sol, cavando um buraco e montando uma barricada. Ele espalhava bolhas na areia para umedecê-la, permitindo moldá-la com suas pinças. Apontei a pokedex para saber que Pokémon era aquele.

    Krabby, Pokémon caranguejo. Suas garras mantêm o equilíbrio de seu corpo, permitindo se locomover de lado, além de serem extremamente poderosas.

    - Ele é tão gracioso, não é mesmo. ? disse mais animada.

    O garoto ruivo não me respondeu, continuando sua caminhada. Permaneci em silêncio o resto do caminho.

    Meus pés doíam após tanto tempo de caminhada. Precisava melhorar o meu rendimento se quisesse continuar em minha jornada. Talvez um treinamento fosse necessário para adquirir mais fôlego e energia. Enquanto resmungava comigo mesma, a ponte ia surgindo no horizonte. Um alívio.

    As pilastras de concreto armadas com vigas metálicas acobreadas sustentavam a pista exclusiva para ciclistas que continuava até perder de vista. Os fios de aço prendiam e asseguravam estabilidade, para as pessoas circularem por ali.

    O terreno fora aterrado com rochas de calcário permitindo a construção do centro Pokémon e do terminal na areia da praia. Era bem maior que o centro Pokémon de Cerulean, com seus três andares, um jardim formidável e uma clarabóia que ostentava toda a extensão, trazendo sofisticação e modernidade ao local.

    Adentramos o local, atravessando a porta automática de vidro temperado. O piso era carmim carnáceo e não apresentava depressões, sendo uniformemente delineado. A parede verde claro suavizava a visão após um longo período exposto a luz forte, os telões cheios de notícias referentes à liga Pokémon, eram disputados pelos treinadores que não sossegavam.

    - Por favor, estamos em um hospital. ? apesar de estar repreendendo os baderneiros, sua voz era doce e amável. ? Tenham um pouco de respeito com os pokémons doentes. Eles precisam de silêncio.

    A multidão ressentida aquietou-se.

    A mulher era linda. Seu rosto emanava gentileza e bondade, vestia um vestido rosa claro curto de manga balão, um avental branco prendido em um laço em suas costas, os cabelos rosados amarrados em dois tufos ovalados e um chapéu identificando sua profissão. Enfermeira. Estranho dizer que ela era idêntica a enfermeira Joy de Cerulean.

    Ela se pôs atrás do balcão de atendimento, anotando algo em uma caderneta.

    - Boa tarde. ? disse extenuada.

    - Boa tarde. ? a mulher disse gentilmente. ? Seja bem vinda ao centro Pokémon. Em que posso ajudar?

    - Gostaria que desse uma olhada em meus pokémons. ? coloquei duas pokebolas em uma bandeja branca com espaço para seis lugares.

    - Claro. ? sorriu antes de sair.

    Seu sorriso era encantador, serena, transmitia paz ao ambiente.

    O garoto ruivo se instalou no sofá de couro cor de vinho aguardando o meu atendimento. Seu olhar era vago, melancólico. Em alguns momentos acreditava estar só, sua presença era como de um objeto inanimado, sem vida.

    - Seus pokémons estão em bom estado. ? ouvi a doce voz novamente. ? Volte sempre!

    - Ah, sim. ? disse distraída. ? Por acaso você foi transferida de Cerulean, eu já te vi trabalhando no centro Pokémon de lá.

    - Não, ela é minha prima. ? riu amavelmente. ? As pessoas sempre perguntam algo do tipo.

    - Ok. ? disse guardando as pokebolas. ? Obrigado.

    Sentei ao lado do garoto ruivo procurando descansar as pernas. Os tendões do calcanhar friccionavam gerando latejamento na panturrilha. O clima estava agradável, mas meu estômago reclamava, ronronando a todo instante.

    - Vamos comer? ? olhei a placa no teto indicando que o restaurante ficava no fim do corredor principal. ? Estou faminta.

    - Certo. ? disse sem ânimo.

    Pedimos o prato principal e um suco de iapapa berry para mim.

    - Julliane Cerulle, acho que já era hora de me apresentar. ? disse o mais gentil que pude, mas não se comparava a enfermeira Joy. ? Nós não começamos muito bem, não é mesmo?

    Ele evitou o meu olhar remexendo os guardanapos da mesa.

    - Ora, vamos! ? procurei ser franca. ? Eu não mordo. Pode dizer.

    - Augustus. ? pigarreou sem jeito.

    - Olha. ? disse mais animada. ? Desculpe o que disse antes. Não deveria me meter na sua vida, mas diante das circunstâncias eu acabei sendo indelicada.

