Como vou viajar, decidi postar o capítulo antes.
Boa leitura!!!
Bjs.
PS: Quero opiniões!!!
- Rebecca? Rebecca! Você está bem? - agora era Guilherme me trazendo de volta ao mundo real. - Que susto foi esse que você tomou?
- Ele, eu acho que... - eu tentava organizar a mente para as palavras saírem.
- O quê? - ele perguntou, já impaciente com os meus segundos de desatenção.
- Eu já o vi antes. - digo, e o vejo semicerrar os olhos, com certeza julgando minha falta de atenção e o comentário completamente desnecessários.
Mas eu me importei. Não imaginei que nos encontraríamos novamente dessa forma.
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Cap. 3
Eu já havia voltado à minha xícara de café na cantina do hospital, quando escuto a bronca cair sobre os meus ombros.
- Rebecca? Que diabos foi aquilo com você? Você nunca perdeu o foco antes! Durante uma cirurgia você não pode parar simplesmente para ver se conhece ou não a pessoa. A vida dela está em suas mãos! - esbravejava Guilherme, agora sentado de frente pra mim, e a única coisa que posso fazer é agradecer a Deus por ter sido ele o cirurgião chefe.
- Desculpe, é que ele... ele me ajudou há alguns dias. - digo enquanto aliso com a ponta do dedo a borda da xícara, sem nenhuma vontade de terminar aquele café.
- Ótimo. Agora você retribuiu o favor. - ele sorriu e pegou minha mão. - Mas, para que ele saiba, vou colocar você para acompanhá-lo no pós-operatório.
Meu sorriso finalmente se abre depois que ele diz isso. Bem, eu sabia que tinha ocorrido tudo bem na cirurgia, mas realmente gostaria de ver de perto ele se recuperar completamente. Isso sim seria ótimo.
- Então, podemos ir finalmente comemorar nosso aniversário de namoro? - ele disse, eu sorri e afirmei com a cabeça. - Então vamos logo, antes que nossos serviços sejam novamente solicitados! - ele riu alto enquanto me puxava pelo braço até o estacionamento. É. Às vezes Guilherme era um pouco frio diante dessas questões médicas.
Mas era o nosso aniversário de namoro. Um ano desde que nos conhecemos nas aulas de especialização – eu a aluna e ele o professor – eu não podia estragar tudo por causa de um conhecido ferido.
Eu realmente estava preocupada; estranhamente abatida com o ocorrido. Mas ele era só um conhecido, uma alma boa que me ajudou quando muito precisei. Porque estou tão ansiosa? Tão agoniada?
Durante toda a noite – que deveria ser romântica – Guilherme chamou atenção para a minha desatenção a ele. Sentindo-me mal por isso, aceitei o convite para dormir no seu apartamento – mesmo sabendo que eu precisaria acordar cedo amanhã pra trabalhar e ele não – quis me desculpar por isso. Mas talvez não tenha sido a melhor maneira. Às vezes eu percebia o seu olhar de total irritação enquanto tentava, sem sucesso, encontrar nos meus olhos algum prazer, algum amor. Mas, por muitas vezes, meus olhos não estavam vendo os dele.
Meus olhos estavam longe, mais precisamente no hospital, tentando descobrir o porquê daquela visão estranha antes da cirurgia. Depois eles lembraram dos olhos daquele homem que não só me ofereceu o táxi, como me emprestou seu guarda-chuva. Tão gentil...
- Ah, cansei! Assim não dá, Rebecca! Você pode estar em qualquer lugar, menos aqui comigo! - Guilherme me larga e se senta ao meu lado na cama, suspirando alto.
- Desculpa, Guilherme, é sério. Eu só...
- Está cansada, entediada, ou com raiva de mim por acaso? O que foi que eu fiz pra merecer o seu total desinteresse? - ele ri de um jeito que nenhum de nós se convence.
- Eu... ah me desculpe, me desculpe, por favor, me desculpe! Eu tenho que... estar no trabalho às 9 e já são... - tateio o celular na escrivaninha - … quase 2 horas da madrugada...
Ele suspira e deixa claro com o olhar que essa não colou. Mas permaneço no argumento, mostrando-lhe a tela do celular com o relógio. Ele suspira novamente, num ar de que vai deixar essa passar, mas ainda claramente contrariado. Mas quando eu sorrio, ele se deita novamente e me puxa; aninhado-me em seu colo. “Isso vai passar”, penso. “Toda essa sensação estranha vai passar”.
¨*¨
Acordo bem melhor, apesar de sonolenta. Meu despertador ecoou todo o quarto me fazendo tremer quando percebi que estava atrasada. Correndo como uma louca, tomei banho, troquei a roupa e engoli um copo de achocolatado. Saí de táxi direto pro hospital, deixando um recado amoroso num papel na escrivaninha, ao lado de Guilherme que dormia como uma pedra.
Chego na recepção e peço o prontuário para que eu faça minha primeira avaliação pós-cirúrgica. Já se passaram mais de 12 horas desde que o vi e eu estou tão ansiosa para vê-lo novamente que praticamente corro pelos corredores e peço mentalmente para que o elevador me leve rápido ao seu andar.
Quando chego no quarto, já com o coração batendo frenético, vejo-o dormindo como um anjo; sua expressão serena e os bons sinais vitais desaceleram meus batimentos e aplacam a minha ansiedade. Respiro fundo enquanto o observo dormir – aquele mesmo rosto de dias atrás, obviamente um pouco abatido, mas nada que pudesse tirar a beleza que parecia impregnada nele.
Olho novamente os aparelhos ligados e começo a registrar tudo o que é necessário no prontuário, o ponho em cima de uma mesinha para descansar minha mão esquerda. Me distraio tanto nas anotações que meu corpo treme da cabeça aos pés quando sinto alguém me tocar.Aquele toque. Ele pegou na minha mão.
Mas o meu espanto não é só por causa do seu toque. Na verdade, é o que ele desencadeia em mim.
De repente, eu estou novamente dentro daquele carro, vendo o caminhão descontrolado chegar cada vez mais perto. Eu estou tão assustada, com tanto medo... até que ele segura a minha mão. Ele. É o seu toque. O mesmo que estou sentindo agora.
- Então o seu nome é Rebecca? - ele diz, a voz parecendo um sussurro, trazendo-me de volta a realidade, levando-me a olhar naqueles mesmos lindos olhos azuis que vi antes, há algum tempo. E novamente me perdendo neles.