|
Tempo estimado de leitura: 9 horas
18 |
Vigésimo oitavo ato ? Sargento Cloud
Lady Abel Oblivion Araghon
Quando aquele dia começou, Cloud nunca imaginara que algo fora de sua rotina aconteceria.
Como de costume, acordara naquela sala escura e abafada, e sabia que já era de manhã por causa da pouca luz que vinha da pequena janela no alto. Não conseguia imaginar, prever ou contar quanto tempo fazia que estava ali, mas sabia que não era pouco.
E também sabia que ficaria ali para sempre.
No início fizera tudo o que podia para sobreviver, acreditando que as coisas dariam certo, que procurariam ele e o encontrariam.
Cloud fizera tudo errado.
Não que se arrependesse, mas preferia ter escolhido outro caminho.
Por exemplo o caminho da resignação.
Se houvesse acreditado que não havia modo de se salvar daquela situação, e tivesse se recusado a ser obediente a Rufus, ele teria se cansado de si e, ou o jogado fora, ou o matado.
Seria bem melhor do que viver o que vivia atualmente.
De todos os seus males, não saber há quanto tempo estava ali era o pior. Quando perguntara a Rufus, o homem lhe castigara profundamente. E quando dissera algo sobre o assunto com Rude, o Coronel se levantou, recolheu os pratos e saiu. Passou um bom tempo sem falar com Cloud, apenas indo em seu quarto para levar ou buscar a comida.
O rapaz entendeu que aquele assunto não podia ser mencionado. Não voltou a falar sobre ele.
Rude aos poucos voltou a falar consigo.
E, no fim, tudo o que sobrou para o jovem foi esperar a morte. Só não sabia como ela poderia aparecer. Afinal, era alimentado, recebia periodicamente uma visita médica, embora fosse abusado sexualmente, Rufus cuidava de si antes e depois do ato.
Como poderia sua vida ter um fim?
Sentou-se rapidamente em sua cama ao ouvir o som de uma porta sendo aberta, logo o som de chaves ficou ainda mais evidente.
? Venha, Mattheo, iremos nos divertir em minha cama ? chamou Rufus ao abrir a porta e se aproximar de Cloud, livrando-o da corrente e prendendo um de seus braços com a algema. O rapaz se viu sendo abrigado a acompanhá-lo até o quarto obedientemente.
Afinal, havia tentado, pouco tempo atrás, ir contra o General. Recusara-se a obedecê-lo, tentara fugir, mas tudo o que recebeu foi castigos, e não conseguiu sequer sair do quarto, claro.
Além de ter divertido Rufus. Ele dissera que gostava daquela brincadeira deles de pega-pega, e isso desmotivou completamente Cloud, porque não estava brincando com ele, estava tentando fugir.
No fim, sem ter forças para vencer o destino, o rapaz se viu sendo algemado à cama e sendo deitado calmamente nela, logo tendo o mais velho sobre si, retirando as roupas rapidamente.
Sim, aquele era o destino dele: viver sob o corpo, as ordens e os desejos daquele homem.
E Cloud nem conseguia culpar alguém por seu destino! Sua atual situação lhe dava o direito de culpar Aerith e seu amante por terem o vendido para aqueles traficantes, mas ele não conseguia culpar ninguém se não a si mesmo. Talvez seja pela educação que havia recebido desde pequeno...
Isso fez ele pensar em como estaria sua família. Se eles haviam procurado ele por muito tempo, se sua mãe havia chorado, se seu avô se arrependera de ter unido o neto àquela moça.
Suspirando, sentiu quando Rufus apertou fortemente seu falo, o fazendo gemer de desconforto. O mais velho não demorou em se ajoelhar na cama, esperando que Cloud começasse a lhe dar prazer.
E sem ter outra escolha foi o que o Strife fez.
Mais uma vez lá estava Cloud, jogado de qualquer modo depois de satisfazer seu dono, sendo um mero objeto de prazer. Suspirou, se virando na cama, sentindo a algema limitá-lo.
Não conseguia entender muito bem sua situação. Rufus gostava de rapazes, gostava de brinquedos sexuais e os trazia até onde ele situava ? aparentemente na base de um exército. Mas se deixavam ele fazer tudo aquilo, por que Cloud precisava ficar escondido em um quartinho trancado todo o tempo?
E por que ninguém sabia que ele estava ali? Será que não sabiam o que seu General fazia? Será que não permitiam tal situação por ali?
Bem, independente do que eles deixavam ou não, Cloud estava lá, e de lá não sairia tão cedo ? aparentemente.