    - Não se preocupe. ? continuava a brincar com os guardanapos. ? Talvez eu também fizesse o mesmo, afinal, era uma situação no mínimo desconfortável.

    O garçom chegou colocando os pratos a mesa e o meu suco. O cheiro estava maravilhoso. Tasquei um cogumelo, uma de minhas comidas prediletas.

    - Isso está divino. ? falei com a boca cheia.

    Augustus riu sem jeito. Fiquei sem graça, tampando a boca com as mãos.

    - Não se preocupe. ? disse colocando bastante de arroz integral na boca. ? Viu? ? disse com a boca abarrotada.

    - Ai que nojo! ? disse rindo. ? Para com isso.

    - Hahahahaha! ? acabamos dando risada ao resto do almoço.

    - Então você não escolheu uma profissão para seguir. ? disse Augustus com sua voz grave.

    - É. Ainda tenho dúvidas, mas com certeza pokémons estarão envolvidos em tudo o que eu fizer.

    - Porque não entra na competição da liga Pokémon? É a maneira mais rápida de ganhar experiência e conhecer as diversas profissões existentes.

    - Até que não é uma má idéia.

    Estávamos na sala de convivência, nos conhecendo, ou melhor, apenas ele fazia as perguntas. Pelo menos começávamos a avançar em nosso diálogo. Ainda me sentia conversando com uma quase existência, apesar de que a cada segundo reacendia a chama da vida em seu interior.

    - O cadastro é feito com a enfermeira Joy pela sua pokedex.

    - Então vou fazer isso agora mesmo. ? levantei do sofá de couro cor de vinho, e me dirigi à recepção.

    Ao me virar dei de cara com um homem enorme. Era um pouco acima do peso, careca, os olhos pretos e pequenos, um cavanhaque esverdeado e alguns dentes de ouro reluzentes. Vestia um macacão cor de terra e uma camisa verde militar, e suas botas de couro até os joelhos.

    - Está bem garotinha? ? disse o senhor com sua voz fina, mas firme.

    - Estou. ? achei estranho um homem daquele tamanho com uma voz tão aguda. ? Desculpe por isso.

    - Poderia se desculpar batalhando comigo. ? disse sorrindo, destacando ainda mais os seus dentes de metal amarelo.

    - Porque não? ? disse quase que espontaneamente.

    - Meu nome é As. ? disse dando as mãos para me cumprimentar.

    - Julliane, prazer. ? suas mãos eram enormes comparadas as minhas, apesar disso eram delicadas e macias.

    - Vamos para o último andar então? ? falou caminhando para o elevador. ? Os campos de batalha ficam lá.

    - Está bem. ? disse seguindo com ele pelo corredor.

    - Eu sou jardineiro aqui do centro Pokémon. ? disse satisfeito, enquanto subíamos para o terceiro andar.

    - Você faz um ótimo trabalho. ? sorri para ele. ? O jardim é magnífico.

    - Oh. Obrigado! ? disse envergonhado. ? Não conseguiria sem o meu parceiro.

    As portas se abriram em um pátio com três campos de batalha profissional. A clarabóia permitia uma intensidade de luz agradável e acolhedora aquecendo o instinto de batalha dos treinadores que ali estavam.

    Uma batalha ocorria naquele instante. Dois insetos; uma larva castanha com um pequeno chifre no topo da cabeça e um ferrão na cauda; o nariz e os pés circulares cor de rosa e o outro, uma lagarta verde com marcas de anéis amarelos nas laterais do corpo e em destaque uma antena laranja brilhante em sua cabeça se digladiavam em uma batalha de insetos.

    - Use bug bite. ? o treinador da lagarta verde ordenou seu Pokémon a agir.

    Ele avançou contra a larva castanha preparando um bote.

    - String shot, agora. ? a treinadora da larva castanha também se prontificou.

    Ele liberou teias esbranquiçadas abaixo de seu nariz rosado, prendendo a lagarta verde e impedindo os seus movimentos.

    - Acabe com ele. ? a treinadora ordenou. ? Poison Sting.

    A larva castanha golpeou a lagarta verde com seu chifre no topo da cabeça, acabando com a batalha.

    - A vencedora é Lilia. ? o juiz da batalha anunciou.

    Aproveitei para coletar informações sobre os pokemons. Primeiramente para a larva castanha.

    ?Weedle: Pokémon larva. Ele come o seu peso em folhas a cada dia. Sua principal defesa consiste no ferrão que possui no topo da cabeça.?

    Agora para a lagarta verde.

