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Capítulo 10.
Olhava-se no espelho há dez minutos, procurava alguma coisa de diferente em si. A verdade era que ainda se sentia presa ao seu passado, não a sua aparência, mas tudo a sua volta ainda a ligava intensamente ao seu obscuro passado. Achava também que finalmente os anos passados naquele maldito hospital estavam cobrando seus direitos sobre sua mente, sentia-se vigiada a onde quer que fosse, parecia que olhos a seguiam. “Paranoica” afirmava para si mesma quando nada encontrava de suspeito.
Depois que saiu do Sant. Kohlberg resolveu matar a saudade de seu restaurante preferido, e em plena Tóquio comeu comida mexicana. Seu paladar pareceu surtar quando degustou lentamente da comida apimentada. Satisfeita saiu de lá uma hora depois ainda sentindo um leve ardor na boca, decidida há descansar um pouco resolveu caminhar e espairecer um pouco.
Sakura caminhou pelas ruas do seu antigo bairro, tudo parecia estar congelado no tempo, estava tudo jeito que se lembrava. Parou em frente ao prédio onde morava quando ainda tinha uma família completa com pai, mãe e irmão. Eram incríveis as voltas que sua vida deu, a rosada encarava o prédio sentindo-se mais velha do que era. Olhou a sua volta e viu que ainda existia a praça onde passava as tardes depois da escola com seu irmão. “Tudo parecia simples” suspirou pesadamente, caminhou até lá e sentou-se no banco. Não soube dizer quanto tempo passou vendo as pessoas passarem, as crianças brincarem ou os pássaros voarem, mas quando olhou para o alto e viu que a cor laranja pintava o céu soube que era tarde, o sol já estava se pondo.
Agora ali estava Sakura se contemplando no espelho, seu short preto era curto, a blusa que usava era azul-escura de manga curta, por cima uma jaqueta jeans despojada, nos pé levava coturnos sem salto pretos. Passou as mãos rapidamente pelos cabelos curto, esperava que eles crescessem logo. Mirou o celular na penteadeira e viu que já eram seis da noite, resolveu partir para seu novo trabalho. Quando foi à garagem pegou outro carro já que o seu antigo tinha o vidro do motorista quebrado, o carro que escolheu foi um Jaguar XJ. Logo a rosada estava a deslizar pelas ruas de Tóquio.
A noite estava tão bela com suas estrelas e sua lua cheia, que a rosada se deteve assim que estacionou o Jaguar no acostamento. “De estar lotado!” pensou Sakura vendo que várias pessoas tanto entravam quanto saiam do bar, havia também alguns homens e mulheres que fumavam do lado da fileira de motos formada no meio fio. Atravessou a rua ouvindo alguns assobios por parte dos homens, e até olhares discretos de mulheres.
Todas as mesas da frente estavam ocupadas, mais ao fundo bar tinha um pequeno palco improvisado. Um loiro estava sentado num banco no centro do palco, mantinha os olhos fechados enquanto dedilhava o violão em seu colo, sal voz apesar de rouca era suave e agradável de ouvir. Dali onde estava Sakura conseguia ver Shikamaru no balcão fazendo malabarismo com as garrafas sendo aplaudido pelos clientes, já Temari entregava algumas bandejas para uma morena que as manejavas com uma habilidade surpreendente. Trilhou caminho até Temari que assim que a viu acenou a apressando.
- Até que fim você chegou! – exclamou afobada a loira enquanto levantava uma pequena portinha permitindo sua entrada no balcão.
- Estou no horário certo – falou Sakura levantando as mãos em sua defesa.
- Eu sei, eu sei! Mas isso aqui está parecendo um inferninho! – exclamou ela rindo nervosamente – Pegue isso, você ficará aqui atrás do balcão ajudando o palhaço de circo ali – disse ela apontado para o moreno que lançava uma garrafa no ar e a pegava com habilidade a rodando logo em seguida.
