O Cheiro da Lua

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    12
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    Capítulo 2

    Melhor amigo até quando?

    Heterossexualidade, Sexo

    Boa Leitura.

    Quando dei por mim, eu já estava chorando em seus braços. Lágrimas escorriam enquanto Bryan me abraçava, reconfortando-me em seu peito. Eu me sentia fraca, e mesmo assim eu não me importava porque sabia que ele me protegeria... Bryan me passava segurança.

    Nunca pensei que pudesse chorar tanto e quando achei que tinha acabado, um novo soluço fez tudo vir à tona mais uma vez... Pensar em como minha vida estava se despedaçando.

    Bryan não disse nada o tempo todo, só ficou ali, fazendo um cafuné na minha cabeça... Era só o que eu precisava naquele momento, alguém que se preocupasse comigo sem fazer um questionário.

    Finalmente as lágrimas pararam e então a vergonha veio com força total, sentia-me exposta e frágil, pensei em fugir de tudo: de minha vida, de meu dom, de minhas amigas, de Bryan... Por que ele era tão especial para mim? Meu coração se apertou no peito, eu queria erguer a cabeça e olhar em seus lindos olhos, porém o medo me fez encolher e esperar, esperar que algo acontecesse.

    Mordi o lábio com força e só parei quando ouvi sua voz, estava baixa e calma.

    - Está se sentindo melhor?

    - Uhum. - um som baixo saiu da minha boca.

    Ficamos mais um tempo em silêncio até que tive coragem de me afastar um pouco para encará-lo. Seus olhos demonstravam força e ao mesmo tempo preocupação.

    - Eu estou bem, de verdade. - dei um meio sorriso.

    - Você não precisa mentir. - passou os dedos pela minha bochecha. - Eu me preocupo demais com você, sabia?

    Assenti devagar sem tirar os olhos dos dele. Estava hipnotizada e começava a ficar embriagada com seu aroma doce.

    - E desde que Judely morreu.. Você tem se isolado e sei que anda sofrendo sozinha. - pude sentir tristeza em sua voz. - Eu gostaria que você confiasse em mim como antigamente.

    Seria tão fácil se meus problemas fossem só a morte da minha tia.

    - Sinto muito. - fitei o chão por um instante, depois voltei a olhá-lo. - Não é que eu não confie em você, é só que estou tão confusa depois de tudo o que aconteceu que eu... Não sei nem o que estou falando agora.

    Era verdade... Minha mente estava girando, brincando comigo, fazendo-me misturar o real com a ficção. Sentia-me dividida, parte de mim queria falar tudo e deixar rolar, enquanto a outra parte queria se fechar, ignorar tudo e todos.

    - Não precisa ser hoje. - comentou suavemente. - Mas um dia teremos de conversar... Sobre tudo isso.

    Concordei com a cabeça, depois senti um arrepio ao pensar que daqui a pouco ele iria embora e eu ficaria sozinha, abandonada. Quão fraca eu estava me tornando?

    - Kristine, você não é fraca, se é o que está pensando.

    Como ele fazia isso? Minha tia lhe deve ter ensinado, ela era mestra em adivinhar o que se passava na mente das pessoas, ou só na minha. Um alívio percorreu meu corpo quando o barulho de chuva ecoou pela sala.

    Ambos olhamos para a janela, chovia forte e parecia que ventava também. Voltei a fitá-lo, ele ainda olhava para a janela, seu maxilar estava tenso... Bryan queria pedir para ficar, mas tinha medo da minha reação. Talvez eu também soubesse ler a mente das pessoas, ou só a dele.

    - Acho melhor você ficar por aqui essa noite.

    - Você tem certeza? Eu posso esperar a chuva passar e...

    - Nós dois sabemos que essas chuvas demoram pra passar e já está bem tarde. - interrompi-o e levantei puxando-o pela mão. - E eu já estou com sono, você também deve estar.

