É por amor.

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    16
    Capítulos:

    Capítulo 14

    Aquela nossa canção.

    Álcool, Heterossexualidade, Linguagem Imprópria, Nudez, Sexo, Violência

    Yo!

    Há quanto tempo u_u", enfim, os dias estiveram corridos por janeiro e fevereiro, mas eis mais um capítulo da fic pra vocês! ( especialmente agora com o feriado prolongado, aproveitarei pra tirar o atraso das fic's *-*)

    Bom, o capítulo está emocionante x3 Há recordações, portanto se atentem aos detalhes para saber um pouquinho mais do passado da nossa heroína cor-de-rosa!

    O tema musical é Heaven's Lullaby ( é apenas melodia, deixarei postada nas notas como sempre)

    Link: http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=FAeN2SgtNwU

    Boa leitura!

    No entanto, assim que os olhos se abriram, ele suspirou pesadamente com a falha de seu plano. E assim percebeu que, mesmo tentando ignorar a si mesmo e os seus próprios sentimentos, ele estava fadado a aquela dor e sofrimento, que estava colocando a sua mente em colapso, por causa de toda aquela hostilidade da menina de cabelos róseos, que um dia fora a sua amiga fofa e gentil.

    (...)

    O delicado relógio dourado enlaçado em seu pulso frágil lhe mostrava que logo seria quinze horas daquela tarde de segunda-feira e que sendo assim ela deveria aumentar a velocidade de seus passos para que chegasse um pouco mais cedo em seu novo emprego.

    Os longos fios de cabelos róseos esvoaçavam-se dançantes ao ritmo do vento e dos movimentos da menina ágil que mantinha sua bolsa colada ao corpo por um dos braços e mostrava-se ansiosa com a chegada ao destino aguardado.

    Pelas ruas, as árvores carregadas de flores daquela primavera, dispersavam pétalas que eram conduzidas pelas correntes de ar e logo atingiam ao chão cobrindo-o em diversas cores.

    Logo a jovem passou a se aproximar da escola de música e assim que se pôs a frente do prédio, respirou fundo e observou mais uma vez a fachada agradável constituída em azulejos carmim e intervalos brancos e em especial, o letreiro dourado metálico incrustado na parede sobre a entrada do conservatório.

    Um pouco hesitante, ela aproximou-se da porta, retirou os sapatos e adentrou o lugar, em passos silenciosos pondo-se a caminhar pelo corredor, entretanto, antes que atravessasse o pátio, encontrou a velha senhora que seguia em sua direção:

    — Ora se não é a Sakura-chan... — a velhinha sorriu amável. — Seja bem-vinda! Vamos à minha sala? — pediu educadamente apanhando a mão da menina.

    — S-Sim! — retribuiu o sorriso e passou a acompanhar a velha senhora e logo adentraram a sala da diretoria que mantinha a porta aberta.

    — Sente-se, por favor! — a mais velha apontou para uma das cadeiras e seguiu até o outro lado, sentando-se à sua mesa.

    — Sim... — a menina obedeceu e sentou-se delicadamente, mostrando-se ansiosa.

    — Como ainda não são quinze horas em ponto, nem todos os alunos chegaram... Então ainda temos algum tempo, portanto acalme-se! — sugeriu tranquilamente.

    — C-Certo! — acatou docemente e respirou fundo mais uma vez, amenizando consideravelmente a sua ansiedade.

    — Bom Sakura-chan... Você trouxe o certificado, sim? — a mais velha indagou.

    — Ah, sim... — a jovem abriu a bolsa e rapidamente retirou o papel de dentro dela. — Aqui está! — entregou à senhora.

    — Hum... Ótimo! — ela colocou o certificado em uma pequena pilha de papéis que iria levar para a sala onde a Haruno iria passar a ensinar música. — Bem, hoje teremos apenas apresentação de pais, alunos e professor... Mas como ainda temos cinco minutos antes de começar, se quiser tomar um pouco d’água a hora é essa! — avisou levantando-se da cadeira e pegando a pilha de papéis pôs-se a seguir rumo à porta. — Suas sapatilhas estão ao lado da minha mesa... Já vou indo, te espero lá na sala! — notificou e deixou o cômodo, seguindo pelo corredor.

