Casos e acasos

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    Capítulo 6

    Capítulo VI: Casamento Mal-Assombrado #Arquivo 6

    Heterossexualidade, Linguagem Imprópria, Nudez, Sexo, Violência

    Capítulo VI: Casamento Mal-Assombrado

    #Arquivo 6

    – Por Paola Tchébrikov

    Depois de sair do quarto, Mai caminhou a passos lentos pelos corredores da mansão. Estava tão chocada, Naru tratava-a como uma qualquer, concordando com Masako e desprezando-a. Jamais aceitaria tal humilhação!

    Não teria expressado sua opinião se soubesse que daria naquilo. Não teria contado o sonho se soubesse que daria naquilo. Estava tão triste! Masako a tratara como uma qualquer e Naru confirmara as falas venenosas da médium.

    Respirando fundo e engolindo o choro, Mai saiu à procura da dona da mansão. Procurou nos  corredores, no saguão, na cozinha, mas não achava a mulher. Entre um corredor e outro acabou esbarrando com a filha da cozinheira, uma empregada entre tantas outras que havia na mansão.

                — Etoo… Sumimasen… — chamou atraindo a atenção da garota. — Você, por um acaso, saberia dizer onde a Hakuya-san está? — perguntou envergonhada.

                — Taniyama-san, Hakuya-sama está na biblioteca conversando com Yuki-sama. Vá até o final do corredor do segundo andar, encontrará uma porta vermelha, lá é a biblioteca que tem ligação direta com o escritório do Senhor Tôkio — instruiu fazendo uma respeitosa reverência e se retirando.

                — Quanta formalidade… — sussurrou para si mesma, dando de ombros e seguindo o caminho que a empregada informara.

    Sem muita dificuldade encontrou a porta indicada, e batendo, ouviu a voz calma e suave da mulher mais velha autorizar sua entrada. Hesitante, girou a maçaneta e abriu uma fresta da porta, pensando que talvez estivesse atrapalhando.

                — Mai-chan? — indagou Yuki, Mai suspirou abrindo por completo a porta da biblioteca, já estava ali, não tinha como voltar. — Que bom revê-la. Entre, entre, estávamos procurando um livro antigo.

    Assentindo, a menina entrou fechando a porta e se aproximou da cadeira de couro onde o homem estava sentado com um livro nas mãos, enquanto sua esposa estava em pé, ao lado da mesa, folheando um outro de capa vermelha.

                — Bem-vinda ao meu canto favorito da mansão, a biblioteca. — riu Hakuya enquanto falava. — Precisa de algo, Mai-chan? — fechou o livro que folheava e o colocou sobre uma enorme pilha na mesa.

                — Iie, Naru quem me mandou procurá-la para te fazer mais algumas perguntas — disse séria.

                — Você irá fazer? — perguntou a outra surpresa.

                — Não, hehe, não sou boa com perguntas. Naru quer pessoalmente te questionar — respondeu rindo sem graça.

                — Tudo bem, vamos — assentiu Hakuya.

                — Ele está na base — informou abaixando a cabeça.

                — Querida, você… não irá comigo? — perguntou curiosa, se aproximando de Mai.

                — Eu acabei de vir de lá — informou.

                — E… o que isso tem a ver? — perguntou tombando a cabeça para o lado.

                — Eu… só não quero ver ele agora — respondeu tristemente.

                — Por quê? — perguntou Yuki, colocando o livro que folheava sobre a mesa e se aproximando da menina.

                — Nós… tivemos um pequeno desentendimento hoje mais cedo — as lembranças de algumas horas atrás voltaram à mente da secretária.

    Havia tido um sonho estranho e acordara gritando, acordando também Naru, que dormia ao seu lado. Depois de explicar ao chefe que fora apenas um sonho, nada grave, recebeu dele um delicioso beijo de bom dia a lá Noll, que descobrira há alguns dias ser um ótimo amante.

