É por amor.

Tempo estimado de leitura: 6 horas

    16
    Capítulos:

    Capítulo 16

    Um passo após o outro.

    Álcool, Heterossexualidade, Linguagem Imprópria, Nudez, Sexo, Violência

    Olá!

    Olha só quem passou a madrugada toda terminando de escrever o capítulo *-* e finalmente conseguiu... Se bem que eu levei uns três dias pra escrever o resumo base e escrever por fim este capítulo que ficou imenso u_u... Espero que o tamanho dele compense um pouco dos atrasos das postagens...

    Eu particularmente achei que o capítulo ficou cômico, então não aconselho que comam ou bebam algo enquanto leem (caso o autocontrole não esteja polido xD) embora acredito que eu seja uma besta que ri a toa enquanto escreve, portanto provavelmente quase ninguém precisará seguir esse conselho ... T_T

    Enfim, vamos ao que interessa...

    O capítulo traz surpresas e em sua reta final há uma recordação *-*

    A música que escolhi como tema é a Viva La Vida - Coldplay (ela se encaixa bem com o que acontece com o Sasuke neste capítulo, ou talvez a minha opinião seja falha mesmo -_-, enfim, nas notas emoticon)

    Link: http://www.youtube.com/watch?v=oncmL69ZEJ8

    Notas:

    Friend zone - Zona de amigo/ Zona de amizade. (acredito que quase todos devem saber, mas enfim...)

    Hai, moshi-moshi - "Sim, alô"

    Yoshi - Lá vou eu/Certo/Tudo bem, então.

    Cooktop - É uma espécie de fogão '-'

    Período Edo - (Uma era do Japão por volta do ano de 1603 à 1868) "fonte:wikipédia"

    Acho que é só, qualquer dúvida é só perguntar :3

    Boa leitura!

    Com certeza, ter encontrado sua velha amiga de outrora no clube de leitura havia sido mais uma das estranhas coincidências que o destino parecia vir-lhe impondo desde que regressara ao Japão. Talvez fosse uma forma de lhe fazer pagar pelos seus pecados, ou quem sabe, vê-lo penar por simples capricho de alguma divindade que não lhe tinha apreço. No entanto, ter enfim, trocado algumas palavras com a rosada, depois de tanto tempo, havia lhe proporcionado uma nostalgia reconfortante. Aliás, embora ele não houvesse reunido coragem naquele momento para abraçá-la, enquanto seguia tentando organizar a bagunça que estava seu apartamento, ele ficava imaginando como teria sido tê-la em seus braços, apenas uma vez mais, como estivera antes, naquele tão doce passado.

    (...)

    As horas naquela cálida tarde de terça-feira transcorreram-se lentas na escola de música, visto que como em qualquer inicio letivo, as pessoas trabalham ainda mais nas instituições resolvendo burocracias desde documentações incompletas a acordos em relação às mensalidades, ou seja, muita papelada para ser organizada e obrigações a serem cumpridas.

    Faltavam alguns minutos para as dezoito horas daquele dia. O rapaz de cabelos vermelhos, completamente exausto, já comemorava mentalmente que aquela terça-feira de demasiado trabalho havia finalmente chegado ao seu fim.

    Ágil, ele fechou uma das enormes pastas cheia de documentos sobre sua mesa, levantou-se empurrando a cadeira para trás com suas panturrilhas e espreguiçou-se, estralando o pescoço dolorido por conta do tempo que passara em uma mesma posição:

    — Yo, amigão! Veja só quem veio até aqui só pra te ver, hum! — o loiro surgiu na porta e indagou, esboçando um sorriso sarcástico.

    — Ué, sua moto ainda não ficou pronta? — o ruivo inquiriu enfadado e pegou sua maleta que estava pendurada no cabideiro por ali perto, passando a caminhar na direção da porta.

    — Ah, bem... Parece que o mecânico achou mais um problema nela e a merda agora ficou mais cara, hum! — resmungou dando um passo para trás, abrindo espaço para o amigo passar.

    — Hum... Na boa Deidara, com o dinheiro que você já gastou até hoje mandando aquela lata velha para o conserto, já teria comprado uma nova! — advertiu apagando a luz e saiu da sala, fechando a porta logo em seguida.

    — Não chame a Suzuki-chan de lata velha, ela é linda! — impôs seriamente.

    — Ah, claro! Você e esse seu amor platônico por uma moto! — olhou para o lado, entediado e começou a caminhar.

    — Você não entende! Nós temos uma longa história juntos, não posso simplesmente me desfazer dela depois de tudo o que nós vivemos! — ressaltou e suspirou com nostalgia, passando a acompanhar o outro.

    De repente, pelo corredor o ruivo olhou para trás e observou a menina de cabelos róseos aproximando-se de onde eles estavam, afinal, naquela direção ficava a saída e o horário dela também já tinha sido cumprido:

    — Droga, ela está vindo... O que eu faço? — ele indagou-se em pensamento, virando-se abruptamente para frente e parou de caminhar.

    — O que foi? Por que você parou de repente? — o loiro questionou surpreso e calou-se ao perceber que a garota aproximava-se dos dois.

    — Vamos lá... — o rapaz respirou fundo, tomou coragem, voltou-se para trás de supetão e empalideceu.

    Deidara naquele instante arregalou os olhos e seu queixo quase caiu no chão, arreganhando uma enorme boca, o loiro chocado testemunhou o amigo virar-se de repente e por poucos milímetros de distância, não ter dado de cara com a rosada que pasma, congelou instantaneamente diante daquela colisão quase consumada:

    — O que esse cara acabou de fazer? — pensou o loiro que levou as duas mãos ao rosto, ainda em estado de choque observando os dois à sua frente, que permaneciam cara a cara, como duas estátuas.

    — S-Sasori-san? — finalmente a menina pronunciou algo, entretanto continuou imóvel.

