Hocus Pocus To Me.

Tempo estimado de leitura: 4 horas

    16
    Capítulos:

    Capítulo 15

    Um lugar diferente.

    Álcool, Adultério, Heterossexualidade, Homossexualidade, Linguagem Imprópria, Nudez, Suicídio, Violência

    Olá :3

    Eu adoro essa mescla de mistério/drama/romance, e embora essa não seja a minha fanfic mais popular entre os leitores, é a que mais amo escrever, pois acho o seu conteúdo complexamente apaixonante *--------*

    O que eu posso dizer do capítulo?

    Depois daquele sufoco do capítulo anterior, eu simplesmente adorei escrever os acontecimentos desse capítulo e como vocês podem ver pela quantidade de palavras, eu escrevi bastante, acho que é o maior capítulo até agora!

    O tema musical que escolhi foi a belíssima You Are My Love - Kajiura Yuki (foi tema de Tsubasa chronicle para quem não se lembra *o* linda d+, deixarei postada nas notas).

    Link: http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=RtuWVsprjw0

    Para os mais emotivos, fortes emoções estão por vir, preparem os corações!

    Aliás, como a estória está começando a tomar um rumo novo, peço que se apeguem aos detalhes para compreendê-la melhor emoticon

    Notas:

    Itadakimasu - Obrigado pela comida (antes de comer)

    Gochisousama - Obrigado pela comida (depois de comer)

    Owan - Aquelas vasilhas em que os japoneses comem arroz e etc...

    Futon - Aqueles colchões finos.

    Ienes - dinheiro japonês

    Dez mil ienes é aproximadamente R$ 225, 00

    Boa leitura para todos!

    Embora Nana não soubesse de fato o que estava sentindo naquele instante, aquele aperto no peito deixava-a angustiada de maneira que sequer cogitava dormir naquela gélida madrugada. Recordava-se de como havia conhecido sua nee-san e os momentos que partilharam desde então, como se sentisse que jamais a encontraria novamente, um mau presságio talvez.

    (...)

    A velha senhora que havia acabado de adentrar a sua tenda, um pouco incomodada com aquela situação, desistiu de dormir e deixou o seu lugar de repouso, passando a seguir na direção do lugar onde o velho descansava, ou ao menos assim ela o imaginava.

    Os pequenos flocos de neve que se desprendiam do céu escuro daquela gélida madrugada de inverno, aos poucos cobriam os cabelos brancos da mulher, aprisionados em um coque firme no alto da cabeça.

    Rapidamente ela chegou a seu destino e antes que adentrasse a barraca do homem, ela observou que o mesmo estava ainda acordado, sentado próximo a abertura da tenta, tentando acender o seu cachimbo:

    — Ora, ora quem diria Mikoto-san! Preocupada com a menina logo a essa hora da madrugada? — o homem sem sequer fitá-la, questionou com pesada ironia.

    — Não ela, mas sim o quão mal a ausência dela faria ao menino Sasuke! — ela retrucou justificativa, sentando-se sobre os joelhos, em frente ao homem. — Por que raios você não contou para ele o que realmente acontece com pessoas como ela que tentam atravessar aquela passagem? — interrogou ríspida.

    — Eu já estava esperando que você fosse vir me questionar por causa disso! — confessou apático e deixou o cachimbo de lado, colocando-o ao chão.

    — Pois bem, então me diga o motivo pelo qual não alertara o menino e o permitira levá-la consigo... — foi interrompida pelo mais velho.

    — Eu já disse antes, Mikoto-san... Deixemos nas mãos do destino, sim? — rebateu impassível. — Aliás, talvez você não saiba, ou quem sabe, você saiba e insiste em não entender, mas nem tudo na vida é o que parece ser! — ele expôs olhando nos olhos da mulher.

    — Mas... — ela foi interrompida outra vez, antes que conseguisse se manifestar.

    — A menina ainda tem uma chance... — comentou confiante. — Afinal, a força de um coração puro está além da compreensão humana, está acima da realidade, da verdade e se para ela assim o for, mesmo que pereça, seu tempo vital regredirá e seu coração voltará a pulsar com o nascer do sol! — contou ansioso. — Esperemos para saber! — anunciou seguindo para o seu futon, deitando-se sobre o mesmo.

    — Tudo bem! — ela levantou-se e indiferente passou a seguir para a sua tenda. — Velho idiota... Deixar a vida de uma pessoa à mercê da pureza de seu coração? Sinceramente, só não tenho mais pena dela, pois não lhe tenho apreço! — pensou enfadada e notou pelo caminho que a pequena menina ainda estava sentada no chão coberto de gelo. — Vá dormir criança, agora! — vociferou descarregando sua irritação na outra.