    Ele não disse nada, mas me seguiu, parei em frente a porta do quarto da minha tia. Ela era tão importante para mim quanto para ele, não poderia fazê-lo dormir ali. Voltei a caminhar e entrei em meu quarto, ele não parou nem argumentou nada, mas pela mudança em sua respiração, eu sabia que Bryan queria falar algo.

    - Como você não cabe no sofá, achei melhor deixar você dormir na minha cama e eu fico lá.

    Virei-me, ele estava cabisbaixo e mordia o lábio, Bryan sempre fazia isso quando não sabia como reagir. Uma vontade enorme de beijá-lo aqueceu meu corpo, abracei-me e juntei minhas últimas energias para passar por ele e sair.

    Entretanto, assim que pisei fora do quarto, ele me puxou pelo braço grudando-me ao seu corpo e eu simplesmente cedi. Enterrei a cabeça em seu peito sentindo seu cheiro inebriante, seus braços fortes me cercaram, puxando-me gentilmente contra si. Com ele era sempre assim, primeiro ações e depois palavras... Dava tão certo com a gente.

    Afrouxou o abraço, eu me afastei um pouco para que começássemos a conversar, só que ao invés de dialogar, Bryan colocou seus lábios nos meus, sem resistência alguma, abri a boca para que pudéssemos aproveitar o máximo... A verdade era que eu ainda era loucamente apaixonada por ele e eu não iria deixar meu orgulho interferir nisso, não dessa vez.

    Em instantes, eu estava nas pontas dos pés, enlaçando seu pescoço e beijando-o ardentemente, como resposta, ele me segurava pela cintura e me beijava com paixão, às vezes soltava minha boca para beijar meu pescoço e arrancar leves gemidos de mim.

    Eu já estava arfando quando deitamos na cama, ele continuava a me beijar tomando cuidado para não colocar todo seu peso em cima de mim, Bryan era tão sutil e ao mesmo tempo tão intenso.

    - Kristine... - parou de repente.

    Abri os olhos e o vi fitando-me com tanto carinho, e eu devia estar parecendo uma tola olhando-o com tanto amor.

    - Nós precisamos parar... Vamos ter de conversar sobre isso... Uma outra hora. - afirmou, seu tom de voz era de insegurança.

    Não disse nada e só concordei com a cabeça, tinha medo de que se abrisse a boca, eu choraria mais uma vez ou diria alguma coisa que eu ainda não tinha certeza, como um eu te amo... Uma frase tão forte que pode tanto curar como ferir alguém.

    Fechei os olhos e senti seu corpo tombar ao meu lado, passaríamos a noite juntos... Era o que eu desejava desde o começo, só não tive coragem de admitir antes. Feliz ou infelizmente, a cama de solteiro não era muito pequena, e com uma garota baixinha como eu, conseguimos dormir com uma pequena distância entre nós, se bem que não sei ao certo se dormi e acordei algumas vezes, ou se dormi e sonhei o tempo todo.

    *

    Não é normal eu acordar cedo em um sábado, eram apenas sete da manhã e eu já estava sentada no sofá da sala olhando para a janela, dava para ver que ventava pela movimentação das folhas secas, que deveriam estar no chão.

    Respirei fundo, tentando não imaginar o que poderia ter acontecido ontem entre mim e Bryan. Abracei-me devagar, massageando os braços, eu queria estar na cama para sentir o calor de seu corpo. Balancei a cabeça, estava acontecendo de novo, parece que meus hormônios estão em alta e prontos para uma revolução.

    Fecho os olhos e como se fosse um filme, relembro o momento em que acordei... Ele estava com a respiração normal, o rosto suave virado para mim, o cabelo levemente desarrumado, o braço direito e parte das costas descobertos - tudo me deixava com vontade de tocá-lo e de beijá-lo.

    Saio do transe ao sentir um gosto leve de sangue na boca, senti meus lábios sensíveis e por um breve instante quis que eles estivessem inchados como consequência dos beijos de Bryan.

    O que estava acontecendo comigo? Antigamente quando eu me transformava, o máximo que ocorria era uma leve ampliação dos meus sentimentos e um aumento de todos os meus sentidos - audição e olfato, principalmente - isso costumava durar dois ou três dias.

