Gaara...

Cap. Gaara...

Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final. Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário, perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver.

Sonia Hurtado

Não passava de um vulto enquanto se locomovia agilmente por entre os galhos das altas e robustas árvores que a cercavam, estava cansada, mas se negava a parar tão cedo, a mente fervilhando enquanto se lembrava de todas as vezes que fizera aquele mesmo caminho, triste por deixar o namorado para trás, hoje, o fazia decepcionada e conformada, Gaara reduzira-se a seu ex.

Não era que doesse ter terminado, deu-se conta de que o que sentia por ele era como fogo de palha, no inicio, forte, abrasador, mas basta a mais leve rajada de vento e se estingue, sentia-se decepcionada consigo mesma por isso, por ter notado tarde demais e ter quebrado a cara por isso.

E por mais que estivesse ciente de que não o amava, seu orgulho encontrava-se ferido, acreditava estar apaixonada e ser correspondida, para agora, após meses de devoção descobrir-se emersa em uma rede de mentiras.

Flash back on:

Estava tão feliz aquele dia, havia enviado em segredo uma ave a Konoha pela manhã com seu pedido de transferência para Suna, faria uma surpresa a Gaara, dizendo que não mais precisaria partir quando suas férias terminassem, que podia ficar ali com ele.

A medida que avançava, o cheiro de éter a sua volta se tornava mais forte, adentrava cada vez mais profundamente na área da UTI, sua responsabilidade no momento, assim como capacitar os novos acréscimos no quadro de médicos...

Se tivesse que atuar apenas ali, talvez não estivesse tão cansada, mas tinha de se desdobrar entre o hospital e a central de inteligência, pois devido a suas habilidades poderia promover inúmeras melhorias em ambos... O desgastante passatempo havia sido ideia de Gaara, ele não queria que ficasse entediada por conta das incontáveis horas que ele passava confinado no escritório, ele estava apenas sendo atencioso e pensando nela...

Suspirou, tantos turnos a estavam acabando, mas não queria fazer pouco caso do esforço que o ruivo fizera lhe arranjando uma ocupação reclamando, sendo assim, só podia desejar que as horas passassem rápido para que pudesse retornar a mansão Sabaku, tomar um banho e se refugiar nos braços de seu ruivo...

Ouviu um murmúrio baixo, sussurrado, fazendo-a diminuir o passo, algo nele havia lhe chamado à atenção, mas fora muito rápido para classificar o quê, então ouvira de novo, a conversa vinha de um corredor mais a frente e desta vez ouvira claramente quando seu nome foi pronunciado...

Não conseguindo conter sua curiosidade, avançou um pouco mais, postando-se junto à parede de tom de areia, fingindo analisar as pranchetas que trazia nos braços, ao mesmo tempo, apurava os ouvidos para ouvir melhor, algo lhe dizia que era de vital importância saber o conteúdo da conversa...

_Ei-chan, que máximo, já tava mesmo na hora do Kazekage-sama se casar e quando vai ser?

Sentiu seu coração falhar uma batida e se encher de ternura, Gaara a ia pedir em casamento? Tudo bem que só tinham quinze anos, mas não faria mal anunciarem um noivado...

_não é para agora, afinal, ele acabou de completar dezesseis anos, mais a festa de noivado vai ser em alguns meses, só não entendo por que ele ainda mantém aquelazinha com ele se vai se casar com Matsuri-san.

Matsuri, ele ia se casar com Matsuri? Foi como levar um banho de água frio enquanto sentia se instalar um gosto ruim na boca e que lhe era bastante familiar, era uma mistura de decepção, raiva e desilusão.

Ouviu-as rirem de algo que não tinha ouvido e começarem a se aproximar, mais alguns passos e a veriam, mas não se importava.

O.o

Estancaram ao vê-la ali, parada, de cabeça baixa, será que as havia ouvido? Teriam problemas se tivesse, o Kazekage ordenara que o casamento fosse mantido em sigilo até quando ele achasse necessário, só sabiam mesmo disso por que ouviram ao acaso uma conversa entre Baki e um dos conselheiros do ruivo...