    — Obrigada, Chiyo-san! — agradeceu pondo-se de pé e caminhou até o filtro d’água que havia na sala, apanhando a seguir um copo descartável e enchendo-o de água, posteriormente tomando-a.

    Rapidamente foi até a mesa da mais velha e calçou as sapatilhas que aguardavam por ela ao chão. Seguiu até a porta e deixou a sala, pondo-se a caminhar pelo corredor.

    À medida que se aproximava de sua sala de aula, o coração acelerava cada vez mais. Uma euforia que há muito não sentia. Logo chegou ao destino e abriu a porta, adentrando a sala.

    A velha senhora que já conversava com os pais e alunos presentes no local, próxima do enorme piano de cauda ao centro, assim que avistou a menina chegar, foi até ela e pegou uma de suas mãos:

    — Venha! — levou-a ao centro da sala. — Bom, a todos apresento a professora de piano desta turma! — anunciou gesticulando para que a rosada pronunciasse algumas palavras.

    — Boa tarde a todos, me chamo Haruno Sakura! — a garota um pouco envergonhada curvou-se em cumprimento perante os pais e alunos. — Trabalharemos duro esse ano, pessoal! Conto com todos vocês... — sorriu docemente e ela acabou por encantar a todos, pais, mães e alunos que lá estavam.

    A apresentação de fato era um detalhe crucial para a estadia de Sakura como professora de piano, afinal, antipatia na primeira impressão perante os pais e alunos, poderia lhe trazer grandes problemas ao decorrer do ano, mas felizmente aconteceu exatamente o contrário.

    — Pois bem, papais e mamães... Deixemos os vossos filhos com a professora, para que se conheçam melhor! — a velha senhora sugeriu seguindo até a porta.

    Logo os pais das crianças e a velha diretora deixaram a sala, e Sakura passou a olhar cuidadosamente para o rosto de cada uma das crianças que estavam ao seu redor, como uma forma de gravar aquelas feições infantis em sua mente.

    — Por favor, sentem-se todos ao chão, formaremos um círculo para nos conhecermos melhor! — ela pediu sentando-se também sobre o assoalho lustrado e assim todos o fizeram, acatando ao pedido dela.

    Eram meninos e meninas, crianças de idades que variavam de seis a dez anos e que nunca antes haviam tido contato com aquele instrumento musical, portanto, Sakura seria aquela que iria introduzi-los naquele mundo novo, através do piano.

    Quase uma hora depois eles acabaram de se apresentar e a rosada pediu para que todos levantassem.

    — Bom... Algum de vocês quer ser o primeiro a tocar o piano? — ela indagou aproximando-se do instrumento e notou que nenhuma das crianças se manifestou. Pareciam hesitantes, todas. — Ninguém quer tocar? — reforçou a indagação, surpresa, afinal, crianças normalmente são curiosas.

    — A gente não sabe tocar... — um menino de aparentemente nove anos comentou.

    — Não precisa tocar uma música, é só apenas para vocês sentirem como é tocar as teclas desse instrumento! — esclareceu amigavelmente.

    — Não tia Sakura, toca pra gente! — uma menina se manifestou, pegando na barra da blusa da Haruno e todos os outros concordaram.

    — Tudo bem! Tocarei uma canção, mas depois todos vocês terão de colocar suas mãozinhas nas teclas, para conhecerem o nosso amigo piano! — advertiu em um tom divertido e os pequenos concordantes acercaram-na, pondo-se a aguardarem a melodia.

    Quase que instantaneamente ela escolheu uma velha canção que lhe veio à mente e que costumava a tocar quando mais nova.

    Delicados e precisos, os dedos de ambas as mãos passaram a afundar as teclas do piano de forma sincronizada e através do badalar das cordas, criavam uma adorável sonoridade, moldando aquela melodia, enquanto Sakura — dos quadris à cabeça —, balançavam-se graciosamente ao ritmo suave daquela canção, de olhos fechados e aos poucos começava a se lembrar do passado.

    Quase cinco anos atrás:

    Era novembro e o começo do inverno daquele ano aos poucos tornavam os dias cada vez mais gelados.

