Capítulo 3.
“A escuridão dominava o quarto em que estava, a janela mantinha-se aberta fazendo com que uma brisa entrasse e esvoaçasse a fina cortina azul que parecia dançar em meio a madrugada. A respiração leve e suave batia contra a sua nuca, ela virou e encarou seu irmão mais novo Gaara que esta noite, por medo de dormir sozinho, preferiu dividir a cama com ela, se ele não se mexesse tanto talvez a rosada não acharia tão ruim assim, sua garganta ardeu pedindo por um pouco de água. A garota de cabelos rosados saiu da cama cuidadosamente para não acordar o ruivo, foi em direção da porta e a abriu apenas o suficiente para passar, com passos leves e calmos caminhou para a pequena cozinha do apartamento em que vivia com sua mãe e irmão, bebeu um pouco de água um pouco de água para abrandar um pouco a queimação incomoda na garganta, quando voltava silenciosamente para o seu quarto viu a luz do banheiro acesa e estranhou, pois Gaara e sua mãe tinham um sono tão pesado que raramente acordavam de madrugada.
Ela poderia ter deixado para lá;
Ela podia ter ignorado e voltado para sua cama quente;
Mas não foi isso o que ela fez.
A rosada interrompeu seus passos até o quarto e foi para o corredor onde ficava o banheiro, parou e olhou pela fresta da porta que mantinha-se apenas encostada, seu pequeno corpo paralisou, sua mente nublou diante da visão que nenhuma criança deve presenciar na vida, sua mãe estava mergulhada na banheira, seu braço direito estava sobre a borda, sangue escorria de um corte profundo de seu pulso. Tudo a sua volta pareceu correr em câmera lenta.
– Mamãe! – gritou desesperada a rosada enquanto corria em direção à mulher morta mergulhada em água tingida de carmim.”
– Não! – gritou Sakura assustada.
Sua pele estava molhada de suor, a respiração era ofegante, Sakura levou as mãos ao rosto que não estava molhado apenas de suor, mas também de lágrimas, lágrimas estas que ainda teimavam em cair de seus olhos. Imagens da lembrança ainda estavam claras e vivas em sua mente como se fossem gravadas por ferro em brasa, a rosada balançou tentando afastar os espasmos de dor que sempre acompanhavam as lembranças de seu passado, mas ainda sim conseguia ver a sua mãe com os pulsos cortados na banheira, nunca iria passar anos suficientes para esquecer o leve sorriso que ela esboçava no rosto como se sentisse um grande alívio, como se morrer tivesse feito ela feliz. Sabia de todas as dificuldades que Hirome, sua mãe, passou para sustentar ela e seu irmão mais novo, seu pai que nem ao menos sabia o nome os tinham abandonado quando a rosada tinha apenas um ano e meio de idade, mas apesar de tudo ainda sim não conseguia de pensar que sua mãe foi fraca, pois ela foi egoísta ao deixar ela e Gaara sozinhos em mundo no qual ainda não estavam para preparados para enfrentar, um mundo de solidão e medo. Sakura dominou o controle de seu corpo aos poucos, as lágrimas pararam de escorrer, sua respiração voltou a ser leve, sua garganta queimava diante do grito que escapou de seus lábios minutos atrás.
– Gaara – sussurrou roucamente a rosada, seus olhos ficaram marejados novamente, mas ela segurou firmemente as novas lágrimas que ameaçavam cair.
Após o suicídio de Hirome, Sakura foi separada de seu irmão mais novo, apesar de ter implorado para que isso não acontecesse nada foi feito, ela foi mandada para um orfanato e ele para outro, o procurou por muitos lugares, mas nunca mais o viu. A rosada por incrível que pareça diversas vezes por casais durante um ano e meio, talvez a explicação esteja na sua aparência que transpira inocência, mas nada a segurava com os tutores, ela não aceitava ter outra família então sempre fugia, numa dessas fugas acabou que não voltou mais ao orfanato, viveu nas ruas durante uma semana, mas a convivência com noites ao relento durou pouco por que durante uma de suas pernoitadas em uma praça conheceu Sasori, uma menino com lindos olhos castanhos.
