Hocus Pocus To Me.

Tempo estimado de leitura: 4 horas

    16
    Capítulos:

    Capítulo 16

    A rejeição da estranha.

    Álcool, Adultério, Heterossexualidade, Homossexualidade, Linguagem Imprópria, Nudez, Suicídio, Violência

    Olá pessoal :3

    Como sempre, peço a todos que leiam com atenção, se apeguem aos detalhes, e o mais importante, não tirem conclusões precipitadas ^^

    Nota:

    Owan: Vasilha/Tigela que os japas usam para comer...

    A música do capítulo é a As You Go - RED (Postada nas notas como sempre).

    Link: http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=hd_u5K0HGds

    Boa leitura!

    Desde o momento em que decidira partir com a menina, o rapaz sabia que estava sujeitando-a a uma vida perigosa e que seria sua obrigação protegê-la, mesmo que isso o obrigasse a mentir e irritá-la, incitando sua antipatia. No entanto, após o susto de tê-la perdido pela noite e o alívio de tê-la recuperado com o nascer do sol daquele frio dia de inverno, embora ela estivesse mais irritante do que nunca, ele estava grato aos céus e até feliz, por ela estar viva.

    (...)

    A minguada luz amarelada que iluminava a escrivaninha começara a piscar, como se a qualquer momento pudesse se extinguir e despertou o homem que debruçado sobre o enorme manuscrito cor de chumbo, cochilava.

    — Hum... — ele abriu os olhos miúdos, um pouco assustado, olhou para o relógio preso ao pulso. — Céus... Acabei dormindo demais, já são dezessete horas! — levou a outra mão aos olhos, esfregando-os. — Passei a noite toda e a manhã de hoje lendo esse livro e sequer cheguei à metade! — notou ao desapoiar-se do livro, que o mesmo estava aberto, marcando a página na qual parara de ler.

    Ele então se escorou às costas da cadeira e espreguiçou-se vagarosamente, deixando escapar um longo bocejo e assim que terminou, pôs-se novamente na posição encurvada que antes estava, levando a mão até a caneca de porcelana branca que estava sobre a escrivaninha, inclinando-a para si para avistar o conteúdo.

    — Está vazia... — soltou a caneca e levou a mão à garrafa de café que estava próxima, chacoalhando-a. — Acabou... — um pouco irritado ele deixou a garrafa no mesmo lugar e desligou de vez a luz da escrivaninha que teimava em piscar, deixando o quarto em plena escuridão.

    O homem levantou-se da cadeira em que sentava e foi até o interruptor, acendendo a luz do cômodo, afinal, embora ainda não estivesse de noite, no inverno o dia escurecia bem mais cedo que o comum.

    Desleixadamente ele caminhou novamente até a escrivaninha e sentou-se à cadeira, voltando a ler aquele livro antigo.

    Repúdio ao estranho.

    O momento da aceitação não chegará,

    Corpo e alma caminham em vão;

    A passagem atravessará ilesa;

    Alma sim, corpo não.

    O conhecido intacto permanecerá,

    O estranho, hostilizado será;

    O aceito viverá em harmonia;

    O rejeitado, aos poucos perecerá.

    Aquele mundo odeia-te,

    Aquele mundo pertence apenas aos seus;

    Pobre do tolo que persistir;

    Tragado lentamente será, sem resistir.

    Não sigas quente adiante,

    Apercebes-te do perigo eminente;

    Não te deixes enganar pela calmaria;

    Aos poucos pagarás a sina.

    Quer queira ou não,

    Estará fadado à sentença;

    Se seguires em frente não te arrependa;

    Terá o corpo, uma bela prenda.

    Insistir é insano ao são,

    Aos olhos do louco não;

    Poderá safar-se ou não a tempo;

    A mercê do julgamento.

    Siga até o fim e será dilacerado,

    Arrependa-se e talvez seja perdoado;

    Desista e será tragado;

    Se apenas não tentar, será poupado.

    Aceitar a dor será inevitável,

    Acostumar à lástima será imprescindível;

    Mas ceder ao caos será imperdoável;

    Guiado ao fim será de forma imponente.

    De um lado deverá permanecer o quente,

    Do outro lado, permanecerá o gelado;

    A distância estabelecida entre os dois;

    Em hipótese alguma deve ser maculada.