    Depois da sessão de beijos, Mai se dirigiu à sua mala e tirou algumas peças de roupas, aproveitando que Naru estava no banheiro, se trocou ali mesmo e quando o chefe desocupou o banheiro, foi sua vez de ocupá-lo.

    Escovou os dentes forçando seus olhos a se manterem abertos e, quando fora pentear o curto cabelo, descobriu algo que não estava ali antes: uma marca roxa em seu pescoço.

    Aproximando-se do espelho, virou o rosto um pouco para o lado e fitou com insistência o círculo escuro e de um tamanho um pouco grande. Aquilo era… era….

                — Shibuya. Kazuya. é. bom. você. ter. uma. boa. resposta. para. a. minha. pergunta. — exclamou saindo do banheiro a passos duros e encontrando o chefe parado a olhando. — O. que. é. isso? — perguntou cerrando os dentes e apontando com o dedo para a marca bastante visível em seu pescoço.

                — Tenho certeza de que você sabe o que é — deu de ombros arrumando sua camisa.

                — Como ousa fazer algo desse tipo? — pergunta ela indignada.

                — Por que está tão indignada? É só uma marca deixada por mim, não gostou? — perguntou arrogante e sarcástico.

                — Naru. — chamou suspirando. — Como acha que vou esconder essa marca dos outros? — completou desesperada, Noll deu de ombros.

                — Quem disse que é para esconder? — Mai ergueu os olhos e fitou-o séria.

                — Você quer que eu saia mostrando para todos o que você fez em mim enquanto conversávamos deitados juntinhos numa cama de solteiro? — perguntou indignada.

                — Diga como quiser — deu de ombros.

                — Ah! Mas se você acha que pode fazer o que quer e se safar, está muito enganado, Naru! — comentou Mai irritadiça andando até sua mala, pegando algo e entrando no banheiro.

    Não daria esse gostinho de vitória a ele, nunca!

    Depois de segundos a garota saiu, vestindo uma regata preta de gola alta e sorrindo vencedora. Noll internamente amaldiçoou a blusa por acabar com sua diversão.

                — Enquanto fazia minha mala, eu senti que deveria incluir essa blusa — sorriu feliz e abriu a porta, saindo e sendo seguida por um Naru indiferente, mas que no fundo não gostara nada da solução rápida que a secretária arrumou para o problema.

                — E foi isso o que aconteceu — disse depois de narrar o fato da manhã; curiosa, Hakuya se aproximou da menina e puxou a gola da blusa para baixo, contemplando a marca escura em seu pescoço.

                — Uau! Isso foi feito intencionalmente — comentou Yuki, rindo da careta de Mai.

                — É, parece que o fato é verdadeiro, mas só isso não seria o suficiente para fazê-la não querer vê-lo — raciocinou a mais velha.

                — Na verdade isso não é nada. O problema é que hoje nós tivemos uma “discussão” na base — desabafou encolhendo os ombros.

                — Aí está o verdadeiro motivo. O que houve? — perguntou Hakuya preocupada.

                — Masako me disse algumas coisas horríveis e venenosas e o Naru apenas concordou com o que ela disse, como se fosse verdade, e ele sabe que não é! — desabafou com lágrimas nos olhos.

                — Óh querida, não chore! — pediu Hakuya, abraçando-a maternalmente.

                — Eu realmente não entendo o relacionamento de vocês. Em alguns momentos ambos parecem tão bem, em outros vejo você caminhando triste pela casa ou seus companheiros comentando que o chefe e a secretária não estão muito bem — disse Yuki preocupado.

                — Nós sempre fomos assim, discutindo e nos entendendo. Nos conhecemos numa noite, eu estava na sala de aula com minhas amigas contando histórias de terror e ele apareceu, nos assustando e encantando elas com sua beleza. — Mai sorriu diante da lembrança do primeiro dia que viu Naru. — No dia seguinte, por minha causa, uma de suas câmeras quebrou e o Lin se machucou, foi algo completamente inesperado. Depois disso passei a trabalhar no Instituto — deu de ombros.

