Já faz algum tempo que eu queria sair pelo mundo para fazer algumas explorações, sabe? Aquelas coisas de aventura que tanto aparecem no Discovery Channel e no Animal Planet de visitar lugares extraordinários na Terra e viver com alguns momentos de adrenalina... Uma aventura é uma coisa muito emocionante e excitante que poderiam ter me recompensado lá no meu mundo. Acho que se Latios e Latias podem me ajudar de alguma maneira a voltar para casa, então posso aproveitar um pouco tempo aqui como se fosse férias. Até porque não faço nada além de estudar e jogar videogames medíocres com aquele PC infernal que tenho. O problema é que a universidade ainda não havia chegado na época de férias e só estava faltando uma semana para as provas... Estou perdido mesmo... (Sighs)
Enfim, durou alguns poucos minutos até chegarmos na lagoa que disseram. Durante nossa pequena caminhada, eu pude ouvir múrmuros de Pokémon do tipo Voador nos galhos das árvores ao redor, talvez cantando ou conversando entre si. Fora isso, o grupo que estava me mostrando o caminho para a lagoa estava falando entre si também.
Eu, por outro lado, caminhava atrás deles. Não é que eu não gostava de falar com eles. Pareciam amigáveis o suficiente mas, eu não os conheço ainda, e conversar como nós fôssemos automáticos melhores amigos para sempre é vergonhoso. Pelo menos, para mim...
A Vulpix, no entanto, olha de volta para mim e constantemente me dá um pequeno sorriso. Provavelmente para me assegurar que ela e seus amigos não se esqueceram da minha presença. Eu sorri de volta, já que era só isso que eu podia fazer.
E então, aqui estamos. A lagoa na verdade... é bem grande. Bem, é maior do que eu esperava. Ela ficava no meio de uma clareira enorme e ao seu redor havia uma grande quantidade de Pokémon de espécies diferentes. Alguns estavam em pequenos grupos conversando enquanto outros estavam sentados sozinhos, saboreando a luz do Sol em suas pelagens.
...E também... notei depois de olhar mais uma vez... os Pokémon daqui, todos na verdade, estão na forma básica. Até que é compreensível, pelo menos nos jogos? A Floresta de Petalburg é uma das primeiras áreas que os jogadores podem visitar, então seria muito difícil progredir se os Pokémon selvagens fossem tudo Linoones, Mightyenas, Swellows, etc..
– Bem, chegamos. – A Nidorina anunciou assim que ela e seus amigos se viraram para mim com rostos sorridentes.
Eu assenti com um sorriso coxo:
– Percebi...
– Olha só, um sarcástico. – O Treecko falou ao cutucar as costas do Shinx. – Parece que você tem competição.
– Cala a boca. – Shinx encarou ligeiramente seu amigo. Então, olhou de volta para mim. – A água é para todo mundo, então não hesite em satisfazer sua sede.
Eu assenti e pedi licença. Enquanto me aproximava da lagoa, podia ouvir os passos deles me seguindo atrás. Parei na borda e encarei a água cristalina e limpa. Eu sinceramente espero que esteja daquele jeito porque não quero ter nenhuma cólera, leptospirose ou qualquer tipo de doença dos infernos no meu corpo. Mas se tem uma coisa que aprendi assistindo os episódios de Bear Grylls no Discovery Channel é que você deve fazer de tudo que lhe for possível para sobreviver na selva.
Eu balancei minha cabeça ligeiramente quando... Como vou beber isso? Quase esqueci de chutar minha cauda antes de ajoelhar, ou então seria uma dor e tanto de uma de minhas pernas pisasse nela. Já vi meu cachorro sentando no próprio rabo e pelo que vi, não é a melhor das experiências para um canino. Enfim, de volta a questão atual, como vou beber água com essas patas pequenas? Cara, já digo logo: vou sentir falta das minhas mão humanas. Patas de Riolu não foram feitas para juntar água como as mãos humanas fazem e certamente não quero dar uma de cachorro para beber água. É um pouco humilhante...