    Na escola todos já usavam agasalhos e cachecóis, a neve ainda não caia em terra, porém o céu, assim como grande parte do outono fora, mantinha-se cinzento e os dias começavam a ficar nubilosos.

    Na sala de aula, o professor havia acabado de passar alguns exercícios no quadro negro e voltou-se para os alunos:

    — Bom pessoal... Respondam a essas seis questões! Eu tenho de ir à sala do diretor, mas logo eu volto! Comportem-se e não destruam a sala, por favor! — pediu deixando a classe e pondo-se a caminhar pelo corredor.

    Poucos minutos se passaram e a pequena menina de óculos sentada em sua carteira no fundo da sala — ao lado da janela —, já havia respondido às perguntas e como de costume, lia um livro, calada, quando o garoto sentado à carteira ao lado da sua, chamou-lhe a atenção, enquanto os demais alunos conversavam e faziam bagunça, dispersos pela sala:

    — Psiu! — ele sussurrou para ela.

    — Hum? — ela desviou os olhos do livro e olhou para o moreno ao lado.

    — Hoje depois que der o sinal da última aula, quero te mostrar um lugar interessante que há nessa escola! — contou esboçando um suave sorriso.

    — Tudo bem! — ela retribuiu o sorriso e voltou a ler. O garoto retornou sua atenção ao seu caderno, para responder as perguntas.

    Logo o final da última aula chegou e soou o sinal, anunciando aos alunos que enfim, estavam livres de mais um dia de estudo, afinal a melhor parte da escola para a grande maioria eram os clubes e não as aulas, portanto, rapidamente todos saíram da classe e seguiram para seus respectivos clubes:

    — Hey, Sakura... — o garoto que já havia guardado os seus materiais e estava pronto para deixar a sala, estalou os dedos em frente aos olhos da garota, chamando-lhe a atenção. — Já deu o sinal, anda, vamos! — tomou o livro das mãos da menina.

    — Ah, é mesmo... — ela virou-se para trás, apanhou sua bolsa e colocou-a sobre a mesa, começando a guardar os materiais.

    — Tsc... Você vive lendo no mundo da lua! — passou a ajudá-la a guardar suas coisas, para que logo pudessem deixar a sala.

    — S-Sinto muito, não consigo evitar! — ela justificou um pouco acanhada e rapidamente colocou o último livro dentro da bolsa, fechando-a e o menino pegou sua mão.

    — Vamos! — proferiu começando a caminhar a passos velozes, enquanto levava a garota consigo e em poucos segundos os dois saíram daquela classe.

    Cauteloso, o jovem de cabelos negros certificou-se de que não havia ninguém os seguindo e logo eles chegaram ao lugar destinado.

    Atrás da escola, o garoto retirou uma das tábuas pregadas à porta do que parecia ser uma pequena sala interditada e em seguida ele abriu uma passagem, adentrando o cômodo.

    — Entre... — ele puxou-a pela mão, ajudando-a a passar pela abertura da porta.

    — Q-Que lugar é esse? — questionou receosa, enquanto curiosos os seus olhos verdes analisavam aquele lugar estranho.

    — Essa aqui é uma antiga sala de música! — contou calmamente e seguiu até o meio do cômodo, retirando um lençol branco empoeirado de cima de um enorme objeto, revelando um grande piano de cauda negro.

    — Uau... — boquiaberta, a menina passou a admirar o instrumento. — Você toca piano? — questionou intrigada.

    — Não! Tenho esse lugar apenas como um esconderijo... — revelou orgulhoso de si. — É sempre bom para dormir durante o intervalo, sem ser incomodado por ninguém! — completou e olhou nos olhos da garota. — Só estou lhe contanto, pois sei que não contará a ninguém mais! — esclareceu corando o rosto.

    — Hum... — encantada, ela seguiu até o instrumento, sentou-se sobre o pequeno banco de madeira e ergueu a tampa que cobria as teclas brancas, pondo-se a tocá-las, reproduzindo assim uma suave melodia. O corpo, dos quadris para cima, dançava ao ritmo do som e os olhos fecharam-se apreciando aquele momento.