                — Vocês são um ótimo casal. Apenas acontece de não concordarem em muitas coisas, mas não desista da sua felicidade, seja com ele, com algum outro cara ou sozinha. O que importa é que você seja feliz — comentou Yuki, sorrindo confiante em suas palavras.

                — Amor, você não está ajudando muito — Hakuya comentou segurando o riso.

                — É, não sou muito bom com palavras, mas sei que você é. Então vou para o meu escritório fazer meu trabalho e deixá-la animando essa menininha tristonha — deu um selinho na esposa, bagunçou o cabelo de Mai e entrou em uma porta que havia no escritório.

                — Ah! O que eu faço com ele? — perguntou Hakuya para si mesma suspirando.

                — Vocês são um casal perfeito, merecem um ao outro — comentou Mai admirada com o relacionamento do casal.

                — Sim, às vezes eu sinto que não sou boa o suficiente para o Yuki. Mas aí ele vem e fala que não poderia viver sem mim e eu acabo deixando esses pensamentos depressivos de lado — a mulher sorriu sem graça por estar contando coisas tão constrangedoras para a garota.

                — Não seja boba, Hakuya-san. Você é perfeita para ele — sorriu Mai encorajadora.

                — Mas e ele? Ele é perfeito pra você, Mai? — perguntou a outra mudando de assunto.

                — Não sei, sabe, Naru não é do tipo que precisa de alguém para viver. Ele é muito capaz sozinho — desabafou Mai.

                — Não querida, todos precisam de alguém para amar — confessou puxando a garota, pelas mãos, para sentar-se no pequeno sofá de dois lugares que havia no local.

                — Não Hakuya-san, Naru é do tipo que sempre acha um jeito de fazer tudo sozinho, ele não precisa de ninguém.

                — Não seja tão pessimista, pequena. — repreendeu delicadamente a mais velha. — Você verá, com o tempo, que ele não pode fazer tudo sozinho — sorriu amavelmente.

                — Mas já estamos trabalhando juntos há mais de um ano... — lamentou tristemente.

                — Ouça Mai: não importa quanto tempo leve, em algum momento ele notará que precisa de você. Acredite em mim, e quando isso acontecer, você se lembrará do que estou dizendo.

                — H-Hai, Hakuya-san — sorriu fracamente, recuperando sua autoestima.

    Depois da estimulante conversa entre a dona da mansão e a secretária do instituto, cada uma foi para um lado. Hakuya se dirigiu à base do grupo enquanto Mai se esgueirava pelos longos corredores da casa, novamente, perdida.

    Perdida não somente pelos corredores, mas também em seus próprios pensamentos. Pensava em tudo o que o casal Tôkio lhe dissera, estimulando-a a não desistir. É, talvez tivesse pensado em levantar a bandeira branca muito cedo!

    Afinal, apesar de ter tratado ela, naquela manhã, de forma mais rude do que o normal na frente dos companheiros de equipe, quando sozinhos, o chefe era realmente atencioso e, principalmente, carinhoso.

    Talvez ficar frustrada fosse criancice de sua parte! Naru estava tratando-a como sempre tratou! Talvez estivesse ficando mal-acostumada com o outro lado de Noll que conhecera ultimamente, aquele lado tão amável.

    Sim, era isso! Definitivamente estava mal-acostumada!

    Contente consigo mesma por ter resolvido o problema que tanto atormentava sua mente sem mais complicações, Mai decidiu esquecer os maus momentos daquela manhã e seguir para a base como se nada houvesse acontecido. Decidiu encarar o chefe como se ele não houvesse dito nada demais para si.

    Confiante de que estava fazendo o certo, Mai cerrou os punhos com os olhos brilhantes e sorriu para o vento, caminhando pelo corredor. Várias portas compunham o local; começando a desesperar-se, decidiu procurar por ajuda.