    Agora eu estou parecendo uma daquelas garotas da faculdade que vivem no cio. Tudo está tão intenso e fica ainda pior quando sei que já tive, e talvez ainda tenha, uma paixão por Bryan. Isso torna complicado pensar no beijo de ontem, já que eu gostei e quero mais, porém eu não sei se estou pensando assim por causa da transformação de ontem.

    E fico mais confusa ao pensar se quero ou não que a minha parte animal esteja interferindo. Se ela estiver, saberei que com o tempo conseguirei esquecê-lo, mas se a mesma não estiver, eu devo seguir meu coração e me entregar a ele ou me afastar dele visto que nunca poderei contar sobre a minha espécie?

    Abro os olhos devagar, continua ventando lá fora, jogo a cabeça para o lado e vejo meu celular jogado no chão. Estico o braço e o pego, notando que há uma mensagem de Vivian que dizia:

    ?Como assim a Jennifer te viu na rua só de casacão?! Me liga agora!!!?

    Tanta coisa acontecera ontem que já tinha até esquecido sobre esse incidente com a Jennifer, li mais uma vez a mensagem, provavelmente toda a parte nobre da cidade já deve estar sabendo da minha vestimenta de ontem. Jogo o celular na almofada, não estou no clima para ligar para a Vivian, levanto do sofá e vou até a cozinha, apoio-me de costas na mesa ficando de frente para a pia.

    Lembro-me do dia em que Bryan me colocou em cima da mesma enquanto me beijava. Um sorriso surgiu, porém logo desapareceu... Era duro querer fazer tudo aquilo de novo e mais um pouco, mesmo sabendo que talvez nunca daria certo.

    Kristine, eu sei que você o ama e que também é fiel as regras, porém eu não quero que você sofra... Então, talvez nós possamos ajeitar um pouco as coisas.

    Tia Ju nunca me explicou o que era ?ajeitar as coisas?, fico pensando agora se algum dia eu vou entender, porque eu queria muito, neste momento, arrumar as coisas. Solto um longo suspiro e jogo a cabeça para trás.

    Ouço um barulho e o reconheço como sendo o rangido da porta do meu quarto se abrindo, inspiro fundo e sinto o aroma de Bryan se aproximar. Desapoio-me da mesa e caminho até a geladeira, abrindo-a e pegando queijo, presunto e leite para fazer o café da manhã.

    - Bom dia. - ele sorriu de leve e se manteve perto da mesa. - Você parece animada hoje!

    Dou um grande sorriso, realmente eu estava feliz, provavelmente, por poder visualizar a figura deslumbrante que era Bryan pela manhã... Ele consegue ser lindo até quando acabava de acordar.

    - Bom dia. - respondi enquanto pegava pão e a toalha de mesa.

    Assim que percebeu o que eu estava fazendo, Bryan me ajudou a colocar a toalha e depois colocou tudo em cima da mesa.

    - Pensei que ainda estivesse dormindo. - brinquei, sentando-me na cadeira.

    - Eu também achei que estivesse. - ele riu e se sentou na cadeira a minha frente. - Mas sabe como sou cavalheiro e não aguento ver uma garota fazendo tudo sozinha.

    - Você e seu cavalheirismo.

    Mostrei-lhe a língua e como resposta recebi um sorriso tão lindo que quase derreti, arrumei-me na cadeira e voltei a atenção ao meu lanche, que ainda estava sendo preparado. Assim que começamos a comer, ficamos em silêncio.

    Parte de mim queria iniciar uma conversa, mas a outra temia o assunto que poderia ser - aquilo que Bryan disse que precisávamos conversar. No fim, nenhum dos dois ousou dizer nada, o clima estava um pouco tenso e não dava sinais de que melhoraria logo.

    *

    Bryan estava lavando a louça de hoje e de ontem e eu a estava secando e guardando, não que fosse muita coisa, mas era melhor do que se ficássemos sentados na mesa se encarando sem dizer nada.