“Frio, sentia tanto frio que ficou com medo de que congelasse naquele banco reto e gelado abaixo de si, a noite caiu e com ela veio o vento forte como se pronunciasse a chegada de um rigoroso inverno naquele ano, a rosada se encolheu ainda mais enquanto a flocos de inverno mudavam a paisagem a sua frente, o parque onde estava era bem iluminado apesar de já ser altas horas da madrugada, mas nem a luz dos postes fazia com que o medo de estar ali sozinha fosse esquecido por ela, tinha medo de morrer de frio naquele lugar frio e longe de seu irmão, sua barriga grunhiu tamanha era fome que sentia, abraçou-se como com isso fizesse a fome e frio passar.
Risadas altas e um burburinho de vozes fizeram a rosada desviar o pensamento de seus problemas, olhando para o outro lado a cerca de seis metros de si viu um pequeno grupo que de meninos que aparentavam ser apenas dois ou três anos mais velhos que ela vindo em sua direção, brincavam como se não sentissem o frio que fazia naquela noite.
– Deidara deixe de ser palhaço! – exclamou um moreno que apesar de brigar também ria.
– Cale a boca Baka! – continuou a rir alto Deidara.
– Fale baixo, você esta chamando muita a atenção – murmurou outro garoto também moreno.
– Obito está certo – disse um ruivo.
Sakura apenas se mantinha o mais silenciosa possível, ouvia e via eles se aproximarem cada vez do banco onde estava encolhida, não desviava jamais o olhar deles, sentia um misto de medo e apreensão a cada passo que eles davam, pensou em correr dali, mas seu corpo não obedecia então resolveu que se não fizesse nenhum movimento brusco eles passariam e não notariam-na ali, mas sua tentativa se mostrou tão frustrada quanto errada quando um deles acabou olhando fixamente para ela.
– Hey, o que é aquilo rosa?! – o mesmo loiro que ria alto apontou para a rosada.
– Parece uma menina – falou um menino de cabelos vermelhos escuros.
– Será que alguém nos seguiu, Nagato?
– Cala a boca Kakuso! – exclamou o mesmo ruivo de antes parecendo irritado – Eu vou lá – continuou dando um suspiro cansado.
A rosada viu o ruivo correndo em sua direção, tentou se levantar mais tropeçou nos próprios pés quando ai correr dali, sentiu seu braço direito ser puxado bruscamente, quando se colocou de pé seus olhos se chocaram com os olhos amendoados do ruivo.
– Quem é você? Estava nos seguindo? – interrogou o garoto ainda a segurando.
– N...Não – gaguejou a rosada – Eu só estava dormindo – continuou murmurando fracamente.
– Dormindo?! – se surpreendeu o ruivo.
– Si...Sim – tentava firmar suas palavras, mas o tilintar de seus dentes por causa do frio não deixava.
– Aqui?! – parecia ainda mais surpreso.
– Si...Sim – afirmou novamente Sakura.
O ruivo a sua frente pareceu hesitar, e para a total surpresa e desespero da rosada ele começou a puxa-la em direção aos outros meninos, ela tentou puxar seu braço do aperto dele, mas nada adiantou.
– N...Nã...Não me machuque! – pediu Sakura chorosa.
O pedido pareceu pegar o garoto de surpresa, pois ele parou e a encarou com o cenho franzido de confusão.
– Não vou machucar você – disse o ruivo, ele pareceu ofendido como que ela disse – Eu vou te tirar do frio – continuou ele como se fosse uma coisa óbvia.
– Por quê? – Sakura estava aturdida com as palavras dele.
– Qual o seu nome, pequena? – retrucou ele.
– Sakura – murmurou ela ainda surpresa.
– O meu é Sasori, agora venha vou te tirar daqui antes que você morra congelada. Orochimaru vai gostar de você.
– Orochimaru?
– Sim, ele é nosso pai – Sasori sorriu gentilmente para ela.
A rosada ficou olhando para aquele garoto ruivo, seu salvador.”
Sakura sorriu ao se lembrar do ruivo, algumas horas depois naquele dia ela conheceu Orochimaru, o “pai” deles, Na verdade Orochimaru era chefe da Akatsuki, a maior gangue de ladrões e assassinos da região norte do Japão,e aqueles garotos eram órfãos que ele acolheu na sua gangue, apesar da profissão que levava e ensinava para eles Orochimaru era uma pessoa boa que os deu um lar e apoio como um pai daria para seus filhos. Quando Sasori a levou até ele, a rosada ficou com medo, mas logo o medo se tornou segurança por parte dela à Orochimaru, aos poucos ele se tornou o “pai” dela também, ela também foi treinada por ele no que resultou no seu apelido “Flor da Akatsuki”, a rosada se tornou a melhor ladra e assassina de toda a região norte do Japão.
