Essa oneshot não é necessariamente uma interpretação da tradução da música Ijin no Yoru. o/
Boa leitura =3=
A noite era calma, escura demais pela falta da lua. Uma brisa úmida cortou a parte norte da cidade, vinha chuva. Um forasteiro saiu de uma casa sem iluminação, seus sapatos vermelhos brilhavam, apesar da escuridão. O sangue fluía da ferida recém-aberta, alguém chorava, porém ninguém percebeu. Um gato com um olho só cortou a noite escura no mesmo momento, de onde será que ele veio? Para onde será que ele vai?
Sendo guiado pelo forasteiro de sapatos vermelhos, a menina entrou no barco. O rio fluía calmamente, sumindo na penumbra da noite. Apesar da calmaria, o barco oscilava. O estranho estava parado no convés, ele não parecia se importar com o barco balançando. Eles passaram mais tempo viajando do que pareceu. O homem que guiava o barco era esquelético e vestia uma capa preta, não era possível ver seu rosto, muito menos ouvir seus lamentos.
O verão passa, chegou a hora do outono. As pétalas se espalham e morrem. A menina olha para o céu e as vê flutuando vivamente no céu avermelhado. Seu olhar abaixou, fitando o forasteiro de sapatos vermelhos.
Ela já não sabia por quantos dias estavam naquele barco. - Se por acaso tiver amanhã, o céu estará bonito. – sibilou para si.
- Cuidado... – a noite escura murmurou.
- Mas eu não posso mais voltar. – ela respondeu, as lágrimas brotavam de seus olhos.
Ela não estava louca, a solidão do barco a fez conversar com a noite porque ela a respondia. O forasteiro de sapatos vermelhos não lhe dirigia a palavra, muito menos o barqueiro. O rio era silencioso, e o barco rangia. Não havia nada ao redor do rio. Ele simplesmente corria sobre o nada.
As nuvens ralas deixaram a lua passar, seu fraco brilho era acolhedor. A menina sentia frio, suas pestanas tremiam sem parar. Ela abraçou o corpo na tentativa de se aquecer, mas não conseguiu. O céu já estava sem nuvens, entretanto uma chuva âmbar começou a cair, deixando a menina encharcada.
Depois de tanto tempo viajando, o barco finalmente parou. Não havia nada além de uma pequena ilha flutuante. O forasteiro de sapatos vermelhos desceu do barco após pagar o barqueiro. Ao tocar seus pés na terra úmida, a ilha se iluminou. As árvores tinham o tronco avermelhado, linhas tênues cortavam a madeira de baixo a cima. Uma pequena casa podia ser vista no meio da pequena ilha, solitária e encardida. Uma das janelas estava quebrada e a porta estava aberta. Não parecia que alguém morava ali.
Pela primeira vez o barqueiro olhou para ela. Rastejando até a menina, ele a conduziu para fora do barco. Quando a menina desceu, olhou ao redor confusa. Perdida em seus pensamentos, não notou o forasteiro entrando novamente no barco. Silenciosamente o barqueiro enfiou o remo na água e rumou para o lado contrário do rio, desaparecendo na escuridão.
A menina não olhou para trás, foi atraída pela pequena casa. Seus passos eram calmos e suas pernas não tinham forças. Dentro da casa, ela olhou ao redor. A mobilha se resumia a uma pequena cama e um espelho escondido por um tecido gasto. Não havia cozinha, não havia banheiro, não havia nada mais. Foi então que ela olhou para trás. Seus olhos se arregalaram e as lágrimas brotaram. Chegou a ficar sem ar por alguns instantes, assim como sua voz não saia.
Fora uma armadilha tramada, uma armadilha desde o começo. Ela agachou no meio da casa e chorou, chorou até dormir de exaustão. Não havia ninguém lá.
Ela queria ser amada, ser abraçada. Sentia falta de sua voz, então chame por seu nome. A noite gritava por ela, independente da aparência, continuava a gritar por ela. Novamente ela chorou até dormir de exaustão. Novamente não havia ninguém lá.
Fraca e com a aparência completamente diferente, a menina andava pela casa. Sua voz era fraca pela falta de uso. Fitou o espelho coberto e empoeirado. Rastejou até lá e com um movimento rápido rasgou o tecido. Olhou-se no espelho, ela não se reconhecia.
Viu que o estranho dos sapatos vermelhos estava atrás dela, entretanto, apenas no reflexo do espelho. Não era possível ver sua face por causa do chapéu, sua veste negra se misturava a escuridão da casa. Seus sapatos vermelhos brilhavam.
- Quem é você? Hein, quem? – ela indagou com sua voz fraca. Passado um tempo sem a resposta, ela tombou a cabeça para o lado e indagou novamente outra questão. - Quem sou eu? Hein, quem?
O forasteiro dos sapatos vermelhos apenas esboçou um sorriso.