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Capítulo 9.
Riscou mais um quadradinho no calendário fixado na porta de seu closet. “Mais um dia com a família do ré mi” debochou pegando uma sapatilha no armário. Caminhou até frente o espelho, pegou um elástico para prender seus cabelos, mas desistiu quando o elástico escorreu mais uma vez pelos seus fios, eles eram lisos demais. Destacou os olhos com um fino traçado a cima das pálpebras, nos lábios levava apenas um brilho. Pegou novamente a escova para pentear os cabelos, franziu o cenho quando olhou para a mão direita vendo o improvisado curativo que ali tinha, doía um pouco ainda. “Isso que dá levantar de madrugada” lamuriou Sakura. Borrifou perfume nos pulsos, e novamente se distraiu com a mão direita, mas agora olhava a fina cicatriz que denunciava seus momentos de fraqueza naquele hospital. Balançou a cabeça a fim de desviar esse tipo de pensamento.
Saiu do quarto se dirigindo a cozinha, desceu as escadas rapidamente. Hoje seria o dia em que iria procurar Orochimaru para contar sua decisão, sabia que não aconteceria, mas desejava intensamente que não ter nenhum problema, odiaria cortar laços com seus antigos companheiros. Antes de chegar à cozinha passou pela sala de estar, e lá tomavam café Mahiro e sua mulher, que ria histericamente, Karin falava com um Sasuke que parecia nada a vontade, assim que cruzou o portal a conversa que acontecia morreu.
- Ah, Sakura! – exclamou o patriarca – Sente-se e coma com a gente.
Estava tentada a dizer um sonoro “Não”, mas puxando uma cadeira sentou-se em frente ao um moreno que a encarava com sua pose intimidadora, o encarou de volta. Karin percebendo a troca de olhares sentiu seu interior acionar um alerta, tentou chamar a atenção de Sasuke lhe oferecendo um pedaço de bolo do seu prato, mas ele recusou apenas balançando a cabeça, sentiu-se frustrada. Sasuke sempre foi frio com todas as pessoas que conhecia, mas desde a chegada da rosada percebeu uma diferença na forma que ele olhava para ela, parecia sempre curioso com a rosada.
- Este bolo está com não é mamãe? – perguntou a ruiva à morena desgostosa – Deveria experimentar Sakura-chan! – continuou a fim de quebrar a troca de olhares.
- Sim, sim. Coma Sakura! – exclamou Kurenai repousando sua mão sobre a de Mahiro que estava na mesa.
“Quanta gentileza!”, sorriu com escárnio para elas. Olhou para a mesa farta e não fez cerimônia, serviu-se de suco, passou geleia no pão dando uma grande mordida, assim que acabou pegou um pedaço do tal bolo gostoso. Comia tudo com grande apetite.
- Você come muito para alguém do seu tamanho – comentou o Uchiha a olhando curioso.
- Ah, moreno sabe como é?! – perguntou dando de ombros – Onde eu morava a comida não era exatamente boa. Geralmente vinha em copinho em forma de comprimido tarja preta – continuou ácida.
Sasuke deu seu tão formoso puxar de lábios.
- Moreno?! – exclamou Karin, seu rosto já estava quase da cor de seus cabelos – O nome dele é Uchiha Sasuke!
- Karin! – repreendeu Mahiro.
- Tudo bem, vou apenas chama-lo de Sasukinho – rui debochada, a cabeça da sua irmã parecia prestes a explodir.
O silêncio era no mínimo constrangedor. Karin se ergueu da cadeira e saiu em furiosa da mesa. Kurenai foi em seguida, Mahiro ficou e elevou a xícara até a boca para esconder o sorriso que deixou escapar. Sasuke apenas encarava a rosada que voltou a comer como se nada tivesse acontecido. Sakura iria pegar o açúcar quando por um descuido acabou roçando sua mão nas de Sasuke, seus olhares se cruzaram, seu corte latejou, nas profundezas dos olhos do moreno se lembrou da madrugada passada e sabia que ele pensou o mesmo...