Sakura riu e colocou o pequeno avental que lhe foi entregue, mas acabou de firmar o pano em seu quadril e já foi chamada por um cliente. Por momentos ficou perdida com as cores e nomes das bebidas, mas Shikamaru sempre vinha lhe socorrer. Após algum tempo pegou o jeito e já servia sem nenhum problema. Às vezes se pegava rindo dos nomes dos coquiteis, ele se tornavam engraçados por que os clientes gritavam pelos seus pedidos:
- Quero uma explosão de orgasmo! – gritou um.
- Um caubói nu, por favor! – gritava outro.
Mesmo sem habilidade nenhuma, Sakura se arrisca em algumas situações, como quando um cliente estava longe de onde ela servia as bebidas, ela enchia o copo e o fazia deslizar pela extensão do balcão chegando ao seu dono. O local era agitado e cheio de conversas, além dos aplausos dirigidos ao loiro que cantava com sua voz inebriante. Depois de algumas horas o belo loiro se levantou dizendo iria fazer uma pausa, e isso levantou da plateia algumas reclamações, ele desceu do palco e veio em direção de Sakura.
- E ai funcionaria nova – sorriu ele abertamente.
Sakura acenou com a cabeça. “Ele é realmente lindo” pensou olhando nos olhos profundamente azuis dele.
- Você canta muito bem! Elas te adoraram – falou apontando para um grupo de mulheres que encaravam eles.
- Muito obrigado – agradeceu ele dando uma piscada para a mesa das mulheres que sorriram de volta.
- Acho que aquela mesa também gostou! – disse chamando a atenção dele de volta, agora apontava para uma mesa no canto direito.
Deu uma gostosa gargalhada quando viu a cara do loiro ao ver que uma mesa com cinco homens o olhava, um deles piscou. Acabou tendo que voltar sua atenção aos clientes quando um deles lhe chamou.
- E então o vai querer?
- Uma dose de tequila, mas só se você tomar comigo – sorriu ele galanteador.
- Tudo bem então – a rosada devolveu sorrindo.
Ela serviu uma dose para ele e só serviu para si quando ele pagou. Virou a bebida entre os lábios, esta saiu rasgando sua garganta, sua cabeça girou, nunca se deu bem com bebidas. Assim que o cliente, que deixou seu número com a rosada, se foi voltou-se para o loiro.
- Como vocês conseguem sobreviver a isso a noite toda? – perguntou ainda meio rouca. Muitos clientes já tinham pagado uma bebida para ela, e já não aguentava mais.
- Sei lá – deu ele de ombros – Eu só venho cantar.
- O truque é você não engolir – pronunciou Shikamaru chegando perto dos dois com duas garrafas de cores azuis em mãos – E devolver em uma garrafa vazia de cerveja, é fácil. Só não confunda as garrafas. Temari pegou a minha uma vez – disse ele fazendo uma careta – Quase ela usa meu sangue para lavar o bar.
Sakura apenas riu. Começou a usar o truque ensinado pelo moreno quando homens e até mesmo mulheres lhe pagavam bebidas. Apesar da movimentação constante Sakura conseguia observar os companheiros, Shikamaru e Temari de vez em quando se esbarravam e trocavam farpas, mas logo riam e trocavam um selinho. “Fazem um belo casal” pensou ela olhando para eles. Já o loiro cantava agora uma música sem nem ao menos desviar os olhos de certa morena, que parecia dançar entre as mesas com uma pilha de copos em cima da bandeja. Seu olhar se cruzou mais uma com o de Hinata, e a morena desviou rapidamente. A rosada a se sentir curiosa em relação à Hinata, esta toda vez que cruzava seu olhar com o seu desviava, e sempre que precisava abastecer as bandejas com os pedidos dos clientes ia até Temari, mas nunca a ela. “Isso é realmente estranho”.
O relógio já marcava mais de meia noite quando Temari colocou o restante dos clientes para fora do bar. Sakura limpou a balcão, recolheu e levou alguns copos para a cozinha, enquanto resto do pessoal limpava as mesas varria o chão. Organizava as garrafas espalhadas sobre as prateleiras, quando Shikamaru sentou-se suspirando cansado em um dos bancos altos dispostos sobre o balcão, o loiro veio em seguida fazendo o mesmo.
- Acho que nunca fiquei tão cansado – falou o moreno apoiando os cotovelos no balcão, afundou a cabeça entre as mãos.
