Heróis também podem sangrar.

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    16
    Capítulos:

    Capítulo 25

    Noite escarlate.

    Álcool, Linguagem Imprópria, Nudez, Sexo, Spoiler, Violência

    Mais um capítulo (tenso)

    Boa leitura!!!

    No mundo havia espaço apenas para um dos dois, sendo assim, o mais fraco dentre eles, naquela luta, pereceria.

    (...)

    As horas daquela madrugada demoravam passar, talvez fosse o calor que o deixava inquieto, tendo aquela impressão. Deitado sobre a cama, o ventilador estava ligado, as janelas abertas e mesmo assim o loiro virava-se de um lado para o outro. Já havia levantado inúmeras vezes para tomar água e ir ao banheiro.

    Realmente estava difícil para dormir, no entanto, talvez não fosse apenas o clima que o estivesse atrapalhando. Sim, ele sabia que era mais do que aquilo. No fundo ele estava ciente de que aquela angústia que vinha sentindo há alguns dias não era apenas besteira, mas sim um mau presságio. E esse mau presságio lembrava-lhe alguém, um velho alguém por quem havia tido um forte laço no passado. Hora ou outra o rapaz fitava o teto pensativo. Em sua mente, todo momento vinha-lhe as lembranças de outrora.

    Algum tempo se passou e antes que o sol nascesse uma brisa estranha adentrou o quarto do jovem, dando-lhe uma sensação de que algo se aproximava. O loiro então se pôs de pé e seguiu até a janela de seu quarto, parando em frente à mesma. Ficou por um bom tempo ali observando o horizonte, quando, ao virar-se de costas, antes mesmo que deixasse de olhar pela janela, algo lhe chamou a atenção e imediatamente o garoto voltou-se novamente com o olhar fixo naquilo que se aproximava, voando pelo céu.

    Um falcão? Sim, reconheceria aquela espécie em qualquer lugar. A ave, silenciosa, ao chegar perto do rapaz, sem alarde, pousou sobre o parapeito da janela. Ele admirou por alguns segundos aquele belo animal, logo notando o pequeno bilhete amarrado à pata do mesmo. O jovem então desenrolou o papel e leu o seu conteúdo:

    — Entendo... — ele disse em pensamento após refletir sobre a mensagem. — Teme... Seu grande idiota! — exclamou irritado, fitando o nada.

    O rapaz então vestiu sua roupa típica e amarrou a “bandana” na cabeça como de costume, apanhou sua bolsa ninja e antes mesmo que o sol pudesse testemunhar suas ações, o jovem saiu de seu quarto, esquecendo apenas aquele bilhete sobre a mesa. Sorrateiramente tomou o rumo da mata, deixando a vila que ainda dormia, para trás.

    Iria encontrar aquela pessoa novamente, pois, precisava por um ponto final naquela história. E sim, sabia que estava sendo muito otimista com aquele sonho de que converteria o velho amigo para o lado do amor outra vez, e no fundo estava ciente de que, mesmo que fosse uma possibilidade tão diminuta, ainda assim tentaria com todas as forças até o fim. Mesmo que arrebentasse-lhe por inteiro.

    Por fim, se com todo o seu esforço, ainda assim o outro resistisse, o loiro havia chegado a cogitar desistir da própria vida. Tinha em mente que talvez isso não fosse o certo, entretanto, tinha quase certeza de que no último instante, a coragem para tirar a vida daquele que tanto admirou no passado, o deixaria na mão e falharia.

    Na medida em que se aproximava daquele local que o trazia tantas lembranças, seu coração passava a bater cada vez mais rápido, vez ou outra sentia um frio na barriga. Mesmo que se negasse a pensar, seria realmente o seu fim? Ambos morreriam? Ou aquele Uchiha finalmente voltaria a ser como era antes e todas as coisas ruins seriam esquecidas?

    Passado algumas horas, o rapaz caminhava sobre o chão rochoso. Já podia avistar do outro lado daquela enorme queda d’água o seu eterno rival, que o aguardava com o rosto inexpressivo, o que era típico dele, entretanto, algo que não era normal chamou a atenção do loiro... Nos olhos do moreno, não havia ódio, não havia insanidade, não havia ressentimentos, não havia rancor... Não havia absolutamente nada! Sim, era um olhar completamente vazio!

    Após encarar o jovem que se aproximava o Uchiha então ativou o sharingan, pela primeira vez na vida forçando um olhar ameaçador, o que antes ele fazia sem problema algum:

    — Sabia que você viria! — o rapaz quebrou o silêncio. — Veremos agora se, a sua profecia irá se cumprir e nós dois morreremos, ou se apenas você morrerá, pelas minhas mãos! — salientou em um tom sarcástico. — Lute com todas as suas forças... Naruto!