Eu suspirei. Parece não tenho escolha a não ser chupar a água. Até prefiro esse método mesmo porque é mais eficiente... Enfim, me deitei na terra e decidi acabar com isso.
Meu primeiro gole me fez tremer um pouco por causa da frieza que água estava. Mas eu continuei de qualquer jeito. Era fria e refrescante, e até consegui beber muito.
Embora os quatro Pokémon estivessem conversando atrás de mim, eu não me importei em tentar ouvir o que estavam dizendo. Entretanto, depois de algumas... chupadas? Cala a boca, cérebro! Não é hora de pensar em coisa pejorativa. Enfim, depois de umas chupadas, as vozes deles ficaram tão altas que me fizeram realmente se importar.
– Pela centésima vez, não! – Gritou uma voz feminina raivosa.
Me levantei antes de me virar para ver o que estava acontecendo. Parecia que era a voz da Vulpix, e sim, era ela mesmo. Ela estava encarando furiosamente um Growlithe. Estranho ter um Growlithe selvagem em Hoenn quando eles são nativos de Kanto, mas não era meu lugar para questionar essas coisas. Os dois eram quase da mesma altura, sendo que o último era um pouco maior.
Ele tinha um sorriso malicioso no rosto:
– Ora vamos, Sienna. – Acho que todos aqui não tratam um ao outro pelo nome da espécie. Bom saber porque reduz as confusões na hora de encontrar dois Pokémon da mesma raça. – Você tem sido assim desde sempre!
– Argus. – O Shinx começou já de cara fechada. – Já estou farto de você e sua insistência em incluir minha amiga para seu círculo de fêmeas.
Círculo de... fêmeas? Acho que poligamia é uma coisa normal aqui...
Argus, o Growlithe, encarou o Shinx. – Não estou falando contigo, Choque. Fique fora disso.
A Nidoran cutucou o ombro do Treecko com uma cara risonha. – Não seria hilário se Choque pensasse que Argus estivesse convi-mmf! – Antes que ela pudesse, ele fechou a boca dela com uma de suas mãos.
– Olha Sienna, - Argus falou, mas só conseguir aquilo quando a Vulpix gritou.
– Eu disse não, e ponto final! Agora, suma!
– Você pode me deixar terminar? – Argus franziu a testa um pouco. – Você tem sido difícil desde quando eu te convidei pela primeira vez. Antes, eu sairia quando você dissesse “não”, mas estou com sorte dessa vez, - ele sorriu, - então não vou parar de perguntar até você dizer “sim”.
– E o que te fez se sentir sortudo hoje? – O Treecko perguntou de repente, cortando as chances do Shinx e da Vulpix de continuarem falando.
O Growlithe sorriu ainda mais. – Porque eu consegui minha décima segunda fêmea hoje mais cedo, e doze é meu número favorito!
Eu realmente fiz um facepalm aqui. Sério, referência de sorte por causa de um número? Mas caramba, doze fêmeas? Não sabia tinham Stiflers no mundo Pokémon também.
Eles continuaram a discutir enquanto eu escaneava nossos arredores, e sim, todos os olhos estavam sobre eles no momento.
– Tá certo! – A Vulpix disse subitamente. Olhei de volta e vi os olhares atordoados de seus amigos, e o sorriso vitorioso do Growlithe. – Mas com uma condição!
– Hmm? Qualquer coisa, minha querida número treze. – Ele disse. Alguma coisa me diz que isso vai acabar mal para a Vulpix...
Ela na verdade sorriu de volta para ele como se tivesse desafiando-o. – Me vença em uma batalha.
Os amigos dela arfaram em conjunto. A Nidoran começou a lutar para tirar as mãos de Treecko de sua boca.
– Sienna, você tá maluca?! – O Shinx gritou.
– Totalmente maluca! – A Nidoran entrou também.
Eu vi o Treecko olhar para mim. Eu arquei minha sobrancelha (se tiver alguma) para ele e só fez dar de ombros ao andar até mim. – Ela vai perder. – Simplesmente disse enquanto sentava ao meu lado e observava a batalha iminente.
