Bodas de Vingança

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    Capítulos:

    Capítulo 1

    Capítulo 1

    Heterossexualidade, Sexo

    Os olhos azuis de Mamoru Chiba se estreitaram com um brilho de interesse.

    — A informação é verdadeira, meu amigo? — perguntou, com um sotaque americano temperado com nuances sicilianas, que denotavam sua reação às notícias com mais ênfase do que as palavras poderiam exprimir.

    Jedite assentiu.

    — Positivo. Seiya kou está de olho em Usagi Tsukino desde que o romance dos dois terminou há dois anos.

    — Como você descobriu?

    — O dono da agência de segurança Kou costuma falar além da conta, após tomar alguns copos de uísque. — Jedite não costumava agir dessa forma, mas não se incomodava em tirar vantagem quando se fazia necessário.

    — Isso é conveniente.

    — Imaginei que sim.

    — Certo. Conte-me tudo e não omita nada.

    Jedite lançou um arquivo sobre a escrivaninha de Mamoru e esperou que ele o abrisse.

    Então, apontou para o artigo que mostrava o inimigo do seu cliente com o braço ao redor de uma mulher uns dez anos mais jovem.

    — Kou e a se encontraram em um desfile de modas há quatro anos em Nova York. Ele estava lá com outra modelo, mas deixou o local acompanhado da srta. Tsukino. De acordo com os boatos, arrebatou o coração da moça e a levou para a cama. Ela deixou o trabalho de modelo e começou alguns cursos na faculdade. Ficaram juntos durante 18 meses e terminaram quando ele ficou noivo da atual esposa. Os rumores sugerem que ele pediu à srta. Tsukino para continuar sendo sua amante.

    — Ela recusou.

    — Sim.

    — Foi mais forte do que minha mãe. — A voz de Mamoru soou com uma ponta de inveja. — Por que ele a está vigiando?

    — De acordo com meu informante, Kou a quer de volta. Deu instruções para desfazer qualquer possível relacionamento romântico que ela possa ter. Por enquanto, meu colega não precisou se dar a esse trabalho.

    Mamoru se ergueu e durante um longo momento observou a paisagem através da janela que ficava atrás de sua escrivaninha. Seus l,95m de altura bloquearam a luz e a visão que Jedite tinha da cidade de Manhattan.

    — Afinal, que diabos ele está querendo? É isso que quero saber.

    — Obviamente, entrar na vida dela outra vez.

    Mamoru se virou, as feições aristocráticas se fecharam em uma expressão de descrença.

    — Isso não faz sentido. Ela disse que não e, aparentemente, não parece disposta a voltar atrás.

    — Certo. Isso faz qualquer um pensar que Seiya Kou não acredita que seu casamento dure muito tempo. Na ocasião em que se casou, o pai de sua esposa havia recebido um diagnóstico recente de um problema cardíaco inoperável.

    — Mas com uma vida saudável e exercícios ainda pode durar mais alguns anos.

    Jedite curvou os lábios num sorriso cínico.

    — O suficiente para deixar Kou desanimado, sem dúvida. Seu casamento nunca foi feliz.

    Por certo que não, pensou Mamoru.

    Usagi não fora à única mulher a quem Kou propusera o papel de amante. Outras haviam aceitado e graças a alguns artifícios por trás dos bastidores manipulados por ele e por Jedite, a jovem Senhora Kou acabara sabendo de toda a verdade.

    — De acordo com minhas fontes, ela pedirá o divórcio dentro de alguns meses.

    Mamoru inclinou a cabeça em reconhecimento à informação que não parecia ser uma surpresa.

    — Acha que ele vai querer retomar sua vida amorosa do ponto onde parou, quando estiver livre?

    — Não vejo outra explicação para o comportamento dele. A srta. Tsukino é o relacionamento mais longo de Seiya Kou em mais de uma década. E o único do qual não tirou nenhum proveito financeiro. Só a traiu depois que se afastou dela. Para um mulherengo amoral, isso é um detalhe significativo.

    — Você acha que ele a ama?

    Jedite jamais vira Mamoru Chiba usar aquela expressão em particular.

