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Quem estiver lendo isso, ou não, saiba que esse capítulo saiu do nada. Minha meus dedos praticamente trabalhou junto com a música que ainda soa alto aos meus ouvidos, e disso resultou esse único capítulo.
“Perfeita”, minha mente sussurrava incansavelmente.
A olhar já se tornou um dos meus prazeres diários, era tão normal ficar a olhando que às vezes me pegava mesmo que inconscientemente a vigiando, vigiando seus passos.
Estranho? Sim, algumas pessoas estranhariam mesmo esse habito meu. Mas que mal fazia ficar a olhando de longe, eu não poderia machucá-la, apenas a olhava fascinado, pois ela era fascinante de tantas formas. Seu modo de falar rápido quando ficava nervosa era encantador a meu ver, quando as bochechas dela coravam então, eu ia à loucura. O sorriso aberto mostrava todos seus alinhados dentes branco, este era tão formidável, que eu poderia dizer que era capaz de curar tanto quanto machucar as pessoas a sua volta.
Por que não me aproximo dela vocês perguntam?
Como poderia? Eu não sou nada perto dela. Sou o que se pode chamar de invisível aos olhos de todos, ninguém me enxerga, não estou fazendo drama! Na verdade prefiro assim. O que diriam se me vissem a vigiando como um fantasma? O que diriam se me vissem sorrindo para o nada, quando na verdade imagino aquele sorriso arrebatador dela direcionado a mim? O que diriam se vissem meus olhos vermelhos de lágrimas nunca derramadas, quando na verdade é por ela que choro, é por ver ela com outro que me faz... O que diriam?!
A opinião de pessoas alheias nunca me fez falta, a importância que eu deveria dar a elas nunca existiu. Sou sozinho, no meu mundo só existem dois habitantes: EU e Ela.
Os olhos verdes claros dela eram tão contrários dos meus escuros quanto à própria morte.
A cafeteria onde ela estava sentada rodeada de amigos era uma das maiores que existe nessa cidade de menos de seis mil moradores. Ela era toda sorrisos com as pessoas ao seu redor, mas eu sabia, afinal a vigiar era meu eterno vicio, que aqueles mesmo olhos verde que brilhavam em alegria, derramavam lágrimas durante a noite. Que aquele mesmo sorriso morria quando adentrava sua casa de paredes brancas manchadas e desgastada, o brilho que agora encantava todos ao seu redor desaparecia quando sua mãe trazia homens, toda noite era um diferente, para debaixo do teto em que dormia, debaixo do seu lar.
O perigo que ela corria morando com a loira aguada que era sua mãe era sempre constante, principalmente à noite. Mas eu nunca a deixava, jamais permitiria que alguém a fizesse mal, isso jamais.
Sou um covarde? Deixo essa pergunta no ar...
Mas não ela nunca fica suspensa por muito tempo. A gravidade afeta as palavras que voam com o tempo? Se sim, as minhas são vitimas constantes.
Nunca foi meu fortes as palavras, sabe? Os sentimentos são algo que já me fizeram sofrer de tal forma que desisti de tentar compreender ou de sentir. Eles me invadem como a correnteza de uma enorme tempestade em pleno mar aberto, mas tomei controle deles cedo demais em minha opinião, devia ter tentado experimentar a paixão ardente novamente. Hoje o que sou capaz de sentir apenas uma coisa, e era por ela que sentia. Seria amor? Acho que sim...
Amor era uma coisa que jamais entendi, mas como diz aquelas frases prontas de cartão : “Amor não é para ser entendido, mas sim sentido”. Era isso, não era? Era isso o se deve fazer? Mas assusta, então como simplesmente me entregar aquilo?
Vi ela se levantar de sua cadeira como suavidade incomum, mas eu estava acostumado a ver. O corpo dela era bem atrativo aos olhos, mas não nunca era neles que meus olhos pairavam, eram seus orbes verdes que faziam meu interior estremecer. Controle era uma marca que mais definia minha personalidade, mas apenas só como jeito que ela movia os lábios já era o suficiente para fazer minha boca secar e as mãos suarem frio.
Ela saiu pela porta entrando assim na tarde que já quase virava noite, mais um dia se ia, mas um dia em que apenas a visão dela já me bastava.
***
Todos os dias eram iguais e diferentes para mim, a rotina era a mesma. Eu estudo em um colégio normal, com pessoas normais. Eram essas as únicas horas nas quais eu dedicava a mim, e não ao meu vicio. Sempre gostei de estudar, aprender coisas novas todos os dias. A minha matéria preferida era artes, acho que combina comigo, não? O lápis em minhas mãos se tornava um instrumento forte e capaz de colocar no papel desenhos que eram tão estranhos quanto seu dono. Em meu quarto as paredes azuladas eram cobertas por papeis amarelados pelo grande tempo que estavam já pendurados, os desenhos variavam entre paisagens, os lábios vermelhos dela, flores de formas esquisitas, os olhos dela. O verde sempre predominava vocês já devem fazer a ideia de o porquê, não é?
Mas a rotina desse dia foi quebrada, e por isso eu não esperava. Não, nunca esperava ter que salvá-la.
Ela devia ter ido direto para casa, não devia ter desviado o caminho pelo parque, já era tarde. Por que ela fez isso?
E agora estou aqui entre elas e dois caras mal-encarados.