“Os corredores eram iluminados fracamente pela lua cheia, seus pés descalços batiam contra o chão frio, as cortinas das janelas balançavam acompanhando a brisa que lá fora levantava as folhas secas de outono. Percorria silenciosamente os corredores, sentiu sua barriga roncar pedindo por comida, corou agradecendo por estar sozinha. Desceu as escadas e foi para a cozinha, ao chegar abriu a grande geladeira atrás de algo para saciar-se. Pegava alguns ingredientes e colocava na bancada decidida a fazer um sanduiche, sentiu falta da maionese, voltando à geladeira viu o frasco na última prateleira de cima ao fundo.
- Merda! – praguejou baixinho.
Na ponta dos pés tentava pegar o frasco, sentiu-se feliz quando seus dedos roçaram no vidro, mas de repente uma mão passou por cima de sua cabeça trazendo para perto o frasco que tanto lutava para pegar. Virou-se assustada. Apenas um misero vazio a separava de um peitoral desnudo, olhou para cima, por ele ser mais alto que ela, encontrando um par de ônix a fitando intensamente. “Perto demais” sussurrou sua consciência, podia sentir o cheiro mentolado que exalava da pele dele.
- Assustada? – murmurou rouco Sasuke ainda colado à rosada.
- Se afaste – sussurrou Sakura meio ofegante.
- Por que deveria? – devolveu ele.
- Que pergunta estúpida – levou a mão ao peito dele o empurrando, ele não se moveu – Se afasta agora! – exclamou baixo, mas o olhava firme.
- Calma rosada, só quero água!
Sakura o viu esticar de novo a mão sobre sua cabeça e sair levando consigo uma garrafa de água. Aproximou-se da bancada com a maionese, mantinha a cabeça a baixada enquanto pegava o pão, mas sentia o peso do olhar dele. Pegou uma faca para cortar o pão, pelo canto do olho mirou Sasuke, este agora estava de costas para si, colocava o copo na pia, a rosada sentiu suas bochechas arderem quando observou os ombros despidos do moreno, ele usava apenas uma calça frouxa de moletom negra. “Sortuda” pensou em sua irmã. Sakura estreitou os olhos para ver melhor o que parecia ser uma cicatriz rosada um pouco abaixo dos ombros largos contrastando com a pele pálida dele.
- Gosta do que vê? – disse Sasuke ainda de costas a assustando.
- O... O que? – gaguejou.
- Perguntei se gosta do que vê? – virou-se para ela.
- Já vi melhores – falou o encarando firme, ele a olhava como se fosse superior a ela.
- Onde? No hospício? – debochou o moreno dando alguns passos até a saída.
Sakura nada respondeu ficou meio em choque por tais palavras maldosas, o viu sair como se nada tivesse dito, quando se recuperou elevou o dedo meio para o espaço que antes ele ocupava. “Maldito!”, estava tão distraída xingando o moreno que se apoiou na bancada esquecendo-se da faca que estava meio de pé.
Voltou para o quarto depois de satisfeita, sua mão vinha enrolada em um pano que achou por lá. “Idiota!” xingou ainda pensando no moreno, o culpava, afinal se não fosse por ele não estaria com a mão cortada.”
O toque incessante do telefone tirou reclamações do patriarca, e Sakura saiu de seus devaneios com as exclamações de uma Kurenai irritada que vinha entrando novamente na sala, ela chamava, ou gritava se preferir, por uma Chiyo que vinha afobada pelo corredor que ligava a sala de jantar com a cozinha. A velha empregada desculpou-se com a morena, e finalmente tirou o aparelho da base, aliviando os ouvidos dos presentes.
- Certo – concordou a empregada depois de alguns segundos no telefone, olhou para a rosada e foi até ela – É para a senhorita – esticando-lhe o aparelho.
Sakura franziu o cenho, mas pegou o objeto. Não tinha a menor ideia de quem a ligaria, todos na mesa agora a olhavam. “Devem pensar a mesma coisa” pensou levantou-se da mesa, saiu da sala. Sabia que tinha quatro pares olhos perfurando suas costas.
- Oi? – indagou confusa.