    — Que surpreendente... Não sabia que você tocava! — mencionou espantado com tamanha habilidade com a qual aquela menina de meros treze anos tocava. Envolvido pela canção, ele aproximou-se dela e debruçou-se sobre a cauda do instrumento, pondo-se a contemplar aquela harmonia, até o fim.

    De volta ao presente, a jovem que de olhos fechados tocava a mesma melodia em que tocara naquela velha sala de música, foi tirada de seus devaneios por um de seus alunos:

    — Tia Sakura, eu também quero tocar! — uma menina de seis anos pediu, erguendo os pequenos bracinhos para que a jovem colocasse-a sentada sobre o seu colo.

    — Ah, sim... Todos irão poder tocar as teclas, um de cada vez! — avisou esboçando um enorme sorriso, enquanto fitava as mãozinhas da pequena sentada em seu colo.

    Na realidade, seus olhos enxergavam outras mãos. Mãos que avistara no passado, que pertenciam a aquele alguém que vez ou outra tentava imitá-la, tocando o piano na sala de música abandonada da escola. Mãos teimosas, que mesmo errantes, insistiam em tocar.

    (...)

    Os raios de sol daquela tarde de primavera adentravam pelas vidraças da janela, rumando nos olhos do rapaz que — ainda vestido com a roupa que usara para ir à universidade pela manhã —, dormia sobre a sua enorme cama e logo o despertou:

    — Hum... — abriu os olhos com dificuldade e sentou-se sobre a cama. Sua roupa estava totalmente amarrotada. — Tsc. Acabei dormindo! Que horas são? — indagou-se olhando para o relógio preso ao pulso. — Dezesseis e vinte?! — observou e logo em seguida bocejou preguiçosamente. — Que puta dor de cabeça... Merda! — levantou-se da cama e caminhou até uma de suas malas espalhadas pelo chão do quarto, pegando dentro de uma delas, um de seus consoles e foi até a sala, rapidamente instalando o aparelho. — Droga, porque é que as minhas malas ainda não foram desfeitas? — questionou-se irritado e pegou um dos controles, jogando-se sobre o sofá. — O que essas arrumadeiras estão pensando? Amanhã vou reclamar... — resmungou, começando a jogar.

    Poucos minutos se passaram e o celular que estava sobre a pequena mesa de centro da sala, ao lado dos pés do rapaz que sobre a mesma se apoiavam, começou a tocar:

    — Que saco! — suspirou enervado e pegou o aparelho, observando o visor do mesmo para ler o nome de quem o estava perturbando. — Maldição... Aquele idiota me infernizou tanto que acabei passando o meu número pra ele?! — murmurou fulo de raiva. — Porque raios ele está me ligando? — indagou-se nervoso. — Não vou atender... — decidiu, colocando o celular novamente sobre a mesa e logo o aparelho parou de tocar. — Ótimo... — esboçou um sorriso vitorioso que se desfez instantaneamente quando o celular voltou a tocar. — M-Mas que filho da mãe, como ele se atreve a ligar outra vez? — esbravejou e ignorou mais uma vez aquela ligação. — Bom, uma hora ele se cansa... — murmurou voltando a manusear o controle em mais uma partida do jogo.

    Quase meia hora depois o rapaz com os olhos vermelhos de fúria, tentava arduamente seguir jogando seu videogame, enquanto buscava ao preço de sua sanidade mental ignorar o bendito celular que ainda tocava:

    — JÁ CHEGA! — apanhou o celular e o desligou. — Agora quero ver ele me ligar... — bufou esboçando outra vez um sorriso vitorioso e logo em seguida ouviu o interfone tocar. — Que droga, quem será? — caminhou até a cozinha e atendeu. — O que foi? — questionou assim que encostou o aparelho à orelha.

    — Senhor Uchiha, há um rapaz chamado Uzumaki Naruto na linha que disse que precisa urgentemente falar com o senhor... Posso transferir a ligação? — a mulher da recepção perguntou ao jovem.

    — Que filho da puta audacioso... — comentou em alto e bom som, assustando a mulher do outro lado da linha.