    — Amor? — Jedite sacudiu a mão num gesto de recusa. — Não se trata de amor. Acho que ele é obcecado por ela. Segundo as informações que coletei, ela foi à única mulher que o dispensou. Mas meus instintos me dizem que existe mais por trás disso. Ela era uma excelente modelo. Seiya foi seu primeiro namorado sério.

    — Acha que ela era virgem quando se conheceram? Quantos anos ela tem?

    — Vinte e quatro e sim acho que Kou foi o primeiro homem de sua vida.

    — O que a faz especial aos olhos de Seiya.

    — E tem mais.

    — O quê?

    — Você não vai acreditar. — Ele mesmo, Jedite, levara um bom tempo tentando acreditar. — É simplesmente perfeito.

    — E o que é?

    — Ela se formou em administração há seis meses e está trabalhando no programa de treinamento da Primo Tech há quatro meses.

    Mamoru comprara a companhia de alta tecnologia em Portland, Oregon, há três anos. E, como todas as outras companhias que adquiria e recuperava, estava se tornando líder de mercado na indústria. Porém, seu sucesso, sem dúvida, não era tão importante naquele momento quanto o fato de Usagi Tsukino ser uma de suas funcionárias.

    — É o destino!

    O riso de Jedite era tão cético quanto o de Mamoru.

    — Não deixa de ser um modo de se ver as coisas.

    Mamoru sentou-se em sua escrivaninha após a partida de Jedite, começou a ler o arquivo de Usagi Tsukino. O investigador particular havia incluído algumas seqüências de fotos dos desfiles dela, que mostravam uma mulher de beleza etérea, com um certo ar inocente, mas usando roupas ousadas que provocariam até a um santo pecar. O corpo alto e esbelto de modelo possuía todas as curvas nos lugares certos, eram mais do que uma tentação... Era pura provocação.

    Os olhos azuis claro, perfeitamente proporcionais à face oval emoldurada por uma cascata de cabelos loiros e sedosos, o intrigaram, mesmo sabendo que ela já pertencera a Seiya Kou.

    Folheou rapidamente as fotografias até encontrar algumas incluídas nos artigos de tablóide que faziam sensacionalismo com o fim do namoro da modelo com Kou . A diferença entre estas e as fotos anteriores fez Mamoru sentir um aperto desconfortável no peito. Aqueles mesmos olhos claros agora refletiam a dor da traição e a inocência perdida.

    Igual à mãe dele.

    Precisava assimilar todas aquelas informações e decidir a melhor maneira de agir. Não dispunha de muito tempo. Pelo simples motivo de que Seiya Kou iria procurar Usagi Tsukino no minuto em que a esposa pedisse o divórcio.

    Isso lhe dava um mês, talvez menos, para agir a respeito da notícia da inesperada doença de Kou.

    O homem que lhe roubara a companhia e destruíra a vida de sua mãe merecia ser arruinado em todos os sentidos e lutaria com todas as forças para que isso acontecesse.

    Usagi Tsukino riu de seus colegas, pelo menos da ala feminina. As mulheres estavam eufóricas com a perspectiva da visita de Mamoru Chiba como se ele fosse um astro do cinema ou da música pop.

    — Não vai sequer colocar um batom? — Rita Hino exigiu com sua franqueza habitual, após pintar os próprios lábios e guardar o espelho compacto na gaveta de sua escrivaninha. — Parece que ele vai visitar este andar hoje.

    — Nada de batom. — Usagi passara anos usando maquiagem pesada, vestindo-se adequadamente e ostentando os atrativos que fizeram dela uma top model aos vinte anos de idade.

    Os mesmos atrativos que atraíram Seiya Kou e toda aquela solidão subseqüente. Agora queria passar o resto da vida evitando maquiagem e vestindo-se em trajes conservadores.

    — Meu único interesse em impressionar o Senhor Chiba é com meu trabalho e não preciso de batom para fazer isso — argumentou, arrumando os documentos sobre a escrivaninha.

    Rita arregalou os olhos e os revirou.

    — Você é do tipo que só trabalha e não se diverte. Já ouviu dizer que esse comportamento faz mal e pode lhe causar uma úlcera antes dos trinta anos?