    — Sim senhora! — assustada, a menor engoliu o choro, se levantou rapidamente e correu para a sua tenda.

    Talvez, assim como o velho lhe dissera, a jovem ainda tivesse alguma chance diante daquele destino cruel que aguardava às pessoas que atravessavam aquela passagem, e isso a acalmava de certa forma, não que se importasse com a rosada, mas sim, temia a reação de seu amado Sasuke ao perdê-la.

    (...)

    Depois do choque, do choro, da inconformidade, da sensação de impotência e do desespero, o rapaz recostado a uma das inúmeras árvores coníferas daquela floresta coberta de gelo, fitava o nada, derrubando algumas lágrimas em silêncio, enquanto mantinha a jovem inerte acolhida em seus braços. Os flocos de neve já não caiam mais em terra.

    Sem interesse em absolutamente nada naquele instante, o rapaz não tinha noção das horas que transcorriam e apenas o fato do céu outrora escuro estar tomando tons mais claros, acinzentados, era o que denunciava que aquela madrugada estava chegando ao fim e que logo a aurora viria introduzir a manhã naquele lado do hemisfério.

    O cansaço de uma noite em claro, aos poucos fazia com que seus olhos se fechassem, mesmo contra a sua própria vontade, buscando assim por ao menos um momento de sono.

    Lentamente o sol começava a nascer por detrás das nuvens cinzentas e conforme ele se elevava aos céus, sua luz chegava àquela floresta por meio de algumas aberturas por entre as nuvens que se agrupavam distintas, permitindo dessa forma que o lânguido calor atingisse a face do jovem que dormia há poucos minutos, vagarosamente o despertando:

    — Hum? — ele finalmente acordou e assustou-se com o fato de ter dormido. — Droga, eu apaguei... — ele murmurou irritado e olhou para a garota inconsciente em seus braços. — Maldição... Porque eu fui trazê-la aqui? Deus... Por quê? — ele questionou a si e posteriormente a força divina, inconformado.

    Desesperançado, ele aproximou-se do rosto dela e beijou-lhe a testa o mais demorado que pôde, entretanto, assim que se apartou do ato, se espantou ao notar que a menina levara a mão aos olhos, esfregando-os e ameaçara acordar, embora houvesse permanecido a dormir:

    — S-Sakura? — ele arregalou os olhos e ergueu-a pelos braços frágeis, comprimindo os pequenos ombros, chacoalhando-a. — Hey... Acorde! — ele pediu apreensivo.

    — Hum? — a jovem franziu o cenho ainda de olhos fechados e poucos segundos depois, abriu os olhos calmamente. — Sasuke-kun? — ela olhou um pouco tonta, para o garoto estático a sua frente.

    — Graças a Deus! — ele abraçou-a repentinamente, com força. — Você está bem? — ele afastou-a dela e passou a conferir a sua integridade física. — Impossível, o coração dela não batia mais... — ele pensou assombrado.

    — Eu estou bem... — ela foi interrompida ao tentar se manifestar, pois o rapaz a deitou sobre o chão e debruçou-se sobre ela.

    — Incrível... — ele encostou a orelha no peito dela e escutou os seus batimentos cardíacos, completamente normais.

    — Garoto, o que você está fazendo? — ela indagou torcendo a cabeça para o lado, interrogativa.

    — Ah... — ele finalmente deu por si e percebeu que estava fazendo coisas constrangedoras, e que ela já começava a parecer assustada com suas atitudes. — D-Desculpa! — ele tirou as mãos de cima dela e apartou-se, chocando suas costas contra a árvore.

    — Hum... — ela sentou-se de vagar e olhou para o lugar ao seu redor. — Onde estamos? Aliás, eu não me lembro de nada depois de ter atravessado aquela passagem na gruta! — ela contou confusa.

    — Nós estamos em um lugar diferente, Sakura! Essa daqui não é a mesma floresta que estávamos naquele acampamento... — ele se pôs de pé e estendeu a mão para a menina, ajudando-a a se levantar.

    — Hum... Mas porque eu não me lembro de ter chegado aqui? — perguntou desarranjada, pondo-se de pé.

    — Você lembra que estava se queixando de sono? — questionou voltando a impor sua indiferença.

    — Sim... — ela respondeu pensativa.

    — Pois então, você acabou dormindo no meio do caminho e eu te trouxe até aqui! — ele mentiu temeroso, afinal, não havia como ele contar a verdade, dizendo que o coração dela havia parado de bater.

    — Hum... — ela olhou-o desconfiada e logo escutou um alto barulho vindo de ambos os estômagos. — Na verdade eu me lembro de ter dito que estava faminta também! — envergonhada, ela olhou para o lado, corada.