    — D-Do que o senhor m-me chamou? — a mulher transtornada, indagou com a voz já embargada pelo choro.

    — N-Não, desculpa isso não era pra você... Eu acabei pensando em voz alta! — justificou acalmando a mulher. — Mande esse Naruto ligar no meu celular! — pediu em seguida pendurando o telefone no gancho. — É... Eu fui derrotado! — lamentou indo até a sala para pegar o celular e assim que o ligou, começou a tocar sem parar. — Fala dobe! — atendeu com o maior desinteresse do mundo e sentou-se no sofá, pegando um dos controles com a outra mão.

    — TEME! Você demorou demais para atender... Você estava aonde? Cagando por acaso? — inquiriu enraivecido.

    — Q-Que suposição mais desgraçada foi essa, hein idiota? — indagou constrangido.

    — Ué... Você demorou tanto pra atender que a primeira coisa que me veio à cabeça foi isso, ora! Mas se bem que você poderia também ter perdido o celular ou quem sabe o deixado cair no vaso e... — foi interrompido.

    — Tá, eu já entendi! — contou irritado. — Não é possível, esse cara nasceu com o “desconfiômetro” quebrado, só pode... — pensou incrédulo. — Mas anda, diga o que quer! — ordenou impassível.

    — Ah, teme, sabe... Hoje quando cheguei à universidade encontrei tanta gente que estudou conosco lá em Hinode e tipo, eu decidi que vou dar uma festa de reencontro com o pessoal da nossa turma da escola neste sábado, que tal? — anunciou sugestivo.

    — Era esse o assunto urgente que tinha para falar comigo? — questionou inexpressivo.

    — Sim! — respondeu inocentemente e instantaneamente o moreno desligou na cara do loiro.

    — Engraçado, tanto tempo passou e ele continua o mesmo idiota! — o celular voltou a tocar e o rapaz franziu o cenho. — Tsc... — atendeu ao celular outra vez.

     A ligação caiu... — contou ingenuamente.

    — Não, fui eu que desliguei... — confessou aborrecido.

     Porque você fez isso teme? — inquiriu chocado.

    — Porque estou ocupado... — justificou enfadado.

    — Ocupado com o que? Aliás, se você realmente está cagando, sinto muito por ter te ligado em um momento como esse... — foi interrompido.

    — Eu não estou fazendo isso neste momento e pare com essas suposições desprezíveis, seu bastardo! — rosnou puto com o colega.

     Então com o que você está ocupado? — perguntou curioso.

    — Estou jogando videogame, enquanto curto minha depressão... — confessou mecanicamente, sem se dar conta da verdade que estava dizendo.

    — Porque você está deprimido? — indagou preocupado.

    — Droga... Que merda eu acabei de dizer? — pensou apavorado e elaborou uma mentira de urgência para contornar aquela situação. — M-Meu hamster morreu! — mentiu temeroso.

     Nossa, meus pêsames! — acreditou totalmente no que outro dissera. — Mas né, você irá à festa no sábado, certo? — pediu amigavelmente.

    — Não! — respondeu indiferente.

    — Teme... Não faça isso! Quero reunir o máximo de gente da nossa velha turma nessa festa e você precisa estar nela! — expôs apreensivo.

    — Tsc... Eu já disse que não! — ressaltou enraivecido.

    — Olha só, pensa com carinho e me dê sua resposta até sexta-feira! E já adianto que não vou aceitar o seu não tão facilmente... Até! — finalizou a ligação.

    — Que cara insistente... — olhou para o lado enervado e suspirou abatido, voltando a jogar.

    Embora o tempo que passara em terras ocidentais fora de muita farra e festas quase todos os dias, naquele momento o que lhe tirava a vontade de ir a aquela festa de reencontro era justamente porque ele não queria restabelecer vínculos com o passado. E em especial, não queria protagonizar um encontro com a hostil menina de cabelos róseos, que no passado fora a pessoa mais doce que conhecera.

    (...)

