Rompendo as Trevas

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    12
    Capítulos:

    Capítulo 1

    Capítulo 1- Emily

    Heterossexualidade

    O mesmo garoto sempre assombrava os pensamentos de Emily.

    Como se não bastasse às poucas horas que conseguia dormir sem ser atacada por monstros, assim que fechava os olhos tinha pesadelos macabros que a atormentava o dia todo. Sempre vendo mortes de adolescentes vestidos para batalha, milhares de monstros organizados para um combate e o mais estranho, uma mulher feita de areia que frequentemente se metia no clímax de seus pesadelos tendo um ataque de sonambulismo e falando coisas muito simpáticas como que queria estar assistindo a morte da garota e que iria garantir que fosse bem dolorosa e lenta. Sim, uma sonambula adorável.

    Para melhorar, nos últimos dias Emily não conseguia parar de pensar no garoto das sombras. Ela pensava que já tinha superado aquele dia, mas as lembranças reacenderam quando o garoto resolveu estrelar seus pesadelos, cercado por esqueletos que brotavam no chão a sua volta. A primeira e única vez que ela viu o menino foi o suficiente para quase enlouquece- la, há anos atrás quando tudo ainda fazia sentindo em sua vida e monstros existiam apenas nas histórias de terror.

    Ela havia se perdido enquanto passeava com a mãe e o irmão, em apenas um segundo de sua distração ela se confundiu com muitas pessoas ao seu redor e simplesmente os perdeu de vista em meio a varias barracas atumultuadas de vendedores e clientes. Ela girou muito tempo no mesmo lugar, sem orientação e então foi esbarrando e tropeçando nas pessoas desesperada tentando se localizar, até que finalmente conseguiu se afastar da multidão o que lhe acalmou um pouco, mas continuava perdida sem ter noção de onde sua mãe e seu irmão podiam estar. Então, enquanto procurava ela viu ao longe uma sombra de algo enorme correndo em sua direção.

    O medo e a confusão a paralisaram quando ela pode distinguir um leão gigante correndo em meio as pessoas sem que fosse notado, ela gritou em desespero mas as pessoas apenas olharam para ela confusa como se tivesse enlouquecido. Começou a correr o mais rápido que podia pelas ruas que pareciam todas iguais, mas o leão continuou atrás dela, feroz rugindo e esbarrando em mais pessoas que simplesmente o ignoravam como se fosse apenas uma brisa que tivesse os atingido.

    A garota correu sem rumo entrando em varias ruas, até chegou ao fim da linha ao entrar em uma rua sem saída, cercada pelo leão gigante. Ela sabia que não tinha como escapar, mas ainda não havia decidido se devia estar preocupada com sua sanidade mental ou de ser comida por um leão aparentemente invisível para o resto do mundo.

    Enquanto tentava digerir o fato de que ia morrer algo ainda mais bizarro aconteceu, apesar de que sol estava a pino a pequena rua pareceu ficar subitamente fria e uma nevoa negra começou a tomar forma diante dos seus olhos, entre ela e o leão. A escuridão pareceu se acomodar em um único ponto e tomou a forma de um garoto que se materializou, vestindo roupas pretas e segurando uma espada negra de aspecto mortal.

    Ela não pode acreditar quando o garoto que não devia ter mais do que 12 anos atacou o leão sem medo em uma luta rápida e fatal que fez com que a garota quase sentisse pena do leão que foi facilmente domado pela ira do garoto. O menino a encarou de olhos arregalados e ela pode ver seu rosto extremamente pálido com olhos e cabelo extremamente escuros.

    A menina abriu a boca para tentar dizer algo, mas da mesma forma que o garoto surgiu ele desapareceu. As trevas o envolveram e seu corpo se desfez sumindo com as sombras.

    Quando Emily finalmente foi encontrada ela não tinha prova nenhuma de que a historia improvável dela realmente tinha acontecido. O leão simplesmente se desfez deixando uma carcaça que o garoto levou e ninguém perto da rua tinha visto nada estranho acontecer, então seu irmão gêmeo, Guilherme simplesmente disse que ela estava louca e minha mãe, Prisma, séria como sempre apenas disse para eu esquecer tudo aquilo, como se fosse possível.

