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Capítulo 11.
O solo de guitarra do renomado Jimmy Page cortou o ambiente arrancando um sorriso de canto de Sasuke. O som misturava-se com o barulho de tacadas vindas das mesas de bilhar, de vez em quando alguns gritos podiam ser ouvidos de outras mesas dedicadas ao pôquer. A nuvem branca de fumaça, causada por cigarros e charutos, pairava por cima da cabeça das pessoas que jogavam. As mesas de bilhar eram iluminadas por grandes luminárias penduradas no teto, as mesas ficavam no fundo do bar requintado, poucas pessoas jogavam, a maioria preferia as mesas de pôquer onde rolava apostas altíssimas.
Naruto se concentrava, era sua vez de jogar, mirava uma bola vermelha de número quatro, movimentou o taco para trás e em um rápido movimento acertou a bola branca, esta por sua vez encaçapou de vez a vermelha. Afastou-se da mesa pegando seu copo de uísque que estava repousado na beirada do móvel, sorriu abertamente para o moreno, queria o provocar. Sasuke retribui o sorriso com o seu tão familiar sorriso de canto, o loiro era bom em bilhar, mas não tanto quanto ele. Preparou-se para a tacada calmamente, e transformou o sorriso de Naruto em uma cara emburrada quando encaçapou duas de uma única vez.
- Conheci Sakura – comentou Naruto levando um pequeno pedaço de giz e passando o na ponta do taco.
- Onde? – o moreno o olhou curioso.
- No Shikamaru – revelou o loiro vendo o melhor ângulo para iniciar a jogada – Ela estava servindo no balcão.
- Ainda frequenta aquela espelunca? – debochou Sasuke bebendo um gole de seu absinto.
- Eu gosto de cantar lá, coisa que na boate não dá para fazer – retrucou Naruto colocando mais uma bola no buraco esquerdo da mesa.
- Tsc. Dobe mentiroso – o moreno riu de canto – Você só vai lá por causa da vadia.
- Não fale assim dela – falou erguendo-se da posição em que estava.
- Se conforme Naruto. Hinata é uma vadia – continuou com o deboche bebendo o último gole de sua bebida.
Naruto nada mais falou, odiava que a chamassem assim, mas não podia fazer nada, afinal o que falavam dela era apenas a verdade. O moreno jogava, faltavam apenas mais algumas jogadas para finalizar a partida, e logo voltaria para a delegacia onde casos, que traziam seus certos benefícios, o esperavam.
- O que achou dela? – perguntou Sasuke rouco depois de mais alguns minutos de partida.
- Hinata?
- Tsc. Esquece essa vadia – falou seco – Falo de Sakura.
O loiro pareceu pensar um pouco, lembrou-se da conversa que teve com a rosada no bar.
- Ela pareceu gente boa, além de gostosa – sorriu malicioso.
- Hn.
- E você o que achou dela? – questionou despreocupado.
- Não acho nada – declarou frio.
- Qual é? Vai me dizer que ela feia? Que ela é chata? – o bombardeou com perguntas – A rosada é gostosa Sasuke, vai negar?
- Hn.
- Fala sério, Sasuke? Vai me dizer que não acha?!
Sasuke nada respondeu, apenas deixou que um sorriso discreto desenha-se nos seus lábios. Deu a última tacada interrompendo o loiro com suas perguntas, encaçapou três bolas de uma vez. Acabou a partida, ele venceu o jogo.
****
Estava sentado em sua cadeira, em seu escritório. Seus olhos estavam fixos na única foto que guardou de Hirome, na foto amarelada pelo tempo estava uma jovem loira sorridente, em baixo dos braços levava livros e cadernos, era uma típica colegial. Fazia muito tempo que não olhava para aquela fotografia, mas a volta de sua filha fez com que um misto de emoções viesse á tona. Desde a primeira vez que colocou seus olhos verdes sobre a loira ficou fascinado, ela distribuía sorrisos doces para quem quer que fosse, e isso era uma das coisas que mais o deixava encantado. Sorveu mais um pouco da bebida forte que tinha em mãos, sentiu sua garganta queimar, assim como seus olhos. Batidas na porta o fez quebrar o contato visual com a foto.
- Entre – autorizou.
Sakura fechou a porta atrás de si com força, não estava com o humor muito bom naquela manhã, e também não poderia estar se durante a madrugada recebeu mais duas mensagens com ameaças de morte. Isso a fazia ficar apreensiva.
- O que quer Mahiro?
- Bom dia para você também – engoliu em seco observando a rosada sentar-se na sua frente.
Sakura era de tantas formas parecida com a mãe, ela lhe olhava do mesmo modo que Hirome quando estava zangada. Seu coração se apertou ainda mais.