    O jovem ruivo — sentado à mesa em sua sala —, tamborilava impacientemente os dedos sobre a capa dura de um livro enquanto pensava sobre o seu comportamento estranho, pela manhã na universidade:

    — Droga... O que foi que deu em mim? — questionou-se aborrecido. — Eu agi feito um idiota, como foi acabar assim? — começou a se martirizar. — Mas não, eu vou ter de contornar essa situação! — olhou para o relógio encima da mesa. — Ainda faltam cinco minutos para as dezoito horas, essa é a minha chance de desfazer aquela terrível primeira impressão que ela teve de mim! — decidido ele levantou-se da cadeira e foi até o corredor, seguindo pelo mesmo. Iria aguardar a jovem na saída do conservatório.

    Logo os cinco minutos se passaram, as crianças saíram da escola e foram embora com os pais que já as aguardavam ao lado de fora. Um pouco depois, a jovem rosada deixou a sua sala e passou a caminhar rumo à saída.

    — Beleza, ela está vindo! Dessa vez serei firme e confiável! — pensou determinado.

    — Ah, olá Sasori-san! — ela sorriu docemente. A confiança que o rapaz reunira pela tarde derreteu-se instantaneamente.

    — O-Olá! — cumprimentou corando violentamente as bochechas.

    — S-Sasori-san, você está bem? — ela questionou preocupada. — Você está muito vermelho... — comentou ingenuamente.

    — S-S-Sério? — ele ficou ainda mais vermelho depois daquela revelação constrangedora. — Eu... — pigarreou e respirou fundo, buscando se acalmar. — S-Sakura, eu só queria lhe dizer que... Não precisa recorrer apenas à Chiyo obaa-san, pois sempre que eu estiver por perto também poderei lhe ajudar, certo? — sugeriu amigavelmente.

    — Certo! Muito obrigada, Sasori-san! — ela sorriu outra vez, retirou as sapatilhas e calçou os seus sapatos que estavam postos à soleira da porta.

    — N-Não há de que! — murmurou encostando-se à parede ao lado da porta.

    — Até amanhã! — a rosada pôs-se ao lado de fora da escola e deu de costas, caminhando pela rua.

    — Até! — ele deu alguns passos para frente e permaneceu imóvel observando-a caminhar, até quando os seus olhos não pudessem mais acompanhá-la. O coração acelerado, aquele aperto no peito, embora agonizante, era de fato, uma sensação incrivelmente deliciosa.

    — É... Cê tá apaixonado mesmo, hum! — o loiro surgiu de repente ao lado do ruivo e comentou em voz alta, com uma cara terrivelmente incrédula.

    — Ah! — o rapaz assustado, deu um pulo para trás. — De onde você surgiu, estrupício? — questionou furiosamente apavorado. — M-Meu coração já tava acelerado, e esse maldito aparece do nada? Deus, eu quase morri... — arregalou os olhos com aquele pensamento aterrorizante.

    — É bom ver você também, amigo do peito, hum! — ironizou com a expressão facial mais desanimada do planeta. — Hoje eu fui liberado mais cedo do trampo e resolvi dar uma passada aqui, para irmos embora juntos, afinal, a minha moto ainda não voltou do mecânico! — justificou apático.

    — Certo, mas nunca mais me assuste desse jeito! — ordenou enraivecido.

    — Tudo bem senhor apaixonado, juro que nunca mais irei lhe assustar em seus momentos de flerte imaginário com a Sakura, hum... Que vida de merda, hein cara? — debochou da situação do amigo, que o olhou malignamente.

    — Deidara, faça um favor a mim, à sua irmã e a humanidade, se mata! — exigiu fulo de raiva e voltou trotando para dentro da escola.

    — Que menino sensível e educado esse, hum! É incrível como ainda conseguiu ser um pateta em frente àquela Sakura, mesmo tendo essa personalidade, hum! — murmurou desarranjado e passou a seguir o amigo.

    (...)