Estava tão cansado que não demorou a cochilar, ouvindo o som do chuveiro e pensando que um banho também lhe cairia bem, afinal, fora nele que Rufus gozou ? e ele mesmo havia se sujado ao gozar em seu abdômen.
Porque mesmo que repudiasse aquilo, não conseguia simplesmente não sentir absolutamente nada. Desde o começo seu corpo reagira bem aos estímulos.
? Ei, Mattheo, está na hora de acordar, você já dormiu o suficiente e precisa voltar ao seu quarto ? Rufus dizia enquanto chacoalhava o jovem pelo ombro.
Desnorteado pelo sono, Cloud sentou-se na cama, observando tudo ao seu redor. Estava no quarto do General, onde estava quando dormira, e ele estava ao seu lado, acordando-o.
Coçou o pulso, sentindo que a algema não estava no local e bocejou.
? Vamos, preguiçoso, ou você quer me fazer um agrado antes de voltar para o quarto? ? questionou o loiro já abrindo o zíper da calça e se aproximando do rapaz, mas foi surpreendido por batidas na porta, logo seguido de uma voz grave e alta o chamando.
Soltando um muxoxo, Rufus fechou o zíper da calça e pegou o paletó que estava em uma poltrona, rumando à porta. Ele a abriu minimamente, deixando que a pessoa do lado de fora visse apenas ele, mantendo a cama e Cloud escondidos.
A pessoa disse algo sobre um alerta de intrusos em um portão interno, e sobre alguns soldados terem ido resolver o problema, mas não haverem retornado. Suspirando, Rufus disse que logo iria, que antes precisava terminar de se trocar e que eles poderiam agir sem ele por enquanto.
Assentindo, o homem se retirou, fazendo Rufus passar a mão pelos fios loiros, em sinal de impaciência. Ele voltou para perto de Cloud arrumando sua gravata.
? Parece que teremos que deixar o agrado para depois. Preciso resolver um assunto de emergência antes de sair em uma reunião com o Governador. Eu agradeceria se você agilizasse a sua ida até o seu quarto ? comentou Rufus distraído, vestindo sua abotoadura.
Cloud acenou positivamente, rastejando para fora da cama e se espreguiçando ao pisar no chão. Tinha a intenção de caminhar até onde Rufus mandara quando alguém bateu na porta.
Imediatamente ele parou, olhando indagador para o General. Rufus suspirou, pegando seu quepe e mandando o rapaz manter-se parado, o que ele obedeceu prontamente.
Ao abrir novamente a porta, o loiro deu de cara com um de seus principais homens, que lhe disse algo que fê-lo sair e fechar a porta, deixando Cloud lá, parado, olhando para a porta, indeciso sobre o que deveria fazer.
Dando de ombros, se sentou na cama, olhando distraído para o chão, esperando. Não sabia o que estava havendo, mas sabia que não devia desobedecer Rufus, e se ele dissera para ficar ali, então ele devia ficar ali quietinho, esperando.
E foi o que ele fez. Manteve-se ali por algum tempo, que ele foi incapaz de contar, até que o som de passos chegou aos seus ouvidos.
Levantando-se, esperou pacientemente a entrada de Rufus, mas, quando a porta foi aberta, foi surpreendido por três homens, que avançaram rapidamente em sua direção, amarrando-o e amordaçando-o. O mais forte deles pegou Cloud no colo e o jogou em seu ombro, como se ele fosse um saco de batatas, levando o rapaz para fora do quarto.
Cloud não conseguia falar, mas, antes de ter seus olhos cobertos, conseguiu ver que eles vestiam roupas como as de Rufus e Rude ? provavelmente o uniforme daquele exército.
Foi carregado como se sua vontade não significasse nada, ao som da conversa rápida e receosa deles, como se não pudessem ser descobertos.
A conversa e o andar acabaram pouco tempo depois, onde tudo o que Cloud ouviu foi o som de algo se movendo e seu corpo sentiu o impacto contra algo duro. Duas vozes diferentes das anteriores se pronunciaram, e logo a visão do rapaz foi liberada, assim como a mordaça foi retirada.
Ele estava em algo que parecia ser uma caixa metálica, acompanhado de três homens ? os três que haviam entrado no quarto do General ? que vestiam realmente um uniforme igual ao de Rufus. Olhou longamente para cada um dos três, que apenas fingiam que ele não estava ali.
? Onde eu estou? ? questionou fitando tudo ao seu redor.
? Em uma van ? respondeu o mais forte dos três.
? E por quê? ? indagou franzindo o cenho.
? Porque descobrimos recentemente que o Governo está preparando uma investigação na base do nosso exército, devido a uma denúncia de que comprávamos seres humanos traficados de outro países. Achávamos que era um absurdo, até alguém descobrir que o General mantinha alguém preso em seu quarto ? explicou o mais magro dos três.