    — Sim, eu me lembro de ter dito que éramos dois! — ele comentou mantendo-se impassível, embora o seu rosto também estivesse ruborizado.

    — Sério? Não me lembro disso! — ela rebateu confusa, pois realmente o rapaz havia dito tal coisa, entretanto, havia sido um murmúrio rápido que ela sequer havia escutado.

    — Deixe pra lá! Precisamos sair dessa floresta logo e buscar por um lugar para ficarmos... Vamos! — ele informou apático.

    — Mas não vamos comer primeiro? — ela perguntou intrigada, levando a pequena mão à barriga vazia.

    — Comer? Comer o que, por exemplo? — questionou olhando-a confuso.

    — Fala sério, além de inventar que iríamos acampar só para me fazer atravessar aquela gruta... Você também se esqueceu da comida? Que gênio! — ela olhou para o lado, indignada.

    — Tsc. Eu tinha me esquecido desse detalhe! — ele confessou engolindo a seco. — Droga... Porque planos pensados com urgência são fadados a falhas? — inquiriu-se em pensamento, fulo de raiva.

    — Hum... E para onde estamos indo procurar por esse tal lugar para ficarmos? — questionou outra vez, olhando-o com uma mescla de ironia e desconfiança.

    — Porque de repente você ficou tão astuta, hein tampinha? — ele indagou provocativo, zombando do tamanho da menina cuja altura não passava do tórax dele.

    — O que? — ela olhou-o incrédula. — Eu só tenho quinze anos, seu estúpido! Eu ainda vou crescer muito mais, você ouviu? MUITO MAIS! — ela rugiu furiosa, como o rapaz nunca tinha visto antes.

    — Ah, é mesmo? Pois eu duvido que você cresça mais do que isso... — desdenhou atiçando ainda mais a raiva da menor. — Ótimo! Isso é o que eu chamo de fuga de mestre... Provoque e tire o seu adversário do sério, pois assim ele se esquecerá de seu verdadeiro objetivo! — elucidou mentalmente, esboçando um rápido sorriso. — Bom, ao menos por agora, enquanto ela está enfurecida, não irá questionar mais nada que não esteja relacionado à sua altura! Uma graça essa menina... — ele pensou com ironia abaixando-se e apanhando a mochila e a mala, ambas jogadas ao chão. Logo começou a caminhar, sendo acompanhado pela garota.

    — Você duvida é? Pois saiba que segundo os livros que eu li de... — ela começou a expor a sua tese com bases científicas desde assuntos de genética à simpatia e forças sobrenaturais e desde então se passaram quase dez minutos. — Viu só? Eu ainda tenho chance de crescer nos próximos dois anos, humpf! — bufou exasperada.

    — Nossa... Eu não conhecia esse seu lado tagarela! Mas enfim, ainda tenho certeza de que você continuará baixinha para sempre! — contestou divertindo-se com as caras e bocas que a garota enervada fazia. — Ela está estranha desde que acordou... Deve ser só impressão minha talvez!— pensou preocupado.

    — Garoto, você é tão... — ela ia retrucar, no entanto uma repentina tonteira a impediu. Sentiu a cabeça rodar e ameaçou cair ao chão.

    — Sakura, você está bem? — ele soltou a mala azul-escura que carregava ao chão e amparou a garota, prevenindo a possível queda.

    — Hum? Estou sim... Só foi uma vertigem! — ressaltou inexpressiva e libertou-se das mãos do rapaz, que a olhava apreensivo.

    — Tem certeza de que está bem? — ele insistiu naquela pergunta, aflito.

    — Estou sim... Vamos! Você disse que iríamos procurar por um lugar para ficarmos, não? Aliás, que lugar é esse? — ela retomou as indagações anteriores.

    — Raios, porque ela voltou a me questionar sobre isso? — revirou os olhos e desistente, apanhou a mala ao chão e voltou a caminhar. — Há um pequeno vilarejo não muito longe daqui, estamos no país do fogo! Satisfeita? — ele respondeu tudo de uma vez, interrogando-a posteriormente.

    — Vilarejo? País do fogo? — ela olhou-o incrédula. — Sasuke-kun, eu não sou ignorante, então não minta desse jeito para mim! — ela exigiu exasperada, pondo-se a andar ao lado dele.

    — Engraçado, ela acreditou tão facilmente nas minhas mentiras e agora, quando digo uma verdade ela acha que estou mentindo? É... Eu tinha razão desde o princípio! Ela é realmente uma garota interessante ao seu modo! — ele pensou e segurou a risada. — Bom, se você não quiser acreditar... Não acredite! — ele sugeriu com sarcasmo. — É melhor que ela não acredite mesmo, vai ser bom pra ela e pra mim! — pensou aliviado.