    Entretanto, a expressão zombeteira do rosto do jovem desfez-se e um breve sorriso sincero se formou em seus lábios, rapidamente sumindo e tornando-o apático outra vez.

    Naquele momento, o jovem Uzumaki soube imediatamente que aquele Uchiha, pretendia também, assim como antes ele mesmo havia pensado, desistir da própria vida. Sim, estava certo disso... E a partir dali ele compreendeu de uma vez por todas que aquela luta realmente seria até a morte...

    No fim, arrepender-se-ia de ter se esquecido de deixar ao menos um bilhete despedindo-se de sua amada Hinata e de todos os seus amigos da vila. Entretanto, estranhamente sentia-se feliz e sabia o motivo daquela felicidade. Sim, pela primeira vez em tantos anos, sentiu que os seus sentimentos finalmente alcançaram o velho amigo, e mesmo que o desfecho daquela amizade fosse trágico, no final manteria um enorme sorriso estampado no rosto. 

    (...)

    Naquele começo de tarde, após o excessivo calor que fizera na noite passada e naquela manhã, o céu estava repleto de nuvens carregadas. No centro médico de Konoha, a jovem de cabelos róseos terminava de preencher algumas fichas de pacientes.

    As profundas olheiras eram as consequências da noite mal dormida. Após um terrível pesadelo, no qual via muito sangue e rostos conhecidos, havia perdido o sono. Depois disso, ela havia se levantado, tomado chá e apenas esperado dar a hora para ir trabalhar.

    Há algum tempo ela já vinha sentindo um estranho aperto no peito, que vez ou outra acreditava ser um mau presságio, no entanto, tentava livrar-se de pensamentos negativos, ocupando sua mente o dia todo apenas com o trabalho.

    Ao terminar de preencher as fichas, a garota se levantou com as mesmas em mãos e seguiu até o pequeno armário ao lado de sua cadeira, organizando os papéis dentro das gavetas. Então foi surpreendida pela garota que havia entrado abruptamente em sua sala. Os olhos perolados, arregalados, denunciavam o susto, enquanto o ofego mostrava o cansaço:

    — Hinata? Está tudo bem?! — ela parou o que fazia, virando-se completamente para a outra, fitando-a atônita.

    — S-Sakura! — ela pronunciou com dificuldade por conta da falta de ar. — O Naruto... — ela disse, em seguida dando uma pausa.

    — O Naruto... ? — ela inquiriu indicando que a outra prosseguisse.

    — Sumiu! — apenas com uma palavra ela finalizou.

    — Hãn? Como assim sumiu? — indagou confusa.

    — Eu... Eu não o vi nessa manhã, fui à casa dele e ele não estava. Daí eu pensei que ele estivesse comendo rámen no Ichiraku, só que fui até lá e ele também não estava. Então, o procurei por toda a vila e nada! — falava sem parar.

    — Aff, aonde será que esse baka se meteu? — perguntou-se pondo-se a pensar.

    — Ah, depois eu voltei na casa dele, e achei esse bilhete sobre a mesa! Parece uma mensagem de alguém e poxa, será que ele está me traindo?! — inquiriu com a voz embargada pelo choro, já com os olhos marejados.

    — Hein? O Naruto? Não, claro que não! Não creio que ele... — ela se calou ao pegar o bilhete da mão da outra e ler, arregalando os olhos.

    — O q-que foi? P-Porque você ficou quieta de repente?! — perguntou a morena encarando a rosada que parecia tentar assimilar aquilo que lia.

    — Essa letra...

    “Precisamos por um ponto final naquele assunto, estarei te esperando no mesmo lugar... Você sabe onde fica!”

    As lágrimas que aos poucos inundavam os olhos verdes da jovem, logo se desprendiam dos mesmos e escorriam pelo rosto delicado. Hinata espantou-se com tal reação por parte da outra de forma que não sabia se chorava junto ou se perguntava o que havia acontecido.

    — S-Sakura?! O que... ? — foi interrompida.

    — H-Hinata! Eu tenho que ir...

    Deixou o bilhete cair no chão, seguiu até a mesa e pegou a bolsa ninja que estava em cima da mesma. Vestiu as luvas pretas e se aproximou da porta sendo seguida pela outra.

    — Espere, irei com você! — avisou a morena alcançando-a.

    — Não! Preciso que fique aqui e tome conta do meu posto, por favor! — pediu com a voz trêmula por conta do choro.

    — Mas...

    — Por favor! — ela suplicou, segurando nos ombros da outra.