    — S-Sa... — o ruivo transtornado, assim que notou que embora seu rosto não tivesse encostado no dela, seus lábios estavam perto demais, sentiu o sangue que lhe caíra aos pés há poucos segundos atrás voltar com força para o seu rosto, corando-o violentamente. — S-Sakura... — ele apartou-se dela, tomando espaço e engoliu a seco. — Eu notei que você estava abatida quando chegou aqui... Eu quero que saiba que se precisar de alguém para desabafar, pode contar comigo! — expôs com firmeza encarando-a fixamente nos olhos.

    — Ah... Eu estou bem Sasori-san! — contou em seu tom suave de voz. — Sinto muito por ter-lhe preocupado, aliás, obrigada por se preocupar comigo! Você é uma boa pessoa e parece ser um bom amigo também... Espero que você também seja meu amigo! — sorriu docemente.

    — Ah... C-Claro! Eu, você, nós, ah, sim... Com certeza, adoraria ser seu a-amigo! — completamente derretido com aquele sorriso, atordoado, ele simplesmente cedeu e sorriu um pouco sem graça.

    — Obrigada! Bem, eu tenho que ir... Até amanhã, Sasori-san, Deidara-san! — ela desviou-se deles e pôs-se a caminhar rumo à saída, logo sumindo do campo de vista dos dois rapazes que ficaram parados no mesmo lugar.

    — Puta merda! Por um momento eu achei que o Sasori devasso tinha vindo à tona e tomado conta da situação, hum! Mas pelo visto me enganei... Isso foi apenas um acidente do Sasori banana, hum! — zombou segurando a risada e o amigo passou a olhá-lo com rancor. — Mas tirando isso, até que enfim o mané criou coragem, porém, bem como posso dizer... Mesmo quando você acerta você erra cara, na boa... Que papo foi aquele, hum? Nhá, sou seu amiguinho e você pode contar comigo, hum! — caçoou com a voz fina e muita ironia.

    — Já chega... — murmurou fechando os olhos com força e abaixou a cabeça.

    — Parabéns, otário! Você basicamente se auto colocou na friend zone e ganhou uma amiguinha, hum! — levou as mãos aos cabelos, jogando-os para trás, arrasado. — Em pensar que o panaca esteve tão perto de beijá-la, hum... Porra, essas oportunidades não acontecem todos os dias e não podem ser desperdiçadas, mas não, o estúpido teve a brilhante ideia de começar com o papo amizade e deu nisso... — foi interrompido pelo rapaz ao lado que surtou.

    — DROGA, DEIDARA! Eu sei da cagada que eu fiz, mas quando eu percebi, já era tarde demais, cacete! Não precisa esfregar essa merda na minha cara seu desgraçado! — rugiu com o rosto vermelho de pura raiva e muitos xingamentos na ponta da língua.

    — Tá exaltado fera? Mas eu precisava fazer isso... — confessou calmamente. — Sabe? Mesmo sendo teu amigo, você é tão filho da puta que ver você se auto fodendo de vez em quando, faz um bem danado pra minha alma, hum! — sorriu malignamente.

    — Porque você não morre? Seu loiro oxigenado! — inquiriu com desprezo e indignação.

    — Oxigenado não, cara! É natural, hum! — balançou os cabelos e exibiu um sorriso cínico. — E você não vive sem mim! — expôs com convicção. — No fim, eu sou o único que te ama de verdade e você sabe disso, hum! — completou gabando-se do que dissera.

    — Tsc... — se afastou abruptamente do outro. — Caralho, sai de perto de mim que o seu veadômetro acabou de explodir! — advertiu olhando enojado para o amigo.

    — Epa, epa! Não me interprete mal, eu falei no bom sentido cara, hum... Porra, estamos juntos desde as fraldas, mané! — passou a caminhar em direção à saída.

    — É... Você não seria capaz de trocar a “Suzuki-san” por mim... — começou a rir, pondo-se a acompanhar o loiro que o olhou irritado.

    — Droga... Do que você tá rindo, seu puto, hum? Meu amor é verdadeiro, porra! — perguntou e justificou posteriormente, furioso.

    — Claro, claro... E quando é que a sua amada saíra do SPA, digo, mecânico? — indagou com sarcasmo.

    — Não faço ideia e olha que beleza... Você vai ter de me aturar até lá, hum! — sorriu vitorioso e saiu do conservatório.

    — Droga... — olhou para o lado e suspirou desanimado com aquela revelação, deixando também o seu local de trabalho.

    — Poxa, mano... Você me odeia tanto assim, hum? — inquiriu um pouco depressivo.

    — Claro que não, Deidara... Eu te odeio um pouco mais que isso! — confirmou e tomou a frente do amigo, seguindo na direção de seu carro estacionado por ali perto.

    — Danna! Espera, não faça isso comigo só porque eu digo verdades... — pediu acelerando os passos, tentando alcançar o ruivo.

    Embora de uma maneira desmedidamente sarcástica e cruel, de certa forma Deidara tinha razão naquelas circunstâncias, pois ele não havia dito nenhuma mentira, muito pelo contrário, mesmo que de uma forma maléfica, ele havia sido sincero em relação à ação de seu amigo para com a menina de cabelos róseos. Pois, se antes como apenas seu patrão ele já não tinha muitas chances, que dirá como seu amigo! Porém mesmo que parecesse difícil, Sasori não iria simplesmente desistir e estava disposto até mesmo a arrastar o loiro para essa guerra, e o que mais lhe calhasse para ajudá-lo a alcançar o seu tão sonhado romance.

    (...)