    Agora, pelo menos, trocávamos alguns sorrisos e olhares embaraçosos. Controlava-me para não fazer algo indecente, porque minha mente já estava imaginando coisas bem safadas. Respirei fundo, de repente parei de ouvir o barulho da água.

    - Terminei. - ele secou a mão em um pano de prato. - Quer ajuda?

    Assim que ele me fitou, desviei o olhar sentindo as bochechas esquentarem.

    - Não... Só falta esses talheres. - aumentei o ritmo da tarefa.

    - Então... Eu vou te esperar na sala.

    Ele se virou e saiu, foi só aí que percebi que minha respiração estava irregular. Fechei os olhos para tentar acalmar o pulso, depois os abri enquanto me concentrava em secar a louça.

    Após cinco minutos, eu estava indo até a sala, um pouco ansiosa por conversar com Bryan no meu sofá. Balancei a cabeça antes de entrar, deparei-me com ele olhando o único porta-retrato que havia na sala.

    Sentei ao seu lado e observei a foto - eu e Bryan pequenos, com uns dez anos, abraçados a minha tia - tive uma sensação tão gostosa ao ver o grande sorriso brilhante dela.

    - Eu ainda estou preocupado com você, sabia?

    Sem tirar os olhos do retrato, ele o colocou na mesinha de centro e só depois ajeitou-se no sofá para me observar.

    - Eu sei. - respondi cabisbaixa. - Eu não sabia que estava agindo de forma tão estranha.

    Era mentira, eu sabia sim, só não queria envolvê-lo no meu complicado mundo.

    - Tudo bem se a gente conversar sobre isso agora? - ele pegou minha mão e começou a fazer um carinho suave nela.

    Carinhoso. Essa era uma das qualidades que eu apreciava tanto em Bryan.

    - Acho que já está na hora de eu conversar sobre tudo isso com alguém. - ainda não olhava em seus olhos. - E você é a pessoa que eu mais confio e talvez o único que vá me entender.

    Tomei coragem e olhei em seus olhos, se não estivéssemos falando de algo tão sério, eu estaria hipnotizada pelo caramelo de seus olhos e logo estaria tentada a beijá-lo.

    - Quão estranha eu estou agindo? - perguntei tentando me concentrar em sua face, não só em seus olhos ou sua boca.

    - Deixa eu ver... Você anda bem anti-social, quase sempre está no mundo da lua e ontem você começou a chorar sem dizer nada. - ele ainda fazia carinho em minha mão. - E até agora você não me disse o que aconteceu ontem.

    Você se refere a hora em que eu chorei nos seus braços? Ou a hora em que nos beijamos? Não que eu ache que eu seja capaz de responder qualquer uma delas agora.

    - Você comentou com as meninas sobre o meu comportamento?

    - Não, mas elas comentaram que achavam que você estava deprimida e que andava se isolando desde que sua tia morreu. - sua voz era de preocupação.

    Eu mordi meu lábio e esperei que ele me repreendesse por fazê-lo.

    - Só que eu acho que você mudou antes disso acontecer.

    - Como assim? - indaguei. - Você está querendo dizer que eu já estava diferente antes e que a morte dela me fez piorar?

    Bryan assentiu e depois passou a encarar nossas mãos juntas.

    - Eu queria poder te ajudar, mas você não conversa mais comigo como antigamente. - ele comentou. - Além de que você anda me evitando e eu queria saber o porquê.

    - Eu não ando evitando só você... Na verdade, acho que ando evitando todo mundo...

    - Mas por que, Kristine?

    Queria que ele não tivesse parado de acariciar minha mão e começado a me

    olhar com aqueles lindos olhos caramelos.

    - Eu não sei... - menti. - Só aconteceu...

    O que eu mais temia aconteceu: Bryan não se convenceu. Meu cérebro trabalhou o mais rápido possível para criar alguma razão por eu ter evitado a todos, o difícil era não poder ousar mencionar as palavras loba, transformação e floresta.