    — Tudo bem... Mas me prometa uma coisa! — pediu para a amiga.

    — Diga...

    — Me traga o Naruto-kun de volta, eu te imploro! — curvou-se diante da rosada.

    Nesse momento, a jovem Haruno lembrou-se de no passado ter dito algo semelhante ao Uzumaki quando o mesmo fora atrás do Uchiha.

    — Não se preocupe Hina, eu o trarei de volta! É uma promessa! — soltou-se da garota dando as costas para a mesma e seguindo rumo à saída da vila.

    — Domo arigatou... — agradeceu observando a outra se distanciar.

    Conforme as horas iam passando, o céu cada vez mais escuro por conta das nuvens carregadas, denunciava o fim daquela tarde desesperadora. A jovem de cabelos róseos corria com todas as forças que possuía, mesmo que a vontade de seu corpo fosse ceder-se ao peso de todo aquele sofrimento e desabar ao chão.

    Após algum tempo, a noite de céu avermelhado deu-lhe as boas vindas à escuridão noturna daquela floresta. Depois de tanto esperar durante o dia, os pingos da chuva finalmente desprendiam-se das nuvens seguindo de encontro ao chão.

    De um chuvisco inofensivo, rapidamente tornou-se uma forte tempestade, deixando encharcada a garota que, sob àquela queda d’água corria em direção ao lugar que ela tinha certeza de que estava sendo o palco daqueles dois.

    Ao se aproximar do chão rochoso, ela tomou cuidado para que não escorregasse por conta da umidade, concentrando o chakra nos pés. A cada passo que ela dava em direção às estátuas, ela sentia o coração acelerar, o estômago doía só de pensar no que ela encontraria dali em diante.

    Quando finalmente alcançou o topo, observou do outro lado da cascata, após o rochedo, sobre a grama, havia algo ali. Desesperada, correu sobre a água atravessando para o outro lado. Conforme se aproximava, aquilo tomava forma, iluminado apenas pela diminuta luz da lua, que ligeiramente driblava algumas nuvens escuras que insistiam em bloqueá-la.

    Quando finalmente reconheceu o que era, o choque, o espanto, a tristeza, a dor, todos os sentimentos possíveis para se sentir naquele momento, invadiram-na de uma vez, de tal forma que mal conseguiu continuar respirando. Seu corpo cedeu ao peso de sua agonia, fazendo-a cair de joelhos sobre a grama perto daqueles dois.

    Sim, o sangue que escorria para a grama e seguia até as rochas, diluindo-se nas águas que ali corriam, pertencia a aqueles dois jovens, com suas personalidades tão distintas e semelhantes ao mesmo tempo. Inertes sobre o chão, de olhos fechados, ambos os lábios estampavam um estranho sorriso.

    — N-Naruto... ?! — indagou tocando o rosto gélido do mesmo, derramando as lágrimas que se misturavam à água daquela chuva gelada.

    Um pouco mais distante dali, ela voltou sua atenção para àquela outra pessoa. Ainda de joelhos, engatinhou até a ele. Já não mais conseguia conter o choro, que somado aos soluços, vez ou outra faziam-na afogar:

    — S-Sasuke-kun?! — inquiriu em um sussurro, puxando o mesmo pela gola da camisa, deitando a cabeça dele sobre o joelho direito, logo em seguida, fazendo o mesmo com Naruto que estava mais ao lado, deitando-o sobre o esquerdo. — Por que vocês... Naruto... Sasuke... SASUKE-KUN! — gritou por fim, desfazendo-se em um choro desesperado, dolorido.

    O escândalo em meio às lágrimas fazia com que sua voz ecoasse pela imensidão daquele lugar que antes apenas ouvia-se o som da chuva e das águas que naquela cascata corriam por entre aquelas duas estátuas. Sim, aquele era o Vale do Fim! Um nome um tanto impactante e irônico ao mesmo tempo.

    Embora ela soubesse, a partir do momento que lera aquele bilhete, que possivelmente presenciaria aquela situação, ela achava que conseguiria lidar com tudo aquilo. E mesmo que tentasse manter os pés no chão, pensava que os dois jamais iriam tão longe um para com o outro. Não daquele jeito.

    No fim, aquela chuvosa noite escarlate, havia sido exatamente igual à do cenário que vira antes em seus pesadelos, entretanto, não havia chão algum desabando ao seu redor, o que realmente estava a ponto de ceder naquele momento, era a sua sanidade. Pois sua vida naquele instante havia diluído-se em lágrimas que, assim como todo aquele sangue, ia se misturando com àquela gélida água, que refletia a escuridão daquele rubro céu noturno.


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