Capítulo 6.
Ser ignorada era um fato tão comum no seu convívio naquele hospital que não se sentia afetada pela atitude rude de Sasuke, que não desviava jamais o olhar do caminho que fazia. O silêncio era rompido apenas pelo suave chiado do ar-condicionado em funcionamento, olhando para o homem a rosada pensou no quanto a aparência de nada valia, nunca foi de julgar um livro pela capa, mas aquele moreno emanava uma aura tão escura quanto à dela há anos atrás.
O sol ardia intensamente do lado de fora do carro, pelas calçadas as pessoas andavam tão apressadas, presas no mundinho perfeito que ergueram ao seu redor, Sakura sorriu de canto por saber o quanto as pessoas podiam ser fúteis. Escutou um suspiro frustrado vindo do moreno ao seu lado.
– Droga! – praguejou Sasuke olhando para o painel do carro.
– O que foi? – murmurou Sakura arqueando uma sobrancelha o olhando.
– Tenho que abastecer – disse frio sem olhar para ela.
– Tudo bem, estou sem pressa – falou a rosada divertida.
Sakura ganhou um olhar nada amigável do moreno, mas não se abalou, voltou a olhar para a vista da sua janela ainda achando graça. Não demorou muito para ela achar um posto pela movimentada avenida, sentindo o carro parando Sakura se viu em uma fila para abastecer, ouviu mais um suspiro alto do moreno, começava a achar divertido o mau humor de Sasuke. Quando em fim o carro da frente foi o último carro a abastecer Sasuke movimentou o carro para a vaga, mas freou bruscamente quando um carro na frente o cortando, apesar de estar atento e frear, o moreno não conseguiu evitar de bater na traseira do carro. Sakura ainda surpresa viu a porta do motorista do carro da frente se abrir, do seu lado um Sasuke irritadíssimo fez o mesmo, mas o seu coração perdeu uma batida quando identificou o motorista do carro cor escarlate.
– Mas que merda! – exclamou o loiro olhando o amassado.
– A culpa foi sua, seu imbecil! – falou o moreno pulsando na testa tamanha era a raiva.
– Vai se fu... – estancou ao ver quem era o barbeiro que bateu nele – Uchiha! – sibilou em puro ódio.
– Como vai Deidara? – falou Sasuke com uma pose de superior, mas por precaução levou a mão as costas onde mantinha sua arma.
Sakura mantinha seus olhos pregados no homem parado lá fora, sua mente rodava com as antigas lembranças de um menino três anos mais velho que ela, mas que apesar disso sempre foi o mais baixo entre eles, ele era tão escandaloso e barulhento que sempre a rosada teve que estar por perto para evitar que o loiro arranjasse confusão. Mas o homem que via pelo vidro era completamente diferente do que sua mente projetava, apesar do rosto retorcido por uma fúria desconhecida por ela, Sakura via o seu “Dei-kun” se tornou bonito, este usava uma calça jeans escura, camiseta azul-clara que só destacava ainda mais os seus olhos profundamente azuis, o cabelo estava preso em um rabo de cavalo baixo deixando alguns fios soltos sobre o rosto de traços fortes. Sakura não sabia como, mas quando deu por si já estava em pé do lado de fora do carro.
Deidara sentia o sangue borbulhando em suas veias, sua mão coçava para pegar a arma que estava no cós da calça, mas sua mente racionalizou que não seria uma boa ideia iniciar um tiroteio ali no meio de um posto de gasolina, encarava o Uchiha de forma predatória se lembrando das palavras de Sasori: “Quero a cabeça do Uchiha numa bandeja”. Desviou os olhos do moreno quando ouviu a porta do passageiro do carro do Uchiha se fechar, e o que viu fez com que desse dois passos para trás aturdido.
– Sa... Sakura?! – perguntou sem firmeza alguma.
– Deidara-kun – sorriu terna a rosada dando um passo na sua direção.
O loiro olhava para Sakura completamente abismado, da última vez que a viu ela era uma adolescente magra e sem atrativo nenhum, mas a sua frente estava uma mulher bem feita. A raiva que sentia simplesmente se transformou em uma imensa alegria, num impulso correu e abraçou com toda a força aquela que considerava uma irmã, sofreu muito com a ausência dela.
– Esta me sufocando, Dei-kun – murmurou Sakura retribuindo o abraço.
– Senti tanto sua falta rosinha – Deidara a afastou um pouco, seu sorriso era enorme – Eles vão ficar tão felizes – falou ele pensado no outros homens – Mas por que esta aqui? Para onde estava indo?