    Mas como? Estava em um corredor silencioso e vazio! Jamais acharia alguém ali…

    Suspirando, decidiu fazer a única coisa que poderia ser feita: procurar dentro daqueles quartos.

    Apressada em achar ajuda e culpada por estar “futucando” na casa de outras pessoas, abriu a primeira porta, encontrando um quarto de hóspedes com um pequeno guarda-roupa, cama e escrivaninha. Seus olhos vagaram pelo local, observando tudo de forma atenta. Tendo certeza de que não havia ninguém ali, fechou a porta e continuou procurando ajuda.

    Abriu várias portas até descobrir a realidade que lhe assombrou: não havia ninguém por aquele lado da mansão.

    Sem desistir, abriu mais uma porta e se espantou ao descobrir que não era mais um quarto de hóspedes, e sim uma sala com vários objetos diferentes que pareciam estar esquecidos e abandonados. Curiosa, deu alguns passos para dentro do quarto e se aproximou de algumas caixas num canto.

    Hesitante, aproximou suas mãos de uma das caixas e abriu-a, vendo apenas vários livros que, quando abriu, descobriu ser álbuns de fotos.

    Em um deles havia várias fotos de Hakuya quando menor. Os longos cabelos loiros presos em tranças e os olhos grandes e infantis brilhando, acompanhando o sorriso alegre. Parecia uma criança feliz e despreocupada com o mundo.

    Pegando outro álbum, contemplou Yuki com uns seis anos, de braços cruzados e fazendo biquinho de forma infantil. Os cabelos ruivos espetados e as roupas de frio indicavam que talvez a foto fora tirada no inverno.

                — Tão fofo! — pensou Mai sorrindo.

    Guardando de volta ambos os álbuns, Mai dirigiu seus olhos para a caixa ao lado. Algo dentro de si insistia que ela deveria abri-la, deixando a garota indecisa: seguia seus instintos e abria a outra caixa ou seguia sua educação que gritava que bisbilhotar as coisas dos outros era feio?

    Alguns segundos depois tomou sua decisão. Mesmo que não tivesse habilidades honrosas como as de Masako, ou poder suficiente para enfrentar espíritos como Bou-san, várias vezes seus instintos ajudaram nos casos. É, talvez a conversa com o casal dono da mansão houvesse a ajudado a recuperar sua autoestima.

    Confiando em si mesma, abriu a segunda caixa, uma exclamação de surpresa saiu de seus lábios ao ver o que havia dentro: o colar com o enorme pingente de coração que vira em seus sonhos. Lentamente pegou-o da caixa e levantou-o, podendo ver o vermelho tão bonito do coração, que parecera ter permanecido intacto perto do cordão que estava enferrujado.

    Seus olhos brilharam em admiração diante de tal beleza, o vermelho da joia era tão envolvente que lhe fascinara. Mas todo o encanto fora quebrado pelo som de passos, rapidamente ela pôs o objeto no bolso da saia e fechou a caixa, caminhando até a porta e saindo, encontrando a cozinheira que caminhava em sua direção.

                — O que faz por aqui, Mai-san? — perguntou a senhora velha encarando-a com doçura.

                — Estou completamente perdida — comentou sorrindo sem graça por alguém descobrir que se perdera.

                — Oh, isso sempre acaba acontecendo! — sorriu a mulher, divertida. — Venha, vou deixá-la em um lugar onde não se perderá novamente — e virou-se, andando pelo caminho que havia vindo, sendo seguida de perto pela Taniyama.

    Viraram vários corredores e até desceram uma pequena escada, eram tantas portas que Mai começou a duvidar do tamanho daquela casa.

                — É fácil se perder por aqui — comentou Mai casual, fitando com admiração os vários quadros pendurados na parede.

                — Sim, minha filha se perdia muito no início. Só se acostumou depois que lhe dei um mapa da mansão. — riu a velha ao terminar de dedurar a filha. — Bem, chegamos à entrada da casa, acho que agora não se perderá mais — sorriu fracamente.