    - Se você tivesse me dito isso há uma semana atrás eu diria que você podia me contar a verdade quando estivesse pronta. - seu olhar era severo. - Mas hoje não! Você vai me contar o que está acontecendo... Porque você não tem a mínima noção do que você está fazendo com as pessoas a sua volta!

    Senti como se meu coração tivesse sido comprimido... Eu sabia sim como todos estavam se sentindo, só não tinha admitido para mim mesma. Mordi o lábio e senti os olhos embaçarem, agora ele com certeza saberia que algo estava muito errado.

    Fechei os olhos com força e quando os abri, deparei-me com os olhos receosos de Bryan.

    - Eu sinto muito. - apertei as próprias mãos. - Eu queria muito contar a verdade, pelo menos pra você... Mas eu não posso... Eu prometi à Tia Ju.

    Era verdade porque cumprir as regras era algo que eu havia prometido a Judely, e uma delas era nunca contar sobre a nossa espécie para ninguém.

    - Você nunca vai poder contar mesmo? - ele suspirou. - Eu fico imaginando o que a Judely possa ter te confidenciado que te abalou tanto.

    Neguei com a cabeça, nada do que ele pudesse imaginar seria a verdade. Bryan estava prestes a abrir a boca quando a porta da frente abriu, foi tão rápido e barulhento que nem precisei me virar para saber que Vivian havia acabado de entrar.

    É claro que seu cheiro me ajudou a ter certeza de que era ela mesma. Da próxima vez tenho de lembrar de trancar a porta.

    - Kristine Moore! - ela gritou e fechou a porta com tudo.

    Estou vendo que hoje o dia será longo e bem problemático.

    *

    Já estava na hora do almoço e nenhum dos dois havia ido embora, além de que não pareciam muito propensos a saírem da minha casa. E eu ainda estava sentada no sofá, mas agora estava no meio de dois olhares muito profundos.

    - Eu já disse que estou bem. - repeti a frase para Vivian. - Ela exagerou, eu não estava andando só de casacão.

    - Você quer que eu acredite que você estava com frio? - ela pigarreou. - Ainda mais você que ama o frio.

    Vivian começou a negar com a cabeça, pelos anos de convivência eu sabia que a nossa conversa não estava progredindo.

    - Vivian, eu também acho que a Jennifer exagerou. - Bryan disse com calma já que Vivian podia explodir a qualquer momento. - Além de que só porque a Kristine ama o frio, isso não signifique que ela não o sinta.

    Eu poderia beijá-lo agora de tão agradecida que eu estava, porque se Vivian não me escutava, com certeza o escutaria.

    Vivian respirou fundo e depois de pensar muito, ela se desculpou por não ter acreditado em mim. Aliviada, eu sorri e a desculpei, e então o assunto se encerrou e Vivian saiu de casa às pressas dizendo que tinha um encontro com o namorado.

    Bryan não precisou falar mais nada, seu olhar me dizia tudo... Ele não desistiria de descobrir o que estava me incomodando e faria de tudo para me ajudar.

    - Eu vou melhorar, eu juro. - tentei tranquilizá-lo.

    - Eu acredito em você, mas o problema é que você é teimosa demais para pedir ajuda, se precisar.

    - Posso te provar que já dei uma melhorada graças a nossa conversa de ontem e hoje.

    Ele me examinou com cautela, observando qualquer sinal de mentira que meu corpo pudesse apresentar, por sorte eu estava falando a verdade.

    - Mas nós nem conversamos ontem direito...

    - Eu contei aquela choradeira toda como um avanço. - soltei uma risadinha.

    Ele suspirou e depois sorriu, eu finalmente havia conseguido convencê-lo.

    - Que tal a gente ir almoçar pra esfriarmos a cabeça? - ele sugeriu.

    - Uma feijoada no Bar do Jerry?

    Levantei do sofá quando ele assentiu, sorri e corri para o meu quarto, tinha de me trocar porque eu ainda estava de pijama.

    *

    Bar do Jerry. Um lugar humilde e confortável, e como estávamos no final de junho, todos pareciam ter tido a ideia de comer uma boa feijoada para esquentar os corpos.