    — Não é questão de acreditar ou não, mas o Japão é um país insular, ou seja, a menos que tenhamos atravessado o mar, é impossível termos chegado a outro país depois de termos atravessado aquela gruta... Aliás, não existe nenhum país do fogo! — ela salientou transtornada, entretanto, suas palavras soavam calmas.

    — É... Talvez você tenha razão, mas enfim, a partir daqui mantenha-se calada! — ele pediu, observando que começavam a chegar a uma área sombria da floresta.

    — Hum... — ela calou-se e passou a olhar para frente, deixando de fitar o rapaz.

    — Ela já está mais calma e reservada... Voltou ao normal provavelmente! — cogitou mentalmente, olhando-a pelo canto dos olhos.

    Ao longo do caminho, após atravessarem boa parte da floresta coberta de neve, logo eles avançaram para aquele lado sombrio da mata, que inevitavelmente teriam de atravessar.

    O silêncio absoluto naquela altura do caminho era quebrado apenas pelo afundar dos passos dos dois jovens que por ali seguiam, sobre o gelo.

    No decorrer do tempo, aquele lugar ia se mostrando ainda mais assustador, fosse pela mata que parecia tornar-se mais fechada ou pela escuridão anormal e a névoa que acercavam aquela parte da floresta, embora nenhum desses fosse o motivo da preocupação do rapaz, que se mantinha indiferente até então:

    — Está calmo demais por aqui... — ele pensou e engoliu a seco. — Mas se há névoa eu tenho a vantagem, logo não tenho porque ficar assustado! — concluiu mentalmente, passando a caminhar mais próximo da garota que permanecia calada e apanhou a mão dela, com uma das suas livre.

    Hesitante a princípio, rapidamente a menina cedeu, permanecendo de mãos dadas com o rapaz, mesmo que sequer o olhasse. Provavelmente estava irritada com o que acontecera antes, no entanto, mantinha-se quieta diante daquela situação.

    Felizmente para o moreno, o trajeto sucedeu-se sem complicações e após quase duas horas de caminhada, ele já podia avistar ao longe, o suposto vilarejo.

    — Pronto! Agora você pode falar... — ele sugeriu para que a menina prosseguisse com o falatório de antes, pois já tinham saído da parte tensa da floresta e já estavam em um campo aberto.

    — Não tenho nada a declarar... — argumentou em uma voz estranhamente baixa e fria.

    — Hum... — ele olhou-a com um ponto de interrogação em sua mente. — Tenho medo de saber o que se passa na mente dela agora que está tão calada! Ainda bem que não sou telepata! — elucidou mentalmente, apreensivo. — Bom, estamos chegando ao vilarejo... — avisou receoso, mordendo o lábio inferior e apontou para frente.

    — Hum... — ela desdenhou, sem encará-lo.

    — Tsc... Até quando ela vai continuar com isso? — questionou-se em pensamento, revirando os olhos.

    Conforme os dois se aproximavam do vilarejo, notavam o péssimo estado no qual o mesmo se encontrava. Casas em ruínas e aparentemente abandonadas, poucas pessoas de pesados semblantes caminhavam pelas ruas e as crianças eram escassas, com certeza aquele vilarejo não iria durar por mais tempo.

    Assim que adentraram o território daquele lugar, passando a seguir pelas ruas cobertas de neve, a jovem de cabelos róseos libertou-se da mão do rapaz, ríspida, pondo-se a seguir curiosa, olhando por todos os lados daquele lugar estranho.

    Passando em frente a alguns pequenos comércios, os poucos vendedores e compradores mal se comunicavam, entreolhando-se com tanta indiferença que chegava a assustar a menina curiosa, embora ela não comentasse nada com o garoto ao seu lado.

    Poucos minutos depois, o moreno parou de caminhar e a rosada prosseguiu andando, pois não percebeu que ele tinha parado:

    — Sakura, venha! — ele a chamou e adentrou uma enorme casa rústica.

    — Hãn? — ela olhou para trás e viu apenas o vulto do rapaz, aproximando-se do lugar e adentrou-o também posteriormente.

    Tímida, ela andou sorrateiramente até o rapaz que, apoiado a um balcão do que parecia ser uma recepção, conversava com uma velha senhora que estampava a sua cara de poucos amigos.

    — O que é esse lugar? — finalmente ela voltou a questionar o jovem, que por sua vez sentiu um enorme alívio.

    — É uma pousada! Passaremos alguns dias aqui... — contou um pouco simpático.