A rosada saiu de seus devaneios com seu passado, foi em direção do banheiro se preparar para mais um dia naquele lugar, mas seus dias ali já estavam contados.
****
A sala mantinha-se escura, o silêncio ecoava nos quatros cantos, a sua frente estavam papeis de todos os tipos, encomendas de assassinatos, roubos etc... Sabia que precisava encarar todos eles com uma seriedade que jamais quis assumir, mas agora era o responsável pela organização e tinha que controlar tudo com pulsos firmes. Suspirou cansado, “Por que tinha de morrer Orochimaru?” perguntava-se mentalmente, lamentava profundamente a perda de seu “pai” em uma troca de tiros com os policiais, mas era os riscos que tinham de enfrentar nessa vida que escolheram, não é? Levou suas mãos aos cabelos ruivos os bagunçando ainda mais, aquilo não era o que queria, não com o peso da morte de seu “pai” nas costa. O barulho da porta o tirou de seu conflito interno, levantou os olhos a fim de ver quem o tinha interrompido.
– O que quer aqui Deidara? – disse com um suspiro cansado.
– Vai ficar mofando aqui, hn? – perguntou o homem de longos cabelos loiros, este tirou um cigarro do terno preto que usava, acendeu e dando uma tragada continuou – Não adianta nada ficar ai, Sasori.
Sasori nada respondeu, levantou da poltrona de couro atrás de sua mesa e foi até a janela, lá fora o mundo parecia lamentar junto consigo a morte de Orochimaru, um sorriso de ironia se formou em seus lábios, afinal quem sentiria a falta de um assassino? A tempestade parecia ganhar mais força a cada minuto que se passava.
– Todos nós lamentemos a morte de nosso “pai” – declarou o loiro suavemente entra uma tragada e outra.
– Isso mesmo – concordou outra voz.
O ruivo não precisou se virar para ver quem era, ele reconheceu a voz de Obito, se virou para ficar de frente para os outros homens e viu que não apenas os dois se encontravam ali, mais dois outros estavam entrando na sala agora se juntando a eles. Juntos naquele escritório que agora o pertencia estavam Deidara, o mais barulhento de todos; Kakuso era o que cuidava do dinheiro da organização; Hidan era o que cuidava dos assaltos; Nagato e Obito assumiram agora o seu antigo posto o de encomenda e execuções de assassinatos; todos ali eram seus “irmãos”, todos ele cresceram juntos dentro daquela gangue, só faltava apenas uma pessoa para completar a família de mafiosos, e era ela a que mais fazia falta para o ruivo.
– O Baka do Deidara está certo, todos vamos sentir falta do Orochimaro – disse Hidan.
– Hey, não me chame de Baka, seu cuzão! – exclamou o loiro barulhento.
– Cala a boca Deidara – falou Obito com um sorriso irônico nos lábios.
Sasori mantinha um sorriso de canto ao observar eles discutindo entre si, não importa o quanto fossem frios quando o assunto era trabalho, sempre que estavam juntos discutiam feitos os adolescentes marginalizados que foram anos atrás. Apesar de estar se divertindo vendo a irritação de Deidara só aumentar, tinha que colocar um basta naquilo, pois tinham assuntos sérios a tratar, olhou para Nagato que entendeu o que queria e fez com que todos ficassem em silêncio.
– Temos assuntos sérios a tratar – declarou Sasori sentando-se novamente na poltrona.
Os quatro homens assumiram expressões frias com as palavras do ruivo, até mesmo Deidara que era o mais barulhento e hiperativo deles, todos eles se acomodaram um sofá e duas poltronas que tinha na sala.
– Quero saber quem matou Orochimaru – falou Sasori friamente.
– Essa é fácil – se pronunciou Nagato olhando diretamente para o ruivo – Foi o Uchiha.
– Aquele Maldito! – murmurou Deidara.
– Como sabe Nagato? – perguntou Obito.
– Já tinha mandado Ino e Konan investigarem – com um suspiro Nagato continuou – Elas recuperaram fitas de segurança do depósito onde aconteceu o tiroteio.
– Mas como sabem que foi ele quem atirou? – perguntou Kakuso.