- Senhorita Sakura? –devolveu uma voz grossa calmamente.
- Sim, sou eu.
- Aqui é Uchiha Itachi, sou seu novo psiquiatra.
“Tinha esquecido isso!” arregalou os olhos surpresa.
- Ah, sim.
- Bom, eu gostaria que viesse ao meu consultório ainda hoje para conhecer-nos pessoalmente.
- Tudo bem – concordou prontamente, tinha que a agradar – Quando nos encontramos?
- Trabalho no hospital Sant. Kohlberg, apenas vá à recepção que vão lhe levar ao meu consultório – informou o médico tranquilo – Lhe vejo às onze da manhã?
- Com certeza doutor – afirmou absoluto.
- Tudo bem, te vejo lá – despediu-se desligando.
Deixou o aparelho na mesinha ao lado do sofá onde sentou-se. “Mais mentiras” lamuriou suspirando pesadamente, afinal não podia conta a verdadeira vida que levava antes de ser internada. Escutou passos vindos da sala de jantar, levantou rapidamente, não tinha vontade de falar com ninguém, e foi para o quarto a fim de pegar a chave do carro, que iria buscar agora, celular e cartão de crédito. “Filhinha do papai” ironizou enquanto descia as escadas novamente.
- Para onde vai? – perguntou Mahiro vendo a filha cruzar o portal.
- Não interessa! – sorriu de canto fechando a porta, lá dentro o ruivo entortou a boca com raiva.
Não foi difícil arranjar um taxi, o difícil foi sair do trânsito caótico para chegar ao cemitério, onde estava seu carro. Chegou meia hora depois, pagou o taxista e saiu. Andava lentamente sempre observado tudo ao seu redor. O vidro do lado do motorista estava espalhado tanto do lado de dentro quanto do de fora do carro. Retirou o quanto pôde do chão e do banco, sentou-se fechando a porta e o ligando. Acionou o rádio, este tocava Evil Woman da banda Black Sabbath. E assim foi Sakura ao esconderijo da Akatsuki.
****
O cais estava do mesmo jeito de que se lembrava, sorriu quando passou pela rua onde Sasori a ensinou drift. Riu ainda mais lembrando a cara dele quando ela quase mergulhou no mar com o carro. As lembranças tanto ruins, como quando viu Obito levar um tiro, quanto boas vinham na mente da rosada. Procurava por aquelas ruas, hoje desertas, o prédio que antes funcionava a oficina que antes mascarava os esquemas do Orochimaru. Achou o prédio de concreto abandonado, do lado de fora existia pneus com água parada e até ferramentas enferrujadas. “Ótimo!” pensou ao observar o obvio, eles se mudaram. Virou-se resmungando para voltar ao seu carro quando ouviu um gemido sofrido e barulhos estranhos vindo de um beco, sua mente relutava em ir lá, mas seu corpo já se movia.
- Não chegue perto de mim seu desgraçado! – ouviu uma morena de estranhos cabelos azuis, ela segurava um lado do rosto.
- Não tenho dinheiro para pagar Konan! – o homem falou armando outro soco, parecia drogado.
“Não se envolva!” mandou sua consciência, mas de nada adiantou, entrou na frente da morena. O homem pareceu confuso por um momento, mas logo desferiu o soco. Sakura desviou, e com a mão espalmada acertou seu nariz, ele se ficou atordoado, e se aproveitando disso foi rapidamente para trás dele chutando seu joelho, assim que o homem grisalho caiu joelhos deu um golpe na nuca dele, este acertou em cheio e o grisalho caiu de lado com a boca aberta, tinha desmaiado.
- Uau! Isso foi... – Konan olhava para o homem no chão – Rápido!
- Você está bem? – perguntou Sakura olhando para a morena, ela aparentava ser apenas um pouco mais velha.
- Sim – confirmou se abaixando, vasculhava os bolsos do grisalho, em um deles tirou um pequeno chumaço de dinheiro.
- Devia vir cobrar o dinheiro armada – falou Sakura revirando os olhos.
