Preparados para mais uma vida?
Espero que gostem!!!
Não posso evitar – aquela luz me chama como um ímã - mas eu precisava ver Alex e saber se ele estaria bem. O estranho homem me olha com um pequeno sorriso nos lábios, mas seus olhos o traem demonstrando pura tristeza. Eu estava me sentindo cada vez mais sonolenta, e, a última coisa da qual me lembro é de que adormeci desejando mais do que tudo na minha vida encontrar Alex.
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Cap. 2
- Doutora Rebecca Connor, por favor, compareça urgentemente à sala de cirurgia 4. - o aviso da secretária geral me faz dar um pulo da mesinha da cantina, derramando algumas gotas de café na toalha, e suspiro de alívio quando vejo que não sujou o meu jaleco.
Chego à sala num minuto e Laura já me recebe com um prontuário:
- São três rapazes, um de 28 anos, outro de 26... mas o pior caso é o do de 25. O dr. Guilherme já está na sala te esperando para operá-lo.
Afirmo com a cabeça, procurando rapidamente no papel o que havia acontecido. Passo meus olhos por “hemorragia interna” e algo muda quando leio “acidente de carro”.
Uma imagem passa muito rápido pela minha cabeça, como num piscar de olhos; estou dentro de um carro, vendo um caminhão em alta velocidade ir de encontro a nós. A nós... eu não estava sozinha. Só não consigo ver quem é a pessoa que está ao meu lado.
- Rebecca, ei, você tá legal? - Laura pega no meu braço me tirando de meu desvaneio. - Rebecca?!
- Ah, sim, estou bem. Eu... vou me preparar para a cirurgia.
Laura, minha melhor amiga enfermeira, me olha com a sobrancelha arqueada; a franja preta e lisa cobrindo metade dos olhos. Eu apenas balanço a cabeça, dizendo que não foi nada, e corro para o meu dever. Na verdade, nem eu entendi muito bem o que acabara de acontecer, mas seja lá o que for, não é a hora certa pra perder tempo pensando.
Entrei na sala, Guilherme já estava nos primeiros procedimentos quando me viu e sorriu por debaixo da máscara. Parece que passaríamos nosso aniversário de um ano de namoro salvando a vida de mais alguém.
- Chegou a tempo. Essa experiência é muito importante pra você. - ele disse, me lembrando que ainda preciso terminar a especialização para estar totalmente a frente de uma cirurgia como ele. - Preste bem atenção.
Faço que sim com a cabeça, observando e gravando na memória cada minucioso movimento de suas mãos – rápidas e perfeitas – sobre o abdômen daquele pobre rapaz.
Não gosto muito de olhar o rosto das pessoas antes de ter a certeza de que os verei novamente vivos, mas algo me faz querer olhar pra ele. Inclino um pouco a cabeça - ainda cuidando para não perder um detalhe da maestria de Guilherme e ajudando quando solicitada – tenho uma surpresa enorme quando fito o seu rosto.
Aquele rosto... me lembro perfeitamente quando vi aquele rosto pela primeira vez:
Há duas semanas eu estava tomando café numa delicatessen da cidade antes de ir pro hospital, e uma chuva torrencial começou a cair de uma hora pra outra. Eu estava sem guarda-chuva e ainda teria de pegar um táxi – estava acabada. Fiquei na porta do estabelecimento olhando a chuva cair, murmurando palavrões para mim mesma.
- Droga, como vou pro hospital agora? Ou chego atrasada, ou chego encharcada! Não tem nenhum táxi aqui por perto?
- Você quer o meu? - uma voz masculina falou bem perto do meu ouvido, me fazendo arrepiar. E quando olhei pra trás pra ver quem era, percebi que o arrepio não fora em vão. Ele era alto, a pele branca dourada pelo Sol, os cabelos lisos castanhos caiam sobre seus belos olhos azuis - “lindo” - pensei.
- Desculpe, eu... não entendi...- disse, me perdendo em seu perfeito olhar.
- O táxi que eu pedi já deve estar chegando, você quer usá-lo? - ele olhava nos meus olhos de um jeito que, sem saber o porquê, fazia meu estômago revirar violentamente.
- Mas... e você?
- Não se preocupe. Posso esperá-lo voltar, não estou com pressa. - ele olhou por cima do meu ombro – Ah, lá está ele. Todo seu. - ele sorriu de canto e estendeu a mão, me guiando.
- Oh, Deus, nem sei como agradecer...
- Tudo bem, não precisa.
Dei um sorriso e virei as costas, quando senti sua mão segurar meu braço. Eu me virei e o vi estender a outra mão em minha direção, oferecendo-me um guarda-chuva.
- De nada adiantará o táxi se não puder chegar até ele seca. - ele riu e me fez segurar o guarda-chuva.
- Não precisa...
- Por favor. - ele levantou a mão num gesto para que eu me rendesse.
- Mas como vou devolvê-lo a você? - digo, insistido na ideia de que o táxi já bastava.
- Não importa. Sei que algum dia nos encontraremos novamente.
Sorri meio sem jeito, sem acreditar. Ele sorriu de volta e lembrou-me de que estava com pressa. Acenei com a cabeça, abri o guarda-chuva e saí para o táxi naquele dilúvio, e quando olhei pra trás pela última vez ele ainda estava lá – em pé, me olhando, sorrindo.
- Rebecca? Rebecca! Você está bem? - agora era Guilherme me trazendo de volta ao mundo real. - Que susto foi esse que você tomou?
- Ele, eu acho que... - eu tentava organizar a mente para as palavras saírem.
- O quê? - ele perguntou, já impaciente com os meus segundos de desatenção.
- Eu já o vi antes. - digo, e o vejo semicerrar os olhos, com certeza julgando minha falta de atenção e o comentário completamente desnecessários.
Mas eu me importei. Não imaginei que nos encontraríamos novamente dessa forma.