    A forma do corpo molda a alma,

    A alma molda-se a forma do corpo;

    Se conectada lhe aprisiona;

    Desunida lhe consumirá.

    (...)

    O cair da noite naquele vilarejo trouxe consigo uma forte tempestade de neve, obrigando a todas as poucas pessoas que ali habitavam a se abrigarem em suas casas.

    Na velha pousada, o rapaz de cabelos negros que olhava pela janela há algum tempo, buscava matar o seu tempo sozinho, afinal, a jovem rosada ainda dormia profundamente. Entretanto, observar a neve caindo ao lado de fora não estava lhe ajudando a acabar com o tédio, muito pelo contrário, estava piorando as coisas.

    Um pouco aborrecido ele deixou de fitar através das vidraças e seguiu até a mala da menina, agachando-se em frente ao grande objeto.

    — Hum... — mordeu o lábio inferior e olhou pelo canto dos olhos para confirmar se a garota ainda dormia.

    Naquele momento de enfado, a curiosidade soava-lhe agradável e satisfazê-la seria ainda melhor. Após um sorriso veloz ele levou as mãos à mala e puxou o zíper bem devagar, evitando assim o barulho desnecessário.

    De dentro retirou a caixa que continha o diário da Haruno e destapou-a, observando o seu interior. Almejou fortemente pegar aquele caderno de segredos e lê-lo do começo ao fim, no entanto, sensato, ele apenas desistiu e pegou um álbum que estava logo abaixo do diário.

    — Hum... Fotografias? — ele sentou-se ao chão e passou a folhear o álbum.

    As fotos, todas eram de Sakura já adolescente e provavelmente de sua querida avó. Não havia uma imagem sequer dela quando criança e de outras pessoas.

    — Engraçado... Ela está com a mesma expressão abatida em todas as fotos! — notou confuso e logo chegou à última fotografia. — Que estranho... Esse álbum tem poucas fotos para toda essa espessura! — concluiu fitando a capa e percebeu que havia uma pequena trava ao rodapé da mesma. — Um falso compartimento? — ele usou o dedo indicador para destravar e a capa abriu, deixando cair um punhado de fotografias ao chão.

    O rapaz inclinou-se um pouco para frente e passou a pegar foto por foto analisando-as. Dentre essas fotos secretas, havia imagens de outras pessoas além da rosada e também, fotos de sua infância.

    — Vish... Ela não mudou nada! — murmurou admirado e apanhou outra foto. — Hum... Devem ser os pais! — ele concluiu observando uma imagem dela pequenina entre um homem e uma mulher que era extremamente semelhante a ela.

    Após algumas fotografias da menina e seus pais, ele pegou uma foto na qual Sakura ainda pequena, estava sentada sobre uma cama e ao seu lado, um menino de costas para a imagem parecia brincar com ela, sentado à beirada do leito dela. Depois de todas as fotos que vira da menina com os pais e com a avó, aquela foto dela com aquele garoto era a primeira em que avistara a menina Sakura esboçando um enorme sorriso.

    — Q-Quem é... Será o amigo do diário? — indagou chocado ao observar a imagem. — Ele deve ter sido muito importante para ela, que inveja... — pensou em voz alta e assustou-se com o que disse, balançando a cabeça negativamente. — Raios, o que diabos eu estou dizendo?! — questionou-se transtornado e enfiou aquela foto dentro do compartimento secreto do álbum, virada de cabeça para baixo. — N-Não é como se eu me importasse com isso... — corou e logo pegou a próxima fotografia. — Hum... Dessa vez há uma menina junto com a Sakura! Bom, não sei por que, mas essa menina não me é estranha... Será impressão minha? — indagou-se curioso, no entanto, foi interrompido ao ouvir a respiração ofegante da jovem que dormia sobre a cama. — Droga... — antes mesmo que conseguisse ver todas as imagens, ele guardou todas elas rapidamente no lugar onde antes estavam, enfiou o álbum dentro da caixa e colocou-a de volta dentro da mala. — S-Sakura? — ele inquiriu achando que ela estivesse acordando e levantou-se, aproximando da cama.

    A jovem suada e inquieta meneava a cabeça ofegante, como se estivesse agonizando de dor.

