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Nada mais e nada menos do que sessenta dias haviam se passado desde que Severo Snape entrara em um profundo coma. O antigo mestre das poções de Hogwarts continuava repousado naquela cama miúda do Hospital para Acidentes Mágicos St. Mungus, recebendo visitas diárias tantos dos Curadores quanto de Minerva McGonagall, Filio Flitchwick e de Sprout. Dia após dia, o Diretor da Sonserina recebia tratamentos para o veneno da cobra pudesse ser por fim expurgado de seu corpo.
Fora muitíssimo difícil de fazer aquilo, pois as propriedades de Nagini, a cobra de Voldemort responsável pelo ferimento no pescoço de Snape tinha propriedades diferentes dos demais répteis. Foram horas de pesquisa e coleta de sangue para que os Curadores pudessem chegar á algum tipo de conclusão mais precisa. Só conseguiram manter o mestre das poções por tanto tempo vivo, pois a professora Sprout conseguiu extrair de algumas plantas uma espécie química de substância que conseguia proteger o organismo de Severo Snape por algumas horas. Injetavam aquele líquido obtido das plantas nas veias de Snape assim como um soro, imunizando-o por certo tempo.
Mas por sorte, tudo dera certo e agora a Morte já não pairava mai aquela saleta quadrada onde Snape dormia tranquilamente. Ele havia conseguido recuperar o tom pálido de suas faces. E agora ele respirava mais facilmente.
Porém, foi somente no dia 20 de julho que ele começou á dar os primeiros sinais de que entendia as pessoas á sua volta. E mesmo sem ser capaz de abrir os olhos ainda, conseguia balbuciar por água e alimentos. Estava conseguindo ingerir pouca comida por vez. Só lhe davam sopa e água, pois seu estômago ainda estava sensível por demais. Mas aquilo era melhor do que o nada.
E foi exatamente no dia 27 de julho que Severo Snape por fim conseguiu reunir forças o suficiente para abrir as pálpebras. Fazia uma manhã demasiada quente naquele dia. O Sol se apinhava todo poderoso no céu com a sua imensa coroa de fogo, emanando ondas agressivas de calor. O céu estava com um tom de azul cobalto, como tinta guache. As nuvens se dispersavam através da paisagem como pequenos blocos macios de algodão, do até a tênue linha do horizonte.
O Hospital St. Mungus estava apinhado ainda. Lá não se havia a palavra descanso. Especialmente durante as férias de verão. Parecia que os bruxos tinham uma maior tendência á se acidentar durante esta época. Um caso pior ou mais maluco do que o outro. Uma bruxa havia ganhado dentes, focinho e imensas orelhas de coelho e ela mal sabia explicar como aquilo acontecera, pois era uma Animaga muito experiente e nunca havia ocorrido aquilo com ela durante toda a sua vida. Outro bruxo havia se estrunchado quando tentava desaparatar e acabara perdendo uma boa parte de um de seus braços.
Mas tudo o que ocorria naquela recepção se passava de um modo bem alheio para Mariana, uma jovem bruxa que se achava sentada perto á cama de Severo Snape. A garota o olhava atentamente, seus olhos arredondados fixos aos do mestre das poções. Tinha as pernas cruzadas por sob a cadeira e as aos repousadas em seu colo. Ela mal se atrevia á piscar. Estava quieta e atenta. Se algo grave acontecesse estaria pronta para acionar um Curador. Ela sempre assumia a ronda quando os outros professores estavam terminando a reconstrução de Hogwarts. Não era nenhum incômodo estar ali. Na verdade, até que trazia alguma paz.
A garota ergueu a palma de sua mão tocando com gentileza e cuidado a testa de Severo Snape. A febre ardente havia sumido, graças á Merlin. Os nós de seus dedos roçavam contra a pele macilenta do Diretor da Sonserina. Ela gostava de olhá-lo mesmo que ele tivesse feições duras e sérias. Gostaria de descobrir a cor dos olhos dele.
Seriam eles tão enegrecidos como a densa cortina de cabelos que se espalhavam como um halo ao redor das faces dele e por todo o travesseiro? Ou seriam eles castanho-claros exatamente como os dela? Sentia medo de nunca descobrir a resposta.
Suspirou. Ele não ia morrer. A garota não ia permitir. Era esquisito como havia se apegado aquele estranho sem nunca ter trocado uma palavra com ele. Porém, passar dois meses junto dele serviu de alguma coisa...
Severo Snape resmungou algo incompreensível, arrancando Mariana de seus devaneios. A mulher o olhou atentamente, inclinando-se para mais perto dele. Seus cabelos louros deslizaram por seus ombros, tocando no rosto de Snape. Ela tentou entender pelo o que ele pedia, mas era impossível. Talvez ele estivesse apenas sonhando. Mas, e se estivesse se sentindo mal ?
Um calafrio percorreu por toda a espinha da garota, estava prestes á gritar por ajuda, mas seus lábios se selaram tão rapidamente quanto se abriram. As pálpebras de Severo Snape estavam se mexendo bem vagarosamente.
O coração de Mariana começou a bater furiosamente contra suas costelas. Ficou de pé em um só salto, quase derrubando a cadeira. Ficou tão perto do mestre das poções que a sua respiração batia contra as faces dele. Prendeu o fôlego, aguardando.
Mais uma vez o homem resmungou e então para a grande surpresa da loura, ele abriu as pálpebras. Ela obteve a sua tão desejada resposta: Olhos arredondados, pequeninos e muito, mas muito escuros mesmo. Pareciam dois abismos se fim algum.
Severo Snape piscou algumas vezes, sentindo-se extremamente confuso. Onde estaria ele afinal? Sua cabeça dava pontadas lascivas como se uma furadora estivesse perfurando seu crânio. A claridade tão repentina o assustou. Semicerrou os olhos, tentando os acostumar a luz e ergueu o olhar, deparando-se com uma garota muito pálida á sua frente. A loura estava tão próxima de si que Severo podia ver algumas sardas em suas faces e seu nariz pequeno e delineado assim como seus cílios frágeis e pequenos e o formato redondo de seu rosto. Encarou-a.
Mariana levou susto com o olhar tão repentino que o homem lhe deu. Sentindo tanto suas bochechas quanto suas orelhas arderem, afastou-se desajeitada. Cruzou as mãos por trás de seu corpo enquanto o homem olhava á seu redor, reconhecendo o ambiente. Sabia muito bem onde se achava.
Seus olhos opacos mais uma vez caíram por sob a garota á sua frente que adquiriu o tom de um tomate maduro. Quem era ela? Queria ter perguntado aquilo, mas sua voz não saiu. Sua garganta estava seca e apertada como se bolhas de ar a preenchessem. Engoliu em seco, sentindo um terrível gosto de areia em sua língua. Seus lábios estavam secos e rachados.
A garota o encarou e com uma voz baixa, quase que inaudível, disse:
- Que bom que acordou Severo.