- O juiz me ligou, perguntou se estava tudo indo bem – informou à filha.
- E o que você disse? – Sakura se remexeu inquieta na cadeira.
- Que estava tudo bem – Mahiro analisou os olhos verdes dela – Esta tudo bem mesmo?
- Claro.
- O que houve com o AUDI? Por que o vidro está quebrado?
Sakura o encarou profundamente. Analisou a postura do ruivo, ele estava tenso, mas não era isso o que mais lhe chamou a atenção, os olhos estavam vermelhos e um pouco inchados. Era óbvio que não iria contar da tentativa de assassinato, então falou a primeira coisa que veio na cabeça.
- Tentaram me assaltar – disse de forma entediada.
- Você está bem?! – exclamou o ruivo, parecia preocupado.
Sakura já estava ficando irritada com toda aquela atuação, assim ela achava de Mahiro. Desde que chegou se segurava para não dar um belo e lindo soco em seu querido papai, se controlava por que sabia que iria ter consequências nada agradáveis. Mas os sentimentos que floresciam quando estava perto dele eram fortes, e estar presa em um escritório e com ele sentado a sua frente já fazia sua mente dar voltas.
- É óbvio que estou bem – respondeu ríspida – O que você quer Mahiro? Tenho coisas a fazer.
- Que coisas? – perguntou franzindo o cenho.
- Coisas que não interessam a você – continuou o olhando duramente.
Mahiro desviou o olhar abaixando a cabeça, suspirou exausto. Olhou para suas mãos repousadas no colo, uma delas ainda mantinha a foto de Hirome em um agarre apertado, lembrou-se da risada da loira, uma lágrima solitária escorreu deixando um rastro salgado.
- O... O que a... aconteceu com sua ma...mãe? – se viu gaguejando.
Sakura isolou a pontada no peito ao ver os olhos, da mesma cor que os seus, se levantarem a mirando com uma profunda amargura. Engoliu em seco, respondeu da forma mais fria que conseguiu.
- Ela morreu.
- Como? – ele precisava saber, sua consciência implorava, a culpa apertava seu coração.
- Ela se matou – sentiu sua garganta queimar e seus olhos arderem, mas se segurou – Minha mãe foi fraca.
- Não fale assim dela – passou a mão no rosto tentando apagar o rastro da lágrima.
- Tem razão – a rosada o olhou, era claro sua repulsa pelo ruivo – A culpa é sua.
O silêncio desceu sobre pai e filha. Mahiro lutava com as lembranças que o ameaçavam lançar ao torpor. Não sabia o que dizer a Sakura, sabia que não existiam palavras suficientes para dizer a ela. Não existiam desculpas suficientes, palavras, lágrimas nada disso pareciam suficientes. Mas mesmo assim tentou balbuciar algo.
- Perdão Sakura. Mil vezes perdão. Eu...
- Não quero saber – interrompeu-o com firmeza, mas seu olhar demonstrava o quanto estava frágil.
- Como? – murmurou sentindo-se confuso.
- Eu não quero suas falhas tentativas de desculpas, você sabe que elas não existem – suspirou colocando-se de pé ainda encarando o pai – Eu quero e vou recomeçar do zero Mahiro. Deixei o passado enterrado entre as paredes daquele maldito hospital, e apesar de estar aqui com você, isso não muda nada – murmurou firme – Eu deixei de me perguntar o porquê de você nos deixar a muito tempo, não me importo mais.
- Mas você tem raiva de mim, não é?
- Você não podia esperar menos de mim, podia?
- Não – confirmou o ruivo num suave sussurro.
Sakura virou-se de costas e foi até a porta, antes de girar a maçaneta disse por cima dos ombros:
- Sabe Mahiro, para mim meu pai morreu junto com minha mãe naquela noite.
A porta fechou-se dessa vez com uma suavidade incomum. As lágrimas que tanto lutou para segurar simplesmente encontraram caminho por seu alvo rosto, deixou escapar um soluço esganiçado, quebrando assim o silêncio que fazia no corredor vazio. Apoiou as costas na parede, suas pernas tremiam, assim como suas mãos. Sua mente rodava. Ofegou tentando se controlar.
Karin subia as escadas sem pressa alguma, olhava para o celular com ansiedade a espera de uma ligação importante. Ajeitou os óculos sobre a ponte do nariz arrebitado, estava distraída, mas levantou os olhos ao escutar um murmúrio vindo do corredor que esperava estar vazio. Sakura afastava alguns fios rosa do rosto, secou o restante das lágrimas na tentativa de esquecer seu descontrole.
- Você esta bem? – pronunciou a ruiva ainda com o celular em mãos.
