Hocus Pocus To Me.

Tempo estimado de leitura: 4 horas

    16
    Capítulos:

    Capítulo 14

    O que as águas escondem.

    Álcool, Adultério, Heterossexualidade, Homossexualidade, Linguagem Imprópria, Nudez, Suicídio, Violência

    Olá pessoal :3

    Temos aí um capítulo revelador (ou não para alguns @_@)

    Bom, como o nome do capítulo denuncia, SIM, esse é um capítulo tenso e intenso, peço até mesmo que vocês aguentem ler até o final antes de tirarem suas conclusões sobre a estória ou surtarem...

    Lembrando que, ainda não chegamos nem na metade da estória e ainda tem bastante água para correr, portanto, apeguem-se aos detalhes e fiquem calmos com o rumo chocante desse capítulo T-T

    O tema musical do capítulo é Take It All Away - RED (deixarei postada nas notas como sempre).

    Link: http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=iAHCsyOb3Rc

    Bom, deixa eu parar de enrolara aqui nas notas...

    Boa leitura a todos!

    Embora ele nada soubesse sobre si mesmo e estivesse arrastando Sakura consigo para uma vida perigosa, em busca de suas respostas, ainda assim ele não poderia voltar atrás em sua decisão, uma vez que deixá-la para trás não o faria e tampouco cogitaria desistir de encontrar a verdade sobre si mesmo, o seu passado.

    (...)

    O jovem rapaz com uma mochila nas costas, que carregava uma grande mala azul-escura com uma das mãos, caminhava a passos sorrateiros, puxando a menina de cabelos róseos pela mão, com a sua livre.

    Conforme ambos seguiam em frente, o silêncio rigoroso imperava em meio à escuridão cada vez mais presente dentro daquela gruta úmida, de forma que, minutos ou horas, os dois não sabiam do tempo que se passava:

    — Sasuke-kun? — a garota indagou receosa, quebrando por fim a quietude.

    — Hum? — ele inquiriu desinteressado.

    — Está ficando cada vez mais escuro e frio aqui... — comentou apreensiva.

    — É impressão sua... — ele mentiu, afinal, ele sabia que de fato, estava realmente ficando mais escuro e frio dentro daquela espécie de caverna.

    — Eu não sei que horas são, mas acho que já faz muito tempo que estamos caminhando por aqui... Quando iremos chegar ao lugar que iremos acampar? — ela questionou confusa e desconfiada.

    — Já estamos chegando, acalme-se! — ele pediu diminuindo a velocidade de seus passos.

    — Hum... — ela calou-se conformada com tal resposta.

    — Tsc. Essa escuridão só atrapalha, é uma pena eu não poder usar nenhum tipo de iluminação aqui!— resmungou em pensamento.

    No decorrer do trajeto, o silêncio que havia se estabelecido novamente entre os dois, aos poucos era quebrado por ruídos dentro daquela imensa gruta.

    No começo, ora o barulho vinha das águas que escorriam pelos regos entre as rochas, batendo sutilmente nas pedras, outrora eram pingos d’água que caíam sobre as poças espalhadas ao chão.

    Entretanto, após uma pequena passagem de tempo, os dois alcançaram uma parte da caverna em que era possível ouvir os ecos de passos que pareciam caminhar sobre as rochas e águas, na mesma direção em que eles trilhavam, embora devido à escuridão ambos nada pudessem avistar:

    — S-Sasuke-kun? — a jovem assustada indagou em um sussurro. — Nós não estamos sozinhos aqui? — perguntou angustiada, apertando a mão do rapaz.

    — Shhh... Calada! — ele exigiu indiferente. — Maldição... Tomara que ela não faça um escândalo nessa altura do caminho, senão... — pensou e suspirou pesadamente.

    Entretanto, a garota ao invés de levar aquele assunto adiante, calou-se outra vez, ainda que estivesse de certa forma temerosa em relação a aquela situação e que isso fosse revelado ao jovem através de sua mão trêmula.

    (...)

    A escuridão daquela noite de inverno era parcialmente dissipada pela fraca luz amarelada que iluminava a escrivaninha do homem confinado em seu quarto há algumas horas.

