Casos e acasos

Tempo estimado de leitura: 2 horas

    16
    Capítulos:

    Capítulo 4

    Capítulo IV: Casamento Mal-Assombrado #Arquivo 4

    Heterossexualidade, Linguagem Imprópria, Nudez, Sexo, Violência

    Capítulo IV: Casamento Mal-Assombrado

    #Arquivo 4

    ? Por Paola Tchébrikov

    ? Quem é? ? perguntou uma voz feminina de dentro do quarto.

    ? Sou eu Taniyama-san, Hakuya. ? exclamou baixo, alguns segundos depois a porta foi aberta. A mais velha entrou fechando a porta e fitou a outra, que estava enrolada em uma toalha branca felpuda, a mão se encontrava enfaixada. ? Então é verdade, você se machucou ? comentou tristemente.

    ? Não se preocupe Tôkio-san, eu apenas soquei o espelho para desfazer o encanto ? Mai sorriu amavelmente, tranquilizando a dona da casa.

    ? Gostaria de poder fazer algo por você? ? a mulher ficou pensativa por alguns instantes para logo em seguida um sorriso brotar em seus lábios avermelhados, quando Mai iria dizer que não era preciso, a mulher se pronunciou: ? Já sei!, espere aqui, volto em alguns minutos ? e saiu porta a fora, Mai não sabia o que fazer para impedi-la, então preferiu esperar e ver o que a mulher planejava.

    Suspirou sentando-se na beirada da cama e esperou a outra voltar, depois de alguns minutos a porta foi aberta e por ela entrou uma loira sorridente, carregando nas mãos um saco preto pendurado em um cabide.

    ? Aqui. ? colocou o cabide sobre a cama que Mai estava sentada, que, na verdade, era a do Naru. ? Vista isso, aceite como um pedido de desculpas pelo transtorno ? sorriu sentando-se na outra cama, de frente para a jovem Taniyama.

    Hesitante, a assistente pessoal do chefe da SPR aproximou-se do saco e abriu-o.

    ? Eu não posso aceitar ? comentou Mai depois de ver o conteúdo do saco, sendo este um quimono preto com a borda branca, cheio de desenhos de sakuras também em branco ?, deve ter sido muito caro ? comentou com os olhos brilhando, a roupa era realmente linda.

    ? É realmente lindo o quimono. ? sorriu observando o pano. ? Mas não vou usar, por isso quero que aceite. É melhor saber que você está usando-o do que deixá-lo mofando no fundo do guarda-roupa ? comentou docemente enquanto retirava o quimono de dentro do saco negro.

    ? Está falando sério, Senhora Tôkio? ? perguntou Mai, não acreditava que estava ganhando um quimono, ainda mais um tão lindo e elegante como aquele.

    ? Sim, estou. ? os olhos de Mai brilharam de alegria. ? Mas por favor, me chame de Hakuya. ? pediu encarando a jovem nos olhos, Mai ficou meia desconcentrada, mas depois sorriu para a mulher. ? Vamos, vista, quero ver como ele ficará em ti.

    A garota assentiu enquanto desenrolava a toalha do corpo lentamente, saíra do banheiro já com a calcinha e o sutiã, não poderia se arriscar a encontrar sem querer com Naru nua, seria vergonhoso demais para si.

    A dona da casa aproximou-se de Mai ajudando-a a colocar a peça de roupa. Depois de colocada, arrumou os cabelos da jovem, penteando-os com delicadeza para logo em seguida trazer um espelho grande, deixando que a Taniyama admirasse seu próprio reflexo. Hakuya pôde ver o brilho de admiração nos olhos castanhos da jovem.

    ? Você nunca usou um quimono? ? perguntou a mulher divertida, dava para ver que a garota estava alegre por usá-lo, mas, geralmente, todos tinham pelo menos um quimono em seu guarda-roupa. Como se ouvisse os pensamentos da mulher, Mai repentinamente começou a falar:

    ? Sou órfã e uso o que ganho na SPR para sobreviver, não posso comprar um quimono desses, é muito caro ? a mulher foi tomada por uma súbita vontade de chorar diante da vida daquela garota. Nunca havia passado por coisas parecidas. Por seu pai ser médico e sua mãe pediatra, sempre tivera tudo o que quisesse. Emocionada, abraçou Mai que se assustou de início, mas depois retribuiu o abraço com carinho, fazia tempo que não recebia um abraço tão caloroso, nem se lembrava do último.

