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A paixão é um fio de chuva em vidro de janela.Na vida de Natsu,janelas se sucedem,paixões escoaram,sem rosto nem rastro.Mulheres escorregam como apressadas gotas e se neblinaram,aves cruzando os céus.Natsu não se lembrara de nenhuma das mulheres que que amara.Mentira,recordava de Lucy.Talvez por ter sido há semanas que a relação rompera.Talvez porque ainda a amasse.Talvez.Como dói esse indeciso ''talvez''.Pior que essa dor apenas a dá certeza dos amores eternos.
O mais certo ''talvez'' de Natsu é Lisanna,sua nova namorada.Quando tudo em volta se torna fosco apenas a paixão nos devolve horizonte.Lisanna,sua nova paixão,foi um céu cruzando um pássaro.Tudo mudou desde que,num final de tarde,ele recebeu uma mensagem no celular:
''Quer conversar?''
E ele digitou,breve a resposta:
''Conversar sobre o que?''
No minuto seguinte,o aparelho vibrava com a palavra: ''nós''.Não existia,até aquele momento,nada que pudesse ser chamado de ''nós''.De repente,porém,aquela pessoa ganhou uma fascinante sedução.Na realidade,era um ovo feito apenas de casca,mas o seu interior fervia de promessas.Natsu se enchia com o fascínio desse modo,esse vazio aberto a todo sempre.Foi isto que ele,no primeiro encontro disse a Lisanna.Ele respondeu:
-É isso,a poesia.
-Não entendo.
-O que fascina em si não são só seus olhos negros,esse olhar de confiança absoluta.O que mais me encanta são as suas palavras lindas.
Natsu sabia: falar bem é o mais bonito dos perfumes.E ele floreava gramáticas com a mais refinada arte.
-Me ensine um pouco de poesia.
-A poesia aprende-se sendo feliz.Mas só sabemos que sabemos quando somos infelizes.
A moça sorriu,receosa de não ter entendido,mas orgulhosa demais para admitir essa incapacidade(Autora: Sim Lisanna estou te chamando de burra e filhinha de papai).Ela era nova,vistosa,capaz de encantar sem recurso a nenhuma fala.O corpo lhe bastava como adjetivo.E o adverbio de Lissana fazia homens ficar sem alfabeto.Era nessa confusão que,naquele exato momento,Natsu sofria a contemplar a namorada.A mulher rebolava para se desfazer do vestido.
-Se despenteia agora comigo?
-Agora Lisanna? Depois do almoço?
-É sempre depois de algum almoço.
-Mas falamos de poesia...
-Eu lhe falo poesia com o ventre,com as coxas...
Natsu sorriu,com a timidez que ele mesmo desconhecia.Na verdade de que serve a poesia se não inventar amores?Não será o verso feito da nostalgia que fica por fazer ?(peguei do google.Sorry) No momento o amor estava ali,à mão para se fazer.
Às presas,Natsu soltou os botões da camisa enquanto perguntava a si mesmo: ''quanto tempo vivemos sem saber viver?''
A adiada visita
Era já de tarde quando Natsu renovou a promessa de passar por aquela casa que,durante anos,fora sua casa.
-Hoje finalmente,vou lá.
Há dois meses que adiava a visita.A urgência de ir buscar as roupas,no entanto,se impunha.Calcorreu a pé a longa avenida e parou por fim,na loja em frente à casa.Fez de conta que comprava uns postais,um bloco de anotações e outras desnessecidades.Porque se demorava,face ao destino?Bastaria apenas uns passos para enfrentar a mesma porta,o mesmo corredor,a mesma luz.Bastariam instantes para revisitar o seu próprio passado e,contudo,Natsu demorava a obcevar o céu acizentado.
Na janela da papelaria,as gotas de chuva escorriam para depois serem sugadas pela transparência.Natsu fechou os olhos como se desejasse que a chuva caisse dentro de suas palpebras.Voltaria depois.Não aguentaria ver o rosto sofredor de Lucy.
No caminho da volta,respirou alíviado e sorriu com a certeza de que,sem ele,Lucy perdia o chão e se confortava no céu.A sua marca,como um brasão,permanecia gravada na alma de todas suas ex-mulheres.
Morrer de ciúmes.
No dia seguinte,Natsu surpreendeu Lisanna pendurando sua roupa na varanda.
-Por que efita tanto voltar a sua casa?-indagou Lisanna.
-Já disse que minha casa é agora é está?
-Não gosto que suas coisas estejam naquela casa.Imagina o que aquela mulherzinha pode fazer com elas?
-Por amor de Deus,bruxaria agora não!
-Mas eu volta a perguntar: Por que você tem medo de passar na casa de Lucy?
Não era medo.Era uma oculta sabedoria.Lucy estava um trapo e queria que o mundo soubesse disso.Amigos lhe contavam de seu estado.Tinham cruzado com a mulher na rua: estranhamente ela exibia um olhar firme,confiante,de autoestima quase masculina.Apesar disso,ela fingia estar de luto.A todos dizia a noticia: Natsu,o seu Natsu,tinha morrido.
-Morreu,sim.
Os imbecis,no início,acreditaram.Para efeitos e defeitos,ela era uma viúva legitima.
-Morreu o Natsu?
-Há muito que estava morrendo-respondia Lucy,sem quase ter voz.
Mas o boato rapidamente se desfez de encontro ao defunto(da onde eu tirei isso?).Cedo se soube que Natsu ainda estava vivo.Mudará de casa,de mulher,de guarda-roupa.É verdade, mas não havia morrido.
E foi assim que a mentira deixou de ser verdadeira.As pessoas entenderam e perdoaram.Lucy fazia com a realidade o que se fazia com os chifres de um touro: arrendondando para não se machucar.