    O relógio ainda apontava às dezoito horas e trinta minutos daquela terça-feira primaveril e o rapaz de cabelos negros ainda insistia em organizar o enorme apartamento em que estava morando, apesar de que, não havia notado nenhum progresso, aliás, era o oposto:

    — Tsc... É impressão minha ou a bagunça está aumentando ao invés de diminuir? — questionou-se um pouco confuso, caminhou até o sofá e sentou-se no mesmo, pensativo. — Droga... Eu apenas mudei a baderna de lugar... — concluiu após uma análise detalhada do seu redor. — Mas eu já estou arrumando essa porra há horas! Merda, eu não sabia que isso era tão difícil... — engoliu a seco e começou a se desesperar. — Christine, cadê você? — inquiriu pronunciando o nome de sua ex-empregada que ficará do outro lado do mundo, na América e deixou-se cair deitado sobre o sofá.

    Após refletir por algum tempo enquanto fitava o teto, o rapaz chegou à conclusão de que aquela missão era impossível para sua pessoa e que precisava de ajuda, pois do contrário, ele não iria terminar aquela árdua tarefa ainda naquela semana, ou pior, talvez nem naquele mês.

    Mas quem? Quem poderia ajudá-lo naquele momento? Afinal, ficara fora por um bom tempo do Japão e acabara perdendo todos os contatos que tinha, exceto o de uma certa pessoa com quem acabara refazendo contato, mesmo que involuntariamente, quando regressou:

    — Droga... Justo ele? — questionou-se aborrecido.

    Um pouco relutante apanhou o celular sobre a pequena mesa de centro e lentamente, procurou em sua lista de contatos o número e após hesitar umas três vezes ele criou coragem e finalmente fez a ligação, que rapidamente foi atendida:

    — Hai, moshi-moshi, Uzumaki Naruto Dattebayo! — a voz do outro lado da linha se apresentou.

    — É dobe... Eu sei que é você... — o moreno ironizou entediado.

    — T-Teme? — o loiro reconheceu a voz do outro, totalmente surpreso.

    — Não, bobão... Sua mãe! Vem cá, você não viu o meu nome na ligação não, é? — questionou sentando-se novamente.

    — Ah, é porque hoje mais cedo o visor do meu celular quebrou daí amanhã irei comprar outro... — explicou tranquilamente e de repente ficou animado além do normal. — Mas, né, né, né, porque você me ligou, hein? — questionou com muita esperança em seu coração.

    — B-Bom, é... — gaguejou intimidado com toda aquela euforia. — É que, preciso te perguntar uma coisa... Você sabe de alguém... Alguma faxineira, arrumadeira ou sei lá o que, que saiba limpar uma casa? — indagou um tanto impaciente.

    — Uma empregada? — o loiro indagou enfadado.

    — Sim, de preferência! O apartamento está uma baderna e eu não sei limpar... — foi interrompido.

    — Né, teme, você está no Japão... Você deveria arrumar a sua própria bagunça! — advertiu com a voz carregada de ironia.

    — Idiota... Qual foi a parte do “eu não sei limpar” que você não entendeu? — inquiriu enraivecido.

    — Hum... Né, Sasuke... Eu vivo sozinho e sou eu que limpo tudo, então acho que posso te ajudar... — se ofereceu para ajudar com ideias mirabolantes passando em sua mente.

    — N-Não, sabe Naruto, pensando bem... Deixa pra lá, eu me viro... — ficou de pé em frente ao sofá, receoso e foi interrompido.

    — Nhá, eu serei o seu sensei teme! Eu sempre quis fazer algo assim... Por isso não tema que logo NaruNaru-sensei estará aí para ajudá-lo! — avisou com chamas nos olhos.

    — NÃO! Eu já disse que não precisa, dobe... Não estou em um bom dia, esquece o que eu... — tentou desesperadamente recusar, mas foi interrompido outra vez.

    — Eu já estou indo aí... Até daqui a pouco! — finalizou a ligação na cara do amigo.

    — NÃOOO! — gritou com o aparelho ainda colado ao rosto. — DROGA! — jogou o celular contra a parede, fazendo-o estilhaçar. — Que filho da puta insistente do caralho! Ai que ódio, merda... Eu odeio esse cara, será que ele não desconfia da inconveniência? Que porra... — colocou as mãos sobre a cabeça e quase arrancou os próprios cabelos.

    Enquanto o jovem Uchiha se martirizava e furioso xingava o mundo e o universo, o Uzumaki em seu apartamento, cantarolava feliz da vida, enquanto arrumava suas coisas para ir para a casa de seu amigo de infância:

    — Yay, yay, yay... Eu sabia que um dia assim chegaria! O teme ainda me ama, tudo voltará a ser como nos velhos tempos! — seus olhos se encheram de luz e ele correu até o seu quarto.

    Chegando ao cômodo, cuidadosamente ele passou a caminhar sobre o assoalho escuro em direção a sua cama, abaixando-se em frente à mesma e puxou uma grande mala que se encontrava lá embaixo:

    — Vejamos... — ele abriu a mala e começou a analisar. — Hum... Acho que está tudo aqui! Espera... Não posso me esquecer do kit de emergência! — fechou a mala e levantou-se, caminhando até o guarda-roupa posteriormente.

    Assim que abriu uma das portas do móvel, cautelosamente levou uma de suas mãos até a maleta que continha o tal kit de emergência que se localizava estrategicamente emaranhada na montanha de roupas amarrotadas empilhadas lá dentro e puxou vagarosamente.

    — Yoshi! Consegui... — comemorou e bateu a porta rapidamente, prevenindo que aquela montanha desabasse sobre si.

    O rapaz então pegou mais algumas “muitas” coisas e quase vinte minutos depois, finalmente desceu ao estacionamento do prédio em que morava e enfiou tudo dentro de seu carro:

    — Vamos lá Uzumaki Naruto! — adentrou o automóvel e fechou a porta, dando a partida em seguida.

