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Este é o segundo capítulo de cinco. Aproveitem.
A trilha de cerveja começava na cozinha, com os cacos da garrafa quebrada na noite anterior, e estendia-se pelo corredor até a sala do apartamento , onde os dois passaram a maior parte do tempo da madrugada, bebendo e assistindo a filmes pornôs leves que passavam aleatoriamente na televisão. Daí em diante uma nova trilha começa: de roupas. Meias, calças e shorts, camisas e blusas, sutiã, calcinhas e cuecas já na beira da cama.
Aos poucos, o homem abre os olhos, coça-os e logo consegue ver o ventilador no teto girando devagar, quase parando. Sentou-se e coçou a cabeça, ainda sentia um latejo, mas não se lembrava o que houve. Viu suas roupas no chão, vestiu-as, foi à cozinha. - Luiza? Ainda está aqui? - perguntou, mesmo sabendo que não obteria resposta. Abriu a geladeira e procurou por uma cerveja, a última sobrevivente, bebeu-a dum gole para aliviar a ressaca e saiu de casa sem ideia de para onde ir.
Luiza ajeitou o cabelo, que pendia para frente pelos dois, jogando-a para trás; mas, insatisfeita, jogou-o para o lado esquerdo de sua cabeça enquanto analisava o cardápio da lanchonete. - Vai querer alguma coisa, moça? - questionou a garçonete. Pega de surpresa, a mulher tomou um leve susto ao vê-la parada em sua frente , retornou os olhos ao cardápio e pediu:
- Um café, por favor.
- Açúcar ou adoçante?
- Adoçante. - A garçonete fora buscar seu pedido, enquanto isso, pôs-se a olhar pela janela, não a procura de algo ou alguém, mas apenas por olhar sem olhar os carros passando na rua, os pedestres caminhando e toda uma vida acontecendo fora dali.
Ela morria de dor de cabeça, agora se lembrara o porquê de nunca beber, morria de medo da ressaca e, agora, ali estava: cheia de olheiras, cabelo bagunçado, roupa amassada e morrendo na mesa daquela lanchonete. Além de tudo isso, as memórias da noite assombravam-na sem parar.
- Luiza? - Ouviu seu nome e logo identificou quem a chamava. - Não sabia que frequentava aqui.
- Ai, agora não, Lucas. - resmungou revirando os olhos.
- Ei, que houve? - O homem sentou-se na cadeira à frente da mesma mesa da mulher. Ao mesmo tempo, a garçonete voltou com o café.
- Desculpe-me a demora. Você vai querer algo, senhor? - perguntou ao vê-lo sentado.
- Uma tigela de cereal, por favor.
- Argh! Você realmente precisava aparecer? - Após a reclamação, levantou-se bruscamente da mesa, colidindo com a garçonete e saindo sem levantar os olhos do chão.
- Desculpe-me, moça, ela só está passando por uns tempos difíceis. - desculpou-se com a funcionária que suspirou e voltou-se ao homem.
- Tudo bem? Ainda quer o cereal? - Ele olhou ao redor, apenas para se orientar em pensamentos, não à procura de algo. Arrastara a xícara de café para si mesmo e tomou um gole, decidira que seria melhor dar um tempo a ela.
- Por favor. - respondeu.