    ? Oh querida! Sinto muito fazê-la lembrar-se desses detalhes ? sorriu encarando a jovem enquanto lágrimas escorriam de seus olhos, sabia que a menina sofria, pois teve no passado uma amiga que era adotada e lhe contava tudo o que sofrera quando órfã.

    ? Não chore Hakuya-chan. ? exclamou Mai limpando as lágrimas da mulher com sua mão. ? Eu quem devia chorar, mas vê? Não choro. Considero meus parceiros de trabalho minha família, eles me fazem sorrir quando estou triste e me visitam sempre que estou sozinha no escritório ? as lágrimas pararam de escorrer do rosto da mais velha, enquanto um sorriso fraco se formava em seus lábios.

    ? Fico feliz por você ter superado ? comentou abraçando novamente a menina, enquanto mais lágrimas rolavam por sua face, sempre fora muito sensível e chorona.

    Mai deixou-se levar pelo abraço, afinal, parecia que o choro da mulher não cessaria tão cedo. Não que não houvesse chorado por tudo o que passara, mas aprendera a lidar com a situação o mais racionalmente possível.

    Talvez a convivência com Naru a houvesse mudado, talvez apenas fosse uma questão de tempo para que isso acontecesse, contudo, não importava qual fora o motivo por trás da mudança, o importante era que não era mais aquela menina chorona que não aceitava ser órfã, a injustiça de não ter família já não lhe consumia a alma; do contrário, o que lhe preenchia a mente e aumentava a velocidade das batidas de seu coração se chamava nada mais, nada menos do que Shibuya Kazuya, Naru.

    Depois do abraço Hakuya recolheu-se para seus aposentos com um sorriso desconfiador nos lábios; Mai ficou sem saber o que fazer, não queria ficar presa naquele quarto. "Não se esforce muito, quando estiver melhor pode se juntar aos outros, se quiser." Esta fora a frase que Naru usara, mas será mesmo que ela podia voltar para o caso? Indecisa, achou melhor descer e preparar algo para beber.

    "Será que Naru tomou sua costumeira xícara de chá?" Perguntava-se a garota enquanto saia do quarto e rumava pelos corredores da enorme mansão. Com certeza ele já tomara o chá, afinal, havia empregadas na mansão para fazê-lo.

    Deu de ombros enquanto entrava na cozinha, era estranho encontrá-la vazia. "Eles devem estar abastecendo a despesa", pensou enquanto pegava um bule, pó de chá e açúcar; faria a bebida e levaria à base para ver se alguém queria, se não quisessem ela mesma tomaria.

    Depois de alguns minutos Mai caminhava pelo corredor, procurando o quarto que fora feito como base enquanto resolviam o caso. Na verdade, desde que chegaram, não houve muita "turbulência" no local, apenas o ataque quando chegaram e o no qual Masako havia ficado presa no quarto e ela acabara com a mão machucada.

    Mas isso não importava, o importante era que a Hara estivesse bem, ela ? com certeza ? sobreviveria. Sorriu quando avistou a porta do quarto, com dificuldade abaixou a maçaneta e a porta abriu-se. Usou o corpo para terminar de abri-la.

    No exato momento em que algo tocou a maçaneta da porta da base, todos os presentes no cômodo ficaram alerta. Nunca se sabe quando um espírito vai atacar. Todos atentos ao movimento da porta abrindo-se. Surpreendem-se quando alguém totalmente conhecido por eles e de estatura baixa entrou vestindo um lindo e longo quimono negro.

    Ayako, junto de John, Bou-san e Yasuhara não acreditavam no que viam; Lin fitou Mai longamente enquanto Masako bufava irritada. Naru observou a secretária vestida com os trajes leves e por instantes pensou onde ela arrumara a roupa, mas logo em seguida desviou sua atenção para o bule e as xícaras na mão da garota: chá.

    ? Nee Naru. ? começou andando para perto do chefe timidamente. ? Fiz chá ? colocou a bandeja sobre a mesinha perto do rapaz, enchendo uma xícara branca com o líquido escuro.