    — Hum... — ela passou a olhar para a mulher.

    — Aqui está a sua chave! — a velha entregou o objeto na mão do rapaz.

    — Obrigado! E a dela? — ele questionou guardando a chave em um dos bolsos de seu sobretudo.

    — Dela o que? — a velha indagou exasperada.

    — A chave do quarto que ela irá ficar! — ele explicou entediado.

    — Oh, sinto muito... Só temos um quarto disponível! — ela advertiu enfadada.

    — Como assim? Você mencionou que há mais de dois anos ninguém se hospeda aqui! — ele rebateu confuso.

    — Sim, foi o que eu disse! Mas não ter ninguém hospedado aqui no momento, não significa que todos os quartos estão disponíveis! — contestou desinteressada. — Os outros quartos não estão em “condições” de serem utilizados! — ressaltou com um olhar cínico, que o rapaz compreendeu instantaneamente.

    — Oh, entendo! — comentou apreensivo e olhou para a garota. — Você quer procurar por outro lugar para ficarmos? — ele perguntou para ela e antes que a mesma respondesse, a mulher mais velha tomou a frente, se intrometendo na conversa dos dois.

    — Não há outra pousada em atividade aqui nesse fim de mundo! A minha é a única que ainda está de pé, por enquanto... — esclareceu enfadada.

    — Não tem problema! Já dividimos uma barraca antes... Não vejo muita diferença! — a garota argumentou entediada. — Eu estou com fome! — lembrou inquieta, passando a observar alguns quadros pendurados na parede.

    — Hum... — o rapaz voltou-se para a mulher detrás do balcão. — Você sabe de algum lugar onde possamos... — ele foi interrompido.

    — Não há um lugar assim aqui... Se vocês estão com fome, busquem algo em algum mercado pela vila e preparem vocês mesmos! Podem utilizar a cozinha... — ela respondeu prontamente, dando as costas para o mais novo e passou a seguir pelo corredor, sumindo pelos cômodos adentro em seguida.

    — Que estranho... Esse lugar mudou muito em tão pouco tempo! No entanto, essa velha continua chata do mesmo jeito... — pensou apático e voltou-se para a menina. — Sakura... Talvez ela esteja equivocada, vamos procurar por algum lugar para comermos! — ele anunciou, deixando a mala e a mochila encostadas ao balcão, tomando o rumo da porta e saiu da pousada.

    — Tudo bem... — ela deixou o local e passou a acompanhá-lo.

    Mesmo que o rapaz estivesse otimista em relação ao equívoco da velha senhora, assim que buscaram por praticamente todo o vilarejo, ele finalmente constatou que a mulher não mentira e que realmente, fossem bares, restaurantes e qualquer lugar onde se achasse algo pronto para comer, simplesmente não existiam mais e os seus antigos prédios encontravam-se quase todos em deterioração.

    — Bom... Pelo visto aquela mulher tinha razão! — o garoto admitiu, indignado com aquela situação.

    — Hum... Então, assim como ela sugeriu, deveríamos ir comprar algo em algum mercado, não? — questionou entediada.

    — Bem, como eu posso dizer... Eu nunca fiz isso antes, ao menos desde que perdi a memória! — confessou envergonhado.

    — O que? Você não sabe ir ao mercado? — ela indagou incrédula com aquilo.

    — Ora, ir é o de menos... O problema é que não faço ideia do que fazer depois de chegar lá! — ressaltou levemente corado.

    — Trágico... — ela proferiu olhando-o pasma.

    — Não me olhe assim... — olhou para o lado, incomodado. — Então você sabe? — interrogou irritado.

    — Também não! — admitiu enfadada.

    — Se você também não sabe, porque então fez aquela cara quando eu disse que não sabia! — perguntou lutando contra a raiva para manter-se frio.

    — Ué, eu passei a maior parte da minha vida reclusa do mundo, na casa da minha finada avó em meio àquela floresta... O que você esperava de mim? — inquiriu justificativa. — Já você, como parece que conhece esse lugar... Achei estranho que não soubesse fazer algo tão crucial na vida! — explicou com sarcasmo, olhando-o fixamente.

    — B-Bem, eu... Eu sempre comi em restaurantes e afins! O que você esperava de mim? — rebateu com sua justificativa e uma pergunta semelhante à dela.

    — Nunca esperei nada de você e olhe só o fim do mundo ao qual você me trouxe, que, aliás, consegue ser ainda mais fim de mundo do que o lugar onde eu morava com a minha avó! Impressionante... Imagine só se eu esperasse algo de você, só Deus sabe onde estaríamos agora! — ela zombou com um olhar cínico e esboçou um sorriso ainda mais irônico.

