Querida Natasha

  • Finalizada
  • Aanonimaa
  • Capitulos 1
  • Gêneros Amizade

Tempo estimado de leitura: 10 minutos

    12
    Capítulos:

    Capítulo 1

    a doçura e a gentileza maculada pela traição

    Heterossexualidade, Linguagem Imprópria, Nudez

    O autor deste texto, Paola Tchébrikov, diante de seus direitos impressos na lei brasileira, Lei 9.610/98, proíbe a divulgação de seu trabalho por terceiros, com ou sem permissão. Qualquer tentativa será previamente relatada ao dono do site, e o autor, punido. Sobre universos usados, marcas de roupas, comidas etc, dá-se os créditos aos seus devidos criadores. O texto está adaptado ao Novo Acordo Ortográfico. Qualquer erro pode e deve ser relatado ao autor.

    Querida Natasha

    a doçura e a gentileza maculada pela traição

    – Por Paola Tchébrikov

    Uma brisa agradável chacoalhou os fios de cabelo curtos dela. O belo vestido cor de creme lhe caia muitíssimo bem. Combinava com a pele pálida e os olhos cinzentos como o céu nublado. As mãos pequenas e delicadas viajaram até a orelha miúda, colocando os cabelos macios atrás da orelha.

    Natasha era o seu nome.

    A moça, que devia ter pouco mais do que vinte anos, estava sentada em um banco de madeira na pequena colina que rondava a Bevelly House. A seu lado uma árvore frutífera, com belas e mínimas flores, demonstrava todo o seu esplendor. O cenário daquele local era digno de cartão-postal: uma paisagem de tirar o fôlego, uma moça linda e um clima tranquilo.

    Ao menos era o que apareceria no cartão.

    Na verdade, não era um local para climas tranquilos. Bevelly House era uma casa de repouso para moças da alta sociedade que sofriam de problemas mentais – seja por qual motivo fosse.

    Como era costumeiro aos empregados e hóspedes, mais uma moça mentalmente desestabilizada estava em estadia no local. A suntuosa e gigante mansão ficava em uma posição longe da cidade, mas perto o suficiente para que um carro viajasse de um lado a outro em meia hora. Isso porque, das pessoas presentes no recinto, havia duquesas, princesas, filhas de diplomatas e herdeiras de bilionários.

    Natasha era filha de um magnata do petróleo. Mais especificamente, era filha de um senhor árabe muitíssimo rico e de uma mãe modelo, filha de um banqueiro. Morava na casa dos avós desde que se conhecia por gente. Sua mãe desfilava de cama em cama, sempre envolvida com homens de todo o tipo, desde esportistas jovens a cineastas casados.

    Seu pai, Muhlan Ah-Badhi, cuidava da filha bastarda de longe, mandando dinheiro e presentes que Natasha nunca usara. Ela era fruto de uma única noite dele na Grã-Bretanha, e que havia manchado o nome de sua família e destruído seu noivado. Tudo isso porque Bettany, a mãe da moça, se recusara  veemente a se casar com ele, mesmo que fosse com um Sheik – queria sua liberdade, dizia sempre que questionada.

    Mas o que o fracasso de seus pais tinha a ver com a jovem, sentada naquele banco, em uma casa de recuperação?

    Uma moça tão bela como Natasha devia estar por aí, se divertindo com seus amigos, bebendo e rindo. Ou envolvida em um relacionamento.

    Relacionamento… Não fora exatamente isso que a levara até ali, afinal? Ela, sempre tão espontânea e sorridente, passara pela escola da vida como todos nós.

    Havia sido em meados de setembro que tudo acontecera. Natasha estava em seu sexto semestre de Arte Contemporânea, estudando muito para ser uma artista, quando conheceu Phillip.

    O rapaz charmoso e cativante, quatro anos mais velho do que ela, não tardou em se aproximar  e fisgar a bela e gentil Natasha. Ela que, embora conhecesse os homens, nunca havia se apaixonado, soube de imediato que encontrara seu príncipe encantado.

    Talvez não tão príncipe assim, mas isso é algo que só o tempo lhe contaria.

    Phillip, sempre muito cuidadoso, atencioso e persuasivo, não demorou a conquistar a confiança da graduanda. As conversas extensas e agradáveis nos corredores da universidade não demoraram a se tornarem curtas e provocantes, recheadas por beijos e afagos – principalmente por parte dele.