    — Meu estômago está bem, obrigada. E lembre-se do meu lema: melhor sozinha do que mal acompanhada.

    — Nem todos os homens no mundo são iguais ao cafajeste do Seiya Kou.

    Como a maioria das pessoas, Rita havia lido as manchetes dos tablóides, que noticiaram o rompimento de Seiya com Usagi para se casar com uma herdeira do petróleo. Porém, ao contrário da maioria das pessoas, não permitira que essas histórias deturpassem a visão que tinha de Usagi. Em sua opinião, Seiya não passava de um crápula com fama internacional e sua amiga estava bem melhor sem ele.

    Usagi concordava. Agora.

    Todavia, dois anos atrás, quisera morrer ao sentir na pele a dor e a humilhação do rompimento público.

    — Claro que não são — respondeu, tentando evitar outro sermão sobre refazer sua vida amorosa do ponto onde havia parado. Já ouvira aquela ladainha mais de mil vezes, de Rita e de sua própria mãe. — Mas por ora, não estou interessada em descobrir. Não tenho tempo para um homem em minha vida e honestamente não sei como você pode ter.

    Rita encolheu os ombros, com os olhos cor de âmbar cintilando.

    — De qualquer maneira, se a carreira é sua principal preocupação, deveria querer causar uma boa impressão a Mamoru Chiba. Ele é dono desta e de várias outras empresas.

    — Quero impressioná-lo... Mas com meu tino para os negócios.

    — Ele já está impressionado.

    Ao ouvir a voz grave do Senhor Curtiss, Usagi virou-se na cadeira giratória, surpresa pelo gerente se encontrar ali, ao invés de estar na sala de reuniões com os demais superiores e o dono da companhia.

    — Senhor Chiba gostaria de falar reservadamente com você.

    Um calafrio percorreu-lhe a espinha ao ouvir as palavras que a fizeram recordar de uma conversa semelhante que tivera com sua agente, há alguns anos.

    A mulher lhe dissera que Seiya Kou gostaria de conhecê-la. Idiota e ingênua que era, ficara lisonjeada e impressionada.

    — Por que a sós?

    — Ele está impressionado com seu relatório sobre produtividade em ambiente de trabalho e quer discuti-lo com você.

    Aliviada, ela sorriu. Negócios. Eram apenas negócios, não como da outra vez quando as apresentações foram um prelúdio para a sedução.

    — Isso é bárbaro! — exclamou Rita — Ouvi dizer que o sujeito é um gênio. Se estiver apreciando suas idéias, creio que deve ser verdade.

    — Ele quer me ver agora? — perguntou Usagi, sentindo-se um pouco zonza. Para ser franca, sonhara com a possibilidade do dono da empresa ficar tão impressionado com o trabalho dela a ponto de querer lhe dizer isso pessoalmente. Que executivo júnior não sonharia? Mas isso não costumava acontecer na vida real.

    O gerente consultou o relógio e fez uma cara feia.

    — Para ser mais exato, pediu-me para chamá-la cinco minutos atrás. Mas no meio do caminho tive que atender uma chamada telefônica.

    Usagi Tsukino entrou no escritório de Mamoru com o corpo ereto e uma fisionomia segura. O único detalhe que denotava seu nervosismo eram os dedos apertados contra as palmas das mãos.

    Sua estrutura óssea era delicada para uma mulher da sua altura, que sem dúvida explicava o sucesso que alcançou como modelo de passarela. Entretanto, parecia bem diferente das fotos dos desfiles de moda que Jedite incluíra no arquivo. Tampouco lembrava a imagem da jovem dos artigos de tablóide após o término do romance com Kou.

    Todas as fotografias mostravam uma mulher estonteante que tirava proveito de seus dotes físicos para sobreviver, mas ninguém podia acusar a atual Usagi Tsukino de apelar para a beleza a fim de obter êxito no trabalho.

    A jovem tinha os cabelos presos em uma trança francesa que lhe pendia ao longo das costas. Não usava maquiagem. As unhas eram curtas sem esmalte, mas bem cuidadas. O conjunto de calça comprida e blazer azul disfarçavam sua figura alta e esbelta.