    — Aquela foi uma pergunta retórica... — ele contradisse encabulado. — Vish, se ela acha que isso daqui é o fim do mundo, não quero nem pensar em como ela irá reagir quando eu realmente levá-la até o fim do mundo! — pensou espantado e sim, dessa vez era notável a sua cara de choque após ter ouvido as palavras da menina.

    — Nossa... Que cara é essa? Está me assustando! — ela deu alguns passos para trás, afastando-se dele.

    — D-Desculpe-me, eu... O que você sugere que façamos, então? — indagou entregando aquela situação nas mãos da garota.

    — Ora, vamos ao mercado e ponto, garoto! — ela tomou a frente do rapaz e passou a caminhar. — Provavelmente encontraremos algumas besteiras enlatadas ou embaladas! — sugeriu tranquilamente.

    — Hum, se você diz! — passou a segui-la, um pouco aliviado.

    Logo a rosada chegou ao pequeno mercado cujo eles haviam passado em frente há alguns minutos atrás e adentrou o mesmo, analisando tudo o que os seus olhos podiam avistar sobre as prateleiras visíveis próximas ao caixa:

    — Ohayou! — ela saudou docemente o homem que passou a olhá-la com uma expressão assustadora. — Ah... Sasuke-kun! — ela olhou para o rapaz que vinha logo atrás. — Espere-me aqui, já volto! — ela pegou uma das pequenas cestas de metal empilhadas ao lado do balcão e adentrou os fundos do estabelecimento.

    — Hum... — o jovem cruzou os braços em frente ao caixa, aguardando por ela.

    Quase dez minutos se passaram e a garota retornou ao balcão, com a cesta vazia:

    — Bom, eu procurei e procurei, mas... Não achei nada pronto para o consumo, sério mesmo, nenhum biscoito sequer! — contou ora olhando para o homem, outrora fitando o garoto.

    — Aconteceram muitas coisas ultimamente e não só aqui, mas em todos os mercados que ainda estão de pé nesse vilarejo, atualmente só conseguimos vender alimentos de cultivo regional, portanto, como não há indústrias por aqui, só temos isso: vegetais, ovos, leite e alguns temperos! — esclareceu impassível, mostrando-se notavelmente incomodado com a presença dos dois.

    — Hum... Entendo! — o rapaz de cabelos negros suspirou enfadado.

    — Traduzindo... Ele só quer que a gente compre algo para cozinhar logo e se mande daqui! — a rosada sussurrou para o moreno, com ironia. — Já volto! — tomou o rumo dos fundos do estabelecimento outra vez.

    — Não demora! — ele pediu, deixando escapar outro suspiro entediado e passou a fitar a rua de frente ao mercado.

    Dessa vez ela demorara quase trinta minutos e assim que retornou ao caixa, o garoto que batia um dos pés ao chão, impaciente, finalmente desfranziu o cenho e mostrou-se aliviado.

    — Até que enfim! — comentou indiferente.

    — Foi a minha primeira vez, estava meio perdida... — justificou colocando a pequena cesta de metal sobre o balcão e logo o homem começou a calcular a soma dos valores.

    — São dez mil ienes! — ele informou a quantia em dinheiro, começando a guardar os alimentos em sacos de papel.

    — Hum... — o garoto enfiou a mão em um dos bolsos de seu sobretudo e apanhou a carteira, retirando o dinheiro posteriormente e entregou o valor exato para o homem.

    — Aqui está! — o mais velho entregou a nota e empurrou os sacos para o lado dos dois, provavelmente com pressa de que os dois fossem embora dali.

    — Agora ele está literalmente nos expulsando daqui! — o moreno sussurrou para a rosada, com ironia. — Vamos! — ele começou a pegar as coisas, pretendia carregar tudo sozinho.

    — Deixe-me ajudar! — a menina se ofereceu, conseguindo pegar o último saco restante, antes do rapaz.

    — Não é necessário, dê-me aqui! Eu carrego... — ele levou a mão na direção da jovem, mas foi interrompido por ela que se apartou dele e o olhou com fúria, e embora ela não tivesse proferido nada, aquela expressão com certeza valia mais que mil palavras. — T-Tudo bem, você pode carregar isso aí... — ele sugeriu apreensivo e passou a caminhar na direção da porta.

    — Humpf! — ela bufou e tomou a frente dele, deixando de vez o estabelecimento daquele homem assustador.

    Durante o caminho de volta à pousada, os dois permaneceram em silêncio. A menina de cabelos róseos caminhava a alguns passos a frente do garoto de cabelos negros que por sua vez, seguia atento, analisando as mudanças visíveis que aquele pequeno vilarejo sofrera em tão pouco tempo.