_Ino-sama...

Balbuciaram em uníssono, acompanhando com atenção enquanto ela erguia o rosto, ansiando verem se ela demonstrava qualquer sinal de ter ouvido algo, talvez houvessem tido sorte, ela poderia estar tão concentrada no que fazia que não ouvira, afinal, estavam conversando bem baixinho...

Mas viram seu rosto e não souberam distinguir se sim, ela as olhava e não havia nada em seus olhos azul-gelo, apenas um brilho opaco demais, suave demais para delatar algo... Havia algo de diferente em seus olhos, em sua postura, dava a sensação de que algo estava terrivelmente errado...

_Ei-san, Chichi-san, irei me ausentar do hospital, avisem aos outros...

A voz dela também estava diferente, tranquila ao extremo, e junto aos olhos absurdamente serenos, formavam um conjunto que a loira jamais exibira em todos os meses que passara ali... Uma faceta que desconheciam...

Sentiam-se relaxar despercebidas, era improvável alguém reagir assim, com tanta calma, após ouvir que seria dispensada, principalmente a loira, espalhafatosa e afobada como era, de certa estaria fazendo um escândalo então... Suspiraram e sorriram então, aliviadas, estavam salvas...

_hai...

E então, ela lhes deu as costas, andando silenciosamente, os passos como que medidos, os olhos dela não haviam delatados nada ao fita-las, sua voz nenhum indício, a postura muito menos, então por que sentiam, que não tiveram sorte, que haviam suposto errado?

O silêncio era complexo, cheios de significados que não conseguiam captar, mas nada ousava rompê-lo, nem mesmo havia o som dos passos da loira calçada com scarpins de salto-alto, o silêncio era absoluto...

A medida que seguia pelas ruas de Suna, reparou pela primeira vez nos olhares dirigidos pela população da vila para ela, como pudera estar tão cega? Era desprezada ali, vista com algo inferior a uma vagabunda...

A cada passo se solidificava cada vez mais sua raiva, como ele ousara fazer isso, acabar com sua reputação desse modo? Ele não via o que estava causando ou simplesmente ela tinha tão pouco valor para ele que ele si quer ligava? Sentia que a segunda opção era a certa...

Em minutos chegara ao seu destino, o prédio que orgulhosamente se erguia no centro da vila, o escritório do Kazekage...

Entrou, subiu as escadas que pareciam infinitas e em fim, estava em frente à porta dele, ignorando por completo a secretária e entrando sem si quer se anunciar, vendo com seus próprios olhos a confirmação do que as garotas haviam falado...

Poderia dar uma chilique, xingar, agir como uma desequilibrada, afinal, estava em seu direito, era seu namorado que estava se agarrando na sua frente com outra, mas, não fora esta a educação que recebera, não era assim que a futura líder do clã Yamanaka deveria se portar...

Por instantes, apenas observou, sem expressão, os dois que não pareciam ter se dado conta ainda de sua entrada... Agarravam-se atrás da mesa de Gaara, este, a ponto de jogar a morena sobre a mesa, já havendo derrubado no chão todos os pergaminhos que antes ali estavam e que agora se espalhavam pelo chão, quando em fim se deteve, o rosto encaixado na curva do pescoço daquela que havia sido sua aluna, parecia que em fim, fora notada...

_Ino...

_sinto interromper Kazekage-sama, vim apenas comunicar que estou partindo para Konoha...

E não disse mais nada, apenas virou as costas para eles, para a baixaria da qual fora vítima, juntou seu orgulho, e partiu, deixando para trás, o casal de amantes desconcertados e chocados com a reação da loira, tão diferente da qual esperavam quando ela descobrisse...

Flash back off:

Não acreditava ainda que se metera naquela roubada, torcia apenas para as notícias não chegarem a konoha antes dela, seria demais já chegar sendo bombardeada com olhares de pena, pois isso era a ultima coisa que queria...