    Os cabelos vermelhos caídos sobre a testa alva. Os olhos fixados em algumas folhas de papel — entre goles de café expresso —, ele lia incansavelmente aqueles longos textos que eram constituídos de arquivos, documentos e até mesmo relatos verídicos de algumas pessoas, como assim apresentavam alguns livros da antiga biblioteca da cidade, à cerca de algumas “lendas” que percorriam discretamente aquela região do Japão desde tempos remotos:

    — Hum... Vejamos! — ele deixou de lado um texto que lia e apanhou um velho livro cor de chumbo, que lhe chamou a atenção em meio aos outros pelo estado deplorável em que se encontrava. — O que as águas escondem? — ele leu em voz alta o título do livro e bateu sobre a sua capa para tirar um pouco da poeira que o cobria. — Interessante, deixe-me ver... — ele abriu e folheou algumas páginas. — Um livro de poesias? Estranho... — ele buscou por todo o livro.

    Não havia o nome de uma editora que supostamente o teria publicado e nem mencionava o nome do autor. Pensativo, o homem cogitou que pudesse ser uma obra local independente, ou quem sabe até mesmo, por apresentar-se manuscrito, fosse um rascunho nunca publicado.

    Embora ele estivesse determinado em descobrir algo a mais sobre algumas lendas da cidade, a curiosidade em ler poesias de um livro exclusivo e tão antigo, o fizeram abandonar as pesquisas e passar a ler desde o princípio aquele caderno de poesias intitulado: “O que as águas escondem”, afinal, no mínimo, o nome era interessante:

    Corpo e alma.

    Não olhem, não ouçam e não compreendam,

    Atravessem o leito, ao lado dos seus que ostentam;

    Pedras pelo caminho, cuidado para não tropeçar;

    Sina, destino, todos tem de se conformar.

    Desprende-se em água, a cortina que vos aguarda,

    Límpida, espalha-se sobre o chão cinzento de rochas;

    Azul, corre resplandecente em seu limite, espelhando-se às águas;

    Enquanto, revela aos seus, os outros de outrora.

    Caminham os corpos, junto das almas,

    Caminham os corpos, ao lado das almas;

    Corpos e almas, caminhando juntos estão;

    Corpos e almas, quentes e gelados como são.

    Absorvido pela leitura intrigante do primeiro poema, o homem de cabelos vermelhos como sangue, despertou daquele momento de hipnose causado pela ambiguidade daquilo que lia.

    Embora a ortografia daquele que havia escrito o livro fosse decente, ao analisar melhor a estética visual, a caligrafia trêmula deixava a desejar e era mais nítido em algumas palavras espalhadas pelas poesias que pareciam corridas para a direita, itálicas, de forma que as destacavam de todas as outras:

    — Interessante... Pelo que pude observar o autor não destacou as palavras de forma que lhes dessem ênfase, como eu havia pensado a princípio, pois na última estrofe as palavras destacadas como “quentes”, por exemplo, sendo ela antônimo de “gelados”, se fosse para destacar, as duas deveriam ter recebido destaque, afinal, ambas são temperaturas, não demonstrando assim coerência em ressaltar apenas uma delas! — ele elucidou sua teoria.

    Curioso, ele apanhou uma pequena folha de papel em branco de um dos seus vários blocos de notas espalhados sobre a escrivaninha e começou a anotar todas as palavras destacadas em sequência, e quando escreveu por fim a última palavra, os seus olhos arregalaram-se:

    — Esse livro é fascinante... — seus olhos marejaram de uma forma arrepiante, como se diante de si, aquele velho livro de poesias cor de chumbo fosse o tesouro mais precioso que encontrara na vida. — Eu só li apenas o primeiro poema, não vejo a hora de ler todos os outros! — sorriu com um misto de felicidade, euforia e insanidade.

    Pôs-se a devorar cuidadosamente cada página daquele livro manuscrito, sem autor nem editora que, sabe-se lá quem havia levado-o para a antiga biblioteca daquela pequena cidade de Hokkaido. Afinal, não era todo dia que ele podia encontrar em livros antigos de péssima estética como aquele, significados tão profundos de palavras engolidas por frases tão ambíguas, pois, mais do que coincidência, aquelas palavras destacadas, os fatos escondiam dos céticos e revelavam a aqueles como Nagato, que acreditava em coisas surreais.

    (...)

    Cada vez mais passos podiam ser ouvidos em meio à escuridão daquela gruta que aos olhos verdes da menina que nada conseguia enxergar, parecia infindável.

    Conforme eles foram avançando na mesma direção, os dois passaram a ouvir sussurros aleatórios, que ecoavam tão rápidos quanto extinguiam.

    — O que são essas vozes, Sasuke-kun? Quem são essas pessoas? — a rosada assombrada aproximou-se mais do rapaz, apertando ainda mais a sua mão.

    — Apenas ignore... — ele sugeriu impassível. — Aliás, assim que chegarmos do outro lado, não importa o que aconteça... Não olhe, não ouça e não compreenda! — ele exigiu dessa vez acelerando os passos.