    Assim que os dois chegaram ao lugar destinado, quando adentraram a recepção, não avistaram a velha senhora detrás do balcão, portanto, eles iriam ter de descobrir sozinhos, o caminho até a cozinha em meio a todos aqueles corredores escuros:

    — Onde será que fica a cozinha? — a rosada indagou curiosa, caminhando até o balcão para apoiar o saco de papel que carregava.

    — Hum... — o garoto pôs-se pensativo. — Os outros quartos não estão em “condições” de serem utilizados! — ele pensou no que a mulher dissera antes e engoliu a seco. — Deixe que eu procure a cozinha! — ele advertiu colocando os sacos que carregava todos sobre o balcão.

    — Tudo bem... — ela concordou entediada.

    — Já volto! — ele avisou pondo-se a caminhar corredores adentro e logo a garota o perdeu de vista, vendo-o desaparecer em meio à escuridão.

    Apreensivo, ele caminhava sorrateiramente rumo ao fim de um dos corredores de pouca iluminação, pois acreditava que por ali estaria o cômodo que procurava, no entanto, antes que ele chegasse ao lugar destinado pôde observar alguns ramos de eucalipto recostados a várias portas, espalhadas pelo local, que provavelmente seriam os quartos:

    — Porque tantas destas folhas cheirosas? — questionou-se intrigado e levou a mão à maçaneta de uma daquelas portas, abrindo-a vagarosamente. — Céus... — ele espiou pela fresta que abrira e logo fechou, espantado. — Ainda bem que não a trouxe aqui... — murmurou pensando na menina de cabelos róseos e afastou-se da porta, olhando novamente para as folhas de eucalipto. — Então eles usam isso para disfarçar o fedor! — um pouco enojado, balançou negativamente a cabeça e voltou a caminhar pelo corredor e assim como imaginara, achou a cozinha ao fim daquele lugar escuro.

    Logo ele voltou para a recepção e aproximou-se do balcão, apanhando novamente os sacos de papel que continham os alimentos que haviam comprado no mercado:

    — Vamos! Achei a cozinha... — ele avisou dando de costas para a garota e pondo-se a caminhar outra vez na direção dos corredores.

    — Sim... — ela desapoiou-se do balcão e passou a seguir o maior.

    No decorrer do trajeto, a jovem sentiu o forte cheiro e notou as plantas em frente às portas:

    — Nossa... Pra que tantas? — indagou em voz baixa, admirada.

    — A velha deve gostar de plantas! — o moreno sugeriu acelerando os passos.

    — Hey... — a garota também aumentou o ritmo, para conseguir acompanhá-lo.

    Assim que chegaram ao cômodo destinado, o rapaz acendeu as luzes e seguiu até a mesa, deixando todas as coisas sobre a mesma posteriormente, passando a analisá-las:

    — Sakura, você só comprou coisas que requerem preparo... — ele comentou apático. — Ao menos a cozinha está limpa... — pensou enfadado.

    — O que eu posso fazer? Era só o que tinha lá! — ela rebateu inexpressiva.

    — Eu não sei cozinhar! — ele contou acanhado e mordeu o lábio inferior, olhando para o lado.

    — E daí? — questionou áspera, começando a retirar os alimentos dos sacos de papel, organizando-os sobre a mesa.

    — Como faremos? Comeremos cru? — ele perguntou confuso e sentou-se em uma das cadeiras.

    — Garoto... Olhe ao seu redor! Isso é uma cozinha, logo posso preparar algo para comermos! — advertiu olhando-o incrédula.

    — Você sabe cozinhar? — questionou curioso e desconfiado.

    — Lógico! Desde que os meus pais morreram, quando eu tinha quase sete anos, passei a viver com minha avó e tive de aprender a cuidar do lar muito cedo, pois ela já estava de idade e eu precisava cuidar dela, principalmente quando adoeceu... — comentou com pesado semblante, recordando-se de sua finada avó.

    — Hum... — ele deixou de fitar a garota, pondo-se de pé novamente. — Não sei o que fazer, mas posso ajudá-la a cozinhar? — indagou apreensivo.

    — Não precisa, é coisa simples e eu estou com muita fome para perder tempo te ensinando! — respondeu direta.

    — É... Também estou com fome demais para conseguir aprender a cozinhar! — murmurou concordante com a jovem. — O que você fará então? — questionou ansioso, sentando-se outra vez.

    — Arroz e caldo de legumes! — informou começando a mexer nos armários da cozinha e logo que achou uma pequena tábua de cortar, colocou-a sobre a mesa e começou a fatiar algumas cenouras.