    Voltando ao rapaz de cabelos negros, minutos depois, embora descabelado, ele já estava um pouco mais calmo e havia sentado outra vez no sofá. Pensativo, ele tamborilava os dedos da mão sobre as pernas e mantinha a cabeça apoiada às costas do sofá, fitando o teto. Porém, de repente ele ouviu o interfone tocar e isso lhe tirou de seus devaneios:

    — Tsc... — pôs-se de pé custosamente e caminhou até a cozinha, atendendo a chamada. — Diga! — ordenou um tanto desinteressado.

    — Senhor Uchiha, um jovem chamado Uzumaki Naruto veio ver o senhor, posso deixá-lo subir?— a voz feminina do outro lado da linha, provavelmente a recepcionista do prédio, indagou.

    — Droga... Não é que esse idiota veio mesmo? — pensou irritado e desviou o olhar para o lado. — Tsc... Fazer o que né? Deixa-o subir! — decidiu completamente desanimado.

    — Sim senhor! — ela finalizou a ligação.

    Quase cinco minutos depois...

    A campainha começou a ser tocada freneticamente e o moreno que permanecia em frente ao interfone posto à parede da cozinha, enervado, logo foi até a porta da sala e abriu-a:

    — Idiota, precisava mesmo tocar tanto... — começou a ralhar e foi interrompido pelo outro que o agarrou, arrebatando-o contra sua vontade para um apertado abraço.

    — Nhá, teme... Eu senti tanto a sua falta! — apertou ainda mais aquele abraço, com os olhos marejados de alegria e nostalgia.

    — PORRA, desgruda de mim! — empurrou o loiro, custosamente se libertando daquele abraço involuntário ao qual fora submetido.

    — Tudo bem! — aceitou e se apartou alguns passos para trás, logo se abaixando e apanhou todas as bagagens que trouxera.

    — O-O que significa tudo isso? — o Uchiha arregalou os olhos notando a quantidade de tralhas que o jovem a sua frente havia trazido consigo e indagou chocado. — V-Você por acaso já veio de mudança? — questionou temeroso e deu dois passos para trás.

    — Claro que não, teme! Eu apenas vim preparado para qualquer eventualidade! — expôs confiante e adentrou o apartamento do amigo. — Nossa... Um tufão passou por aqui? — inquiriu parando perto do sofá, pasmo com toda a bagunça.

    — N-Não... Bom, não estava tão bagunçado assim antes, mas eu fui tentar arrumar e acabei piorando a situação! — confessou envergonhado.

    — Nossa... Que idiota! — argumentou naturalmente.

    — Tsc... Eu não quero ouvir isso de você! — rebateu um pouco constrangido.

    — Pois bem, chega de jogar conversa fora e vamos ao que interessa! — anunciou arrastando a mala para um canto da sala e agachou-se ao seu redor, abrindo-a.

    — Hum... — o moreno se aproximou do outro e pôs-se a observar.

    — Aqui, põe isso aqui... — retirou uma faixa de dentro da mala e entregou-a nas mãos do Uchiha, e logo mais retirou mais algumas outras coisas.

    — Isso é... — o rapaz analisou atentamente. — Uma bandana? — ele questionou lendo a frase “eu amo ramén” estampada em vermelho naquele objeto. — Merda... Você tá brincando comigo, né? — indagou voltando-se para o amigo.

    — Claro que não! Isso é sério, anda, coloca isso logo... — jogou o que tinha em mãos sobre os ombros, pôs-se de pé e tomou a bandana do moreno, amarrando-a na cabeça dele tão rápido que o mesmo não conseguiu se evadir daquele golpe.

    — Tsc, seu idiota! — o garoto resmungou, mas se conformou e permitiu que aquilo ficasse preso a sua testa.

    — Né, agora vista isso... — estendeu na direção do moreno o outro objeto que tinha em sua posse.

    — Hum? — apanhou o grande tecido com alguns babados as bordas. — Um avental? — inquiriu incredulamente espantado. — Porque diabos eu vestiria essa porra? — questionou enraivecido e jogou o avental na cara do loiro.

    — Ora, vamos... É um modelo masculino e toda empregada que se preze deve usar um! — avisou puxando o pano de cima de seu rosto e estendeu-o novamente sobre suas mãos, para Sasuke.

    — E-Espera aí... Eu não pretendo me tornar uma empregada! — alertou transtornado.

    — Vamos lá, teme, entre no espírito da coisa! Senão será ainda mais difícil para você aprender a limpar! — advertiu com segurança na voz.

    — Hum... — engoliu a seco. — Sasuke, não é como se você estivesse na vantagem aqui... Submeta-se a isso e aprenda a limpar, do contrário terá de viver no meio de toda essa baderna até conseguir alguém para limpar por você! — a sua consciência o aconselhou. — T-Tudo bem, dê-me isso aí! — tomou o avental das mãos de Naruto e o colocou de forma desajeitada em si.

    — Yoshi! Agora venha que o NaruNaru-sensei irá te ensinar tudo o que você precisa saber! — contou com chamas nos olhos, retirou um espanador de dentro da mala e pôs-se a caminhar.

    — Tsc. T-Tudo bem! — aceitou sentindo a derrota pesar sobre os ombros e passou a acompanhar o outro. — Maldição... Que humilhação! — revirou os olhos e suspirou profundamente.

    Chegaram logo à cozinha e assim que adentrou o cômodo o loiro parou de caminhar instantaneamente e o moreno que vinha logo atrás, chocou-se contra suas costas:

    — Droga, idiota! Porque parou de repente? — perguntou desviando do rapaz a sua frente e o ultrapassou por alguns passos.

    — Chegamos! — anunciou um pouco atrasado.

    — É... Eu percebi que chegamos! — desviou os olhos e sentou-se à mesa que havia no cômodo. — Aliás, porque estamos aqui mesmo? — indagou confuso e repousou o queixo sobre a mão.