- Eu sei, eu sei! – exclamou ela se levantando – Mas os idiotas não querem me dar uma arma – continuou resmungando. Franziu o cenho olhando a cor do cabelo da menina a sua frente. “Rosa...” divagou, sentia que isso lhe devia lembrar algo.
- Diga a eles que a arma ou você vai morrer mais cedo – disse a rosada observando a morena de cabelos despenteados.
- Vou dizer – suspirou Konan sorrindo fracamente – Obrigada mesmo por colocar esse imbecil para dormir – continuou dando um chute no braço do homem que gemeu baixinho.
- Tudo bem – Sakura sorriu divertida para ela – Bom, vou indo. Boa sorte!
Konan apenas acenou com a cabeça. Sakura virou-se para ir embora, quando faltava apenas alguns passos para sair do beco ouviu ser chamada.
- Ei! Qual é seu nome? – gritou Konan ainda no mesmo lugar.
- Sakura! – gritou de volta por cima do ombro – Até mais!
Konan arregalou os olhos ao ouvir o nome, “Sa... Sakura?!” pensou atordoada olhando o vazio que a rosada deixou ao sair do beco. Tirou atrapalhada o celular do bolso traseiro do seu jeans. “Conheci Sakura!” sua mente gritava. Precisava ligar para Sasori.
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Tentava pensar no provável novo esconderijo da Akatsuki. Andava pelo corredor que a recepcionista a indicou, estava no 15º andar a procura do consultório do Dr. Uchiha. “Uchiha...” repetiu mentalmente, esse sobrenome lhe parecia familiar. Secou pela quinta vez as mãos na calça que usava, sentia-se sufocada estando novamente dentro de um hospital, sua boca estava seca. Achando a porta com uma plaquinha prateada que tinha o nome do doutor, bateu.
- Entre – ouviu uma voz abafada.
Abriu a porta meio trêmula. Chocou-se quando viu o moreno a olhando do outro lado da mesa. Seria Sasuke? Não, não era Sasuke. Este apesar de parecer com seu cunhado tinha certa diferenças, como o cabelo preso em um rabo de cavalo baixo, também carregava umas suaves olheiras abaixo dos olhos. Itachi lhe sorriu de canto, e Sakura sentiu as pernas ficarem meio molengas.
- Bom dia Sakura – cumprimentou ele lhe estendendo a mão.
- Bom dia Dr. Uchiha – retribuiu o aperto de mão.
- Sente-se e me chame apenas de Itachi – disse gentilmente, apontou para uma cadeira em frente a sua mesa – Bom, eu a chamei aqui para nos conhecer e definir algumas coisas, como o horário por exemplo.
Sakura sorriu confirmando com a cabeça. A conversa fluiu amigavelmente, a rosada ficava cada vez mais encantada com o jeito do Uchiha. As consultas ficaram definidas para as quartas e sextas-feiras pela manhã. Sakura o comunicou que conseguirá um trabalho, e o doutor sorriu mais uma vez para ela gostando do noticia. A conversa durou basicamente uma hora, despediram-se com um suave aperto de mão. A rosada saiu da sala sorrindo de canto, tinha gostado do moreno, pena que teria que mentir para ele.
Itachi já tirava seu jaleco preparando-se para ir almoçar, mentinha nos lábios um sorriso que denunciava o quanto gostou de sua nova paciente, ela não parecia tão perigosa como alertou Minato. Foi tirado de seus pensamentos pelo barulho da porta, revirou os olhos ao ver o jovem ruivo.
- Vamos logo Uchiha! – falou o ruivo encostando-se no batente da porta – Que cheiro é esse? – perguntou franzindo o cenho, mas logo olhou matreiro para o moreno – Anda usando perfume de mulher Itachi?
- Cala a boca Gaara – pronunciou o Uchiha desmanchando o sorriso, caminhou até sua mesa – Cadê o Kakashi? – perguntou enquanto pegava a carteira.
- Tá esperando no estacionamento – explicou Gaara dando espaço para o outro passar.
- Vamos então cabeça de fósforo – disse dando uma tapa na cabeça do ruivo ao passar por ele.