- Você sempre está cansado Shika – disse o loiro olhando de canto para o amigo.
- Cala a boca Naruto! A culpa é sua por isso aqui ficar essa bagunça! – Shikamaru encarou o loiro.
- Ah, me desculpe por trazer mais dinheiro para você seu ingrato! – debochou Naruto – Sakura me serve um uísque, por favor?
- Claro – Sakura secou um copo – Puro?
- Sim.
- Ah, Sakura você realmente foi boa essa noite. Não teve nenhum problema? – perguntou o moreno.
- Tive algumas dificuldades, mas nada que não consegui desenrolar – confessou Sakura entregando o copo para o loiro.
- Que bom! – sorriu Shikamaru – Já pode ir se quiser, já trabalhou demais para sua primeira noite. Amanhã te pago por hoje.
- Tem certeza que não quer ajuda para fechar o bar?
- Sim, pode ir tranquila.
- Tudo bem então – falou tirando o avental – Manda um abraço para Temari por mim Shika.
- Pode deixar.
- Boa noite meninos!
- Boa noite! – cumprimentaram em uníssono.
A brisa gelada da madrugada a abraçou assim que saiu para o lado de fora do bar. Ficou surpresa ao ver Hinata parada na calçada, ela fala no celular, parecia apreensiva. Assim que viu Sakura desligou rapidamente o aparelho o colocando no bolso.
- Oi – murmurou a rosada.
- Oi.
Ficaram em silêncio alguns segundos, a rosada estranhamente não sabia o que fazer, parecia que uma barreira enorme de gelo tinha sido imposta pela morena, parecia que ela a queria longe. Mas mesmo assim tentou puxar assunto, vai ver era apenas coisa da sua cabeça.
- Achei engraçados os nomes que você dá para as bebidas – chamou a atenção da morena que a olhou franzindo o cenho, parecendo confusa – Shikamaru me disse que é você que nomeia... – tentou se explicar, mas foi interrompida.
- Olha Sakura, não tente, eu não gosto de você – pronunciando isso Hinata entrou de volta no bar.
Sakura ficou estática por alguns minutos. “O que foi isso?” perguntou-se. Mas logo engoliu as palavras da morena. Foi até seu carro e dirigiu até a mansão.
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Konan estava sentada de frente para Sasori, este parecia imerso em pensamentos. Não estavam sozinhos na sala, Obito bebericava seu conhaque sentado no sofá completamente relaxado. Quando contou, ou gritou que quase foi morta por não estar armada, o ruivo reagiu melhor do que agora, ele lhe pediu desculpas e falou para falar com Hidan para ele lhe conseguir uma arma. Mas quando contou que certa rosada lhe salvou o pescoço, Sasori se mostrou confuso, raivoso e a cima de tudo frustrado.
- Tudo bem Konan pode ir – pronunciou Obito levantando-se do sofá.
Konan saiu da sala ainda sentindo suas pernas meio bambas pelo dia que enfrentou.
- O que tanto pensa Sasori? – perguntou o moreno sentando-se em frente a ele.
- Eu quero ver ela – disse o ruivo convicto se erguendo de sua poltrona.
- Como assim? Você vai procura-la?
- Estou cansado de saber dela pelos outros, não importa se ela não nos procurou, quero ela aqui amanhã.
- Vai até ela? – franziu o cenho.
- Não estou ocupado, não posso deixar a base amanhã – disse ela fazendo descaso.
- E então?
- Vou sequestra-la para ela aprender que tinha que procurar por nos assim que tivesse saindo do hospital, e não ficar desfilando pó ai com aquele porco – respondeu simplesmente.
- Está louco?! – perguntou Obito se erguendo de sua poltrona.
- É claro que não. Estou completamente lúcido – falou sorrindo de canto – Chame alguns capangas para mim.
Obito negou com a cabeça sorrindo de canto, apesar dos anos distantes da rosada sabia que ela não iria gostar nada disso.
- Você que sabe – falou saindo da sala – Mas se prepare pelo que te espera.
Sasori a penas sorriu. Ah, como estava ansioso para rever Sakura!