Castelos de Gelo.

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    16
    Capítulos:

    Capítulo 1

    Capítulo Único.

    Adultério, Heterossexualidade

    A paixão é um fio de chuva em vidro de janela.Na vida de Natsu,janelas se sucedem,paixões escoaram,sem rosto nem rastro.Mulheres escorregam como apressadas gotas e se neblinaram,aves cruzando os céus.Natsu não se lembrara de nenhuma das mulheres que que amara.Mentira,recordava de Lucy.Talvez por ter sido há semanas que a relação rompera.Talvez porque ainda a amasse.Talvez.Como dói esse indeciso ''talvez''.Pior que essa dor apenas a dá certeza dos amores eternos.

     O mais certo ''talvez'' de Natsu é Lisanna,sua nova namorada.Quando tudo em volta se torna fosco apenas a paixão nos devolve  horizonte.Lisanna,sua nova paixão,foi um céu cruzando um pássaro.Tudo mudou desde que,num final de tarde,ele recebeu uma mensagem no celular:

     ''Quer conversar?''

     E ele digitou,breve a resposta:

     ''Conversar sobre o que?''

    No minuto seguinte,o aparelho vibrava com a palavra: ''nós''.Não existia,até aquele momento,nada que pudesse ser chamado de ''nós''.De repente,porém,aquela pessoa ganhou uma fascinante sedução.Na realidade,era um ovo feito apenas de casca,mas o seu interior fervia de promessas.Natsu se enchia com o fascínio desse modo,esse vazio aberto a todo sempre.Foi isto que ele,no primeiro encontro disse a Lisanna.Ele respondeu:

     -É isso,a poesia.

     -Não entendo.

      -O que fascina em si não são só seus olhos negros,esse olhar de confiança absoluta.O que mais me encanta são as suas palavras lindas.

      Natsu sabia: falar bem é o mais bonito dos perfumes.E ele floreava gramáticas com a mais refinada arte.

      -Me ensine um pouco de poesia.

      -A poesia aprende-se sendo feliz.Mas só sabemos que sabemos quando somos infelizes.

       A  moça sorriu,receosa de não ter entendido,mas orgulhosa demais para admitir essa incapacidade(Autora: Sim Lisanna estou te chamando de burra e filhinha de papai).Ela era nova,vistosa,capaz de encantar sem recurso a nenhuma fala.O corpo lhe bastava como adjetivo.E o adverbio de Lissana fazia homens ficar sem alfabeto.Era nessa confusão que,naquele exato momento,Natsu sofria a contemplar a namorada.A mulher rebolava para se desfazer do vestido.

       -Se despenteia agora comigo?

       -Agora Lisanna? Depois do almoço?

       -É sempre depois de algum almoço.

       -Mas falamos de poesia...

       -Eu lhe falo poesia com o ventre,com as coxas...

    Natsu sorriu,com a timidez que ele mesmo desconhecia.Na verdade de que serve a poesia se não inventar amores?Não será o verso feito da nostalgia que fica por fazer ?(peguei do google.Sorry) No momento o amor estava ali,à mão para se fazer.

       Às presas,Natsu soltou os botões da camisa enquanto perguntava a si mesmo: ''quanto tempo vivemos sem saber viver?''

              A adiada visita

    Era já de tarde quando Natsu renovou a promessa de passar por aquela casa que,durante anos,fora sua casa.

      -Hoje finalmente,vou lá.

     Há dois meses que adiava a visita.A urgência de ir buscar as roupas,no entanto,se impunha.Calcorreu a pé a longa avenida e parou por  fim,na loja em frente à casa.Fez de conta que comprava uns postais,um bloco de anotações e outras desnessecidades.Porque se demorava,face ao destino?Bastaria apenas uns passos para enfrentar a mesma porta,o mesmo corredor,a mesma luz.Bastariam instantes para revisitar o seu próprio passado e,contudo,Natsu demorava a obcevar o céu acizentado.