    Mamoru não estava bem certo acerca do que esperar, mas aquele traje despojado, quase andrógeno, ajustava-se com perfeição ao relatório de Jedite sobre o comportamento da moça desde que Seiya Kou se casara com outra mulher.

    Usagi não parecia interessada em atrair os homens. Ainda estaria apaixonada pelo monstro? Aquele pensamento o aborreceu e sua fisionomia normalmente impassível se contraiu em uma expressão carregada, sem que ele percebesse.

    — Senhor Chiba? — A voz soou solícita, mas não hesitante, o que o agradou.

    Admirava força, porque fraqueza... De qualquer tipo... Podia custar muito caro.

    Ergueu a cabeça e deparou-se com um par de olhos castanhos que o fitavam com um ar interrogativo.

    — Srta. Tsukino. Por favor, sente-se.

    Ela se moveu pela sala com seu jeito elegante e suave e sentou-se em uma cadeira do lado oposto à escrivaninha dele. A opinião de Mamoru a respeito das roupas de Usagi mudou. O blazer ajustava-se à cintura delicada e à medida que ela se movimentava a blusa deixava transparecer curvas que não conseguiam ser disfarçadas completamente. O modo como as roupas tentavam esconder, sem êxito, sua feminilidade o fez desejar arrancá-las e apreciar as belas formas que se ocultavam sob o tecido.

    Lembrar-se de suas fotos de biquíni e outros trajes sensuais que lhe vieram à mente, não o ajudou.

    Uma onda de desejo varreu-lhe o corpo com uma urgência e velocidade surpreendentes. Sentiu-se feliz por estar oculto pela escrivaninha. Não respondia com aquela intensidade física a simples visão de uma mulher, desde a puberdade.

    Tentou relaxar a mente, utilizando os exercícios mentais e respiratórios de Aikido. Começara a exercitar essa prática quando ainda era um garoto. Até hoje continuava a lançar mão desse artifício para manter o corpo e a mente em sintonia. Normalmente dava certo sem precisar se esforçar muito. Dessa vez, porém, seu corpo parecia agir por conta própria e precisou de vários segundos para acalmar a respiração acelerada, antes de voltar a se concentrar em sua agenda de trabalho.

    — Li seu relatório sobre produtividade no ambiente de trabalho. Pude perceber que chegou a várias conclusões interessantes e fez um número igual de sugestões, a meu ver, merecedoras de atenção.

    Ele observou os olhos dela se iluminarem de prazer e os lábios sensuais se curvarem num sorriso entusiasmado. Quando Usagi Tsukino inclinou-se para frente, seu perfume, essencialmente feminino, lhe chegou às narinas.

    — Há uma infinidade de dados a serem analisados e interpretados de recentes estudos sobre o assunto, muitos dos quais ignorados pela teoria administrativa atual.

    Mamoru assentiu com a cabeça. A despeito do que fora no passado, a mostrava-se bem segura na carreira escolhida.

    — Particularmente, achei suas sugestões relativas ao período de férias muito interessantes.

    — Vários estudos comprovam que empregados que não fazem horas extras, que tiram férias anualmente e não trabalham em seus horários de almoço são mais produtivos do que os colegas que cumprem uma agenda extenuante e nunca têm tempo para nada. — Ela sorriu. — É mais saudável também. Eles têm menos ataques cardíacos e são menos propensos a desenvolver úlceras.

    — Você, sem dúvida, fez sua lição de casa.

    Usagi se ruborizou ao ouvir o elogio repentino e Mamoru captou aquela reação para uma referência futura. Do modo como a ex-modelo se apresentara, era obrigado a admitir que a jovem valorizava mais o lado profissional do que a beleza.

    Interessante. E incomum.

    — Muitas de suas sugestões vão de encontro às políticas das corporações.

    Ela se inclinou ainda mais para frente, o rosto oval corado tinha uma expressão entusiasmada, exatamente do modo como ele gostaria de ver em algum outro lugar fora da sala de reuniões.

    — Esse estilo de administração está tão antiquado quanto a ala masculina do pessoal executivo. Eles não apresentam uma mão-de-obra dinâmica necessária aos dias atuais, em particular no que diz respeito ao ambiente orgânico da indústria de alta tecnologia.