Eu pisquei confuso. – É óbvio que ele não quer ficar com aquele cara e você não fazer nada para ajuda-la?
Ele só sorriu sem olhar para mim. – Não, até porque todos no grupo sabem não tenho chance contra Argus. Ele é muito poderoso, mesmo se eu fosse do tipo Aquático. Choque é o que tem mais chances numa luta contra ele.
Botei meu olhar de volta para a batalha, mais especificamente para o Shinx conhecido como Choque. Hmm, sem dúvida ele parece ser o candidato mais provável a interromper e salvá-la caso as coisas fiquem feias.
Pensando bem, eu posso até gostar disso. Quer dizer, fora no anime, eu nunca vi uma batalha Pokémon ao vivo antes!
Enquanto Sienna, a Vulpix, e Argus, o Growlithe, se preparavam para a luta, eu tocava a típica música de batalhas selvagens em Hoenn dos jogos Rubi, Safira e Esmeralda. Também notei que vestia uma cara de excitado... Cala a boca, cérebro!
– Dê tudo de si, amor. – Argus provocou. – Prometo que vou ganhar sem te machucar... muito.
Eu ia rolar os olhos, mas Sienna tinha feito isso por mim. Ela lançou pequenas brasas de sua boca até... ela desaparecer? Nossa, essa foi rápida!
Vi Argus sorrir e se pressionar contra o chão, a tempo de desviar de uma investida.
Sienna parou atrás dele e xingou rapidamente enquanto se virou e lançou Brasa novamente no Growlithe confiante.
Argus pulou para o lado com facilidade e avançou com uma investida em direção à atordoada Vulpix. Acertou na mosca, embora não tenha sido um bem poderoso. Sienna se lançou um pouco para trás por causa da inércia do golpe, mas não parecia estar ferida gravemente. Parecia mais enraivada que nunca, o que totalmente agradava a Argus.
Sienna rapidamente se virou e bateu com suas seis caudas no rosto surpreso de seu adversário. Ela seguiu com uma investida terrível, o empurrando alguns metros para trás, mas aterrissou de quatro com um sorriso.
– Nada mal. – Ele disse.
– Cala a boca. – Ela sumiu.
Eu ouvi um suspiro que vinha do Treecko ao meu lado.
– O que foi? – Perguntei.
Ele só balançou a cabeça devagar. – Isso está demorando...
– Mas começou agora...
Depois de alguns segundos de nada, minha atenção voltou para a luta.
Os dois Pokémon do tipo Fogo nos deram uma batalha ardente de sete e poucos minutos. Mesmo que Sienna tivesse dado o melhor dela, estava claro que Argus estava ganhando. Ela arfava enquanto tentava continuar de pé enquanto o Growlithe ficava algumas centenas de centímetros dela, ainda com aquele sorriso gigante que irritava a Vulpix tanto e a mim também.
– Pronta pra perder, amor? – Argus riu.
Os olhos de Sienna se contorceram de irritação. – Não! Ainda posso... – Ela deu um passo a frente, mas caiu de lado ao invés disso. – Ngg...!
Argus riu ainda mais. – Vou aceitar isso como um “sim”. – Sério, aquele sorriso dele já estava começando a me deixar puto. – Então, quer dizer que eu sou o vito-
Um raio de eletricidade atingiu o chão entre os dois, fazendo Argus pular para trás de surpresa.
– Até que fim. – Suspirou o Treecko. – Demorou muito.
Eu o encarei de cara franzida. – Então, isso é uma ocorrência normal por aqui? – Perguntei enquanto ouvia Argus reclamar sobre o que estava acontecendo.
O Treecko assentiu.
– E o Shinx é sempre quem salva Sienna de Argus?
Ele assentiu de novo. – Só que estou com uma impressão que dessa vez ele não vai ter muita sorte como nas outras vezes. Argus ficou muito poderoso tentando mostrar quem é que manda aqui sem a presença de Latios e Latias.