    O Oliver, indiferente, pegou a xícara e lentamente levou a borda aos lábios, a bebida quente desceu rapidamente por sua garganta e em questão de segundos esquentou todo o seu interior. Estava com sede, sede do chá dela.

    ? Sente-se. ? ordenou ele, a garota encolheu os ombros e, hesitante, encheu uma xícara de chá para si, logo sentando-se de frente para o chefe. ? Achei que passaria o dia no quarto ? exclamou ele sem tirar os olhos dos depoimentos que pegara do casal Tôkio. Mai fitou sua xícara e, lentamente, tomou um gole da bebida.

    ? Disse que se eu quisesse voltar para cá poderia ? deu de ombros ainda tomando o chá; todos estranharam, Mai não era de tratar Naru assim. Geralmente a garota gritava e esperneava demonstrando toda a sua liberdade de expressão. O que ele havia feito para deixá-la daquela maneira? Ou melhor, o que ele falara?

    ? Faça o que achar melhor ? foi o que ele falou e o que todos ouviram, mas Mai sabia que por trás da frase havia outro significado: "Depois conversaremos sobre isso." Sabia que Naru não deixaria quieto e insistiria que ela deveria descansar e deixar as coisas com os outros membros do SPR.

    Por alguns segundos todos ficaram no mais completo silêncio, mas depois de cerca de um minuto tudo já haviam voltado ao normal: Naru entretido com os depoimentos, Lin concentrado escrevendo algo no notebook, Masako fuzilando Mai com todas as suas forças, Yasuhara rindo de John que tentava acalmar a discussão de Ayako e Bou-san, e por último Mai, que apenas tomava lentamente seu chá. Sentia-se linda dentro daquele quimono.

    ? Naru ? chamou Lin de repente, fazendo Mai voltar de seu mundo de fantasias. Noll levantou-se e se aproximou do chinês em algumas longas passas de suas pernas esguias ?, a temperatura no corredor desse quarto caiu para -05 graus célsius.

    ? Tão de repente? ? perguntou Naru irritado, o espírito acabara de agir e já estava agindo de novo? Estava tão furioso ao ponto de não aguentar-se quieto? O que ele queria?

    Noll olhou para trás quando ouviu o barulho da porta sendo batida, olhou para todos os presentes na base e, como esperava, faltava ela. Mas onde estava Mai? Frustrado, se afastou do chinês e andou rapidamente para fora da base à procura da secretária.

    Mal saiu do quarto e viu Mai parada, trêmula, assustada. Os olhos castanhos estavam abertos em surpresa e as mãos apertavam a manga do quimono.

    ? Mai? ? chamou, mas a garota não respondeu.

    Um desespero preencheu todo o ser de Naru ao ver a menina perder a consciência e lentamente seu corpo amolecer. Correndo em um único impulso, Noll fez o que pôde para impedir que o corpo feminino fosse de encontro ao chão, e com esforço conseguiu envolvê-la em seus braços.

    Ergueu-a do chão no estilo ?princesa? e virou se preparando para entrar na base, mas um puxão fraco em sua blusa fê-lo parar.

    ? Me leve para o quarto, por favor ? estranhou, mas acenou concordando. A voz da garota estava diferente, talvez fosse por causa do susto que ela aparentava ter tomado.

    A passos calmos Naru caminhou pelos corredores da mansão, carregando a secretária nos braços. Por que ela sempre era tão imprudente? Será que não entendia que, mesmo que ele quisesse, não poderia estar sempre protegendo-a? Que não poderia lidar sempre sozinha com os espíritos?

    Suspirando, Noll se aproximou da porta do quarto que dividia com a garota e, com certa dificuldade, conseguiu abaixar a maçaneta com as costas da mão e terminar de abri-la com o pé. Depois de entrar com a secretária nos braços, deu um leve chute na porta, fechando-a, e caminhou na direção de sua cama.

    Deitou ela delicadamente na cama e, antes de cobri-la com o edredom, arrumou o quimono que havia erguido um pouco.

    ? És tão carinhoso ? a voz baixa e suave anunciou, Naru encarou a face da secretária e viu os olhos semiabertos encarando-o.

