A casa pegava fogo. Chamas altas devoravam tudo.
A fumaça embaçava minha vista, eu não conseguia ver nada e nem respirar.
Meus pés, descalços, estavam queimados, mas mesmo assim eu seguia em frente, tentando chegar a porta.
Meus olhos ardiam, mas eu persistia com eles abertos, eu precisava deles.
Precisava ver meus pais.
Uma árvore caiu ao meu lado, começei a correr, aos tropeços.
Cheguei a porta da frente e abri.
Soltei um grito de pavor.
Lá estava ele, um sorriso no seu rosto. Estava todo sujo de sangue e balançava a faca se divertindo.
E os meus pais... brutalmente feridos, na frente dele.
Lágrimas corriam sem parar pelo meu rosto.
Desabei no chão chamando por eles, mas nada. Não respondiam.
Estavam mortos.
-Você é a próxima- ele disse.
Ele começou a se aproximar, ainda balançando a faca.
Eu berrava, chorando.
-Dani acorda!- minha tia me chacoalhava.
Acordei, assustada. Percebi lágrimas no meu rosto, e minha voz estava rouca.
-O q-que houve?
-Você estava tendo pesadelos de novo- ela disse, se sentando na minha cama.
Olhei em volta. Estava tudo normal.
Só tinha sido um pesadelo.
Respirei fundo e olhei pra ela.
-É aquele homem de novo Dani?- ela me encarou.
Ela está preocupada, dá para ver nos seus olhos.
-Sim.
Ela não disse nada, só me abraçou forte.
Fiquei quieta, não conseguia mais chorar. Depois do que houve, eu só conseguia chorar enquanto estava nos sonhos, quando revivia tudo aquilo.
-Vai ficar tudo bem.-ela tentou me reconfortar.
Não falei nada, e ficamos naquele silêncio por um momento.
Ela se levantou para ir embora, mas parou.
-Se anime, amanhã não vai ser o show do seu namorado? Como é mesmo o nome? Cost, Cast...
-Castiel, tia.
-Ah é mesmo- ela sorriu- Você vai com a Marcela?
-Vou.
Sorri, amanha será mesmo o show dele. Estou tão orgulhosa, ele trabalhou muito para este show. Eu e Marcela vamos lá para apoiar ele e a banda.
-Dani?
-Sim?
-Fique bem.- então ela saiu e apagou as luzes.
Nunca fomos próximas antes, mas depois, quando vim morar com ela, fomos nos apegando pouco a pouco, mas nunca demonstramos.
Lembro-me daquela noite, quando ela veio me buscar para morarmos juntas.
[Flashback]
Eu estava na delegacia, viva. Mas me sentia morta por dentro, meus olhos não tinham vida, e nada saia de minha boca. Para mim, aquilo era só um sonho, um sonho ruim.
-Esta tudo bem com você mocinha?- um dos policiais me encarava.
Eu simplesmente não conseguia falar.
-Claro que não está Carl, os pais dela acabaram de serem assassinados!- disse o outro policial.
-Quer um pouco de água querida?- disse o terceiro policial.
O silencio se fez na delegacia.
-Desista Carl, ela não vai falar nada.
Por fim, fizeram algumas ligações.
Dali a uns minutos, minha tia, Nanci, chegou.
Seu rosto estava cheio de lágrimas, ela veio correndo na minha direção e me abraçou, dizendo que ficaria tudo bem.
Mas nada estava bem, e nem ia ficar.
Percorremos todo o caminho para a casa dela em silêncio.
Assim que chegamos, entrei e desabei no chão.
Ela foi para a sala, ligou para vários pessoas.
Depois de um tempo, ela voltou para onde eu estava e me disse:
-Nos mudaremos hoje.
Permaneci muda, enquanto ela arrumava as malas, a minha e a dela.
Antes de sairmos, ela parou e me encarou.
Então, ela me entregou um colar.
Um colar prateado, com um pingente azul em forma de losango.
O favorito de minha mãe.
-Ela tinha me emprestado, achei que devia te dar.
Peguei o colar e o apertei na minha mão.
-Vamos, temos que pegar o avião- ela disse.
[Fim do Flashback]
Abri os olhos. Estou com medo de pegar no sono. De ter outro pesadelo.
De ver ele de novo.