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- "Catherine! Catherine? Está me ouvindo?
Como é, essa sensação de estar e não estar aqui?"
Seis dias antes do ocorrido...
Noite frio céu escuro, e lá estava ela, bela e misteriosa Catherine. Do jeito que estava imóvel sentada em cima de um dos túmulos, parecia uma boneca, e tamanha era sua delicadeza, não importava o quão inusitado fosse o cenário, os olhares direcionavam-se a ela, e somente a ela.
De pé, ao seu lado, estava eu, seu mordomo, protegendo-a, simultaneamente contemplando sua beleza. Em segredo eu a amava, talvez não fosse um segredo para ela, de qualquer forma eu não tenho chances.
É uma bela dama, sua família possui muitos terrenos, a qual ela é herdeira. Mas isso não vem ao caso, está ventando muito, e a saúde de Catherine é frágil, é algo que tenho a zelar.
Luke (pondo uma de minhas mãos nas costas de Catherine): Venha, vamos entrar.
Eu apresentava um sorriso, e ela concordou, e foi andando na frente.
Entramos, e em seguida, ela subiu até o segundo andar, deu-me um sorriso, logo iria dormir. Naquele dia, não faria o mesmo, ao menos não tão cedo. Dei continuidade aos afazeres não concluídos, como por exemplo, organizar a biblioteca. Posicionei a escada em frente a uma das estantes de livros, e comecei a organizá-los em ordem alfabética; Catherine tem o hábito de ler e colocar o livro em qualquer lugar, de qualquer forma, desrespeitando gênero e classificação. Mesmo não olhando o relógio, percebi que horas haviam se passado.
Em um determinado momento, peguei um livro estranho, nunca havia reparado sua existência! Teria Catherine saída às escondidas até o mercado, próximo a mansão? Guardei essa dúvida para mim, e continuei a organizar.
Por curiosidade, isolei o livro dos demais, para mais tarde analisá-lo.
Tarefa concluída tempo livre e ainda são dez horas, o que significa que posso cuidar um pouco da minha vida.
Peguei o livro que havia separado, sentei-me na confortável cadeira, de frente para a lareira, e comecei a folhear aquelas páginas amareladas, o livro tinha um aspecto de antigo. Minha mente não acompanhava o que meus olhos captavam... Por mais que eu lesse aquilo, era incapaz de compreender. Palavras sem sentido? Não, aquilo me parecia magia negra... Vindo de Catherine, não me surpreendi. Devolvi o livro para a estante, mas as dúvidas permaneciam comigo. Quando me dirigia a meu quarto, lembrei-me de que tinha de me desfazer de restos alimentares. Fui até a cozinha, peguei as sacolas e fui até o cemitério, local onde nos livramos do lixo, e de qualquer outra coisa inútil. Peguei uma pá, e comecei a cavar um buraco; concluído o trabalho, retornei a casa.
Já não tinha mais o que fazer, novamente estava indo até meu quarto, quando ouço passos. Olho para trás, e vejo Catherine parada nas escadas, com a mão no corrimão. Estava com a camisola manchada de sangue, imediatamente corri até ela.
Luke (segurando a ponta de sua camisola): Catherine, o que aconteceu?
Bati a perna em um prego da escrivaninha, ele estava solto e não havia percebido... Ela me disse, com a mão em minha cabeça, deu-me um sorriso, ou melhor, tentou, pois a dor estava evidente...
Luke (fazendo com uma expressão séria): Fique na cozinha. Improvisarei outra roupa, e lhe farei um chá.
Ela começou a rir, eu não entendia o porquê.
Catherine: Desculpe, mas é que...você se importa tanto comigo...parece até o meu pai!
Ela justificou. Justificativa essa que não gostei, mas como sempre, disfarcei minha irritação com tais comentários.
Luke (sorrindo): Fico feliz pela comparação! Esforço-me ao máximo para agradá-la, Catherine.
Complementei. Ela me encarava, com aqueles enormes olhos pretos... Dei as costas a ela, e fui fazer o que havia prometido.
Voltei e ela estava de pé em frente ao fogão.
Luke: Catherine, eu...
Catherine (interrompendo enquanto eu falava): Eu sei, mas você parece tão cansado, por isso, resolvi eu mesma preparar o chá, afinal não sou paralítica...
Ela estava sorrindo, mas sua perna ainda sangrava...
Luke (lhe disse, estendendo um vestido azul): Tudo bem, vá vestir isso enquanto eu sirvo seu chá.
Catherine (correndo): Obrigada, volto já!
Gritei um: "Cuidado com a perna!", mas acho que ela não ouviu.
Peguei uma xícara, e lhe servi o chá. Coloquei um bolo na mesa, caso ela estivesse com fome.
Catherine (sentando-se à mesa): Pronto!
Em questão de poucos segundos, ela se virou a mim e disse.
Catherine: Não vai juntar-se a mim?
Fiquei sem reação. Onde já se viu, um mordomo acompanhando sua Dama em uma refeição?
Luke (olhando para o chão): Isto é inadequado. Agora se me permite, vou me retirar.
Catherine (um pouco brava): Não permito e ordeno que tome chá comigo.
Por ser uma ordem, não pude questioná-la. Sentei-me de frente para ela, que me servia uma xícara de chá.
Catherine (sorrindo): Aqui está, e coma bolo também!
Nem parecia que havíamos nos desentendido...
Mesmo desconfortável, a acompanhei naquela refeição fora de hora. Eis que terminamos, levantei-me e recolhi as xícaras e os pratos.
Catherine: Obrigada, queria aproveitar para fazer um convi...
Ela estava me dizendo, quando quase caiu, e por sorte, apoiou-se na mesa.
Luke: Catherine! Assim você me obriga a ter de carregá-la.
Então, a peguei no colo, e subi as escadas. Deitei-a em sua cama.
Catherine: Obrigada, durma bem, Luke.
Ela disse... disse também o meu nome, pensei que não soubesse...
Luke (lhe surpreendi): Boa noite, Catherine. Amanhã chamarei um médico para examinar sua perna, afinal o prego esta aí, não?
Catherine: C-Certo...
Logo depois, ela virou-se para a parede. Quando estava indo em direção a porta, notei manchas de sangue no chão; devem ser da perna dela... não fazia idéia de que fosse tanto sangue! Logo, penso: "Como ela pode estar bem?". Como não havia mais o que ser feito naquele dia, fui dormir.
O dia seguinte prometia ser bastante agitado...