        Na janela da papelaria,as gotas de chuva escorriam para depois serem sugadas pela transparência.Natsu fechou os olhos como se desejasse que a chuva caisse dentro de suas palpebras.Voltaria depois.Não aguentaria ver o rosto sofredor de Lucy.

       No caminho  da volta,respirou alíviado e sorriu com a certeza de que,sem ele,Lucy perdia o chão e se confortava no céu.A sua marca,como um brasão,permanecia gravada na alma de todas suas ex-mulheres.

         Morrer de ciúmes.

    No dia seguinte,Natsu surpreendeu  Lisanna pendurando sua roupa na varanda.

     -Por que efita tanto voltar a sua casa?-indagou Lisanna.

     -Já disse que minha casa é agora é está?

    -Não gosto que suas coisas estejam  naquela casa.Imagina o que aquela mulherzinha pode fazer com elas?

     -Por amor de Deus,bruxaria agora não!

     -Mas eu volta a perguntar: Por que você tem medo de passar na casa de Lucy?

    Não era medo.Era uma oculta sabedoria.Lucy estava um trapo e queria que o mundo soubesse disso.Amigos lhe contavam de seu estado.Tinham cruzado com a mulher na rua: estranhamente ela exibia um olhar firme,confiante,de autoestima quase masculina.Apesar disso,ela fingia estar de luto.A todos dizia a noticia: Natsu,o seu Natsu,tinha morrido.

       -Morreu,sim.

     Os imbecis,no início,acreditaram.Para efeitos e defeitos,ela era uma viúva legitima.

       -Morreu o Natsu?

       -Há muito  que estava morrendo-respondia Lucy,sem quase ter voz.

      Mas o boato rapidamente se desfez de encontro ao defunto(da onde eu tirei isso?).Cedo se soube que Natsu ainda estava vivo.Mudará de casa,de mulher,de guarda-roupa.É verdade, mas não havia morrido.

     E foi assim que a mentira deixou de ser verdadeira.As pessoas entenderam e perdoaram.Lucy fazia com a realidade o que se fazia com os chifres de um touro: arrendondando para não se machucar.

                Mas logo Lucy  mentiu de novo: colocou a falar que Natsu enlouqueceu.

              -Natsu,o economista,louco?

    Somando todos seus desenganos,os vizinhos entenderam:

     Lucy estava ensaiando o proprio fim.Faltava apenas um final.Mas esse desfecho estava quase resolvido: Queria morrer de ciúmes.Já que não viveria de coração morreria do antônimo  da paixão o ciúme.

       -Não me resta nada,se não envelhecer.-Confessava Lucy para um vizinho.

      -Envelhecer?

       -É tão facil ficar velho-responde ela-Nem é preciso tempo nem idade.Basta não ter mais vontade de acordar.

       A primeira visita.

    Natsu tocou a campainha,cada toque doeu como se a sua carne fosse a madeira que golpeava.

     -Veio hoje?É que hoje eu estou muito cansada.

     -Já tentei vir antes,não deu.

     -Eu sei.

     -Sabe como?

     -Eu vi você na papelaria em frente.

     Silêncio.Antes que a situação se tornasse humilhante.Natsu indagou:

     -Lucy?

     -Não me chame de Lucy.Nunca mais.

     -Não entendo.

     -Se já não me ama,não volte a me chamar pelo nome.

     -Desculpe Lucy,como devo te chamar então?

     -Me chame de meu ''ex-amor''.

      Natsu gaguejou: não podia,não sabia,não queria.Sacudiu a cabeça.Vencido.

     -Como não consegue?

     -Simplesmente, não sou capaz.

    -É simples,são duas palavras,quase uma.Repita comigo:ex-amor.

    Lucy sabia:Amar é um verbo sem passado.Uma vez amando,amará para sempre.Talvez menos talvez mais mas sempre amando.

     -Amar, Natsu,é sempre infinito.Por isso Natsu,você ainda me ama.

     O que restou foram os dias de lembranças do calor vital.