                — Também acho, obachan — riu Mai acompanhando a mulher.

                — Ja ne Mai-san — comentou virando-se e caminhando para longe da garota.

                — Mata ne — despediu-se Mai vendo a senhora entrar por uma porta.

    Suspirando aliviada, Mai caminhou na direção da base, onde provavelmente os outros membros do SPR estavam. Chegando à porta do quarto, ela pôs a mão no bolso, por cima do pingente, decidida a mostrar a Naru o que descobrira.

    Confiante, girou a maçaneta da porta e abriu-a, dando um passo à frente. Seus olhos se arregalaram levemente ao ver Naru sentado na poltrona na mesma posição de quando ela saíra, com Masako ao seu lado, meio inclinada na direção do chefe e Hakuya sentada em um dos sofás ao redor da mesa, onde vários papéis estavam espalhados.

    A mão que estava sobre o bolso onde o pingente se encontrava escorregou, ficando ao lado do corpo, havia se esquecido completamente do fato de que Naru não sabia sobre seu sonho, não poderia simplesmente chegar mostrando o pingente que, tecnicamente, pegara escondido, como se fosse a solução certeira do caso.

                — Mai-chan. — chamou alegremente Hakuya. — Venha, venha. Sente-se ao meu lado — pediu batendo no espaço vago ao seu lado.

    Fechando a porta, Mai caminhou com a cabeça baixa até a mulher e sentou-se ao seu lado, sendo abraçada de lado e sua testa beijada de forma carinhosa.

                — Por que demorou tanto para chegar? — perguntou Hakuya, preocupada e irritada.

                — Eu… me perdi — assumiu envergonhada, escondendo o rosto no peito da mulher.

                — Óh, isso é normal por aqui! — exclamou a mais velha sorridente. Naru não conseguia tirar os olhos da secretária, enquanto Masako se irritava cada vez mais, achara que a garota não voltaria tão cedo! — Parece que a sessão de perguntas acabou — refletiu incerta.

                — Sério? E sobre o que ele perguntou? — questionou Mai como se o chefe não pudesse responder por si mesmo.

                — Perguntou sobre o nosso casamento, se havia algo de estranho e outras coisas, mas parece que as informações não foram de grande ajuda — comentou ela tristemente.

                — Não se preocupe, Hakuya-san. Iremos resolver o caso e então poderá desfrutar o máximo de seu casamento — encorajou Mai, arrancando um sorriso feliz da mulher que abraçou-a fortemente, surpreendendo ainda mais aos telespectadores da cena.

                — Uau! A Mai-chan fez realmente bastante amizade com a dona da mansão — refletiu Bou-san interessado.

                — Ela sempre conquista a atenção de todos — lembrou Ayako cruzando os braços.

                — Humpt! — bufou Masako, virando o rosto para o lado contrário, Naru simplesmente voltou seus olhos aos papéis que lia.

    Muitos minutos mais tarde, depois que Hakuya-san se retirou informando que precisava terminar de procurar um livro na biblioteca da mansão, os membros do SPR se sentaram confortavelmente nos sofás que havia na base e, levantando-se, Mai informou que iria fazer chá e se retirou, andando calmamente até a cozinha.

    Ao chegar no cômodo, encontrou-o vazio. Não havia nem mesmo a cozinheira; bem, talvez ela houvesse ido comprar algum ingrediente para o almoço que logo seria servido.

    Dando de ombros, Mai se aproximou da pia já com a chaleira que pegara no armário em mãos e foi enchê-la, mas, ao sentir braços fortes envolverem sua cintura, assustou-se e deixou-a cair, derramando a água na pia.

                — Se molhou? — perguntou a pessoa em seu ouvido, sussurrando. O hálito quente batendo contra sua orelha arrepiou-a, imediatamente reconheceu tal voz.