    ? Por que está no corpo dela? ? disse Noll de modo frio, indo direto ao ponto.

    ? Quem sabe... ? deu de ombros. ? Mas sabe, o corpo dela é um ótimo recipiente ? sorriu calmamente.

    ? Nem pense nisso! ? exclamou ele rude, ela apenas o encarou.

    ? Você a ama? ? foi direta, fazendo o homem calar-se, não conseguiria responder, mesmo que não fosse Mai, ainda era o corpo dela. ? Se não responder irei possuir seu corpo de forma que não poderei ser tirada ? ameaçou de modo sereno.

    ? Por que está fazendo isso? ? perguntou Naru irritado.

    ? Por quê? Por que não é sincero com seus sentimentos? Estou fazendo uma pergunta e quero ouvir a resposta! ? a mulher já estava se irritando com a insistência dele em não responder.

    Suspirando, Naru sentou-se na ponta da cama, ao lado do corpo de sua secretária. Não se achava digno de amar alguém, na verdade, nem sabia o que era o amor.

    ? Como eu imaginava, você não vai responder, não é? ? ela perguntou, mas não houve reação da parte dele. ? Tudo bem, não vou forçá-lo. Apenas cuide dela, ok? Ela é uma garota muito boa.

    ? Eu sei. ? concordou ele encarando-a nos olhos. ? E você não parece ser má ? concluiu fazendo-a rir.

    ? Talvez as aparências enganem. ? disse distante. ? Às vezes precisamos fazer coisas ruins pelo bem de algo que para nós é bom ? completou por fim com a face triste.

    ? O que quer dizer? ? perguntou ele sem entender.

    ? Vai saber? ? deu de ombros fechando os olhos.

    ? Suas respostas são sempre incertas ? comentou Naru.

    ? Talvez. ? suspirou. ? Foi bom conversar com você ? o corpo da garota amoleceu, sua cabeça pendendo para o lado.

    Naru encarou a parede à sua frente sério, o espírito havia se apossado de sua secretária, conversado consigo. Não haviam conversado nada sério, que pudesse ajudar no caso, mas, mesmo assim, fora uma conversa interessante.

    ? Naru? ? chamou uma voz sonolenta ao lado do Oliver. ? O que estou fazendo no quarto? ? perguntou atraindo o olhar do chefe.

    ? Não se lembra? ? a garota acenou negativamente. ? Você foi possuída pelo espírito, pela mulher que apareceu ontem. Ela pediu para virmos para o quarto e trocamos algumas palavras antes de ela sair de você ? preferia esconder da garota a pergunta que o espírito lhe fez, ou, curiosa com Mai era, iria querer saber a resposta.

    ? Você conversou o que com ela? ? perguntou Mai espantada, sentando-se na cama.

    ? Ela disse coisas sem sentido ? ?sei!?, murmurou Gene na mente da Taniyama, fazendo-a rir.

    ? Do que está rindo, Mai? ? perguntou Naru seco, mas a garota continuou rindo. ? Além de burra agora é retardada?

    ? Iie. ? acalmou-se do ataque de riso e continuou. ? É que o Gene disse algo engraçado.

    ? ?Se você contar eu te mato!? ? ameaçou Noll ao irmão.

    ? ?Já estou morto, otouto.? ? riu de sua própria piada. ? ?Está com medo do que, Naru?? ? perguntou zombeteiro.

    ? ?Não é da sua conta, apenas mantenha o bico fechado!? ? ordenou irritado.

    ? Nee Naru. ? chamou a garota baixinho. ? Por que será que os espíritos sempre me usam como alvo? ? perguntou atraindo a atenção do chefe. ? Digo, Bou-san é monge, Ayako é miko, Masako é médium. Por que escolhem eu, que não tenho poderes psíquicos fortes o suficiente para ajudar vocês nos casos? ? os olhos da garota se encheram de lágrimas.

    Tal cena chocara Oliver Davis. Sabia que Mai era uma garota insegura de si mesma em alguns assuntos, mas não imaginava que as investidas dos espíritos sobre ela lhe causassem tanta dor. Entendendo que ela era frágil e delicada, Naru apenas puxou-a pelo braço para seu colo, sentando-a de lado, e abraçou-a fortemente.