    — Sakura? — ele levou a mão à testa da garota que estava extremamente quente. — Febre? — questionou apreensivo. — E agora, o que eu faço? — indagou-se apavorado, pois nunca havia lidado com uma situação semelhante. Sequer sabia cuidar de si mesmo quando adoecia, entretanto, ainda restava-lhe o senso comum. — Um pano... — ele lembrou-se do método e pegou seu lenço dentro de um dos bolsos de seu sobretudo e correu até o pequeno banheiro que havia no quarto.

    Assim que se pôs a frente da pia, levou uma das mãos à torneira e assim que girou a válvula, nenhuma gota d’água saiu.

    — Maldição... — ele checou as torneiras da pequena banheira, constatando que delas também não saiam água, deixou o banheiro e saiu do quarto posteriormente, passando a caminhar pelo corredor, em direção à recepção. — Boa noite, não há água no banheiro do meu quarto... Onde há outro banheiro que eu possa usar? — questionou assim que chegou perto da velha sentada detrás do balcão.

    — No final do corredor... — a senhora que parecia entretida com o crochê que fazia, apenas apontou a direção sem sequer olhar para o rapaz que apressado passou a caminhar rapidamente no rumo que lhe fora indicado.

    Logo que chegou ao cômodo destinado, abriu a porta e adentrou sem pudor o local, seguindo até a pia e assim que abriu a torneira, a água começou a sair e ágil, ele enfiou o pano debaixo do líquido que escorria.

    — Bom... Agora é só torcer e colocar sobre a testa de... — ele murmurou fechando a torneira, no entanto, foi interrompido ao sentir algo molhar os seus pés e calou-se, olhando para o chão.

    O piso do banheiro encontrava-se alagado e a água tinha uma coloração estranhamente vermelha. Então o rapaz engoliu a seco e decidiu olhar para o lado, para conferir de onde vinha toda aquela água, foi quando olhou para a banheira que estava transbordando e assustou-se.

    — Céus... — chocado com o que avistara, ele saiu rapidamente do banheiro e fechou a porta. — Que droga de lugar esse... — reclamou irritado e passou a caminhar pelo corredor, e logo se aproximou da recepção.

    — Ah, esqueci-me de te avisar sobre o banheiro... — a velha mencionou para o rapaz que passava em frente ao balcão, mas foi interrompida.

    — Tarde demais! — ele passou direto e seguiu para o seu quarto.

    Assim que adentrou o cômodo, foi até a cama da jovem, dobrou o lenço e colocou-o sobre a testa dela. Ele não sabia ao certo o que fazer depois daquilo, portanto decidiu que iria observá-la por toda a noite, embora não tivesse dormido quase nada desde o dia anterior.

    Ele ajoelhou-se ao chão, amparando os braços cruzados na beirada da cama da rosada, pondo-se a vigiá-la e assim pretendia permanecer até o amanhecer do dia seguinte, que estava por vir.

    As horas pareciam não passar, aflito e impotente diante daquela situação, ele apenas observava a menina se contorcer sobre a cama e vez ou outra se atrevia a tocar o rosto febril dela, retirando alguns dos fios de cabelos róseos que por conta do suor, colavam na face delicada que ela possuía.

    O tempo transcorreu-se torturadoramente devagar e assim que a noite findou-se, dando início à alvorada daquele novo dia, o rapaz terrivelmente cansado cedeu ao sono e acabou dormindo, ainda ajoelhado ao chão e debruçado sobre a beirada da cama.

    Quase duas horas depois, ele acordou por causa da claridade que adentrava pelas vidraças da janela e assustado, levou a mão à boca limpando o rastro de saliva que escorrera e voltou a olhar para a garota adormecida.

    — Ela parece melhor... — notou que a menina aparentava mais calma e o suor já havia secado. Ele levou a mão ao rosto dela e percebeu que a febre havia amenizado. — Acho que eu deveria fazer algo para ela comer... — concluiu e pôs-se em pé. — Um mingau? — sugeriu confuso. — Ao menos eu sei do que é feito, então acho que será isso mesmo! — decidiu saindo do quarto e seguindo até a cozinha.

    O sol já estava alto, era quase dez horas daquela manhã de inverno e o rapaz que parecia travar uma guerra na cozinha, finalmente deixou o cômodo com uma owan sobre uma pequena bandeja de madeira e voltou para o quarto alugado.