– Entendo. – E assim continuei a assistir à confusão.
Como esperado de alguém como Choque, seu corpo estava rodeado de faísca de eletricidade e estava encarando o Growlithe furioso.
– Eu venci e agora ela é minha.
– Não sob vigilância, Argus. Agora, vou te dar uma chance pra você sair daqui sem mais conflitos. Senão, vai sair com um traseiro tostado.
– Quem, pelos fogos ardentes, você pensa que é para tentar me impedir de tomar posse do meu prêmio, hein!? Você é o macho dela, é!?
O olhar do Shinx se intensificou. – Ela é minha amiga e como amigo dela, vou protege-la de gente como você!
Eu realmente ouvi todo mundo arfar quando o rosto do Shinx estava de repente no meio de um trem de fogo. Quando terminou, Argus rosnou e usou Investida nele, só para acertar nada a não ser ar.
Choque reapareceu do lado dele e cutucou o ombro do Growlithe. – Péssima escolha. – Disse com cara amarrada e os dois foram envolvidos de repente por eletricidade.
Ao mesmo tempo que isso acontecia, notei a Nidoran ajudando a Vulpix a se levantar e escapar da cena.
Acho que Argus a viu saindo já que ele subitamente rugiu e conseguiu quebrar contato com o Shinx e usar Investida nele.
– Nossa! – Murmurei. – Ele é forte mesmo. – Olhei de volta para o Treecko que parecia estar observando a batalha com uma expressão entediada. – Ei, você podia até que ajudar e parar com isso tudo. – Eu gostei da primeira luta, mas agora estava começando a ficar preocupado.
Ele balançou a cabeça. – Já disse que mesmo que eu interferisse, não ia adiantar em nada. Só serviria de bônus para Argus.
– E ninguém se oferece a parar com isso?
Ele balançou a cabeça novamente. – A maioria gosta do espetáculo e outros não dão nem a mínima.
Eu franzi ainda mais, mas minha atenção voltou à luta assim que houve uma pequena explosão. Julgando pelas faíscas de fogo e eletricidade, assumi que uma Brasa e um Choque Elétrico se colidiram.
Vi ambas a Nidoran e a Vulpix vindo em nossa direção aos poucos. Alguns metros atrás deles, Argus as viu e estava prestes a perseguí-las quando o Shinx o lembrou que ele ainda estava lá ao bater na cabeça dele com um Ataque Rápido.
– Uma ajudinha aqui? – A Nidoran arfou, usando seu máximo para ajudar sua amiga a caminhar.
Eu pisquei e pisquei de novo. – Ah, claro... – Corri na direção delas e sem muito esforço, levantei a Vulpix e a carreguei até onde Treecko estava. Pensei que ela seria difícil ter de carrega-la, considerando a perda de meus músculos humanos e ao meu tamanho, mas nem fiz esforço. Estranho...
Nós estávamos a poucas centenas de centímetros do Treecko quando um Shinx voador aterrissou do lado dele.
– Essa não... – A Nidoran e eu murmuramos ao mesmo tempo. Eu olhei para o Treecko, implorando para que fizesse. Mas no fundo, sabia que ele não ia fazer nada... Só cabia a mim agora para impedir esse louco.
– Pegue ela. – Eu disse. – Vou ver se consigo pará-lo.
Ouvi uma objeção, mas não tinha certeza quem disse. Não importei assim que coloquei a Vulpix no chão cuidadosamente e me virei até encontrar um Argus enfurecido a poucos metros diante de mim.
– Saia da minha frente, Riolu! Ou vai acabar ficando como Choque ali! – Ele rosnou. Eu me virei e vi o estado do Shinx enquanto Treecko o socorria. O cara estava cheio de hematomas em todo o corpo e mal conseguia se mover.
Com minha atenção de volta a Argus, fiz a única coisa que me cabia naquele momento. Entrei na minha posição de combate que estava acostumado nas aulas de artes marciais. E disse:
– Só por cima do meu cadáver, feioso.
– Com prazer!