    ?Caterpie: Pokémon pequena lagarta. Quando ameaçado libera um odor desagradável de suas antenas para afastar os predadores.?

    - Interessante. ? disse enquanto me dirigia para o meu lado do campo.

    - Preparada? ? As falou animadamente.

    - Sim.

    - Uma batalha de um contra um, sem limites de tempo. ? O juiz ditou as regras.

    - Natu a batalha. ? joguei a pokebola ao campo liberando a pequena ave verde em forma de bola.

    - Naaaaaa... ? seus olhos enigmáticos se concentraram no cavanhaque de As.

    - Doduo, vai. ? de dentro da pokebola uma ave de duas cabeças veio a campo.

    - Dodiiiiii. ? as cabeças se acariciaram bondosamente.

    Seus pescoços eram negros e conectavam-se ao corpo marrom. Suas garras e bicos eram bastante afiados. Apesar de ser uma ave, não possuía asas.

    Novamente utilizei a pokedex para conhecer um pouco mais sobre o Pokémon a minha frente.

    Doduo, Pokémon ave de duas cabeças. As cabeças se alternam para dormir. Enquanto uma descansa a outra fica alerta. Não voa muito bem, mas compensa com sua alta velocidade.

    Guardei o aparelho preparando-me para a batalha.

    - Quick attack! ? ordenou As.

    - Natu, Peck. ? disse decidida.

    Doduo pareceu desaparecer por um instante, contudo reapareceu golpeando Natu com seu corpo. Natu agüentou a investida dando bicadas nas cabeças dos pokémons.

    - Doo. ? algo estranho ocorria. As cabeças começaram a se bicar raivosamente.

    - Doduo pare com isso. ? As gritou para seu Pokémon.

    De repente, ele cai inconsciente.

    - O que houve?

    Se as cabeças ficarem bravas elas podem se atacar até caírem exaustas.

    A pokedex respondeu como se houvesse realmente escutado a minha pergunta.

    - Sinto muito. ? As disse entristecido. ? Às vezes o Doduo não consegue se conter e acaba se atacando. Ele me ajuda muito com o jardim, não esta acostumado com as batalhas.

    - Não se preocupe. ? sorri para ele. ? Vamos a recepção para a enfermeira Joy examiná-lo.

    - Sim. É claro.

    Corremos para o elevador.

    Felizmente, Doduo não havia sofrido grandes danos. Enquanto As aguardava na sala de espera, aproveitei para conversar com a enfermeira Joy sobre a minha inscrição na liga Pokémon.

    - Olá enfermeira. ? disse animada. ? Gostaria de me inscrever na liga Pokémon.

    - É só me passar a pokédex. ? falou gentilmente.

    Ela encaixou o aparelho na entrada do computador, digitando algumas informações.

    Identidade confirmada. Julliane Cerule.

    O computador imprimiu um papel, ela destacou batendo um carimbo e colocando na gaveta. Pegou um estojo metálico e devolveu a minha pokedex.

    - Pronto. ? disse com gentileza. ? Você está oficialmente cadastrada na liga Pokémon da região de Kanto. Neste estojo você colocará as insígnias de ginásio. São necessárias oito insígnias para entrar na liga. Você conseguirá estas insígnias com os líderes de ginásio das cidades cadastradas oficialmente pela liga Pokémon. ? disse como se tivesse decorado um texto. ? Boa sorte. Uma dica, na cidade de Fuschia há um ginásio cadastrado.

    - Muito obrigada. ? disse animada pelo cadastro ter sido tão rápido.

    Eu já conhecia o sistema de insígnias, afinal residia em uma cidade com um dos mais belos ginásios de toda a liga. Observei o estojo; era acolchoado com espuma revestido por tecido de algodão de coloração índico, com oito espaços disponíveis. Estava bastante animada para a minha primeira batalha de ginásio, contudo precisava treinar os meus pokémons antes de me aventurar em um ginásio.

    - Até que enfim te achei. ? uma voz grave soou as minhas costas. ? Estava te procurando para partirmos. Já aluguei as bicicletas.

    - Então vamos. ? disse entusiasmada. ? Acabei de fazer a minha inscrição na liga, e estou louca para aperfeiçoar as minhas habilidades e descobrir qual profissão seguirei.

    Despedi-me de As antes de partir rumo à ponte dos bicicleteiros, desejando melhoras ao Doduo. Íamos com duas bicicletas aro vinte, sem marchas, de coloração cinza metálica e preta. O terminal permitia apenas a passagem de pessoas equipadas com bicicletas. Eram muito rígidos quanto a isso.

    Em pouco mais de uma hora de pedalada chegaríamos à cidade de Fuschia.


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