                — Na-Naru. — sussurrou aliviada, colocando a mão sobre o peito, onde seu coração batia descompassado. — Você me assustou — confessou.

                — Não foi minha intenção — comentou Naru, apertando-a mais entre seus braços.

                — O que faz aqui? — perguntou fechando a torneira que, pelo susto, deixara aberta.

                — Vim ver como você está, não posso? — perguntou ele arrogante, uma veia saltou na testa de Mai.

                — Poder pode, mas não vejo motivo para tamanha preocupação — disse desviando seus olhos para baixo.

                — Por que está tão evasiva? — perguntou Naru sem rodeios.

                — Quem sabe? — respondeu com uma pergunta incerta e vazia. Irritado, o rapaz, num único movimento, virou-a, pressionando-a entre seu corpo e a pia.

                — O que há com você? Parece irritada — comentou ele, levantando o queixo dela com sua mão, fazendo-a encará-lo.

                — Não estou irritada — defendeu-se cerrando os olhos.

                — Mesmo? — perguntou aproximando seus rostos a ponto das respirações se misturarem.

                — Me-Mesmo — gaguejou ela.

    Decidindo que agora era o melhor momento, Naru acabou com a distância entre os rostos tocando seus lábios nos de Mai suavemente e fechando os olhos. Lentamente passou sua língua sobre os lábios dela, convidando-a a participar da carícia.

    Entregando-se por completo ao momento, Mai fechou os olhos, rodeando seus braços no pescoço do chefe e entreabrindo seus lábios, aprofundando o beijo ao tocar sua língua na de Naru.

    O beijo fora lento e provocante, cessando-se quando os pulmões pediram, desesperadamente, por ar. Afastaram centímetros os rostos, os olhos se abrindo e se fitando com insistência, o brilho da luxúria refletido nos olhos cobaltos de Naru, prometendo, silenciosamente, que em outro momento continuariam de onde pararam.

    Sem pronunciar mais nenhuma palavra, Naru se retirou. Sabia que precisavam conversar, que Mai necessitava de diálogos para expressar-se e entender os outros, mas o momento não era oportuno e precisava terminar o mais rápido possível aquele caso antes que algo realmente ruim acontecesse com seus funcionários ou com os clientes.

    Satisfeito com o contato que teve minutos atrás com sua secretária, Naru entrou na base onde seus funcionários estavam. O primeiro par de olhos a fitá-lo foi o de Masako, que tinha em mente que Naru havia ido atrás de Mai, quando dissera que iria pegar algo em seu quarto.

    Não gostava e não aceitava tal situação. Jamais aceitaria que Naru fosse de Mai. Não, ele seria dela e somente dela, nada mais importava.

                — Naru-chan — chamou o monge sentado no sofá com alguns papéis nas mãos —, tem alguma ideia do que aquele fantasma louco quer?

                — Estou tentando descobrir, mas não vejo nada que possa significar o coração dela — confessou caminhando até sua poltrona e sentando-se.

                — Ela não é um espírito comum, não está presa à casa. Como poderia se prender a um casamento? — questionou Ayako duvidosa.

                — Não estaria tentando descobrir se soubesse — comentou Naru, pegando alguns dos papéis sobre a mesa e analisando-os.

    Ayako rapidamente ficou furiosa com a resposta e começou a dizer coisas sobre boas maneiras. Bou-san questionou algo dito pela miko e irritou-a, virando alvo de sua irritação. Yasuhara ria vendo John tentar acalmar a discussão, enquanto Lin continuava digitando algo no notebook, coisa que fazia quando Naru entrou e Masako ficou lá, observando o chefe trabalhar sem nem mesmo piscar.

    Minutos se passaram e o clima no cômodo continuava o mesmo, pareciam estar todos acomodados e sem preocupações em mente. Aproveitavam o momento de reflexão até a porta ser aberta e por ela entrar a cozinheira principal, respirando com dificuldade, ofegando e gotas de suor escorriam de seu rosto.


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