    Emily saiu de seus devaneios quando Guilherme acenou com a mão silenciosamente para que fosse até onde ele estava, escondido atrás de um lixão. Ela foi agachada até ficar ao seu lado e ele simplesmente apontou para frente onde havia uma espécie de bebê gigante com uns dois metros de altura, gordo como um elefante e com apenas um imenso olho no rosto.

    A menina teve que morder os lábios para não rir. Apesar daquele bebê monstro provavelmente ser tão perigoso como qualquer outro, era tão patético que era difícil segurar o riso. Havia uma fita feita de metal amassado prendendo os cabelos gosmentos e verdes do bebê que usava uma frauda do que parecia uma pele gigantesca de peixe que combinava com a pele escamosa e para completar estava coma chupeta gigante de musgo e terra enquanto parecia se entreter bastante com a moto dos gêmeos, usando como brinquedo.

    Guilherme revirou os olhos desprezando a reação da irmã, preparou sua espada e fez sinal com a mão contando 1,2,3 no Já silencioso ele correu destemido na direção do bebê que estava a poucos metros e antes mesmo que ele o atingisse, Emily disparou as suas flechas que acertou com precisão as costas do bebê que começou a chorar no instante que a espada de Guilherme perfurou seu corpo e entrou em chamas com o contato.

    O bebê tentou atacar com postes e pedras, mas os irmãos eram rápidos e sincronizados, a menina atingia várias flechas que nunca acabavam de seu arco magico e dava a oportunidade de seu irmão atingi-lo novamente com a espada que quando entrava em contato com a pele do monstro a lâmina se incendiava.

    ?Fácil demais- A garota disse fingindo um falso bocejo depois de derrotarem o bebê.

    ?Foi como tirar doce de uma criança- O irmão concordou subindo vitoriosamente na moto resgatada.

    ?Em que restaurante nós vamos hoje?- Ela perguntou se ajeitando na garupa.

    ? O mais caro que encontrarmos, como sempre.

    Eles saíram em direção ao porto onde tinha ao seu redor os melhores restaurantes que eles costumavam invadir.

    Após a morte trágica da mãe deles, se viram sozinhos na Grécia onde a mãe resolveu ir sem explicações, desde então viveram sobrevivendo e logo descobriram que existiam monstros que por algum motivo só eles viam e sempre tentavam mata-los. Eles nunca encontraram explicação para isso, mas mesmo assim aprenderam a se defender com as armas que encontram na mala da mãe, junto com inúmeros desenhos estranhos que eles não tinham coragem de se desfazer, que a mãe sempre insistia em desenhar, com os olhos perdidos e murmurando coisas incompreensíveis.

    Estavam quase chegando ao porto quando viram no oceano uma enorme cabeça de dragão se aproximar. O susto foi tão grande que Guilherme perdeu o controle batendo em uma mesa de ferinha cheia de tomate.

    ? Guilherme!- A garota gritou batendo nas costas do irmão enquanto tentava se levantar completamente suja de tomate ? Por que você fez isso?- Só então, ela viu a expressão assustada do irmão ainda caído por cima dos tomates.

    ?O que aconteceu?- Ela falou preocupada

    ?Um dragão enorme- Ele murmurou baixo e ela seguiu o olhar do irmão ficando literalmente com o queixo caído ao ver o rosto de metal do dragão.

    Enquanto olhavam atônitos puderam distinguir que na verdade era um navio gigantesco com cabeça de dragão que se movia com vida proa do navio. Emily precisou de mais alguns segundos para finalmente reconhecer o porque o navio parecia familiar, sentindo um peso enorme cair sobre suas costas com uma saudade e dor invadindo seu peito.

    ? É o d-desenho...- Gaguejou a menina sem ser capaz de continuar a frase.

    ?Eu sei. É o mesmo navio.

    ? Precisamos ir até lá- Completou a menina decidida- Nós precisamos saber mais sobre esse navio.

    ? Não! Pode ser muito perigoso, eu não vou deixar você ir lá e se arriscar. A gente nem mesmo conhece essas pessoas!

    Guilherme parou de falar quando a expressão decidida de sua irmã se tornou vazia, se tornou imparcial, piscou os olhos algumas vezes e quando ela os abriu novamente parecia ter sido derramado ouro liquido sobre a sua íris, substituindo a cor castanha avermelhada de seus olhos.

    Antes que ele sequer pudesse ter uma reação a garota saiu correndo, inacreditavelmente rápido, enquanto preparava uma flecha em seu arco.


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