    Sempre quando ela estava envolvida ele ficava assim. Um desejo forte de abraçá-la e não soltá-la o consumia. Protegê-la com sua própria força, cuidar ele mesmo daquele coração tão bondoso que ela tinha.

    ? Shi-Shibuya-san. ? chamou Mai saindo do colo do rapaz e sentando-se um pouco afastada dele na cama. Naru estranhou, ela estava chamando-o pelo sobrenome? ? Irei me afastar do caso, não posso mais me envolver com isso.

    ? ?Quê?!? ? gritou Eugene na mente de Naru. Tentou, mas não conseguiu conectar-se com a mente de Mai, era como se ela estivesse impedindo-o.

    ? Faça como quiser ? comentou Naru levantando-se e saindo do quarto.

    Depois de sair do quarto, Naru caminhou a passos calmos até a base, as mãos no bolso, a mente em branco. Não entendia o que estava acontecendo. ?Irei me afastar do caso, não posso mais me envolver com isso.? Não conseguia acreditar que Mai havia desistido.

    ? Naru-chan. ? gritou Bou-san quando o viu. ? Rápido, venha, as câmeras pegaram algo!

    Ambos correram até a base, onde Lin mostrou ao Noll o quarto onde o espírito se manifestara. Diante da ordem do chefe, todos correram em direção ao saguão principal e depois subiram as escadas. Viraram alguns corredores até encontrarem, no segundo andar, o quarto onde o vídeo apontara com a temperatura abaixo de zero.

    O primeiro a chegar ao quarto fora o monge, que num impulso abriu a porta e parou. Logo todos apareceram atrás dele e tiveram a mesma visão que o Takigawa: lá estava a mulher, sombria. As roupas cinza, os cabelos longos caídos pelo rosto, o corpo flutuando.

    Aterrorizada com o que via, Masako pendurou-se no braço de Naru. Por instante Noll pensou que Mai nunca fizera isso, quer dizer, demonstrara tanta intimidade. Ou talvez ele houvesse feito parecer que odiava aquilo?

    Mas Mai era uma garota insistente, não podia estar desistindo dos casos, da SPR, dele. Ela havia dito que amava-o, como poderia desistir agora? É, mas ele havia dito que não era a si que ela amava, e sim a seu irmão.

    E o que houve entre eles no quarto? E os beijos, os abraços? Ambos dividiram a cama, ambos ajudaram um ao outro nos casos, ambos sempre discutiam para depois se reconciliarem. Por que ela estava desistindo? Pretendia deixá-lo sozinho, sem seu chá diário?

    ? ?Está fazendo parecer que só é culpa dela, otouto. Mai pode ser durona e corajosa, ter poderes esplêndidos que realmente surpreendem quem está próximo, mas por dentro ela é só uma garotinha frágil e delicada.

    ? Ela é orfã, não teve o amor dos pais por toda a sua vida, foi criada por alguém apenas por obrigação, recebeu sempre ajuda das pessoas. Acha que ela não precisa de apoio? Quem você acha que acalmava ela, Noll?

    ? Quem você acha que via ela chorando quando você a importunava? Acha que sabe mais dela do que eu? Por que acha que se importa tanto com os outros e se permite estar em perigo por alguém? Porque ela tem um bom coração! Um coração que te ama e que foi rejeitado. Oliver, se não for rápido, perderá ela para sempre? ? disse Gene e sumiu da mente do Shibuya.

    ? Bou-san, John, Matsuzaki-san. Tentem o exorcismo ? ordenou Naru.

    ? Naumaku sanmanda bazaradan kan ? começou Bou-san.

    ? Ryn, pyou, tou, sha, kai, jin, retsu, zai, zen! ? ditou Ayako.

    ? Pai nosso que estais no céu? Santificado seja o vosso nome? ? iniciou, também, John.

    E assim Naru viu, com seus próprios olhos, o monge, a miko e o padre serem jogados longe, alguns segundos depois, por ventos cortantes mandados pelo espírito.

    ? Eu vou embora, mas não sem meu coração ? disse para Naru.

    ? E onde ele está? ? já que não sabia o que era o ?coração? da mulher, o melhor era perguntar-lhe.