    — Porque você está fazendo isso comigo, Sasuke? — ela inquiriu inexpressiva. — Não viemos aqui acampar, né? — ela questionou apática.

    — Talvez! — ele respondeu enfadado.

    — Hum... — finalmente ela entendeu que aquele havia sido apenas um pretexto que ele usara para trazê-la àquela gruta. — Como sou patética... — ela pensou magoada com sua própria ignorância.

    No entanto, naquela altura do caminho, já não dava mais para ela voltar atrás, uma vez que sequer sabia em qual direção trilhava ao lado do moreno, que por sua vez, embora também não enxergasse muito bem, parecia saber exatamente o caminho em que seguia.

    Interminável, o tempo parecia transcorrer impetuoso, no entanto o progresso em chegar ao fim daquele lugar não se mostrava imponente.

    A menina de cabelos róseos já começava a sentir o peso do sono, fazendo com que as pálpebras começassem a pesar sobre os olhos, se bem que em contrapartida, a dor da fome mantinha-a acordada:

    — Estou cansada, com frio, com sono e faminta! — ela sussurrou expondo sua derrota.

    — Somos dois então! — ele confessou em um murmúrio veloz, de forma que a jovem nem escutou. — Estamos chegando... — ele ressaltou um pouco mais simpático.

    — Garoto, você disse isso antes... Já faz horas que estamos chegando e não chegamos a lugar algum ainda! — ela retrucou irritada.

    — Olhe para frente, lá longe... Você consegue enxergar? — ele perguntou tranquilamente.

    — Hãn? — ela forçou a vista à diante e enxergou um pequeno clarão azul, que conforme eles se aproximavam, clareava ainda mais o ambiente. — Até que enfim, a saída Sasuke-kun... — eufórica, ela calou-se instantaneamente quando os seus olhos percorreram ao seu redor. — Céus... — pasma, a menina engoliu a seco.

    As águas que minavam por entre as rochas, aos poucos, devido à claridade, mostravam a sua verdadeira cor. Sobre as pedras corriam cinzentas, em algumas áreas empoçadas eram vermelhas decorrente do sangue que escorria das pessoas que por ali vagavam e que aos poucos se revelavam homens, mulheres e crianças que extremamente feridos, caminhavam por entre pilhas de ossos humanos e corpos em putrefação.

    — Ajude-me! — uma mulher ferida e vestida a farrapos, carregando em seus braços uma criança mutilada em várias partes do corpo, implorou.

    — M-Meu Deus, o que é... — a garota aterrorizada foi interrompida pela mão do moreno que lhe tapou a boca.

    — Os ignore... — o rapaz tornou a exigir.

    — Como posso ignorar pessoas nessas condições, seu estúpido! — ela ralhou furiosa ao libertar-se da mão do outro.

    — Eles não são reais, Sakura... Isso é decorrente de um gás alucinógeno que é liberado de algumas aberturas do subsolo dessa gruta! — ele contou calmamente, apanhando a mão da jovem outra vez.

    — Impossível, eu estou ciente de mim mesma! Eu estou vendo tudo isso... — ela questionou incrédula com aquela afirmação vinda do moreno.

    — Pois então... Observe! São corpos em decomposição e pessoas feridas, mas você está sentindo algum odor exceto o de pedra molhada? — ele indagou entediado.

    — N-Não, mas mesmo que eu não sinta o cheiro... Eu juro que eu estou vendo! — ela contou perturbada.

    — Acalme-se e confie em mim! — ele sugeriu agindo como se nada estivesse acontecendo.

    — Hum... — ela hesitou por um momento, mas logo cedeu notando a tranquilidade dele. — Tudo bem, eles realmente não existem, certo? — ela perguntou quase convencida daquilo.

    — Exatamente... — ele confirmou claramente.

    — Certo... Irei ignorar tudo isso! — anunciou um pouco mais tranquila.

    — Talvez eu me sinta mal mais tarde, por ter mentido mais uma vez para ela... Por outro lado, é bom que ela acredite de maneira tão cega em mim! — pensou apreensivo.

    Conforme se aproximavam do clarão azul, as águas que corriam cinzentas sobre as rochas, resplandeciam a cor azul da luz que refletia como em espelho pela caverna.

    Os sussurros das pessoas que vagavam eram cada vez mais presentes:

    “Não me deixe aqui, salve-me!”

    “Devolvam a alma do meu filho!”

    “Ajude-me, por favor!”