    — Por que procurou um trabalho nesse setor? Seu currículo mostra uma extensa formação em ciências humanas.

    Ela se recostou na cadeira e mordeu o lábio inferior, parecendo um pouco desconcertada com a pergunta.

    — A descrição do cargo não exigia formação na área tecnológica.

    — Eu sei, mas você não respondeu a minha pergunta.

    Usagi curvou os lábios num breve sorriso.

    — Desculpe. Você tem razão. — O sorriso se alargou e a tensão do corpo relaxou. — Gosto da atmosfera estimulante. As coisas estão sempre mudando, não só os produtos, mas a mão-de-obra também. O trabalho é instigante. Porém o mais importante, é que eu queria trabalhar em algum lugar no qual pudesse me destacar.

    — E achou que a Primo Tech seria esse lugar?

    — Sim.

    Mamoru ergueu o relatório que teria chamado sua atenção mesmo que ele não tivesse tido o pretexto ideal para o primeiro encontro deles.

    — Eu diria que está se saindo muito bem no que se propôs a fazer.

    — Fico feliz por pensar assim. — Usagi sorriu e ele se viu retribuindo o sorriso, algo que raramente fazia.

    O telefone dele tocou no exato momento em que instruíra a secretária a ligar.

    Ele ergueu o fone do gancho.

    — Chiba falando.

    — Senhor Chiba, estou chamando como o senhor pediu.

    — Obrigado. E os meus outros compromissos?

    — As reservas já foram feitas. O jantar será às 19h30 no restaurante do seu hotel.

    — Espere um momento — Mamoru apertou um botão e adotou uma expressão de pesar, o que também não costumava fazer com muita freqüência. — Sinto muito, preciso atender esta chamada.

    Usagi se ergueu apressada.

    — Claro! Com licença.

    Quando ela se aproximou da porta Chiba a chamou:

    — Srta. Tsukino.

    Ela se virou.

    — Sim?

    — Gostaria de discutir o seu relatório mais tarde. Podemos nos encontrar hoje à noite para um jantar de negócios em meu hotel?

    A despeito do fato de Mamoru se referir ao encontro como um jantar de negócios, os olhos dela se encheram de cautela.

    — Jantar?

    — Sim. Algum problema? — perguntou ele, conferindo à voz uma nota de superioridade e desaprovação para lembrá-la de sua posição.

    Usagi respirou fundo, endireitou os ombros e seus lábios se contraíram numa linha determinada.

    — Nenhum. Estarei lá. Em que hotel e a que horas?

    Chiba respondeu e observou-a caminhar para fora do escritório. Seu olhar fixou-se no modo como as calças compridas dela se amoldavam às curvas perfeitas dos quadris redondos. Aquele aspecto do seu plano de vingança estava começando a ficar mais prazeroso do que imaginava.

    Seduzir Usagi Tsukino não seria nenhum sacrifício.

    Usagi se preparou para o jantar. Há dois longos anos não se sentia tão nervosa quanto naquele momento. Por quê? Porque no minuto em que outro magnata atraente e sensual surgiu na sua frente, seu corpo começou a reagir. Não podia acreditar que isso estivesse acontecendo com ela e sentia-se completamente enojada de si mesma.

    E o que era pior, percebera de imediato que aquela atração inesperada fora mútua. Podia ter pouca experiência com os homens, mas era assediada o bastante para identificar quando um homem se sentia atraído por ela. Tinha aprendido cedo em sua carreira de modelo a reconhecer e evitar as investidas masculinas.

    A única vez em que falhara fora espetacular e devastador.

    Não havia passado os últimos dois anos evitando homens e compromissos para cair nas mãos de outro Seiya Kou. De jeito nenhum. Era inteligente o suficiente para não entrar em outra.

    Até mesmo o simples fato de cogitar sobre uma relação com um homem como Mamoru Chiba seria uma grande estupidez.

    Certo. Lembre-se disso.

    Só que instintos que nada tinham a ver com inteligência e sim com emoção estavam enviando todos os tipos de mensagens a seu cérebro, incitando-a a usar um pouco de maquiagem, a colocar um vestido mais feminino e sofisticado e soltar os longos cabelos. Santo Deus! O que estava acontecendo? Durante dois anos fizera o possível para se purificar de tais impulsos.