    -O que lhe digo,caro Natsu.A árvore já esta morta apenas não tombou.

                   Livros e colirios

    A voz de Lisanna o surpreende assim que ele entra em casa.

     -Então, como foi?

     -Ela está louca.

     -Se atirou em cima de você?        (Autora: a Lucy não é puta Lisanna,a unica puta aqui é você)

    -Ela não esta falando coisa com coisa.

    -E as roupas?

    -Deixei na garagem.

     -Fez bem,aquilo tem que lavar antes de entrar nesta  casa.

      -Venha deitar comigo.

      -Ainda vou preparar uma reunião.

      -Então me dê um beijo de boa noite.

      Quando ele se debruçou na cama, ela aproveitou para o cheirar,confirmar se não teria cheiros estranhos.

      -Os seus olhos...

      -O que há com eles?

      -Estão vermelhos...

      -Estou muito cansado.Acho que não consigo trabalhar mais hoje.Além do mais meus livros estão lá em casa...

      -Lá em casa?

      -Na casa da Lucy

               Olhos nos olhos

    Natsu não chegou a bater na porta

      -Na casa da Lucy.

          O eco da voz

    O som da porta se fechando ficou na memória de Lucy.Da janela viu Natsu caminhar com suas pilhas mal feitas de roupas.Dessa vez,ela não chorou.Foi ao escritório da casa e acariciou os livros,já empilhados,daquele que foi o seu homem.Depois arrumou em um caixa de papelão.

     -Amanhã ele virá buscá-los.

    No final,sentou sobre a caixa já cheia.E ficou a pensar.Pensou em sua vida,pensou em tudo que acontecerá,pensou em seu pai.E descobriu que a formula para a vida era simples: Mesmo que você ame todos,ame a sí mesmo,so que mais.

            Ela teria que nascer de si mesma,superar a cinza,rasgar na parede da angústia a janela de um novo dia.

           Já que havia inventado a morte e a loucura de Natsu,inventaria uma nova vida para ela.Ela inventaria Lisanna.Foi ao espelho e se fez bonita.Foi ao velho guarda-roupa e se fez vaidosa.Foi ao fundo de si e se fez mulher.

          Em voz alta,anunciou no corredor o primeiro ato soberano dessa nova pessoa que se criava em sí mesma.

     -Vou à rua.

          Olhos nos olhos

    Natsu não chegou a bater na porta.Irreconhecível.Lucy saiu de casa,sai para o mundo,adolecente e dona de si mesma,como se vivesse na rua.

      -Ah,Natsu...agora,eu ia sair.

      -Vinha buscar os meus livros.

      -Pode vir amanhã,estou muito apressada.

     O que quer que ele fosse dizer não receberia a minima atenção: Lucy tinha pressa,como só podia ter quem esqueceu de viver.

        -Bom eu realmente precisava dos meus livros...

     Lucy parou.Deu uns passos na direção de seu ''amor'',parou bem proximo dele.E o olhou com um olhar de debochamento( essa palavra existe?),antes de falar:

        -É mesmo os livros que você quer?

      Então,olhos nos olhos,aconteceu o impossivel.Natsu,o caçador de mulheres.Não foi capaz de enfrentar Lucy.Rosto baixo,mãos tremulas,olhos em véspera da lágrima.

      -Onde vai Lucy?

      -Quem pergunta?É você?

      -Por favor Lucy:Vai sair com alguem?

      Lucy apoiou um braço em Natsu,consoladora.

     -Quem sabe?

     E virou de costas,cruzando a rua e afastando-se da  calçada.Escutou,então,o grito rouco de Natsu.

     -Lucy, volte...Volte,eu não estou enchergando.

      Tom era de desespero.Então ela de meia-volta e atravessou novamente a estrada.

      -Eu estou cego Lucy!

      -Você apenas está chorando,meu querido.

      -Chorando,eu?

      -Eu sei.Por que esses,no seu rosto,são os meus olhos.E lágrimas que não eram suas desceram como gotas de chuva em vidro de janela.


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