Namekusei jins fazem fotossíntese. Sim, eles fazem. É inegável. São verdes, vivem em um planeta com um clima constantemente ensolarado e bebem somente água. Que mais evidências são necessárias para chegar a essa conclusão? Não sou nenhum botânico; a sei tanto quanto um colegial sobre plantas. Se bem que eles não possuem a morfologia de uma planta: são humanóides, conseguem fazer esferas do dragão (excepcionalmente), revelam de um ser a sua verdadeira força...Mas...Eles são verdes, não? E conseguem se regenerar, coisa que até a mais simples dos organismos desse reino ?plantae? são capazes de realizar.
Era de manhã. Oito horas pra ser exato. Logo cedo o meu tédio era alimentado por uma aula de Direito Empresarial. O professor não tinha a melhor didática, vez que simplesmente arremessava-nos suas experiências como advogado na área, tecendo breves e ininteligíveis comentários acerca dos contratos empresariais. ? é necessário, nos termos do Código Civil...? falava o professor. ? Os contratos empresariais, hoje, tem uma atuação no mercado em negócios parrudos...? também falava. Não havia dormido muito bem noite passada, então minha atenção estava voltada para o mundo, para o ambiente, para o relógio que parecia retroagir, girando no sentido inverso, para uma garota de vestido decotado sentado do outro lado da sala.
E novamente o meu pensamento voltava para os habitantes daquele distante planeta. Creio ser o sangue deles verde. Isso indica que possuem algum pigmento necessário para fazer o processo fotossintético. Enquanto acrescentava mais evidências ao meu rol imaginário, fiquei observando uma colega minha, sentado ao meu lado. Não me lembro como nos conhecemos, só sei que quem teve a iniciativa foi ela. Ela estava sentada ali, três cadeiras à esquerda donde estava sentado, prestando atenção, acho eu, às palavras do professor.
Não sei precisar em que momento, mas ela notou meu olhar vago direcionado a ela. Quando ela notou, um leve susto surpreendeu o meu corpo, um movimento quase imperceptível para a esquerda. E durante alguns segundos, aquela classe era nossa. Embora mais de 80 alunos estivessem naquela sala, por um efêmero período só havia duas pessoas naquela classe: Eu e Ela. Foi nesse momento que conversas paralelas, o barulho de jovens andando no corredor, a voz barítono do professor reverberando pelos cantos da sala... Tudo naquele instante havia sumido. Eu conseguia ver o meu reflexo nos olhos dela. Ela, idem, fazendo dos meus olhos um microscópico espelho.
Foi estranho. Sim, muito estranho, um tanto embaraçoso. Feito o contato ocular, sorri e fiz um gesto qualquer com a minha mão. Não sou muito extrovertido, então tentei ser o mais discreto possível. Voltando a realidade, percebi que o professor já estava terminando a aula. Via em meus colegas uma sensação de alívio e um brilho nos olhos vazio. Pra mim, não fazia a diferença, visto que não ligava para aulas não ?dinâmicas?. Quando isso acontecia, bastava perder-me nos meus pensamentos, meus breves devaneios... É ainda de manhã, e ritual do cotidiano prosseguia lentamente.
- Ah, é verdade, plantas não falam...