? Ei, ele não devia saber desses detalhes! ? brigou o terceiro, um homem mais velho e careca.
? Por que não? Ele nunca mais nos verá mesmo ? disse o magro dando de ombros.
? E estão me sequestrando por quê? ? perguntou Cloud confuso.
? Para que nosso General não seja pego, claro. Ele seria expulso se fosse comprovado que ele compra pessoas traficadas ? respondeu o forte.
? Só precisamos nos livrarmos de você. Foi a oportunidade perfeita quando aquele cara apareceu na área Leste. Encontramos o lugar perfeito para te abandonar ? a voz zombeteira vinha de uma pequena janela que separava a cabine onde Cloud estava do local onde o motorista da van ficava.
Cloud não entendia o que estava acontecendo, mas preferiu ficar quieto. Talvez aquela fosse a chance de ele livrar-se daquela situação. A morte não seria uma recompensa tão ruim assim por sua liberdade. Afinal, há quanto tempo vivia daquele jeito? E por mais quanto tempo viveria?
Saiu de seus devaneios quando o automóvel chacoalhou, jogando-o no chão da van. Os homens com ele conversavam animadamente, como se Cloud sequer existisse, deixando o jovem cada vez mais apreensivo. O que fariam com ele? Por que haviam tirado ele do quarto do General?
O carro parou. O jovem, ainda confuso, tentou ver o que acontecia ao seu redor, mas foi em vão. O movimento dos homens era rápido e, no instante seguinte, cinco homens se reuniam na porta da van, que havia sido aberta por alguém pelo lado de fora. Os três que estavam com ele se aproximaram, pegando o rapaz, um pelos pés, o outro pelos ombros, e levando-o para fora, recebendo a ajuda dos outros dois.
O Strife foi jogado no chão de modo brutal, um dos homens chutou areia no rosto do rapaz. Cloud tossiu, sentindo as cordas prenderem-no fortemente.
? Está feito ? murmurou um homem gorducho, tragando um cigarro, enquanto olhava para o rapaz no chão com indiferença.
? Estamos bem longe da base ? comentou o forte, secando o suor invisível de sua testa.
? Era necessário que fosse longe o suficiente para que ninguém o achasse ? disse o quinto, aquela cuja voz Cloud já havia ouvido.
? E o que fazemos agora? ? questionou o magro, fitando o rapaz com repulsa.
? Voltamos para a base antes que alguém note nossa ausência ? disse o mais velho, se virando e indo na direção da van.
Consentindo, os outros três se viraram, caminhando para longe de Cloud, deixando ele lá. Apenas quem ficou foi o rapaz de voz zombeteira, que, aproximando-se do rapaz, ergueu seu rosto, beijando-o de modo luxurioso enquanto puxava de modo brutal os fios loiros do Strife.
Cloud foi jogado no chão como uma boneca de pano incapaz de se mover sozinha. Com os olhos semicerrados ele viu o homem entrar na van, e logo ela se afastava na direção de onde haviam vindo, levantando poeira e deixando claro para Cloud que ele estava sozinho a partir dali.
Agora sua situação era pior ou melhor? Não sabia dizer. Finalmente estava ali, solto, livre de sua prisão, e sem a obrigação de servir a um homem psicopata como Rufus.
Mas, conforme o tempo ia passando, Cloud viu que, na verdade, sua atual situação não era lá uma das melhores. O sol quente estava o deixando suado, e já sentia a garganta seca devido à sede. Tentou se mexer, soltar a corta ou se levantar, mas nada. Apenas conseguiu rolar pela areia, o que foi pior, porque ela estava quente e o deixou todo sujo.
Suspirando, pensou que talvez o problema fosse em si. Não possuía sorte, isso era evidente. Nem a morte o queria. Podia simplesmente acontecer de decidirem matá-lo, ou podiam ter jogado ele em algum lugar como o mar ? ao menos lá morreria mais rápido.
Mas não havia misericórdia para si. Nunca havia feito nada de mal, mas, mesmo assim, lá estava ele, pagando por seus pecados, sabendo que nada havia feito para merecer aquilo.
As lágrimas aos poucos começaram a escorrer, e foi nesse momento que decidiu deixar que o destino traçasse seu caminho. Se fosse morrer, ao menos que não sentisse dor ou não tivesse aqueles pensamentos tão pessimistas.
Aos poucos Cloud pegou no sono, encolhido contra a areia, suando e chorando.
? O que é aquilo?
? E você acha que eu sei?
? Não estava ali da última vez que passamos.