    — Toda limpeza começa pela cozinha, isso é senso comum! — explicou com firmeza e analisou o local em que estava. — Mas vejo que não há quase nada sujo por aqui... — comentou um pouco surpreso.

    — Bom, é que eu ainda não usei muitas vezes... — argumentou apático.

    — Hum... Mas bem, quando você for usar a cozinha... Regra número um: Nunca suje a louça se você pode simplesmente comer rámen! Benefícios: Depois de comer é só jogar a embalagem fora e você não perde tempo lavando pratos! — apontou para o moreno, com uma expressão de quem sabia do que estava falando.

    — I-Interessante... — murmurou com mais incredulidade do que sarcasmo.

    — Claro que sim, NaruNaru-sensei sabe exatamente do que está falando! — expôs com certa arrogância, cruzando os braços e meneou a cabeça de forma positiva. — Mas bom, deixando isso de lado, como aqui não está tão bagunçado, vamos para outro lugar... Ah, é mesmo... Regra número dois: Se não estiver tão sujo assim, simplesmente ignore! Benefícios: Economiza produtos de limpeza já que você deixa para limpar tudo de uma vez quando estiver tudo sujo e economiza seu tempo de trabalho por vários dias na semana! — revelou mais uma regra e caminhou até a porta, saindo do cômodo. — Vamos, meu discípulo! — deu de costas e pôs-se a caminhar pelo corredor.

    — Hum... — respirou fundo e um tanto relutante levantou-se da mesa, seguindo o loiro posteriormente.

    Logo chegaram à sala e Naruto pôs-se a ensinar ao moreno a forma correta de espanar os móveis, bater a poeira das almofadas do sofá, passar a flanela sobre a mesa de centro e por fim varrer o chão, pois não era como se algum dos dois soubessem utilizar o aspirador de pó.

    — Aqui... — o loiro levantou o tapete da sala e apontou para o chão. — Varra para debaixo do tapete! — pediu naturalmente.

    — O que? Como assim pra debaixo do tapete? — questionou perplexo.

    — Regra número três: Quando for pouca sujeira, varra para debaixo do tapete! Benefícios: Você economiza sacos de lixo e a casa parece limpa do mesmo jeito! — sorriu e fez sinal positivo com uma das mãos.

    — Hum... Essas suas regras... — murmurou de forma que o outro não o ouviu. — Tudo bem! — varreu conforme o amigo lhe instruíra.

    — Ótimo! — soltou o tapete e deu alguns passos, distanciando-se do centro da sala. — Vamos, agora é a vez do seu quarto! — avisou rapidamente alcançando a porta e adentrando o cômodo.

    — Ah, claro... — concordou desinteressado e seguiu para o mesmo lugar em que o loiro já se encontrava.

    — Bom, colocamos todas as malas que encontramos espalhadas pela casa aqui no seu quarto, então o primeiro passo será retirar todas as suas roupas e guardá-las no guarda-roupa! — advertiu abaixando-se ao redor da primeira mala e abriu-a, pegando todas as roupas de uma só vez.

    O moreno nada proferiu, apenas observou o amigo se aproximar de seu guarda-roupa e soltar todas as roupas ao chão.

    — Bom, agora me ajude a pegar todas as roupas de todas as malas e colocá-las aqui nessa pilha! — pediu ao Uchiha e foi até outra mala por ali perto, fazer a sua parte.

    — Hum? — indagou completamente desarranjado, mas não questionou e simplesmente fez o que o outro dissera.

    Quase dez minutos depois...

    — Poxa, teme... Você tem muita roupa! — concluiu finalmente jogando o ultimo amontoado de roupas da última mala sobre a enorme montanha que se formou em frente ao guarda-roupa e logo abriu as portas do mesmo. — Bem, vamos lá! Regra número quatro: Empilhe a roupa de forma estratégica dentro do seu guarda-roupa! Benefícios: Você economiza o tempo que gastaria dobrando elas e ainda consegue economizar bastante espaço! — anunciou mais uma regra e começou a enfiar a montanha de roupas para dentro do móvel. — Anda, me ajuda aqui! — pediu enquanto empurrava e espremia tudo para que coubesse.

    — Hum... — ajudou o loiro a empurrar e assim que tudo adentrou o guarda-roupa, o Uzumaki agilmente enxotou o Uchiha para longe e fechou as portas.

    — Pronto! — bateu as mãos e suspirou com orgulho. — Bom, o chão não está sujo então declaro neste momento que a nossa missão foi cumprida com êxito! Olha só, terminamos de limpar! — argumentou com os olhos brilhantes e sorriu para o moreno.

    — Bom... — observou ao redor, caminhou até a porta e analisou a sala e corredor. — Aparentemente está organizado... Mas Naruto, você não me ensinou a limpar! Você me ensinou apenas a disfarçar a sujeira! — revelou com muita sinceridade e descrédito.

    — Está melhor que antes, não está? — indagou com ironia.

    — Tsc... Tudo bem! Está ótimo, agradeço muito pela sua ajuda... Então já pode... — foi interrompido mais uma vez.

    — Yoshi! Agora só falta te ensinar mais uma coisa! — avisou e saiu correndo do quarto, chegando à sala pegou a maleta que trouxera consigo naquela missão.

    — Hãn? Tem mais? — inquiriu aborrecido e foi até o loiro.

    — Sim! Falta o kit de emergências... Venha! — pôs-se a seguir para a cozinha.

    — Está bem... Mas é melhor que seja rápido! — exigiu e foi também até a cozinha.

    Assim que o Uchiha chegou ao cômodo destinado, a maleta estava posta sobre a mesa e o amigo já o aguardava ao redor da pia, com um caneco de alumínio cheio d’água em mãos:

    — O que você pretende fazer? — o moreno inquiriu enfadado acercando o outro.

    — Bom... Primeiro você tem que colocar a água para ferver! — entregou o objeto nas mãos de Sasuke e foi até o cooktop, acendendo um dos bocais. — Coloque aqui! — apontou para o local designado.

