Capítulo 7.
– Sakura...
As palavras foram apenas sussurradas, mas pareceram altas diante do silêncio que se fez após Mahiro pronunciar o nome da rosada, ninguém falava, ninguém se mexia, todos se encaravam. Sakura foi a primeira a sair daquele efeito pêndulo, seu coração estava disparado, seu sangue corria rápido nas veias, mas não deixaria espaço para o pânico cada vez mais crescente lhe dominar, ela que daria as cartas de como seria o convívio deles, mas antes precisaria saber onde estava pisando. Deu alguns passos despreocupados sabendo que olhares a seguiam, analisou a sala que era bem espaçosa, continha dois sofás grandes na cor creme, estes estavam postos a frente da enorme TV pregada na parede, existia também algumas estantes pretas com livros e fotos, e foi quando chegou perto de uma destas estantes que viu um porta retrato com Mahiro abraçando a morena e a ruiva, todos sorriam. Voltou sua a atenção para as pessoas na sala, doía ver aquela fotografia, transpirava à “Família perfeita”, olhou para Mahiro que estava pálido, parecia que tinha visto um fantasma, sorriu.
– E então? Como vai papai? – disse Sakura com deboche.
Mahiro lutava para se manter focado no presente, mas tendo a rosada a sua frente era impossível segurar as lembranças que o arremetia a um passado que lutou para enterrar de uma vez por todas na sua mente, conseguiu, mas isso deixou uma marca, sentia um vazio desde que saiu pela porta de sua antiga casa deixando Hirome e seus filhos. Saiu de seu transe com aperto que Kurenai, sua mulher, seu em sua mão gélida.
– Querido você está bem? – sussurrou ela em tom baixo no seu ouvido.
O Haruno apenas confirmou com a cabeça, controlando seus nervos se recompôs.
– Como você está Sakura? – perguntou gentil o ruivo.
– Ah, eu estou ótima Mahiro – falou Sakura – Mas vejo que você também está muito bem, afinal constituiu a família perfeita, não é! – não fazia questão de esconder o ressentimento, afinal ele a quis ali, não é?
Mahiro engoliu em seco. Vendo que seu marido estava abalado Kurenai resolveu tomar as rédeas e recepcionar a menina, apesar de achar que ele merecia as palavras venenosas que a bastarda, como assim ela chamava Sakura, falava. Nunca entendeu essa ideia absurda de trazer uma maluca para dentro de sua casa, mas como Mahiro estava irredutível teve de aceitar calada a vinda dela para cá.
– Bem vinda Sakura. Sou Kurenai, sou mulher do Mahiro – cumprimentou a amorena dando um passo a frente – Aquela é nossa filha Karin e seu namorado Sasuke.
Conviveu muito tempo com pessoas e seus sorrisos falsos para não saber identificar uma, Kurenai lhe sorria com aqueles lábios pintados de carmim, mas bastava olhar para seus olhos para saber o que realmente ela sentia em relação a si, e repulsa era o nome do que ela sentia. Desviou o olhar para a ruiva, sua meia irmã, bem diferente do olhar da morena era o que a ruiva lhe lançava, ela não deixava a pose superioridade, mas seus olhos transmitiam apenas curiosidade, percebeu também que ela jamais soltava o braço de Sasuke.
– Bom, pelo jeito sou sua meias irmã, não? – falou a rosada.
– Pelo jeito sim – respondeu Karin franzindo o cenho.
Karin olhou para o moreno que estava de perfil para si, ele não desviou a atenção de Sakura desde que ela entrou na sala, sentiu-se enciumada. Não gostou e não gostava da ideia de ter uma meia irmã, principalmente uma saída diretamente do hospício, mas acatou a ordem de seu pai para receber ela bem, não que estivesse com ciúmes dos pais, isso não, mas gostava de ser filha única, gostava dos luxos que esbanjava sem qualquer problema, não queria dividir nada do que é seu, principalmente a herança de seus pais.
– Chiyo! – chamou Kurenai pela empregada, assim que a mesma despontou na entrada continuou – Mostre para Sakura o quarto dela – voltou-se para a rosada – Sakura vá com Chiyo, tome um banho, descanse, na hora do jantar mando lhe chamar.
Sakura olhou para Kurenai, a última ainda mantinha aquele sorriso superficial, devolveu o sorriso de volta dizendo:
– Pode desmanchar o sorriso Kurenai, sei que não gosta de mim.
– Como? – perguntou a morena desconcertada, “Como ousa?!” pensou.
A Haruno nada respondeu apenas virou-se de costas andando até a senhora que a esperava.
***
O quarto era amplo, as paredes eram de um azul quase branco, existia uma grande cama forrada perfeitamente com lençóis azuis-escuros de aparência macia, cômodas de madeira escura com um abajur branco em cima estavam postos um de cada lado da cama. Não teve interesse de observar o quarto direito, pois a primeira coisa que fez foi se enfiar de baixo do chuveiro, precisava aliviar a tensão de alguma forma, e a água quente respondeu suas expectativas, estava bem mais relaxada. Mas agora com a toalha preta felpuda enrolada no corpo analisava detalhadamente o quarto, o que mais chamou a atenção de Sakura foi a enorme janela de vidro adornada com cortinas finas, com passos leves se aproximou dela vendo que a sua vista era a do lado de trás da casa. Lá embaixo tinha uma grande piscina, e a alguns metros depois existia o que parecia ser outra casa que tinha suas luzes acesas, enquanto olhava distraída naquela direção viu o Uchiha movendo a porta de correr e sair de lá, por um momento seus olhos se cruzaram, mas logo Sakura quebrou esse contato saindo da janela e indo em direção ao closet que ficava na parede ao lado, não sabia o que era, mas sentia um estranho tremor toda vez que seu olhar se cruzava com o dele.