    Logo que abriu a porta, aproximou-se da pequena cômoda que havia perto da cama e colocou a bandeja sobre ela.

    Quando desvencilhou os olhos para observar a menina, percebeu que a mesma estava despertando.

    — Hum? — ela abriu os olhos inchados e espreguiçou-se lentamente, ainda deitada. — S-Sasuke-kun? — ela fitou o moreno em pé, ao lado da cama. — Que horas são? — ela questionou sentando-se sobre o colchão.

    — Você está bem, Sakura? — indagou apreensivo e sentou-se à beirada da cama.

    — Sinto-me fraca, mas estou bem sim! — esboçou um leve sorriso.

    — Estranho... Ela está calma como antes, acho que definitivamente ela voltou ao normal! — pensou atordoado. — B-Bom, eu fiz esse mingau pra você... É isso o que se deve comer quando se está doente, certo? — ele sugeriu apanhando a owan de cima da bandeja e entregando-a à menina.

    — Oh, obrigada Sasuke-kun... — ela aceitou suavemente. — A aparência não está ruim... — ela pensou analisando a estética do mingau de arroz e levou uma colher à boca, abaixando a cabeça posteriormente.

    — E então? — ele questionou, mas não obteve respostas e então passou a chacoalhá-la. — S-Sakura, hey... Você está bem? Olha para mim! — pediu aflito e poucos segundos depois a garota reagiu.

    — S-Sasuke-kun... — ela pronunciou o nome dele com um pouco de dificuldade. — C-Com apenas uma c-colher eu f-fui ao inferno e voltei! — ela gaguejou derrubando algumas lágrimas. — Por favor, n-nunca mais cozinhe novamente! — pediu tossindo fortemente, porém logo parou.

    — Eu disse que não sabia cozinhar, sinto muito por isso... — olhou para o lado, envergonhado.

    Após aquelas palavras do rapaz, a menina caiu na risada, enquanto o garoto calado olhava-a constrangido, com cara de tacho.

    — D-Do que você está rindo? — perguntou um pouco irritado.

    — Nada não! Eu agradeço por você ter cuidado de mim, Sasuke-kun... Arigatou! — sorriu docemente para o rapaz que corou violentamente.

    — N-Não é como se eu estivesse preocupado com v-você, tampinha... — desdenhou desviando o olhar para o lado.

    — Garoto, não me entenda mal! Nós nos conhecemos há pouco tempo, portanto, sei que é natural que você ainda não goste de mim... — esboçou um sorriso compreensivo. — Mas mesmo assim, obrigada por me ajudar! — agradeceu novamente.

    — N-Não há de que... — respondeu um pouco abatido e permaneceu encarando a rosada. —Então ela não gosta de mim? — inquiriu mentalmente. — D-Droga... No que estou pensando? Eu não dou a mínima pra isso! — ralhou em pensamento.

    — Você quer falar algo? — ela finalmente indagou após alguns segundos que o rapaz permanecera fitando-a nos olhos.

    — N-Não... — ele percebeu que enquanto pensava matinha os olhos fixos nos dela e apartou-se, com o rosto enrubescido. — E-Eu vou... — ele olhou ao redor e tomou a owan das mãos dela, colocando-a sobre bandeja, retirando-a de cima da cômoda. — Eu vou jogar isso fora! — usou aquilo como pretexto e deixou o quarto ligeiramente.

    Com as batidas do coração descompassadas, desconcertado o rapaz caminhou rapidamente pelo corredor, em direção à cozinha.

    De certa forma, o garoto não entendia muito bem o que estava sentindo ou quem sabe, não quisesse entender e tampouco sabia exatamente o que lhe causava aquelas reações estranhas, enquanto interagia com a menina de longos cabelos róseos. No entanto, ele tinha a certeza de que o convívio com ela estava obrigando-lhe a experimentar sensações que até então nunca havia sentido e isso, de fato, não era algo que odiava.

    Por outro lado, a menina sequer parecia sentir algo quando estava na presença do rapaz, que não a timidez natural de sua personalidade. Na realidade, desde quando chegara ao vilarejo, a jovem sentia-se, mesmo que lentamente, cada vez mais cansada, como se apenas manter-se de olhos abertos por uma tarde toda fosse uma árdua tarefa.


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