    — Hum... — acatou e fez conforme Naruto lhe pedira. — Pronto! O que mais você quer eu faça? — perguntou desanimado. — Droga, tomara que esse cara vá embora logo! — desejou mentalmente e sentou-se à mesa.

    — Bom, não descuide da água, para não queimá-la! — alertou com seriedade.

    — Sério? Não sabia que água queimava! Podia jurar que ela evaporava... — foi interrompido.

    — Teme, não discuta com NaruNaru-sensei! NaruNaru-sensei tem uma mente iluminada, não o questione! — advertiu seriamente.

    — Ah, perdoe-me a impertinência! — respondeu em tom de deboche.

    — Tá perdoado! — meneou a cabeça positivamente e caminhou até a mesa, abrindo a maleta.

    — O que? Então esse suposto Kit de emergência não era nada além de uma maleta abarrotada de rámen? — perguntou perplexo observando as variedades de Coop Noodles que o loiro acariciava com um brilho no olhar.

    — Óbvio! Existe emergência mais emergente que não ter rámen para o jantar? — respondeu com outra indagação. — Ramén é necessário, ramén é vida! — anunciou com convicção e com o punho cerrado, determinado.

    — Hum... — tentou falhadamente entender aquela comoção.

    — Bom... NaruNaru-sensei irá esperar junto de seu discípulo a água ferver! — argumentou sentando-se em uma das cadeiras.

    Quase cinco minutos transcorreram...

    — Yoshi! — berrou de repente, assustando o moreno que logo disfarçou e habilmente, o loiro foi até ocooktop, apagou o fogo e retirou a água fervente retornando à mesa em seguida. — Aqui está! — pegou uma garrafa térmica vazia que estava sobre a mesa, abriu-a e preencheu-a com a água quente, tampando-a posteriormente. — Né, teme... Tem vários sabores, pegue o que você quiser! — o garoto sugeriu e pegou um para si, abrindo uma pequena parte da tampa e despejando a água fervente dentro da embalagem.

    — Não, obrigado... — recusou, mas foi interrompido antes que pudesse falar mais alguma coisa.

    — Tem de sabor tomate! — contou desinteressado e fechou a tampa, prensando-a com os hashi por cima.

    — Tudo bem, eu aceito um! — mudou de ideia instantaneamente e apanhou o sabor sugerido pelo amigo.

    Em silêncio, os dois rapidamente terminaram de comer seus macarrões e em seguida Sasuke se levantou da mesa, retirou o avental e a bandana, colocando-os sobre a mesma. Naruto por sua vez pegou as duas embalagens vazias e jogou-as na lixeira da cozinha, saindo de lá em seguida:

    — Né, teme... Faz tanto tempo desde a última vez que eu dormi na sua casa! — comentou emocionado com a nostalgia e assim que chegou à sala começou a procurar por algo no meio de suas tralhas amontoadas no canto.

    — O que? Você está pensando que vai pousar aqui? — indagou chocado com aquela situação e deixou a cozinha também. — Agora eu entendi o porquê desse tanto de coisas que trouxe consigo! — argumentou irritado, aproximando-se da sala.

    — Exato! — confirmou suas intenções. — Ah! A gente ficava jogando videogame até tarde e depois íamos pra debaixo dos cobertores com uma lanterna e contávamos histórias de terror! — compartilhou algumas recordações, com saudade.

    — Ah, claro... E você sempre se borrava de medo! — desviou o olhar para o lado, enfadado.

    — Né, né, você se lembra daquela vez que nós estávamos acampando no quintal da sua casa, seus pais haviam viajado e você contou uma história de terror tenebrosa... Daí nós ouvimos um barulho vindo do meio da mata e nós dois saímos correndo da barraca e tarde da noite fomos parar na casa da Sakura-chan? — inquiriu entusiasmado, enquanto tentava puxar seu travesseiro que ficara preso dentro de sua mala.

    — Tudo bem dobe... Você pode dormir no sofá! — um pouco abatido depois de ter ouvido aquele nome, ele mudou de assunto. — Só não faça barulho! — deu de costas e foi para o quarto, jogando-se sobre sua cama.

    Porém logo em seguida o loiro com um colchão enrolado debaixo do braço, adentrou o cômodo e projetou-se ao lado da cama do moreno:

    — Yoshi! Não será preciso dormir lá! — estendeu o futon sobre o chão. — Eu vim preparado! — sorriu e mostrou um sinal positivo com a mão.

    — Droga! Que cara chato! — murmurou e enfiou a cara no travesseiro.

    Rapidamente o Uzumaki desligou a luz, ajeitou seu travesseiro sobre o futon e deitou-se, esticando o pequeno cobertor sobre as pernas.

    — Né, teme... Você não me respondeu! — a voz do garoto quebrou o silêncio em meio à escuridão. — Você se lembra... Né? — seu tom ficara mais sério, mas não obteve uma resposta. — Droga, cara... Não me ignore! Eu sei que você ainda não dormiu... — insistiu e prosseguiu conversando mesmo que sozinho sobre aquele passado nostálgico.

    De olhos fechados, embora o rapaz de cabelos negros não pronunciasse uma só palavra, ainda acordado, ele ouvia atentamente a tudo que o loiro dizia. E involuntariamente vinham-lhe todas aquelas cenas em sua mente, obrigando-o a se afundar naquelas lembranças e aos poucos deixava de ouvir a voz de seu velho amigo, mergulhando de vez naquelas recordações, vivendo-as outra vez.

    Aproximadamente quatro anos atrás:

    Era abril e a primavera que estava em sua reta final, ainda manifestava suas flores pelas áreas campestres daquela pacata cidade aos arredores de Tokyo.

    Os dois amigos haviam combinado ainda na escola de que iriam acampar e assim decidiram que o fariam no enorme quintal da casa de Sasuke no fim de semana que logo chegou.