– As imagens são claras, Orochimaru acabou encurralado em uma das salas e o Uchiha atirou no peito dele à queima roupa – revelou Nagato cerrando os dentes tamanha era a raiva que sentia.
– Então vocês já sabem o que fazer – falou Sasori sentindo seu sangue ferver diante da revelação de Nagato – Quero a cabeça do Uchiha numa bandeja.
Todos concordaram com sussurros, todos eles sentiam a sede de vingança para com o policial Uchiha. O silêncio predominou, cada um mergulhados no seus próprios pensamentos, Obito se levantou e foi até uma mesinha no canto esquerdo da sala, serviu-se de uísque e voltou sua atenção para Sasori.
– E Sakura? – perguntou o moreno.
Sasori lhe olhou profundamente, entra todos ali o ruivo e Deidara eram os mais apegados a ela.
– Sai foi até o hospital hoje, ainda não sei como ficou o caso dela – disse Sasori com um suspiro.
– Por que ele foi lá? Eles os chamaram? – perguntou Nagato.
– A assistente social chamou, mas ainda não sei o porquê.
– Ele vai contar sobra Orochimaru? – murmurou Kakuso.
– Disse para não fazer isso, essa noticia tem que ser dada por nós.
Kakuso confirmou com um aceno que concordava, os demais também concordaram com alguns sussurros, o silêncio caiu novamente sobre eles.
– Sinto falta dela – murmurou Deidara colocando em palavras o que todos internamente pensavam.
****
Odiava esses remédios, mas todos os dias era obrigada a tomar aqueles calmantes que não faziam tanto efeito, seu organismo se acostumou com as substâncias das doses diárias. Agora estava de frente a uma mulher que mais parecia um buldogue velho num vestido de enfermeira, esta segurava uma bandeja de plástico com alguns copinhos descartáveis brancos com comprimidos de cores rosa e azul, Sakura pegou o copinho que ela lhe deu e as engoliu a seco mesmo, virou-se voltando para a cadeira onde antes se entretinha com um livro de Edgar Allan Poe.
– Sakura! – chamou uma voz feminina.
A rosada interrompeu seus passos e olhou, Shizune vinha em sua direção com um sorriso gentil nos lábios rosados, o coração de Sakura deu um salto de esperança, mal conseguia conter ele que batia rapidamente, pois sempre que via Shizune se lembrava das palavras dela de que ela mesma viria lhe dar a noticia de quando poderia sair daquele lugar.
– Venha comigo, sim? – pronunciou Shizune quando chegou perto suficiente
Com um aceno de cabeça Sakura se pôs a caminhar junto dela, saíram do prédio onde geralmente ficava depois das seções de terapia, andaram pelos corredores tom verde claro e piso linóleo por alguns minutos, não tinha nenhum segurança coisa que a rosada estranhou, mas nada comentou de como seria fácil colocar Shizune para dormir e fugir dali, pararam em frente de uma porta branca que continha uma placa prateada em nome de Dra. Shizune, a mesma destrancou a porta dando espaço para Sakura entrar.
– Pode sentar se quiser – convidou a morena, a rosada acatou o pedido – Bom Sakura, eu a chamei aqui por que como disse a você da última vez que nos encontramos, nos demos entrada na sua soltura, certo?
– Sim – afirmou a rosada apreensiva.
– O estado concordou com o que pedimos – disse Shizune sorrindo.
– Eu estou livre?! – exclamou Sakura agitada.
– Sim – confirmou a morena abrindo mais o sorriso vendo a alegria da menina a sua frente – Mas tem algumas coisas...
– Que coisas?! – interrompeu a rosada – Eu faço qualquer coisa...
– Calma Sakura! – cortou Shizune – Nós não podemos apenas te soltar por ai, certo? Alguém tem que ficar responsável por você.
– Responsável? Mas tenho 20 anos, sou maior de idade – falou a rosada confusa.
– Sim é verdade, mas você esta em um hospital psiquiátrico, diante do estado você é uma sociopata, então eles encontraram uma pessoa que ficara responsável por você, mas será apenas por ano.
– Quem Shizune? Quem é essa pessoa? Eu não tenho nenhuma família e você sabe disso – murmurou Sakura mais confusa ainda.
Shizune hesitou diante da pergunta dela, não sabia qual seria a reação dela ao saber da resposta.
– Mahiro Haruno – sussurrou a morena apreensiva – Seu pai.