- Melhor que seu pai com certeza – afirmou a rosada dando um pequeno suspiro – Obrigada por perguntar.
- Como assim ele está bem?
- Entre e veja – respondeu a fim de terminar aquela conversa.
Karin afirmou e andou até a porta, mas antes de entrar Sakura a parou puxando levemente seu braço, a ruiva se encolheu.
- O que é isso? – perguntou vendo o hematoma de tom arroxeado no braço da irmã.
- Não é nada – falou apreensiva Karin, deslizou a blusa a fim de esconder – Não se meta – foi ríspida.
- Foi Sasuke?
- Não importa – disse secamente – Ah, já que tocou nesse assunto. Fique longe dele, ele é meu. Eu vi o jeito que você olha para ele, mas não estou preocupada, afinal Sasuke jamais se interessaria em uma louca. Mas mesmo assim fique longe ou acabo com você.
Sakura a olhou pasma, estava em frangalhos por causa da conversa nada amigável que teve com Mahiro, e Karin vem com uma conversa fútil como o ciúme que ela tinha do moreno. Sorriu com escárnio para a ruiva, precisava sair dali, precisava relaxar.
- Tsc. Não devia fazer ameaçar uma louca, afinal como acha que acabei naquele hospício – deu uma gargalhada insana, seus olhos seguiram o movimento da ruiva quando ela recuou, parecia com medo – Fácil demais – murmurou voltando ao normal.
Karin tremeu na base e foi rapidamente para a porta de seu quarto, a abriu e a fechou com força. Sakura sorriu um sorriso de canto, quem diria que ela meteria medo em alguém sem uma arma nas mãos.
****
O carro se mantinha desligado a um bom tempo, comia tranquilamente um gorduroso hambúrguer com batatas fritas enquanto olhava pela janela a espera da mulher da foto que estava na porta luvas. Seu chefe o mandou pegar uma bela jovem de cabelos rosa, sorriu ao se lembrar de que Obito mandou ter cuidado redobrado com ela, pela foto a rosada era angelical, seria apenas zelo por parte dele com certeza.
- Não sei por que eles querem essa mulher – resmungou Roshi deitando sua cabeça no volante – Estou entediado...
- Cala a merda da boca Roshi – disse enquanto dava uma grande mordida no hambúrguer.
- Será que ela vale alguma coisa? – continuou ignorando – Por que se vale vou querer pelo menos algum dinheiro a mais.
- Merda! Liga essa merda desse carro logo seu cuzão! – exclamou o outro homem jogando resto do sanduiche pela janela.
- O que foi Samui? – perguntou atordoado para o parceiro.
- A mulher acabou de sair da casa em um carro. Vamos logo! – continuou afobado.
Roshi olhou para a rua onde um Jaguar preto em alta velocidade, não demorou muito mais para começar a perseguir. O Jaguar desliza de carros com uma destreza incrível, mas isso seria legal se não tornasse para ele mais difícil ainda seguir ela.
O carro preto parou no que parecia ser um píer. “O que ela faz aqui sozinha?” perguntou-se Samui. A rosada saiu do carro, um cigarro pairava entre seus dedos, ela parou próximo da beira da pequena ponte de madeira. “Fácil demais!” exultou Samui abrindo lentamente a porta do carro, do outro lado Roshi fazia o mesmo. Os homens sacaram as pistolas com silenciadores, não poderiam machuca-la, iriam apenas assusta-la. A cada passo ficavam cada vez mais próximo, já estavam perto o suficiente para ouvir a rosada se pronunciar.
- O que vocês querem? – perguntou Sakura, sabia que eles já podiam lhe escutar.
- Você vem com a gente – falou Roshi apontando a arma para ela.
Sakura virou-se e encarou os homens de ternos negros a sua frente, eles eram literalmente iguais, os mesmos cabelos castanhos, olhos azuis. As armas estavam apontadas para seu peito, levou o cigarro mais uma vez aos seus lábios o tragando. Reparou que estava sendo seguida assim que saiu da mansão, não estava com a mínima paciência para uma perseguição de carro, apesar de adorar dirigir. Seguiu então para o píer onde desovou muitos corpos a mando da Akatsuki, iria enfrenta-los, queria saber até onde eles poderiam querer consigo.
- Posso saber para onde? – indagou tranquila.
- Cala a boca rosada! – exclamou Samui tentando assusta-la – Apenas fique quietinha venha com a gente.
- É vamos logo! – Roshi moveu a arma em sua direção.
- Se é para mirar sua arma em mim, é melhor usa-la – pronunciou friamente Sakura.
Em um rápido movimento Sakura correu até eles. Samui e Roshi ofegaram...