    A menina de cabelos castanhos havia acabado de sair de seu quarto e um pouco tonta como quem acabara de acordar, seguiu pelo corredor da casa vazia e chegando à sala, jogou-se sobre o sofá:

    — É... Eu dormi a tarde toda! — murmurou pondo-se a fitar o teto. — Ai que solidão, é tão ruim ficar tanto tempo sozinha! — suspirou pesadamente, sentou-se e descabelada, olhou para o enorme cão que por ali passava. — Ei, Hoshiko... — chamou o animal que passou a encará-la. — Venha aqui, vamos conversar! — sugeriu batendo sobre uma das almofadas encima do sofá, gesticulando para que o cachorro se sentasse ao seu lado. O animal a ignorou, seguindo o seu caminho. — Poxa, agora eu tô magoada... Mais cedo eu tentei socializar com os gatos, mas não deu muito certo... — analisou alguns dos arranhões nos braços. — E agora, nem o cachorro me deu moral? — inquiriu-se abatida e caiu deitada no sofá outra vez.

    Logo o relógio apontou às dezoito horas e quarenta minutos daquela segunda-feira de primavera e a jovem de cabelos róseos chegou a casa:

    — Tadaima! — a menina abriu a porta sorridente.

    — Okaerinasai! — a garota descabelada, toda arranhada, sem se levantar do sofá apenas olhou para cima no rumo da rosada que desfez o sorriso instantaneamente. Os olhos verdes arregalaram-se apavorados.

    — T-Tenten-san? — deixou a bolsa cair ao chão e correu até a amiga. — Céus, o que aconteceu com você? — engoliu a seco, tentando ajudar a outra.

    Poucos minutos depois, a menina de cabelos róseos foi até o banheiro, apanhou a caixa de primeiros socorros e voltou para o lado da morena, pondo-se a passar algodão embebido em álcool sobre as áreas arranhadas da pele da chinesa.

    — Ai... — resmungou com o primeiro contato do líquido com os arranhões. — N-Né, Sakura... Como foi o seu primeiro dia no trabalho? — questionou um pouco curiosa.

    — Foi maravilhoso! As crianças foram tão boazinhas comigo... — contou alegremente.

    — Hum... Que bom! Afinal, é complicado lidar com crianças travessas! Minha mãe que o diga... — sorriu recordando-se de sua vida em sua terra natal.

    Rapidamente, a rosada acabou de desinfetar os ferimentos da amiga e deu andamento aos próximos passos daquele procedimento, fazendo-lhe por fim curativos.

    Assim que terminou, foi até a cozinha para preparar o jantar e o tempo transcorreu-se veloz, chegando enfim às vinte horas e dez minutos da noite.

    As duas amigas que ainda faltavam, chegaram finalmente em casa. A loira abriu a porta notavelmente cansada, praticamente chutou os calçados para o canto da sala e jogou-se sobre um dos sofás:

    — Estou morta... Maldito seja esse horário de volta às aulas, a gente entra tarde, porém acaba saindo mais tarde ainda do serviço! — reclamou enfadada.

    — Tadaima! — pronunciou a garota de olhos aperolados, retirando os sapatos ainda na soleira da porta e guardando-os na sapateira posta ao canto.

    — Okaerinasai! — a rosada deixou a cozinha e seguiu até a sala para cumprimentar as amigas que haviam acabado de chegar.

    — E o pior nem é o horário que a gente sai... O verdadeiro problema é a quantidade de tarados que utilizam o metrô pela noite! — suspirou irritada. — Né, Hina, tinha um velhote nojento me bolinando... Ai que ódio! — confessou fula de raiva.

    — Que? Ele também estava bolinando você? — questionou surpresa. — Com a bengala? — completou horrorizada.

    — É... Da próxima vez eu vou pegar aquela bengala e enfiar-lhe naquele lugarzinho onde não bate o sol! — expôs com chamas nos olhos.

    — Ino-san, Hinata-san... O jantar está pronto, aliás, Tenten-san já está sentada à mesa! — avisou esboçando um leve sorriso.

    — Yay! Vou lá tirar a barriga da miséria antes que a Tenten-chan devore toda a comida... — a Hyuuga saiu correndo na direção da cozinha.

    — A Hina parece uma criancinha esfomeada... — a loira comentou levantando-se do sofá.

    — Sim, sim... Venha comer antes que esfrie! — a rosada gesticulou para que a outra também fosse para a cozinha.

    Assim, as quatro meninas rapidamente começaram a jantar e claro, como o habitual, conversaram sobre diversas coisas do dia a dia e em especial sobre aquela segunda-feira que havia sido o começo de suas vidas como universitárias.