    — Ela tem bastante habilidade com a faca, será que daria uma boa espadachim? — pensou interrogativo, observando atentamente a menina que com delicadeza e grande destreza, executava aquela tarefa que o moreno julgava tão difícil.

    Quase vinte minutos se passaram e a jovem já havia acabado o preparo da refeição e começava a colocar à mesa:

    — Nossa... Que horas são? — ela questionou lembrando-se de que ainda não sabia das horas que transcorriam.

    — Bom... — ele se levantou da cadeira e aproximou-se da pequena janela da cozinha que estava fechada, abrindo-a e olhou para fora. — De acordo com a posição do sol, já passou da hora do almoço faz tempo! — contou e logo escutou o seu estômago trovejar. — Escutou? O meu estômago também concorda que já passou da hora do almoço! — argumentou envergonhado e logo se sentou à mesa mais uma vez.

    — Hum... Você sabe ver o horário solar! Deve ser muito bom... — comentou esboçando um leve sorriso e logo terminou de colocar à mesa, sentando-se também em uma das cadeiras.

    — Sim! É muito útil, assim como usar as estrelas como bússola durante a noite, afinal, nem sempre se tem um relógio ou bússola à disposição no horário em que se precisa! — expôs explicativo.

    — É... — a jovem inclinou-se para frente e colocou duas owan na frente do rapaz, uma cheia de arroz e a outra com bastante caldo de legumes. — Aqui está, coma! — ela afastou-se e pegou duas owan para si que continham imensamente menos comida que as do garoto.

    — Itadakimasu! — ele agradeceu, destacou os hashi e passou a comer. — Hum... Está muito bom! — elogiou comendo com gosto.

    — É... — ela começou a comer e logo terminou, antes do rapaz, afinal, comera bem pouco. — Gochisousama! — ela agradeceu e empurrou a owan para frente.

    — Sério mesmo que você estava com toda aquela fome que dizia estar? — ele perguntou perplexo, pois a jovem comera absurdamente menos do que ele. — Agora eu tenho certeza, você não vai crescer mais do que isso, tampinha! — ele ironizou, esboçando um leve sorriso descontraído.

    — Garoto, coma antes que esfrie! — ela franziu o cenho e se levantou da mesa, aborrecida, e estendeu a mão para o rapaz. — Dê-me a chave! — pediu olhando-o nos olhos.

    — Aonde você vai? Não vai discutir comigo de novo? — ele inquiriu um pouco curioso.

    — Ora, aonde vou... Vou pegar a minha mala e ir para o quarto! — informou entediada. — Estou cansada demais para discutir, quero dormir! — advertiu abatida.

    — Hum... Você está bem? — indagou preocupado, notando que a expressão dela não era das melhores.

    — Sim... Só estou cansada... — justificou levando a mão à boca, bocejando.

    — Eu já estou quase acabando! Sente-se aí que vou com você... — pediu autoritário e continuou comendo.

    — Tudo bem... — ela sentou-se novamente na cadeira e esperou que o rapaz terminasse a refeição e logo ele o fez.

    — Gochisousama! — agradeceu pela comida e empurrou sua owan, pondo-se de pé posteriormente e tomou o rumo da porta. — Vamos! — chamou a garota, seguindo para o corredor.

    — Sim... — ela passou a segui-lo.

    Passando pela recepção o moreno apanhou a mochila e a mala encostadas ao balcão, para levá-las ao quarto que havia alugado para se hospedarem e assim que chegou ao lugar destinado, a rosada que vinha logo atrás passou por ele e foi até a cama de solteiro, jogando-se sobre a mesma, dormindo quase que instantaneamente:

    — Hum... — o garoto deixou as bagagens ao chão, fechou a porta cuidadosamente e pegou a carteira dentro de um dos bolsos de seu sobretudo, calculando a quantia de dinheiro que remanescia. — Bom, acho que dará para aguentar as pontas até chegarmos a Konoha! — pensou aliviado e caminhou até a jovem que já dormia profundamente. — Nossa, ela desmaiou literalmente... — concluiu tocando nas mãos da menina que parecia nem sentir e sentou-se à beirada da cama, mexendo em seus longos fios de cabelos róseos.

    Desde o momento em que decidira partir com a menina, o rapaz sabia que estava sujeitando-a a uma vida perigosa e que seria sua obrigação protegê-la, mesmo que isso o obrigasse a mentir e irritá-la, incitando sua antipatia. No entanto, após o susto de tê-la perdido pela noite e o alívio de tê-la recuperado com o nascer do sol daquele frio dia de inverno, embora ela estivesse mais irritante do que nunca, ele estava grato aos céus e até feliz, por ela estar viva.


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