    Natasha não era uma santa na história. Não fugia do toque dele nem evitava seus beijos. Era uma moça sofrida, solitária e que tinha ânsia por carinho. Phillip era um sol em seu mundo mórbido.

    Com cabelos negros sedosos e olhos cinzentos impressionantes, ela era o centro das atenções por onde passava. Por tal fato não demorou muito para que algumas pessoas lhe dissessem que tomasse cuidado com Phillip, que ele não era confiável e que só pretendia machucá-la. Inocente como era, contou ao rapaz sobre o fato e deu a ele o que precisava para avançar mais naquela loucura: a pediu em namoro.

    Primeiro Natasha ficou chocada, depois sorriu tímida. Não respondeu, e ele não pressionou. Entretanto, afirmou veemente que aquelas pessoas estavam com inveja dela com ele, e que era tão inofensivo quanto uma borboleta – o que fez a moça rir.

    Phillip não mediu esforços para mantê-la por perto. Ou para estar por perto. Inventava de saírem no fim de semana. Aparecia repentinamente para programas a dois. Não demorou muito para ele passar os dias no apartamento com ela, indo e vindo da universidade juntos e até chegaram a ir viajar nos feriados.

    Para Natasha aquilo era um sonho. Sempre havia sentido falta de carinho, atenção e cuidados unicamente direcionados a si. Era carente e insegura e via no belo rapaz tudo aquilo que lhe havia sido negado até o momento. Por Phillip ela fez coisas extremas. Começando por entregar-lhe sua virgindade. Depois gastara um bom dinheiro de sua poupança com viagens, jantares e luxos desnecessários.

    Teria sido relativamente simples se fosse apenas isso, afinal, Natasha nunca se arrependera de ter sua primeira vez com Phillip, porque ele havia sido perfeito. Dinheiro não lhe era um problema.

    O pior de tudo foi que, conforme a convivência com Phillip aumentava, a com as outras pessoas diminuía. Aos poucos Natasha se afastou dos parentes e perdeu todos os amigos que possuía. A bonequinha da universidade agora vivia sozinha, e apenas ela não via o modo como todos olhavam para ela com pena.

    A moça que chegara ao local linda, esvoaçante e comunicativa passara a ser uma estranha. Natasha possuía todos os atributos necessários para ser um sucesso: boa aparência, inteligência e contatos. Vários professores comentavam suas expectativas sobre a moça, que sempre mostrara ambição e talento.

    Mas Natasha decaiu. Suas notas não eram mais as mesmas, seu contato com docentes e discentes não era mais o mesmo. Seu talento não era mais o mesmo…

    Phillip fazia mal a ela, todos viam o quão cega ela estava para a verdade. A verdade era que, no fundo, Natasha não passava de uma diversão para ele.

    E era isso mesmo. Já no fim de sua estada, causar polêmicas não seria um problema para o seu nome. E não lhe importava quem ficaria.

    O tempo que Natasha passou ao lado de Phillip foi gratificante. Houve risos, conversas e cumplicidade. Um tempo depois do fim do encanto, ela notou que não havia sido nada maravilhoso ou encantador. Phillip era o que ela esperava de um homem, mas isso não era o suficiente. O sexo entre eles era vazio, as longas conversas eram entediantes e o encanto ia se tornando algo corriqueiro.

    Natasha queria muito que aquilo desse certo. Tudo teria andado bem, a seu ver, porque ela se esforçava. Mesmo sabendo que Phillip não fazia um terço do que ela fazia por eles, estava disposta a se sacrificar por aquilo.

    Mas, enfim, o destino pregara-lhe sua peça. Em um dia tranquilo, disposta a agradar o namorado, Natasha foi ao cabeleireiro, ao SPA e ao shopping. Fez mãos, pés e cabelo, hidratou e massageou sua pele e corpo, e, vencendo sua vergonha, comprou um conjunto de lingerie sexy, pronta para seduzi-lo.

    Sabia que Phillip estaria em casa naquele dia – em casa significava em seu apartamento –, assim como sabia que ele achava que Natasha estava na casa de alguns parentes e voltaria apenas na manhã seguinte.

    Extasiada e eufórica, arrumou-se em um hotel, vestindo sobre o conjunto rendado um sobretudo, e nos pés saltos confortáveis, rumou até seu apartamento, usando sua chave para entrar de fininho.

