E então pessoal? Acham que dará certo o plano de Lexi? Será que Raul vai ajudar? Vamos descobrir!!!
Existe alguém que pode fazer algo. Alguém que deve ter estudado o suficiente para saber os primeiros socorros e assim poder tentar salvar a vida de alguém com parada cardíaca. Alguém que eu conheço tão bem que sei que é capaz, só não sei se fará. Porque era por isso que ele estava vivendo. Era isso que ele queria que acontecesse.
Mas não temos opções. Se há alguma chance de salvar o meu avô, essa chance está nas mãos dele. Nas mãos da pessoa que mais quis vê-lo morto em toda a vida.
Eu ia chamar Raul.
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Cap. 22
- Raul. - digo, me perdendo em pensamentos. Principalmente no dia em que ele chegou baleado e me instruiu de um modo que pude salvá-lo.
- O quê? - meu pai semicerra os olhos, incrédulo com a minha sugestão.
- Raul, pai. Ele fez três anos da faculdade de medicina. Ele pode nos ajudar!
- Poder não é querer, Lexi! A única coisa que ele poderia fazer é não lhe dar mais nenhuma chance de vida! - ele grita, totalmente exaltado, abolindo completamente a minha ideia.
- Mas é a nossa única saída! Heitor não pode mais esperar! - minha mãe agarra o seu braço, praticamente implorando com os olhos para que meu pai mude de ideia. - Arthur, por favor! Não temos outra opção!
Meu pai pôs as mãos no rosto e suspirou alto, rugindo forte quando não se viu com outra opção. Ele estava tão desesperado que faria qualquer coisa para salvar o vovô. Fez sinal para que eu corresse, e um dos policiais me acompanhou.
Corri pelo corredor e gritei o seu nome quando vi que outro policial já o tinha algemado e o estava levando de volta para a cela. Precisávamos ser rápidos.
- Traga o detento aqui! - policial gritava apressado ao outro.
- Lexi, o que houve? - disse Raul, totalmente confuso com a situação, já sendo trazido às pressas para fora da sala.
- Meu avô!!! O coração dele!!! Você precisa salvá-lo!!!
- O quê?! - Raul questiona, mais por não ter entendido o que eu falei do que pelo espanto pelo que eu estava pedindo.
Mas nós não tínhamos tempo. Puxei-o corredor afora pelas correntes das algemas em suas mãos, fazendo-o correr junto comigo. Num segundo estávamos lá; todos fitando-nos, meu pai com um olhar preocupado, minha mãe esperançosa e meu irmão tão desesperado que mal esboçava reação.
E quando vi Raul cerrar os olhos – tanto que pareciam apenas duas linhas – percebi que ele havia entendido tudo. Principalmente porque ele olhava fixamente para o meu avô, estendido na maca, já praticamente morto.
- Então o velho está morrendo? Que maravilha! Obrigado por me convidar para assistir de camarote! - disse, sentando-se numa cadeira encostada na parede.
- Eu não disse?! Ele só quer mesmo ver a nossa desgraça, Lexi! Nunca irá nos ajudar! - meu pai grita.
- E porque eu deveria fazer alguma coisa? Porque eu iria salvar o homem que matou o meu pai?!
- Porque você não é igual a ele. - digo, e imediatamente todos se viram para mim, inclusive Raul, com a sua cara de quem não está gostando nada disso.
- Ah, me poupe, Lexi... - ele diz, cruzando os braços.
- É sério! Ouça, Raul, se você deixá-lo morrer, só mostrará que é igual a ele! - aponto para o corpo desfalecido na maca – Mas se você salvá-lo... Você vai superá-lo. Vai mostrar que é melhor, que não precisa disso tudo, não precisa causar dor, ódio e vingança novamente. Ele vai pagar do jeito certo! - e quando o vejo arrastar os olhos duvidosos para mim, acrescento – Por favor! Sei que não é por ele, e mesmo que não seja por você... que seja por mim!
- Sei não... da última vez que fiz algo por você...
- Garoto – meu pai irrompe de seu silêncio – se realmente quer que algum dia eu o perdoe por tudo o que me fez passar, pode começar com isso. - e ele sustenta o olhar em nós dois.
- Raul. Por. Favor. - digo pausadamente, meus olhos já marejados, até que ele se levanta e direciona as mãos a um dos policiais.
- Não posso fazer nada estando algemado!
Eu sorrio. Largamente. Agora sei que ele fará isso. Por mim, por ele ou por nós não importa. O que importa é que ele fará.
Em um segundo ele já está fazendo massagem cardíaca, com movimentos tão rápidos e firmes que todos ficamos com os olhos sem piscar observando o corpo do meu avô balançar sob a maca. Meu pai analisa cada segundo de suas ações – para ter certeza de que ele está tentando salvá-lo e não o contrário – enquanto Raul resmunga algo ininteligível antes de começar a respiração boca-a-boca.
Aquilo precisava dar certo. Pelo menos até a ambulância chegar, aquilo precisava realmente dar certo.