Desculpem a demora. Divirtam-se!
- Então o seu nome é Rebecca? - ele diz, a voz parecendo um sussurro, trazendo-me de volta a realidade, levando-me a olhar naqueles mesmos lindos olhos azuis que vi antes, há algum tempo. E novamente me perdendo neles.
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Cap. 4
- O quê? - digo, ainda tomada pelas visões de um pré-acidente e pelo seu toque repentino que o causou.
- Obrigado por ter salvo a minha vida, Dra. Rebecca. - ele simplesmente sorri, e o seu rosto se ilumina de um jeito que é impossível tirar os olhos dele.
- Mas não fui eu... - tento o explicar que só era uma assistente, mas ele não permite que eu continue.
- Eu sei que não foi a cirurgiã-chefe. Mas mesmo assim, você estava lá o ajudando. Portanto, você também salvou a minha vida. - ele diz, meio presunçoso, mas ainda cansado.
- David – o chamo pelo nome constado no prontuário, e ele me olha ainda mais dentro de meus olhos – Não se esqueça de que me salvou primeiro. - e então vejo o seu rosto explodir em felicidade, os lábios se curvam num sorriso tão grande e belo que me faz sorrir também.
Ele sabe que me lembro. Ambos sabemos que lembramos. Da delicatessen, da chuva, do táxi, do guarda-chuva...
- O seu guarda-chuva! Preciso te devolver! - digo, ainda com o sorriso bobo que insiste em dançar nos meus lábios.
- Não sei se preciso mais. Acho melhor que fique com ele. Assim terá algo para se lembrar de mim.
- Não preciso de algo para lembrar de você. - a frase sai tão rápido que sei que mal chegou a ser processada no cérebro, porque se tivesse sido, eu nunca teria a proferido. Pelo menos não do modo como ela deu a entender, fazendo-o olhar para mim um pouco incrédulo – e depois,radiante - , fazendo-me começar a sentir as bochechas quentes. Aqueles segundos pareciam intermináveis.
- Ah, sabia que a encontraria aqui. - ouço a voz de Guilherme atrás de nós e me viro rapidamente para ele, com as mãos frias apertando as bochechas, tentando evitar a vermelhidão. Sem sucesso. - Então, como está o nosso paciente? - pergunta, cerrando levemente os olhos, provavelmente tentando ver se realmente minhas bochechas estão rosadas ou é uma ilusão de seus olhos.
- Muito... bem. - me assusto quando a voz falha, então procuro me recompor depois. - Nenhum sinal ruim, nada a se preocupar.
Guilherme examina meu rosto e depois vira-se para David. Quando ele começa a fazer perguntas e indicações normais pós-cirúrgicas, pude finalmente respirar fundo. Ele não havia notado.
- Hum, vejo que está bem mesmo. - diz Guilherme, recolocando o estetoscópio no pescoço. - Porém ainda é necessário que fique sob observação por alguns dias. Por isso designei minha melhor aluna – ele aponta para mim com a mão – para acompanhar diariamente a sua recuperação.
Ao ouvir essas palavras, David retoma o sorriso largo e brilhante; seu rosto se ilumina tanto que se ele não estivesse numa cama de hospital com curativos no abdômen diria que era a pessoa mais saudável do mundo.
Termino minhas anotações enquanto Guilherme fala sobre os cuidados a serem tomados devido a cirurgia. David presta atenção a cada palavra proferida pelo homem que o salvou, seus belos olhos azuis acompanhando cada descrição. Quando finalmente termina, Guilherme se despede dele e solta para mim um “preciso falar com você” antes de sair da sala.
- Então... nos vemos amanhã. - digo, já agarrando a maçaneta da porta, louca para sair daquela sala, para sair de perto dele e das sensações que provoca em mim.
- Não volta hoje? - ele faz uma carinha triste.
- Não, eu... bem, tenho alguns pacientes na clínica para atender, então um colega meu me deixará a par da sua situação hoje à tarde.
- Está bem, então. Até amanhã.
Torço os lábios num breve sorriso, e logo que saio respiro fundo. Percebo Guilherme vindo em minha direção, pega a minha mão e diz:
- Vamos almoçar fora. - ele diz sorrindo. Tento sorrir também, mas ainda estou tensa para conseguir fabricar um sorriso decente, mas só pelo convite já tento me acalmar.
Ele me leva para o restaurante o qual iniciamos o nosso namoro e desde então se tornou o nosso predileto. O lugar familiar me faz finalmente relaxar por completo, e, por um momento, esqueço o que vivi há poucos minutos. Fazemos nossos pedidos de sempre, mas noto desde o início que Guilherme está diferente. Como se estivesse escondendo algo. Eu estremeço.
- Ouça, Rebecca, eu planejei fazer isso essa manhã. - ele diz, enquanto paga a conta sozinho depois de uma longa briga da minha parte, que queria dividi-la – Mas, como você saiuantes mesmo que eu percebesse, decidi que talvez fosse melhor fazê-lo aqui, onde começamos o nosso namoro.
Olho para ele, parte de mim confusa, parte assustada. Se essa conversa fosse o que eu estaria pensando...
- Então, Rebecca... você quer se casar comigo? - ele diz, para o meu profundo desespero, para a sua profunda felicidade, enquanto abre uma caixinha com um lindo anel de ouro com brilhantes faiscando para mim.
Eu estou sem fala. Minha boca se abre diante da situação. Meus olhos se alternam entre a bela joia que parece piscar pra mim e seu rosto – numa expressão intensa de expectativa – a esperar a minha resposta.
Tento não transparecer o meu sentimento confuso. Depois de toda aquela estranha conversa eu esperava por isso; mas ouvi-la sair perfeitamente de seus lábios fez com que meu estômago revirasse milhões de vezes enquanto minha mente lembrava-se de quanto eu esperei por esse momento – desde a infância – sempre quis ter meu final feliz como nos contos de fadas.
Lembrei-me de minha família, meus amigos, e, de repente, me assusto por lembrar o rosto de alguém que não tem (ou pelo menos não deveria ter) nada a ver com a minha vida. O rosto de David – seus lábios sorrindo e os olhos brilhando para mim.
Mas volto rápido de meus pensamentos; tenho que abominar as ideias que possam me fazer desistir. Sei o quanto ele me ama, e o quanto ele me faz bem. Isso deve... bastar.
- Aceito. - digo, vendo seu olhos brilharem e o sorriso se alargar enquanto ele coloca o anel em meu dedo.