    Silêncio. As luzes estavam apagadas e o cheiro de casa limpa evidente. Encostou a porta com sutileza e, em passos suaves como de um anjo, andou pela casa, evitando o toc toc dos sapatos. Alcançou o corredor no exato momento em que um ruído de algo batendo veio do quarto. Aflita, correu até lá, abrindo a porta e vendo, para seu total choque, seu namorado na cama com outra mulher.

    Ficou por minutos ali, parada, sem reação. A primeira a notá-la foi a mulher que a indicou a Phillip. Quando o rapaz virou o rosto, vendo-a, em um pulo saiu da cama, chocando ambas as mulheres diante de sua reação.

          — Natasha, eu posso explicar. — começou a dizer, se aproximando da namorada. — Ela me seduziu e eu não resisti, você sabe como…

          — Ah não! — A voz irritada inundou o quarto. — Você não vai dizer que foi culpa minha. Eu nem sabia que você tinha alguém! — E, levantando-se, ela começou a recolher suas roupas.

          — Por favor, Natasha, me escute — pediu Phillip, mas tudo o que a moça fazia era encarar o vazio.

          — Você é um safado, cretino! — gritou a moça loira, terminando de vestir sua calça e se aproximando dele. — Saia de perto dela! Não vê que está em choque!? — grunhiu puxando a moça pelo braço e levando-a até a cama.

    Phillip ficou sem ação. Desde quando Miranda estava ajudando sua namorada?

          — O que você ainda faz aqui? — questionou ele lívido.

          — O que você ainda faz aqui? — ela devolveu a pergunta. — É óbvio para mim que o apartamento nem é seu! Saia! Vou tentar reanimá-la e espero não vê-lo nunca mais.

    Ele saiu, mas Miranda não foi capaz de reanimar a outra. Tentou tudo o que lembrou ser eficaz, porém Natasha não reagia. Por fim, pegando o celular da moça, conseguiu entrar em contato com sua mãe, que veio imediatamente ao encontro da filha.

          — Até que enfim eu a encontrei, querida. — a voz feminina soou ao lado de Natasha, os olhos cinzentos procuraram a dona dela. — Como foi o seu dia? Eu sei que devia ter chegado mais cedo, mas o trânsito estava um inferno!

    Miranda era quem conversava com ela. Agora com cabelos curtos e pele bronzeada, ostentava uma enorme barriga de cinco meses e um belo anel de casamento.

    Um ano e meio depois do ocorrido, Natasha já havia recuperado parte dos movimentos de seu corpo. Respondia aos chamados da agora amiga com mais eficácia do que aos dos médicos que cuidavam de seu caso.

    Ao descobrirem a situação da filha, a mãe e o padrasto de Natasha levaram-na do apartamento e da faculdade, procurando um jeito de fazê-la voltar a si.

    Entretanto, mesmo depois de tantos meses, ela não se recuperara do choque. Phillip nunca mais fora visto nem por Miranda nem por ninguém. Tendo apoiado a moça quando ela mais precisou, Miranda se tornara sua única amiga, e foi nas várias visitas à casa dela que conheceu seu esposo, primo em terceiro grau de Natasha.

    Lamentava que aquilo houvesse acontecido com aquela moça tão bela e cheia de vida. Ouvira a mãe dela falar com orgulho da menina, mesmo assumindo que, na época, estava muito ocupada com seus assuntos – e se arrependia de ser tão ausente.

    Via como havia perdido vários momentos muito importantes da vida de Natasha. Tudo o que queira era vê-la voltar a ser aquela moça enérgica e esforçada.

          — Oh, ela está se mexendo! — exclamou Miranda feliz. — Vem, sinta ela chutando! — pegou a mão da moça e colocou sobre seu ventre, observando as reações dela.

    Seu coração se encheu de felicidade ao ver os olhos se arregalarem levemente e um sorriso mínimo se formar nos lábios carnudos. Ver os avanços dela, mesmo que lentos, lhe era muito gratificante.

          — Hannah... — sussurrou Natasha para o barrigão da outra. Os olhos de Miranda se encheram de lágrimas, suas emoções já frágeis mostraram o quão emocionada estava em ouvir a voz doce se pronunciar rouca depois de meses sem ser usada.

          — Sim, seu nome será Hannah em sua homenagem — riu feliz, torcendo para a amiga se recuperar a tempo de pegar seu bebê nos braços. Adoraria que ela fosse a madrinha da menina.

    As duas ficaram lá, concentradas no bebê, aguardando que o tempo passasse e lhes trouxesse as soluções de seus problemas.


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