– A deixem em paz! – minha voz cortou o ar, minha voz sempre foi rouca, mas nesse momento estava mais, talvez seja o medo ou a coragem prevalecendo...
– Saia da frente moleque! – devolveu o primeiro homem, ele gordo.
A respiração dela era audível aos meus ouvidos, seu perfume me embriagava aos poucos. Balancei minha cabeça, precisava nesse momento me recordar de como se devia lutar, mas quem disse que eu sei? Não tinha do que lembrar.
– Vão embora!
Quando o grito dela atingiu meus ouvidos quase tive uma overdose ali mesmo. Já comentei que nunca, jamais ouvi a voz dela? Eu idealizei a voz dela sendo de uma doçura máxima, mas era ao contrario ela era firme em suas palavras ela não hesitou um segundo sequer antes jogar a bolsa que levava para os homens que pareceram ponderar, mas por fim se foram.
O silêncio meu grande companheiro caiu sobre nós como a chuva que caia na primeira vez que a vi. Ela não se pronunciou, mas a respiração dela ainda era ofegante, então eu podia a ouvir. O perfume começou a querer me embalar para o mundo do qual sempre quis fazer parte, o mundo dela.
– Obrigada – a voz dela chegou até mim como uma suave brisa.
A boca estava seca, as mãos suavam. Como responder? Eu que sempre apenas a observei de longe, sempre com os olhos focados em seus orbes verdes. Como? Respondam-me, como?
– Não irá dizer nada? – a voz doce veio outra vez me torturar.
A mente não respondia, meu cérebro deu pane. Mas ainda que não estivesse consciente do falar, minha boca se mexeu como se tivesse vida própria, uma parte de mim tomou coragem...
– Por quê? Por que desviou o caminho?
Falei ainda costas, se minha covardia deu uma pequena trégua teria que aproveitar, mas sabia que se me virasse e olhasse diretamente nos olhos dela eu congelaria, viraria pedra. Seria ela Medusa?
– Queria...
– O que? O que queria?
– Queria lhe conhecer – sua doce voz aguda morreu.
Mas o que realmente pareceu morrer foi meu coração, uma, duas, três, quatro batidas? Poderia eu contar o quanto ela me afetava?
Conhecer-me? Eu não sou ninguém. Zombaria ela de mim? Sou um ninguém, um ninguém que a vigiava, um ninguém que a tinha como um vicio.
– Eu sei que você me segue – voltou ela a dizer – No começo sentia medo, mas você nunca me fez mal...
– Nunca te faria mal – a interrompi, minha alma se contorceu apenas por pensar nisso.
– Eu sei. Quer dizer, agora eu sei – a respiração dela estava acelerando de novo – Vire-se para mim...
Virar-me? Meu coração perdeu mais batidas, ele seria capaz de aguentar se eu me virar?
Meu corpo reagiu antes mesmo que o cérebro ordenasse. Ela usava seu jeans surrado, seu All star azul, e uma blusa regata branca. Ela arregalou os olhos quando pôs os olhos em mim. Eu seria tão ruim? Mas o que disse a seguir fez com que minhas bochechas esquentassem por um momento.
– Você é lindo.
O luar a luz do pôr do sol a banhava, parecia beijar-lhe a pele ou se curvar perante ela.
– Por que me segue?
– Por que não seguir? – devolvi, sua testa franziu em surpresa pela minha resposta.
– Não dei motivos para me seguir, dei?
– Sua existência já me atrai – sussurrei, sorri de canto quando ela corou.
– Por quê?
– Não sei...
Sabe a coragem? Acho que ela reside em mim. A confissão dos sentimentos que apenas ela fazia dominar meu corpo estava sendo mais fácil do que o esperado.
***
Meu nome vocês querem saber? Não, meu nome não importa, basta saberem o dela.
“Sakura”
Nome doce não?
Hoje não preciso mais vigiá-la de longe, não preciso mais admirar seus sorrisos direcionados a outros, pois eles estavam delineados nos lábios dela, e deitada na minha cama ela estava. Nós nos amamos naquela cama, que se soubesse falar sussurraria cada sonho que tive com ela nos últimos tempos, ou desde que meu vicio tomou um nome para se autodescrever, e “Sakura” seria ele. Preciso dizer o quanto foi mágico? Não, não é?
Contei a ela tudo o que pude observar. Vi ela corar quando lhe descrevi o que os sorrisos dela significavam para mim.
Ela me aceitou mesmo quando soube que eu a seguia a mais de um ano. O que tinha ela na cabeça? Isso era errado! Mas quando me disse ela que sempre esteve sozinha, e que quando eu aparecia, pois ela sempre conseguia me ver, ela não se sentia mais assim. Sentia-se protegida, segura... E o que posso fazer quando a ouço sussurrar meu nome de forma tão carinhosa...
Minha história não é normal? Não, sei que não. Mas do que importa se ela é normal ou não?
Juntei-me a ela na cama outra vez, esta me abraçou por sua vez.
Estranho, não? Eu que não sou ninguém aos olhos dos outros, sou alguém de alta importância para ela, minha doce “Sakura”.
Mas meu habito não morreu, mesmo com ela em meus braços. Continuo a olhar para ela enquanto a mesma dorme.
Habito estranho este, não? Estranho como seu dono.