    A mente lhe dizia que era cedo para uma ressurreição, mas seu coração discordava.

    Estúpida, estúpida, estúpida, murmurou aborrecida.

    Trocou as calças compridas por uma saia preta e a blusa e o blazer por uma jaquetinha que abotoava na frente. Após prender o último grampo na trança, conferiu sua imagem no espelho e ficou satisfeita.

    Por fim, colocou um par de meias-calças transparentes e calçou um sapato scarpin preto, que lhe permitiam passar uma imagem mais séria e profissional, sem a suavidade feminina, o toque sensual do batom e o brilho das jóias.

    Perfeito!

    Dessa maneira, o chefe não interpretaria sua indumentária como algum tipo de tentativa para atraí-lo a um nível pessoal.

    Pouco se importava se Mamoru Chiba a afetava de um modo que julgara esquecido pela traição de Seiya. Desejá-lo a assustava muito mais do que excitava.

    Desejo era uma emoção que desafiava mulheres inteligentes a tomar decisões tolas.

    Afinal, já não vivenciara o bastante? Crescera vendo a mãe saltar de uma relação destrutiva para a outra. Sua mãe não entendia por que nenhum dos homens que amou ficara a seu lado. Não compreendia que o tipo de homem poderoso e atraente com os quais lidava queriam apenas fazer sexo com uma mulher bonita.

    Nenhum deles fora capaz de lhe dar o que ela precisava... Amor.

    Mas a mãe quebrara esse ciclo de desventuras quando um homem forte e sensual, que mostrou ter coração, surgiu em seu caminho.

    Diamond Colby tivera uma grande influência na vida de Usagi, que fora forçada a acreditar que aquele tipo de homem nem sempre era ruim. Porém, não era mais tão ingênua. Diamond era uma anomalia entre a espécie masculina, um homem poderoso com um coração... Mas anomalias não aconteciam com muita freqüência, talvez uma vez por milênio.

    Tudo bem, disse a si mesma, tentaria concentrar-se no trabalho e não no modo como o olhar de Mamoru Chiba afetava sua libido.

    Usagi entrou no elegante hotel no centro da cidade, demonstrando uma confiança inabalável que era só aparente. Por dentro, sentia-se tão nervosa quanto em seu primeiro dia de trabalho. Pior ainda, porque naquela ocasião tudo contra o qual tivera que lutar era o medo do desconhecido. Essa noite lutava contra o medo de fraquejar.

    Mamoru a esperava, sentado a uma mesa, em uma área reservada do restaurante do hotel. Um verdadeiro marco histórico, a rica decoração, constituída por um painel de madeira esculpida que conduzia a um teto alto e cavernoso, era fiel à arquitetura do século XIX. Apesar da distância do teto, o detalhe rico das pinturas ao estilo Da Vinci chamaram sua atenção.

    Mas nem sequer a beleza da arte foi capaz de mantê-la alheia ao olhar que Mamoru lhe lançou. Aqueles olhos azuis enigmáticos fitaram-na com intensidade, enquanto ela caminhava em sua direção, passando por entre as mesas cobertas por toalhas de linho branco e ocupadas por uma clientela bem-vestida e refinada. Até mesmo a distância, exalava uma aura de poder e masculinidade que fez o coração dela acelerar.

    Igual a Seiya.

    Só que dessa vez não se deixaria enganar, acreditando que Ângelo fosse mais do que aparentava ser, um cruel tubarão do mundo dos negócios.

    Ele se ergueu quando ela chegou à mesa. Sua altura era surpreendente. Não era uma mulher baixa, mas alcançava apenas o queixo dele. Precisou inclinar a cabeça para trás a fim de fitá-lo nos olhos. Era um sentimento muito estranho.

    — Boa noite, Senhor Chiba.

    Ele esperou que o maître puxasse a cadeira para ela se sentar e acomodou-se novamente.

    — Mamoru, por favor. Deixemos de lado as formalidades. Prefiro um ambiente mais liberal em minhas empresas.

    — E parece que tem dado certo. Ainda não perdeu nenhuma delas.