    Embora sentisse um forte aperto no coração, a jovem de cabelos róseos, convencida de que tudo não passava de ilusão, mantinha-se olhando apenas para frente e ignorando com todas as suas forças aquela situação.

    Assim que adentraram de vez aquela área da gruta de onde vinha aquele clarão, os dois se depararam com uma cortina d’água de coloração azul devido ao reflexo da luz naquelas águas cristalinas.

    Sufocante, no instante em que deu um passo adiante, a menina sentiu o oxigênio lhe abandonar e aos poucos foi perdendo o ar que ainda possuía aprisionado em seus pulmões, fazendo com que ela caísse de joelhos ao chão, levando as mãos à garganta, buscando desesperadamente por ar.

    — Sakura! — o rapaz soltou a mala azul-escura que carregava em uma das mãos e agachou-se diante da garota, para lhe ajudar.

    — Estava tão frio, mas agora está tão quente que eu poderia derreter... Sinto que já posso morrer!— ela pensou desfalecendo aos poucos, nos braços do garoto.

    — Tsc... Sakura, não feche os olhos agora, por favor! — ele começou a se desesperar, pôs-se de pé rapidamente, apanhou a mala outra vez e com o outro braço livre, enlaçou-o por detrás das costas da garota, jogando-a por cima de seu ombro esquerdo. — Agora que saímos daquela área de risco da gruta, finalmente posso seguir mais rápido, ao menos por algum tempo... — ele murmurou pondo-se a correr em uma velocidade espantosa.

    Após a cortina d’água que caia de enormes rochas no interior daquela espécie de caverna, o caminho tornava-se mais descomplicado e claro, revelando que aos poucos, o rapaz que corria em meio às águas geladas que escorriam em pequenos regos entre as rochas do chão, chegava à saída daquele lugar.

    Quase vinte minutos se passaram e o jovem finalmente deixou de vez a caverna. Ágil, ele caminhou por cima das pedras que formavam uma passarela livre de gelo sobre as águas da cascata e logo que tocou os seus pés em chão firme, deitou cuidadosamente a garota sobre o gelo que cobria o chão, pondo-se ao seu lado:

    — Sakura... — ele deu duas leves bofetadas com as pontas dos dedos no rosto dela, mas ela não acordou. — Droga... — ele debruçou-se sobre ela e encostou a orelha em seu peito, para ouvir o seu coração. — Não pode ser... Sakura, você...

    Estático, pela primeira vez, desde o dia em que despertara amnésico, perdido à beira da nascente daquela cascata e sofrera vagando pela floresta a ponto de almejar a própria morte, o rapaz chocado, derrubou lágrimas:

    — SAKURA! — ele gritou com toda a potência vocal que o ar comprimido em seus pulmões pôde liberar, de forma que ecoou pela imensidão daquela floresta coberta de neve.

    Naquele momento, do outro lado da gruta, no acampamento em meio à floresta, a pequena menina descabelada, acordada em plena madrugada, sentada sobre o gelo — abraçada às pernas —, observava os pequenos flocos de neve que começavam outra vez a cair do céu escuro.

    A velha senhora que por ali caminhava cautelosamente, notou-a estampando o seu triste semblante e seguiu até a ela:

    — O que está acontecendo Nana? — inquiriu com a voz áspera, sentando-se ao lado da pequena.

    — Mikoto-sama... A nee-san não irá voltar, né? — indagou deixando cair uma lágrima solitária de um dos olhos.

    — Bem provável que não! — a mais velha confirmou friamente e passou a observar a neve que caía do céu também. — Aquele velho... Estúpido da parte dele não revelar ao menino Sasuke o que realmente acontece com pessoas como ela, quando atravessam àquela cortina d’água azul! Pobrezinha, meio que sinto pena dela, pois, se afortunada não é, a esta altura já deve estar morta, vagando com todos aqueles outros azarados, naquela gruta... — pensou enfadada e ríspida, pôs-se de pé. — Vá dormir, Nana! Amanhã o dia começa cedo e você tem que trabalhar! — insensível, a velha ordenou logo dando as costas à garotinha e voltando para a sua tenda.

    — Nee-san... — inexpressiva, a pequena enxugou a única lágrima que percorrera o rosto, antes que a mesma congelasse e suspirou pesadamente.

    Embora Nana não soubesse de fato o que estava sentindo naquele instante, aquele aperto no peito deixava-a angustiada de maneira que sequer cogitava dormir naquela gélida madrugada. Recordava-se de como havia conhecido sua nee-san e os momentos que partilharam desde então, como se sentisse que jamais a encontraria novamente, um mau presságio talvez.


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