Xenofobia

  • Finalizada
  • Aanonimaa
  • Capitulos 1
  • Gêneros Angst

Tempo estimado de leitura: 5 minutos

    12
    Capítulos:

    Capítulo 1

    uma doença eterna.

    Heterossexualidade

    O autor deste texto, Paola Tchébrikov, diante de seus direitos impressos na lei brasileira, Lei 9.610/98, proíbe a divulgação de seu trabalho por terceiros, com ou sem permissão. Qualquer tentativa será previamente relatada ao dono do site, e o autor, punido. Sobre universos usados, marcas de roupas, comidas etc, dá-se os créditos aos seus devidos criadores. O texto está adaptado ao Novo Acordo Ortográfico. Qualquer erro pode e deve ser relatado ao autor.

    Essa história foi um surto repentino. 8D

    Xenofobia

    uma doença eterna.

    – Por Paola Tchébrikov

    "Aversão aos estrangeiros, ao que vem do estrangeiro

    ou ao que é estranho ou menos comum;

    xenofobismo – fonte: priberam."

    Ele a amava como nunca pensou poder amar alguém. Bianca era a mulher de sua vida, gentil, bonita, atenciosa e doce. Não havia encontrado uma única falha nela. Era como se Deus houvesse a feito para ele, diante de seus desejos e pedidos. Uma obra-prima forjada com perfeição por dedos habilidosos.

    O namoro deles era ótimo, seus amigos gostavam muito dela e seus pais aprovavam a união, até perguntando quando ele a pediria em casamento. Ria, feliz, abraçando-a pela cintura e beijando sua bochecha, ouvindo o riso doce e suave dela, acompanhando-o na satisfação que era, para eles, estarem juntos.

    Ambos possuíam bons empregos – sendo ele engenheiro e ela designer de moda. Viviam de modo abastado, entre o apartamento de um e do outro, rodeados por mimos, carinhos e afagos. Não hesitavam em viajar juntos, jantavam fora sempre que possível. Iam ao cinema ou ao boliche quando os amigos decidiam fazer alguma festa que, sabiam, de romântica não teria nada. Em vez de irem, preferiam um programa a dois.

    Não que abandonassem os amigos. Ele sempre tirava uns dias do mês para sair com eles, ir beber em um bar ou assistir ao jogo de futebol na televisão, fazendo apostas sobre placares e comendo besteiras. Enquanto isso ela, delicada, juntava as amigas para irem ao shopping, grande parte das vezes comprar sapatos; ela os adorava.

    Jean amava realmente aquela bela moça de pele de porcelana. Ela parecia tão delicada que hipnotizava qualquer pessoa que a conhecesse. Mas, por trás daquela aparência havia uma mulher guerreira, que trabalhava e estudava, cuidava dos pais, que viviam em uma casa de repouso para pessoas idosas, e possuía um cachorro grande e peludo.

    Ele não gostava do animal porque nunca havia se dado bem com cães. Achava-os barulhentos, grudentos e alguns fedidos. Mas Napoleão, o cão, era até que suportável – por Bianca, claro. Seu pelo fofo estava sempre limpo e penteado e era tão preguiçoso que nem erguia a cabeça quando Jean chegava.

    No início pensou ser antipatia instantânea, mas depois descobriu que o problema não era ele, mas sim a criação folgada e mimada que a dona dera ao animal. O cachorro comia a melhor ração, era tratado no melhor veterinário – um que era amigo dela, convivia com os amigos cães dos apartamentos vizinhos, tinha uma namorada bonita como ele e era tratado como um rei.

    Logo mais o cão não foi um problema. Nem quando encontraram uma cadela da mesma raça e tentaram fazer os animais cruzarem, Napoleão, o grande – como Jean o chamava – deixou de ser preguiçoso. Mas tudo deu certo e havia dois minis Napoleões por aí, no mundo.

    Quando tudo mudou, a primeira coisa de que Jean sentiu falta foi do cachorro. Era incrível como as coisas aconteciam. As reclamações de sua mãe em seus ouvidos foram seu maior problema. Não ousou lhe contar o motivo do fim do relacionamento, achou, por um longo tempo, que o motivo havia sido fraco, e que havia feito tempestade em copo d'água. Mas o tempo lhe ensinara a aceitar que não daria certo.

    Não daria certo porque Bianca nunca seria capaz de se livrar de seu problema. Havia coisas que eram para a vida inteira. Sabia que ela sequer cogitara mudar, e para que fazê-lo? Não faria sentido.

    Estava bem como estava e não mudaria por Jean, como ele foi capaz de notar com o tempo. Um detalhe, uma coisa mínima, fora a gota de água que transbordara o copo.

    Isso porque ela nunca seria capaz de aceitá-lo como ele era. Bianca possuía uma fobia que muitos classificariam como descartável e sem noção. Diriam até que era impossível um probleminha daquele atrapalhar um relacionamento.

    Contudo, era possível. Eles eram um grande exemplo disso. Um dia, sem querer, Jean citou os avós já falecidos, de ambos os lados da família. O quanto eles eram unidos porque eram amigos há anos e seus filhos acabaram se casando. Quando viajaram para outro país, avós, pais e o bebê que acabara de nascer, tudo o que queriam era recomeçar.

    Dar uma vida ao menino longe dos problemas que havia entre os tios e primos de ambas as famílias era a meta. E embora ele possuísse um sobrenome italiano e outro alemão, nunca contara a ninguém que era, na verdade, um estrangeiro nacionalizado.

    E quem imaginaria que logo Bianca, a mulher de sua vida, perfeita e delicada, teria xenofobia? Como poderia se precaver de dizer a ela que não havia nascido um estadunidense? Era um alemão, oras! E que mal havia naquilo?

    Bem, para Bianca havia, e Jean notou no mesmo instante sua mudança. Olhara para a mãe dele, italiana, com olhos analíticos, e para o homem loiro e alto, que era seu sogro, como se ele fosse de outro planeta.

    Ela ignorá-lo depois disso foi a pior parte. Bianca não atendia suas ligações, não respondia suas mensagens e não estava em seu apartamento.

    Ignorar o quase noivo era realmente a melhor escolha?

    Jean só conseguiu conversar com ela porque sua melhor amiga, Palloma, com quem ela estava, achou errado o ato da moça. E foi com repúdio e antipatia que Bianca, na praça perto do apartamento dele, contou que não gostava de estrangeiros e que nunca sequer falaria com um – sabendo quem ele era.

    Preferia morrer, foi o que disse. Estrangeiros eram como as pragas do campo: deviam ficar longe porque ninguém os queria. Jean havia procurado tanto um defeito nela, nunca o achando, que, quando o encontrou, perdeu todo o encanto pela moça. A pele perfeita parecia superficial demais, os cabelos sedosos e unhas benfeitas mostravam uma vaidade excessiva, e os olhos de cor tão impressionante escondia uma maldade sem limites.

    As nuvens que nublavam sua mente se dispensaram, revelando um céu límpido e esclarecedor. Não havia palavras que explicassem o desencanto do momento, e Jean jogou a aliança de compromisso que usava em seu dedo no rio ao passar ao lado dela, caminhando pela ponte, em direção ao seu futuro.

    Nada de olhos encantadores, pele de porcelana e xenofobia. Muito menos de mulheres perfeitas. Aprendera sua lição, afinal, como diziam, quem vê cara não vê coração.

    Tinha certeza de que Bianca encontraria alguém perfeito para ela.

    Mas essa pessoa não era ele.


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