    ? Pergunte a ele, pergunte sobre Miki ? respondeu ela.

    ? A ele quem? ? perguntou novamente.

    ? Yuki. ? comentou com desprezo. ? E, você não cuidou dela, né? ? Noll apenas virou o rosto, frustrado. ? Se não for atrás dela, irá perdê-la para sempre ? e sumiu do mesmo jeito que aparecera.

    Ayako, Bou-san e John voltaram juntamente com o chefe para a base onde Lin monitorava tudo pelas câmeras. A situação estava começando a ficar complicada e se não descobrissem logo o que estava influenciando o espírito, teriam sérios problemas com ele.

    ? Err? Naru-chan. ? chamou Bou-san hesitante, o chefe apenas lhe dirigiu o olhar. ? Sabe onde a Mai está? Faz tempo que não a vejo ? perguntou preocupado.

    ? É realmente muito estranho, ela sempre corre na direção do espírito, mas, dessa vez, nem sequer apareceu ? observou a miko intrigada.

    ? Concordo, depois que a Mai-chan saiu correndo repentinamente, no momento em que o espírito apareceu no corredor, não a vi mais ? adicionou Yasuhara pensativo.

    Olhando pelas janelas do quarto que servia como base, Noll viu que já escurecera. Exausto do dia cansativo que tivera, avisou que iria para seu quarto e caminhou com as mãos no bolso até o local onde poderia finalmente descansar.

    Depois de entrar no quarto, tirou o sapato, o sobretudo e a camisa, ficando apenas de calça, e se jogou sobre a cama, retirando o cinto. Cruzou as mãos atrás da cabeça enquanto fechava os olhos, tentando descansar, mas o som de porta se abrindo fê-lo abri-los.

    ? Então, nos vemos amanhã, Mai-chan? ? imediatamente Naru reconheceu a voz do dono da mansão.

    ? Sim, Yuki-san. ? a garota se despediu do jeito alegre que só ela tinha e, quando fechou a porta, entrou imediatamente em seu mundinho. ? Ah! Nem acredito que eles estão pensando no meu bem-estar?

    De tão distraída que estava, Mai nem notou o corpo do chefe deitado na cama. Feliz, jogou-se sobre a sua, tendo a gargalhada abafada pelo travesseiro.

    ? Mai ? chamou ele, ela parou. Fora um deslize, estava tão distraída que não vira o chefe na cama ao lado.

    ? Oi ? saudou sem graça, afundando ainda mais a cabeça no travesseiro.

    ? Precisamos conversar ? a voz autoritária de Naru preencheu todo o quarto de forma assustadora.

    ? Não acho que tenhamos algo para conversar ? comentou virando-se e ficando de barriga para cima na cama.

    ? Não estou perguntando o que você acha ? disse Naru irritado, levantando-se de sua cama e subindo por cima de Mai, apoiando o peso de seu corpo nas mãos, pousadas na cama ao lado da cintura feminina.

    ? O que está fazendo, Na? ? mas sua frase foi cortada quando os lábios do chefe tomaram os seus com rapidez e voracidade num beijo de tirar o fôlego.

    Naru não queria recorrer àquilo, porém sua aflição ao pensar que Mai poderia se afastar por completo do Instituto fê-lo não pensar antes de agir, e isso, sem dúvida, só acontecia quando certa pessoa de cabelos castanhos estava envolvida.

    O beijo que se iniciara avassalador pelo rapaz, quando Mai circulou seu pescoço, puxando-o para mais perto e retribuindo com seu jeito meigo e delicado, tornou-se algo carinhoso e envolvente.

    As línguas se tocaram e se entrelaçaram de modo calmo, parecia uma despedida. ?Que tipo de pensamento é esse? Não, não vou tolerar que alguém a tenha só porque não fui capaz de engolir meu orgulho.? Separando os lábios lentamente, Naru contemplou a face corada da garota abaixo de si.

    Deixou o corpo cair sobre a cama, deitando de lado ao lado da secretária e passando seu braço pela cintura dela, puxando-a para mais perto. Conversariam ali, naquela posição, de forma que ela não pudesse fugir.


    Somente usuários cadastrados podem comentar! Clique aqui para cadastrar-se agora mesmo!