    (...)

    Ainda cedo da noite daquela segunda-feira de primavera, o rapaz que ainda nem havia jantado, encontrava-se sentado sobre sua cama, recostado à cabeceira da mesma, enquanto fuçava em seu celular, ouvindo algumas melodias que iria estabelecer como novo toque para o aparelho.

    Todas as luzes de seu apartamento já estavam apagadas, pois sensível ao excesso de claridade devido à dor de cabeça que se agravara com o anoitecer, ele fora obrigado a se isolar na escuridão.

    Em um instante ele acabou por ouvir uma nostálgica canção, que o lembrara de alguns momentos marcantes de seu passado.

    Quase cinco anos atrás:

    A menina que parecia dançar ao ritmo da canção que tocava no piano daquela velha sala de música abandonada, ao fim da melodia abriu os olhos novamente:

    — Né, Sakura... Eu nunca lhe avistei tocar piano antes, nem nunca lhe ouvi tocando lá de casa! — comentou curioso.

    — Eu não tenho um piano em casa... Ao menos não na casa em que moro atualmente! — contou abatida.

    — Você toca muito bem... Poderia você, ser a minha professora de piano? — indagou esboçando um largo sorriso. — Prometo que serei um bom aluno! — avisou determinado.

    — B-Bom... Nós realmente podemos usar essa sala? — questionou receosa.

    — Claro! Todos podem, apenas não usam, pois não sabem de sua existência, ora! — respondeu tranquilamente.

    — Hum... Então por mim tudo bem! — aceitou um pouco acanhada.

    — Yoshi! Sakura-sensei, diga-me, qual a minha primeira lição? — inquiriu sentando-se ao lado dela no banco de madeira.

    — B-Bem, primeiro você precisa tocar... — mencionou timidamente.

    — Mas eu ainda não sei tocar! — o jovem contradisse confuso.

    — Não é para tocar uma música... É apenas para que sinta as teclas desse instrumento! — explicou suavemente.

    — Hum... — ele colocou suas mãos sobre as teclas e impaciente, deixou que o peso afundasse algumas teclas, ocasionando um grande barulho. — Uau... E essa foi a primeira canção tocada no piano por Uchiha Sasuke! — ironizou arrancando algumas gargalhadas da rosada. — Qual é? Você está rindo do meu talento? — inquiriu fingindo estar indignado com a atitude da menina.

    Entre conversas, risadas e algumas pequenas lições de música, aquela tarde findou-se rapidamente:

    — Nossa... Já está tarde, Sasuke-kun! — a menina comentou olhando para o relógio preso ao pulso do amigo. — Vamos embora! — levantou-se do banco e apanhou o lençol branco, jogado sobre uma cadeira qualquer daquela sala.

    — Sim! — o garoto pegou em uma das pontas do lençol e ajudou a rosada a cobrir o piano. Logo depois os dois deixaram aquela sala abandonada e puseram-se a caminhar, rumo para casa. — Né, Sakura... Eu falei sério quando pedi que me ensinasse a tocar piano, tudo bem? — questionou apreensivo.

    — Sim e eu o levei a sério, Sasuke-kun! Irei ensiná-lo pelo tempo que quiser... — sorriu docemente para o garoto e voltou a olhar para frente.

    — A-Arigatou, Sakura! — agradeceu corado e também se pôs a olhar para frente outra vez.

    De volta ao presente, assim que acabou aquela canção o rapaz emergiu de seus devaneios, colocou novamente aquela nostálgica melodia para tocar, deixou o celular sobre a cama e encolheu as pernas, abraçando-as.

    Embora sua dor de cabeça curiosamente já houvesse passado, ele decidiu que iria manter todas as luzes apagadas. Mas desta vez não era por sensibilidade, tampouco por causa de algum problema relacionado à luz.

    Na realidade, ele optara pela escuridão de seu apartamento naquele momento, para que refletido em algum lugar ele não avistasse, o que a frágil luz de seu celular revelava refletindo-se nas lágrimas que involuntariamente desprendiam-se de seus olhos negros. A última coisa que queria naquela noite era ver-se chorar.


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