    Assim que entramos, Felipe, o filho de Jerry, acenou do balcão e rapidamente fez um dos garçons arrumarem uma mesa para nós dois. Agradeci com um sorriso, conseguimos uma mesa com aqueles acentos iguais à sofás.

    Depois que nos sentamos, reparei que Bryan havia trocado de roupa, engraçado como eu havia esquecido que ele ainda tinha umas trocas de roupa na minha casa.

    - É engraçado, não? - sorri de leve. - Como a gente era tão próximo e do nada... tudo mudou.

    - Por que está dizendo isso agora? - ele me olhou confuso.

    - Por nada... acho que estava pensando alto.

    Remexi-me de leve no sofá e soltei uma risadinha.

    - Me diga... Suas trocas de roupas lá de casa um dia vão acabar? - brinquei.

    - Hm... Quem sabe. - ele riu e depois me deu um beijo na bochecha. - Tudo depende de você.

    - Só de mim? - provoquei-o.

    Ele sorriu e depois desviou o olhar pegando o cardápio que estava a sua frente.

    - Pensei que íamos pedir feijoada. - afirmei, fitando-o.

    - Nós vamos. - ele afirmou. - Só estou fazendo isso para não fazer nada que possa estragar a nossa relação.

    Que relação? Homens sempre dizem coisas tão vagas esperando que nós, mulheres, tenhamos um super intelecto e os entendam.

    - Além de que se eu fizer algo aqui, o seu admirador ali pode acabar ficando louco. - ele apontou com a cabeça na direção do balcão.

    Mas eu não precisava virar para saber de quem ele falava, Felipe Letrosk é um homem da minha idade que teve uma paixão a primeira vista por mim.

    Ruivo de olhos castanho, ele é bem bonito só que eu já estava apaixonada pelo Bryan quando ele me contou que estava afim de mim. Logo, Felipe não teve muita chance e continua sem nenhuma já que parece que eu ainda gosto do Bryan, o que me coloca numa situação delicada.

    - Mundo da lua? Ou algum outro que eu ainda não conheço? - Bryan balançava a mão na minha frente.

    - Foi mal. - dei um leve sorriso. - Eu estava pensando no que você falou sobre o Felipe.

    - Vai me dizer que se apaixonou por ele?

    - Ciúmes?

    Bryan corou instantaneamente e eu me diverti com isso.

    - Não se preocupe... Eu nunca me apaixonei por ele.

    - Hmmm...

    Foi a única coisa que ele teve coragem de dizer, às vezes ele era tão complicado que eu achava que era impossível eu estar apaixonada por ele.

    - Eu espero que esse ciúmes seja de melhores amigos. - sussurrei para mim mesma.

    - Você acha que nós dois queremos só amizade depois do que aconteceu ontem à noite?

    Ele não estava brincando e o pior era que eu achava que ele estava certo. Enquanto nos fitávamos, um garçom chegou para anotar nossos pedidos e sem demora pedimos a feijoada e nossas bebidas, um suco de laranja pra mim e um de maracujá para ele.

    Assim que o garçom se retirou, eu me virei para olhar Bryan que estava encarando a mesa, mas sua mente parecia estar longe. Em um pulinho eu me aproximei dele e encostei a cabeça em seu ombro.

    - Eu sei que o que aconteceu ontem muda tudo entre a gente. - falei com cautela. - Mas eu preciso muito pensar, porque eu estou confusa com tudo que anda acontecendo... E eu só espero que você possa esperar.

    - Eu sinto muito, eu não devia ter dito aquilo. - ele passou a mão por cima da minha cabeça e me abraçou. - Eu não quero te pressionar, mas eu gostaria que você confiasse em mim de novo.

    - Eu confio... Mais do que você imagina.

    - Vai dar tudo certo no final. - deu-me um beijo na cabeça.

    Era uma pena que só eu sabia o quanto as coisas podiam ficar complicadas, na verdade, acho que nem eu mesma sabia, porém por hoje eu vou deixar as preocupações de lado e tentar entender este meu coração indomável.


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