Depois de vestir um simples jeans e uma camiseta preta se sentou na penteadeira de frente para o espelho, seu rosto ainda continuava pálido como cera, mas apesar disso seus lábios ainda continham um tom rosado. Bufou, tinha de admitir que realmente transmitia inocência e fragilidade, e isso sempre a irritou, pois era sempre subestimada pelas outras pessoas, sua palavra era a última a ser ouvida e considerada. Mergulhada em pensamentos abstratos pegou uma escova que estava repousada na penteadeira e colocou-se a pentear seus lisos cabelos rosados, foi interrompida por batidas na porta, autorizou que entrassem.
– Podemos conversar? – perguntou ele.
Sakura encarava seu pai pelo reflexo do espelho, ele ainda estava vestindo terno negro, sua postura era autoritário, seu rosto naquele momento transmitia amargura.
– Espero que tenha gostado das roupas e dos outros presentes – disse descontraído Mahiro apontando para a cama enquanto entrava no quarto fechando a porta.
– Não tinha reparado neles – era verdade, demoraria a perceber se ele não apontasse, na cama estava um notebook, celular e um cartão de crédito.
– O cartão é ilimitado. Amanhã lhe darei a chave do meu antigo carro, espero que não se importe.
– Quer me comprar Mahiro? – perguntou a rosada séria.
– Não, apenas queria compensar você – rependeu o ruivo parecendo ainda mais amargurado.
Sakura soltou uma leve risada virando-se para ele, não conteve o deboche apenas para si, ele jamais recuperaria aquilo que abandonou, por que ela sabia que se Mahiro nunca tivesse desistido de sua mãe sua vida seria completamente diferente do que era agora. Jamais Hirome teria tirado sua vida; jamais teria sido separada de seu irmão; jamais teria entrado para a Akatsuki; e jamais teria sido internada num hospital psiquiátrico para não ser presa. Seria diferente, não é?
– Não ria de mim Sakura! – exclamou nervoso.
– O que quer então?! – falou a rosada elevando sua voz, mas sem gritar ainda – Quer que eu o abrace com lágrimas nos olhos! É isso o que quer?!
– Eu só quero... – tentou dizer, dando um suspiro exasperado continuou – Filha...
– Não me chame assim! – gritou Sakura colocando-se de pé – Você não é meu pai!
– Sim! Eu sou seu pai! – rebateu Mahiro furioso.
– Você perdeu esse direito! Você nos abandonou! – cuspia as palavras enquanto seu rosto era molhado pelas inúteis lágrimas que tentou segurar.
Ah, como doía! Seu peito parecia que estava sendo imprensado, fungou algumas vezes secando o rosto, não pretendia perder o controle, mas a raiva, o ressentimento, o abandono, a amargura, tudo era intenso demais contra aquele homem para manter-se no mínimo controlada. Ouviu o mais velho suspirar novamente e o olhou, ele passava as mãos pelos cabelos lisos frustrados, quando Mahiro levantou se olhar, este era carregado de pesar, por uma fração de segundos Sakura sentiu pena, balançou a cabeça para afastar esse pensamento. Não Iria sentir pena!
– Sakura eu sinto muito por tudo o que... – murmurou ele sofrido, mas foi cortado pela rosada.
– Saia! Por favor, apenas saia – sussurrou Sakura, não dava mais, sua cabeça já latejava de dor.
– Tudo bem.
Sakura observou ele sair a passos lentos do quarto, seu quarto agora, teria que se acostumar com isso. Precisava descansar, mas sabia que não iria conseguir, voltou ao grade banheiro de mármore branco do quarto, abriu alguns armários até que achou o que queria, o frasco de remédio para dormir estava cheio sob suas mãos, tomou dois comprimidos e foi em direção a cama, retirou os objetos que estavam em cima colocando-os na cômoda ao lado, por fim deitou-se.
Duas horas depois batidas na porta ecoaram no quarto, Sakura continuava dormindo profundamente, a porta foi levemente aberta e por ela passou Sasuke, ele foi até a cama, observou a rosada dormindo por alguns minutos para depois sair do mesmo jeito que entrou, silencioso.
***
O relógio na parede marcava onze e meia da noite, o apartamento mantinha-se quieto, a morena sentada no sofá assistia tranquilamente uma comedia romântica na TV. Sempre fantasiava como seria sua vida se fosse ela como as das personagens das mocinhas dos filmes que assistia tão empolgada, foi tirada de seus pensamentos pelo som da campainha, ao abrir a porta foi surpreendida por um beijo cheio de luxúria, quando ofegante foi solta viu que era.
– Olá Hinata – cumprimentou ele entrando no apartamento.
– Oi Mahiro – respondeu fechando a porta e trancando-a.
Caminhou até seu quarto onde o encontrou já sentado na sua cama, aproximou-se a passos lentos dele, Mahiro começava a retirar a parte de cima de seu terno.
– Estou precisando relaxar Hinata e só você sabe como me satisfazer – sorriu malicioso – Pago adiantado – continuou pegando algumas notas e estendendo à morena.
Hinata as pegou coferindo a quantia, andou até a porta do quarto fechando-a. “É a vida não é um filme!” pensou indo até Mahiro.