– Não interessa a você – pronunciou Sasuke que assistia aquela cena enjoado.
Deidara ficou tão perdido quando viu a rosada que esqueceu completamente a razão de sua fúria há alguns minutos, olhando Uchiha para Sakura o loiro ficou confuso.
– Por que esta com ele? – perguntou à rosada ignorando o moreno.
– Eu... – tentou responder, mas foi puxada rudemente por um Sasuke impaciente.
– Vamos embora – falou frio.
– Não toque nela! – exclamou Deidara.
– Esta tudo bem Dei-kun, eu entro em contato – disse Sakura tentando acalma-lo entrando no carro.
– O que faz com ela Uchiha? – perguntou raivoso o loiro, mas não houve resposta – Eu devia mata-lo – chiou com puro ódio.
– E eu devia prende-lo – disse frio o moreno.
– Tente – desafiou Deidara.
Sasuke apenas riu de canto virando as costas e caminhando até o carro, assim que entrou saiu com ele em disparada do posto. Sakura ainda sustentava um sorriso terno nos lábios, não conseguia acreditar que deu de cara com Deidara no seu primeiro dia na rua, sua mente mergulhou em nostálgicas lembranças das confusões que já se meteu com o loiro, mas foi interrompida quando Sasuke quebrou o silêncio.
– Que cena ridícula foi aquela?
***
Deidara ainda permanecia em pé ao lado do carro escarlate, ainda estava sobre o efeito daquele reencontro repentino, sua mente girava com o que acabou de acontecer, tentava pensar em alguma explicação plausível para Sakura estar andando de carro com o assassino de Orochimaru. Suspirou irritado, olhou para a traseira do carro vendo o estrago, “Hidan ira me matar!” lamentou pensando na cara do grisalho ao ver seu carro amassado e com a lanterna quebrada, mas como nada podia fazer entrou no veículo logo depois de abastecer o ligando logo em seguida.
Estacionou o carro no meio fio de frente para a floricultura Yamanaka, usar um local como aquele de fachada era genial, ninguém diria que um lugar a onde se vende flores é a base da máfia Akatsuki. Assim que o loiro entrou cumprimentou Ino, a dona da loja, e foi até a porta dos fundos dando de cara com um corredor escuro cheio de caixas pelo caminho, andava apressado precisava conversar com os outros e principalmente com Sasori. Não se importou de bater e entrou de súbito, assim que se colocou dentro do escritório viu que acontecia uma reunião, olhou para Sasori que estava atrás de sua mesa com uma cara nada amigável pela interrupção.
– Estou em reunião Deidara – falou o ruivo.
– É a cerejeira – disse o loiro calmamente.
Sasori franziu o cenho quando o loiro usou o codinome de Sakura, “Será que a acharam?”perguntou-se mentalmente, afinal tinha mandado que Ino e Konan investigassem para onde a levaram. Dirigiu-se polido e tranquilo para os homens vestidos de terno a sua frente encerrando a reunião e marcando para outro dia, o mercado negro podia esperar. Deidara fechou e trancou a porta assim que os senhores saíram, andou até o bar servindo-se de uísque em dois copos, sentou-se de frente para Sasori entregando-lhe um dos copos.
– O que tem Sakura, Deidara? – perguntou o ruivo aceitando o copo.
– Eu a vi hoje – respondeu o loiro se ajeitando na poltrona.
– O que quer dizer com isso?
– Quero dizer que quando parei para abastecer o carro do puto do Hidan, eu encontrei com o Uchiha – praticamente cuspiu a última palavra – E com ele estava Sakura.
– O que ela fazia com ele? – pronunciou o ruivo como que se perguntasse para si mesmo.
– Isso eu não sei – murmurou Deidara virando bebida em um único gole – Será que estava sendo presa?
– Não, ela acabou de sair do hospital. Nem ela conseguiria aprontar nesse tempo – suspirou cansado Sasori.
– O que faremos então?
– Bom, se ela esta com aquele porco será mais fácil acha-la. Fale com Ino e Konan – disse o ruivo.
– Certo.
Sasori observou o loiro levantar-se com uma expressão desanimada, sabia que Deidara sentia uma enorme falta dela, na verdade todos eles sentiam. O ruivo sentia o sangue esquentar e as mãos suarem de ansiedade com esperança de ter a rosada nos braços, quando o loiro estava prestes a cruzar a porta o chamou de volta.