    Já era por volta de dezenove horas, os pais do jovem Uchiha não estavam em casa e os garotos estavam terminando de montar a barraca sobre o gramado do jardim:

    — Yoshi! Terminamos... — o loiro comemorou e se atirou para dentro daquela cabana que ajudara a erguer.

    — Droga, dobe... Cuidado senão vai acabar desmontando! — ralhou e entrou cautelosamente em seguida.

    — Relaxa... Eu amarrei bem firme! Não vai cair nem com um tufão! — garantiu um tanto arrogante.

    — Naruto... Você sabe o que é um tufão né? — indagou desconfiado e sentou-se no canto, apanhando uma lanterna.

    — B-Bem... — engoliu a seco. — Yoshi! Eu começo primeiro! Prepare-se para morrer de medo! — mudou de assunto e riu maleficamente.

    — É... Pelo visto ele não sabe! — pensou olhando para o lado entediado e acendeu a luz da lanterna que tinha em mãos. — Toma! — jogou o objeto luminoso para o amigo e apoio o cotovelo sobre uma das pernas, repousando a cabeça sobre uma das mãos. — Pode começar! — sugeriu com uma expressão de quem já não esperava por uma grande história de terror e não queria se decepcionar nutrindo muitas expectativas.

    — Pois bem, vamos lá... — apontou a luz para o queixo de forma que iluminou deixando várias sombras em seu rosto. — Há muito tempo atrás, havia uma raposa de nove caudas comedora de rámen amaldiçoado... — começou a contar a sua história “tenebrosa”.

    Algumas horas depois...

    — E nunca mais souberam dos rastros da moça que vendia rámen amaldiçoado naquele templo... Fim! — finalizou tentando fazer sua voz parecer assustadora. — Né, né, ficou com medo? — indagou com um brilho no olhar.

    — Hum? — o moreno olhou para o outro e bocejou preguiçosamente. — Bom, tirando a parte de que suas longas histórias não fazem muito sentido... Se bem que você não faz sentido... — concluiu e coçou um dos olhos, um pouco sonolento.

    — Vamos, diga logo se você sentiu medo! — suplicou mordendo o cobertor de ansiedade.

    — Hum... Você quer a verdade ou você quer ser feliz? — questionou apreensivo.

    — EU QUERO SER FELIZ, TEME! — berrou desesperado quase deixando escapar algumas lágrimas.

    — Sim, eu fiquei com muito medo! Acho que até molhei as calças... — mentiu tentando falhadamente encenar uma expressão de pavor, que parecera mais de tédio.

    — Yay! — o loiro comemorou e jogou a lanterna para o amigo. — Agora é a sua vez! — se posicionou entusiasmado e abraçou um travesseiro.

    — Hum... Só se você jurar que irá me deixar dormir e não irá me acordar a cada barulho que você ouvir ou imaginar que ouviu igual da última vez! — impôs aquela condição.

    — Tudo bem! Eu era uma criança naquela época, agora sou um homem... Então pode começar que eu estou preparado! — anunciou com chamas nos olhos.

    — Época? Isso foi na semana passada! — comentou com um olhar perplexo.

    — Não se apegue a esses detalhes... Começa logo! — pediu apertando ainda mais o travesseiro.

    — Certo, mas não me responsabilizo pelos efeitos colaterais que isso provocará nesse teu cérebro movido a carvão! — advertiu relutante. — Enfim... Vou começar! — arrumou sua postura, apontou a luz para o queixo assim como o amigo fizera, estampou sua inexpressividade e pigarreou. — Dobe, você sabia que há muito tempo atrás, no Período Edo, houve uma chacina aqui em Hinode que na época ainda era um pequeno vilarejo? — inquiriu com um tom de voz frio.

    — C-Chacina? — gaguejou afundando o queixo no travesseiro e arregalou os olhos.

    — Sim! Durante uma longa disputa pelo domínio dessas terras, houve execuções em massa... Essa floresta aqui perto de casa, por exemplo, foi banhada com o sangue de muitos inocentes! — completou com pesar.

    — T-Teme... Eu... — engoliu a seco e tentou disfarçar um pouco do pavor que lhe subia arrepiando a espinha.

    — Hum? Você está com medo? Se quiser eu posso parar... — foi interrompido.

    — NÃO! Eu não estou com medo! Pode continuar! — usou toda a sua coragem e respirou fundo.

    — Tudo bem então... Bom, continuando... — prosseguiu contando a sua história.

    Quase dez minutos depois...

    — Por isso, até hoje ouve-se alguns rumores de que uma mulher vestida de um quimono branco todo ensanguentado, vaga por essa floresta aqui perto de casa... Então os morados mais antigos costumam alertar de que quando você ouvir um barulho de passos vindo da mata pela noite... Você tem de correr sem olhar para trás e você não deve deixar a porta da sua casa aberta, aliás, se você entrar em uma casa vazia, ela já estará lá esperando por você! — terminou notando que o loiro tremia pavorosamente. — Né, você sabe que eu inven... — foi interrompido.

    — AH! — o garoto gritou apavorado e em seguida aproximou-se do moreno. — V-Você ouviu isso? — sussurrou para o amigo.

    — Ouvi o que? — questionou confuso e logo que se calou, ele também ouviu o afundar de passos pela mata.

    — A m-mulher d-do quimono ensanguentado! — concluiu aterrorizado e saiu correndo feito louco da cabana. — Não olhe para trás, não olhe para trás... — repetia para si mesmo durante a fuga.

    — Droga, dobe... Espera aí, aonde você vai? Era tudo mentira... — pôs-se a seguir o amigo que nada ouviu do que ele dissera.