    Algo mudou no olhar dele, enquanto vertia uma taça de vinho da garrafa que já estava na mesa.

    — Na verdade, perdi uma, mas isso foi há muito tempo.

    Sentindo que ele não esboçou nenhum desejo de discutir o assunto, Usagi tomou um gole de vinho e então perguntou:

    — Mamoru é um nome italiano?

    Além dos olhos azuis que eram comuns aos homens italianos, os cabelos escuros e a pele bronzeada lhe conferiam uma aparência bem mediterrânea.

    — Minha mãe era siciliana.

    Isso explicava tudo, pensou Usagi. Mas ao se lembrar de um modelo que conhecera em um desfile em Palermo, acrescentou:

    — Mas os homens sicilianos costumam ser mais baixos.

    — Meu pai era americano.

    — E alto.

    Mamoru sorriu, fazendo-a perder o fôlego. Que homem maravilhoso...

    — Sim. De acordo com minha mãe foi uma das primeiras coisas que ela reparou nele. Havia mais de meio metro de diferença entre suas alturas, mas pelo que consigo lembrar, isso nunca foi um empecilho para os dois.

    — Já ouvi dizer que o amor pode ser um grande compensador — comentou ela, com uma ponta de escárnio que desejou não sentir. Mas depois de tudo que vivenciara na infância e após um relacionamento fracassado acreditava muito pouco nas emoções como cura para todos os males.

    — É o que dizem. — O tom de voz não foi menos cínico que o dela.

    O garçom se aproximou para anotar os pedidos e Usagi fez questão de escolher o próprio prato. Aquilo não era um encontro e até mesmo se fosse, não tomaria parte do velho costume mundial, onde o homem escolhe a refeição e a mulher o acompanha. Passara muitos anos cuidando de si mesma.

    — Você quer discutir meu relatório? — perguntou ela depois que o garçom se afastou.

    — Primeiro, gostaria de saber um pouco mais sobre você, Usagi.

    — Estou certa que todas as informações pertinentes estão em minha ficha no departamento pessoal.

    — Talvez eu prefira ouvir da sua boca.

    — Tive a impressão de escutá-lo dizer que teríamos um jantar de negócios. — Ela procurou manter o tom de voz suave, não querendo ofender o chefe, mas não tão suave que ele não entendesse o significado daquele comentário.

    O olhar lânguido de Mamoru a acariciou com uma força tátil e ela teve que se esforçar para não começar a tremer.

    — Minhas amizades mais íntimas começaram com encontros de negócios.

    — Não me parece ser um homem de ter muitos amigos íntimos. — Usagi pretendia proferir as palavras num tom direto e impessoal, mas em vez disso, sua voz soou galanteadora e provocante, duas oitavas abaixo do normal.

    — É uma mulher bastante perceptiva. — Mamoru ergueu a cabeça com a expressão ligeiramente desafiadora. — Isso não significa que você não possa se tornar um deles.

    — Você é bem direto.

    — Quando quero uma coisa, não hesito em correr atrás para alcançá-la.

    — Se está interessado em minhas habilidades profissionais, as terá. Agora, se estiver procurando uma relação pessoal com uma funcionária, estou fora. — Ela não podia ser mais direta, mas afinal, aquele homem precisava de um corte.

    Mamoru assentiu com a cabeça, sem se mostrar ofendido.

    — Posso até respeitar sua posição. — Ele sorriu. — Mas isso não significa que não tentarei fazê-la mudar de idéia.

    — Eu preferia que isso não acontecesse.

    — E eu preferiria que você não me tratasse como um pária, só porque sou o dono da empresa para qual você trabalha.

    — Não querer misturar prazer com negócios, não quer dizer que o estou tratando como um pária.

    — E me negar a possibilidade de uma amizade?

    — Ora, por favor, você não precisa da minha amizade.

    — Está enganada.

    Havia sinceridade na voz e no olhar dele, mas como podia ser possível? A menos que suas definições de amizade não significassem a mesma coisa. Talvez Mamoru Chiba estivesse com problemas sentimentais no momento.

    — Não tenho o menor interesse em me tornar confidente de um magnata do mundo dos negócios.


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