– Deidara!
– Sim? – respondeu ele.
– Como ela esta? – perguntou ansioso e curioso ao mesmo tempo.
Deidara sorriu abertamente quando reviu a imagem dela na sua cabeça.
– Ah, ela esta linda, você tem que ver. Sakura vai dar trabalho para a gente – falou rindo divertido saindo logo em seguida.
“Não, não vai. Ela é minha!” pensou convicto, Sakura sempre foi sua protegida, e agora seria sua amada.
***
– Ri... Ridícula – gaguejou surpresa.
– Sim, foi uma das cenas mais ridículas que já presenciei – falava calmamente o moreno enquanto dirigia.
Sakura o olhou atentamente, “Quem ele pensa que é?” perguntava-se, concluiu que ele era apenas um homem cruelmente egoísta, resolveu deixar a opinião dele pra lá, apesar de seu subconsciente querer falar alguns desaforos para ele.
– De onde conhece o Deidara? – perguntou a rosada calmamente, mas não recebe nenhuma resposta além de um sorriso de canto – Não vai me responder?
– Por que deveria?
– Porque estou perguntando – falou a rosada revirando os olhos.
– Não é motivo suficiente – Sasuke olhou para ela ainda com o sorriso provocante estampado nos lábios.
A rosada apenas bufou desistindo de qualquer conversação como o moreno, “Imbecil” o xingou mentalmente. Sakura percebeu que já tinham entrado num bairro residencial de alto padrão, seu coração começava a bater irregularmente de ansiedade, sabia que a cada quilometro a menos a deixava mais perto do pai que para ela era um estranho, a única coisa que recordava dele era a cor dos cabelos vermelhos com os de Gaara, e ao lembra-se do irmão soltou um suspiro, “Ah, Gaara!”lamentou-se amargurada. Sentiu o carro parando, olhou pela janela e viu que tinham parado em frente a uma mansão branca de três andares com alguns vitrais de tons verdes espalhados por ela, na frente à grama bem cuidada abria espaço para um caminho de cascalho que levava até a porta de mogno escuro, só percebeu que o moreno tinha saído do carro quando este apareceu do lado de fora da sua porta.
– Vamos! – bateu ele no vidro tentando apressa-la.
Sakura forçou as pernas a saírem quando abriu a porta, todo seu corpo relutava em obedecer a seus comandos, mas ainda sim forçou-se a ficar ao lado do moreno enquanto caminhavam até a entrada. Sasuke tocou a campainha, não demorou muito e aporta foi aberta por uma senhora de cabelos grisalhos vestida em um típico uniforme de empregada.
– Senhor Uchiha – cumprimentou gentil a senhora.
– Chiyo – falou o moreno retribuindo com um aceno de cabeça.
Sorriu timidamente para a senhora quando passou por ela, acompanhava de perto Sasuke enquanto ele andava pela casa, a rosada observava o quanto a mansão era bem decorada, moveis de tons quentes e frios estavam muito bem localizados mostrando requinte e conforto ao mesmo tempo, parou de andar quando o viu entrar num cômodo onde parecia haver pessoas, dava para ouvir algumas risadas.
– Saskinho! – ouviu uma voz aguda de mulher exclamar feliz.
– Onde está ela? – dessa vez era uma voz profunda de homem.
Sempre foi decidida, pouca coisa a deixava desarmada, mas essa era uma situação que a rosada nunca se imaginou passando, e agora estava ali parada a alguns passos da entrada do cômodo em que viria o seu estranho pai.
– Não tenha medo criança – sussurrou uma voz gentil atrás de si, quando se virou constatou sendo de Chiyo, a senhora empregada.
Dominando sua apreensão sorriu de volta para a senhora e andou até o cômodo, assim que se cruzou a entrada da sala que se mostrou grande e iluminada viu que tinha quatro pessoas lhe olhando, a primeira era uma mulher morena de cabelos negros até o ombro e os olhos eram de castanho avermelhado; a segunda era uma ruiva de cabelos repicados até o ombro e os olhos da mesma cor da morena de antes; a terceira era Sasuke; e por último ficou seu pai, os cabelos ainda se mantinham vermelhos, mesmo que desbotados, os olhos eram da cor dos seus, só que mais escuros, ele vestia um terno bem ajustado, era alto e magro. Olhando diretamente para ele, a rosada viu um sorriso traçar caminho pelos seus pálidos lábios, sentiu-se enjoada.
– Olá Mahiro – pronunciou fria Sakura.