    — EU NÃO QUERO MORRER! — berrou pulando alguns arbusto e caindo no jardim da casa vizinha, e rapidamente projetou-se à frente da porta, pondo-se a esmurrá-la desesperadamente. — Abra a porta, abra a porta... Socorro! — gritou com todas as suas forças.

    — Idiota... Para de berrar na porta da casa dos outros, já passou das vinte e três horas! — ralhou em um forte sussurro pulando os arbustos e invadindo o quintal vizinho também.

    Mas antes que alcançasse o amigo, a porta dos fundos daquela casa foi aberta de supetão e por detrás dela a menina de cabelos róseos surgiu notavelmente assustada:

    — O-O que está acontecendo? — ela questionou um pouco mais calma ao avistar o garoto.

    — Graças a Deus... — o loiro desviou-se dela e entrou na cozinha. — Anda logo teme, temos que fechar a porta antes que seja tarde! — alertou escondendo-se por detrás da menina.

    — Tsc... Naruto, eu inventei aquela história toda! — confessou adentrando a casa da garota também. — Com licença Sakura, desculpa pela intromissão dessa marmota, digo, desse cara aí... — tomou o lugar da menina que se desviou para o lado e puxou o loiro pelo braço, mas o mesmo se agarrou à maçaneta da porta. — Vamos embora, você provavelmente acordou a Sakura com esse tumulto... Eu já disse que era tudo mentira! — repetiu puxando o loiro com mais força ainda.

    — Eu não vou voltar pra lá de jeito nenhum, nem fodendo eu saio daqui! — anunciou determinado e realmente, havia grudado de tal maneira naquela maçaneta, como se sua vida dependesse daquilo.

    — Olha a boca, seu estúpido! — repreendeu a palavra de baixo calão que o outro proferira.

    — Né, Sasuke-kun... Eu não estava dormindo! Estou empolgada com um livro e o estava lendo até agora pouco... — contou com seu tom suave de voz. — Aliás, parece que ele está com medo e se ele não quer ir... Não tem problema se ficarem aqui um pouco até ele se acalmar! — ela sugeriu docemente.

    — Você ouviu né? Você ouviu?! — repetiu desesperadamente.

    — Tsc... Certo! — parou de puxar o menino apavorado. — Sinto muito pelo incômodo... — suspirou desistente e rapidamente o jovem Uzumaki fechou a porta, escorou-se a mesma, sentindo um enorme alívio posteriormente.

    — Está tudo bem, Sasuke-kun... Sente-se aí, eu assei biscoitos há algumas horas, mas provavelmente ainda estão quentinhos! Ah, também tem chá... Será bom para acalmá-lo! — argumentou seguindo até a pia, onde se encontrava o pote de porcelana coberto por um pano de prato e assim que o pegou, voltou-se para a mesa, colocando-o sobre ela.

    — Hum... Que cheiro bom! — o loiro desencostou-se da porta e caminhou até a mesa, sentando-se à mesma. — Né, você é aquela menina lá da nossa sala... Sakura, né? — questionou esforçando sua memória para se recordar da aparência dela.

    — Que intimidade é essa? É Sakura-san pra você! — o moreno rosnou por entre os dentes para que apenas o amigo pudesse ouvir e o lançou um olhar ameaçador.

    — E-Entendido! — obedeceu sem pestanejar.

    — Sim, e você é o Uzumaki-san... — foi interrompida.

    — Pode me chamar de Naruto... Sakura-chan! — sorriu amigavelmente.

    — Tudo bem... Naruto-san! — retribuiu o sorriso e apanhou a garrafa térmica sobre a mesa, servindo o chá para os dois.

    — Yoshi! Isso parece estar muito bom... — tomou um rápido gole do chá quente e sem fazer cerimônia enfiou a mão no pote, pegou alguns biscoitos e pôs-se a devorá-los.

    — É... Pelo visto você já se recuperou! — o moreno salientou, sentindo um pouco de vergonha alheia. — Merda... Esse cara tem sérios problemas! Ainda bem que ela é boazinha, pois com o escândalo que ele fez, se fosse outra pessoa teria chamado a polícia... — pensou e revirou os olhos, um pouco aliviado.

    Naquele mês de abril, quase no fim da primavera, os dois amigos que acampavam ao ar livre, por causa do barulho vindo da mata, acabaram passando a noite acordados na casa da doce vizinha, enquanto comiam biscoitos, tomavam chá e jogavam conversa fora. Porém, eles nunca souberam que aquele barulho que ouviram, fora causado por um esquilo que caíra de uma árvore perto de onde haviam montado a barraca.

    De volta ao presente, o moreno emergiu de seus devaneios e suspirou pesadamente, tocado profundamente por aquela nostalgia que lhe envolvia:

    — Né, dobe... Respondendo a sua pergunta... É óbvio que eu me lembro, idiota! Afinal, não dá para simplesmente esquecer essas coisas! — confessou um pouco acanhado, mas percebeu que o amigo já não falava mais e ouviu um barulho estranho. — Hum? — arrastou-se para a beirada da cama e com ajuda da languida luz da lua que adentrava pelas vidraças da janela do quarto, observou que o amigo já dormia igual uma pedra, roncava e até mesmo babava naquele instante. — Tsc... Esse cara tem mesmo sérios problemas! — deixou escapar uma rápida risada e deu de costas, voltando a deitar no centro de sua enorme cama.

    Embora no início ele realmente estivesse relutante e mesmo naquele momento, ainda se sentisse contrariado pelo loiro que o enrolara e acabara por dormir em sua casa e o suscitara involuntariamente aquelas recordações, ainda assim o jovem Uchiha sentia-se um tanto contente com aquela companhia depois de tanto tempo. Ou talvez, ele estivesse apenas sofrendo os efeitos colaterais daquela nostalgia, porém, de certa forma o destino estava o empurrando lentamente para a trilha que um dia, no passado, ele percorrera. Um passo após o outro e aos poucos o caminho se faz.


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