Mas logo Lucy mentiu de novo: colocou a falar que Natsu enlouqueceu.
-Natsu,o economista,louco?
Somando todos seus desenganos,os vizinhos entenderam:
Lucy estava ensaiando o proprio fim.Faltava apenas um final.Mas esse desfecho estava quase resolvido: Queria morrer de ciúmes.Já que não viveria de coração morreria do antônimo da paixão o ciúme.
-Não me resta nada,se não envelhecer.-Confessava Lucy para um vizinho.
-Envelhecer?
-É tão facil ficar velho-responde ela-Nem é preciso tempo nem idade.Basta não ter mais vontade de acordar.
A primeira visita.
Natsu tocou a campainha,cada toque doeu como se a sua carne fosse a madeira que golpeava.
-Veio hoje?É que hoje eu estou muito cansada.
-Já tentei vir antes,não deu.
-Eu sei.
-Sabe como?
-Eu vi você na papelaria em frente.
Silêncio.Antes que a situação se tornasse humilhante.Natsu indagou:
-Lucy?
-Não me chame de Lucy.Nunca mais.
-Não entendo.
-Se já não me ama,não volte a me chamar pelo nome.
-Desculpe Lucy,como devo te chamar então?
-Me chame de meu ''ex-amor''.
Natsu gaguejou: não podia,não sabia,não queria.Sacudiu a cabeça.Vencido.
-Como não consegue?
-Simplesmente, não sou capaz.
-É simples,são duas palavras,quase uma.Repita comigo:ex-amor.
Lucy sabia:Amar é um verbo sem passado.Uma vez amando,amará para sempre.Talvez menos talvez mais mas sempre amando.
-Amar, Natsu,é sempre infinito.Por isso Natsu,você ainda me ama.
O que restou foram os dias de lembranças do calor vital.
-O que lhe digo,caro Natsu.A árvore já esta morta apenas não tombou.
Livros e colirios
A voz de Lisanna o surpreende assim que ele entra em casa.
-Então, como foi?
-Ela está louca.
-Se atirou em cima de você? (Autora: a Lucy não é puta Lisanna,a unica puta aqui é você)
-Ela não esta falando coisa com coisa.
-E as roupas?
-Deixei na garagem.
-Fez bem,aquilo tem que lavar antes de entrar nesta casa.
-Venha deitar comigo.
-Ainda vou preparar uma reunião.
-Então me dê um beijo de boa noite.
Quando ele se debruçou na cama, ela aproveitou para o cheirar,confirmar se não teria cheiros estranhos.
-Os seus olhos...
-O que há com eles?
-Estão vermelhos...
-Estou muito cansado.Acho que não consigo trabalhar mais hoje.Além do mais meus livros estão lá em casa...
-Lá em casa?
-Na casa da Lucy
Olhos nos olhos
Natsu não chegou a bater na porta
-Na casa da Lucy.
O eco da voz
O som da porta se fechando ficou na memória de Lucy.Da janela viu Natsu caminhar com suas pilhas mal feitas de roupas.Dessa vez,ela não chorou.Foi ao escritório da casa e acariciou os livros,já empilhados,daquele que foi o seu homem.Depois arrumou em um caixa de papelão.
-Amanhã ele virá buscá-los.
No final,sentou sobre a caixa já cheia.E ficou a pensar.Pensou em sua vida,pensou em tudo que acontecerá,pensou em seu pai.E descobriu que a formula para a vida era simples: Mesmo que você ame todos,ame a sí mesmo,so que mais.
Ela teria que nascer de si mesma,superar a cinza,rasgar na parede da angústia a janela de um novo dia.
Já que havia inventado a morte e a loucura de Natsu,inventaria uma nova vida para ela.Ela inventaria Lisanna.Foi ao espelho e se fez bonita.Foi ao velho guarda-roupa e se fez vaidosa.Foi ao fundo de si e se fez mulher.
Em voz alta,anunciou no corredor o primeiro ato soberano dessa nova pessoa que se criava em sí mesma.
-Vou à rua.
Olhos nos olhos
Natsu não chegou a bater na porta.Irreconhecível.Lucy saiu de casa,sai para o mundo,adolecente e dona de si mesma,como se vivesse na rua.
-Ah,Natsu...agora,eu ia sair.
-Vinha buscar os meus livros.
-Pode vir amanhã,estou muito apressada.
O que quer que ele fosse dizer não receberia a minima atenção: Lucy tinha pressa,como só podia ter quem esqueceu de viver.
-Bom eu realmente precisava dos meus livros...
Lucy parou.Deu uns passos na direção de seu ''amor'',parou bem proximo dele.E o olhou com um olhar de debochamento( essa palavra existe?),antes de falar:
-É mesmo os livros que você quer?
Então,olhos nos olhos,aconteceu o impossivel.Natsu,o caçador de mulheres.Não foi capaz de enfrentar Lucy.Rosto baixo,mãos tremulas,olhos em véspera da lágrima.
-Onde vai Lucy?
-Quem pergunta?É você?
-Por favor Lucy:Vai sair com alguem?
Lucy apoiou um braço em Natsu,consoladora.
-Quem sabe?
E virou de costas,cruzando a rua e afastando-se da calçada.Escutou,então,o grito rouco de Natsu.
-Lucy, volte...Volte,eu não estou enchergando.
Tom era de desespero.Então ela de meia-volta e atravessou novamente a estrada.
-Eu estou cego Lucy!
-Você apenas está chorando,meu querido.
-Chorando,eu?
-Eu sei.Por que esses,no seu rosto,são os meus olhos.E lágrimas que não eram suas desceram como gotas de chuva em vidro de janela.