? Não devíamos ir até lá?
? Acho melhor não...
? Silêncio! Parem de murmurar entre si. E o que estão esperando para ver o que é? ? a voz irritada se fez soar, fazendo todos engolirem em seco e obedecerem à ordem dada.
Cloud ouviu vagamente vozes. Sua cabeça doía, seus olhos ardiam e seu corpo pesava. Onde estava? O que havia acontecido consigo?
Cenas vieram em sua mente em uma enxurrada forte, o fazendo se lembrar que havia sido jogado em algum lugar por homens do exército de Rufus.
Assustou-se ao sentir algo invadir sua boca, engasgando e tossindo o conteúdo na areia.
? Ei, não cuspa, beba. Você está horrível. É água ? a voz mandona voltou a soar, fazendo Cloud lembrar-se levemente de já tê-la ouvido.
Abriu os olhos com dificuldade, engolindo com certo receio o conteúdo colocado em sua boca, logo registrando mentalmente ser água.
Alguém havia encontrado ele. Havia uma esperança.
? Eu... E-E... Eu... ? Cloud tentou falar, olhando com certa dificuldade devido à luz do sol para o homem ali consigo, mas tudo o que viu foi cabelos azuis e um uniforme militar.
? Shii, acalme-se e fique quieto, estaremos te levando até a base o mais rápido possível, você está péssimo e precisa de cuidados médicos ? disse o homem, pegando o rapaz nos braços e levando-o até o jeep que havia perto deles.
O Strife se debateu um pouco nos braços dele, tentando resistir, mas não adiantou de nada: ele o levou até o carro e o deitou calmamente em algo confortável, ordenando que dirigissem rapidamente até a base.
Todo o caminhou Cloud sentiu que era amparado por aquele homem, sentindo até mesmo que podia confiar nele, mas sua mente dizia que não. Desde que conhecera Aerith seus sentidos não eram dos melhores, e aquele homem vestia um uniforme, e havia dito base, o que deixava bem claro que eles estavam voltando para o exército.
Reclamou mentalmente de sua sorte e deixou que o cansaço voltasse a reinar, não demorando a adormecer novamente. O homem até tentou mantê-lo acordado, dizendo que ele não podia dormir depois de tomar tanto sol porque podia ser fatal, mas Cloud não conseguia entender, muito menos obedecer.
? Ei, acorda ? alguém chamou, chacoalhando Cloud pelos ombros.
Em um sobressalto o rapaz se levantou, olhando e considerando tudo ao seu redor. A primeira coisa que viu foi o homem que havia o ajudado anteriormente.
? Quem... é você? ? perguntou Cloud um pouco desnorteado.
? Sou Zack. Preciso resolver algo, mas providenciarei que você seja cuidado pelo médico e alimentado ? disse ao se levantar e deixar o rapaz sozinho.
O Strife observou o enorme pátio onde estava. Era um jardim extenso e bem cuidado, com bancos de cimento, árvores e muitas flores, ficou ali, observando durante uns dez minutos, até um grupo de cinco soldados saírem do lugar que Zack entrara, caminhando na direção dele e parando em sua frente.
? Você é o rapaz que Zack achou na fronteira? ? perguntou um deles de modo debochado.
? S-Sim ? respondeu Cloud incerto. Então estava na fronteira?
? Bem, precisamos levá-lo para dentro do castelo, por ordem do Tenente-coronel. Se você puder fazer a gentileza de nos acompanhar ? disse outro sério, conseguindo que Cloud aceitasse sua exigência.
Acompanhando os cinco, Cloud foi levado por alguns corredores laterais até uma sala enorme e vazia. Os homens deixaram ele lá e saíram, trancando a porta, fazendo Cloud alarmar-se.
Havia sido enganado? Seria mantido em cativeiro?
Olhou ao redor, vendo tudo muito escuro. O que será que Rufus pretendia ao mantê-lo ali?
Repentinamente Cloud foi segurado por trás e teve seu corpo forçado a andar, sendo guiado até uma cadeira no centro do cômodo. Ao ser sentado, teve as cordas que o prendiam soltas, apenas para que seus braços e panturrilhas fossem presos à cadeira.
? Você parece bastante saudável para alguém que estava jogado no deserto ? murmurou uma voz nas sombras. O homem que prendera Cloud se afastou, sumindo em um canto escuro.
? Eu... ? o rapaz ia falar, mas parou ao sentir algo afiado ir contra seu braço.
Ao olhar para o lado, pôde constatar o machucado no local, ao mesmo tempo que pernas apareciam diante dele. Hesitou, mas conseguiu erguer a cabeça, apenas para ver um velho encará-lo com expressão sombria.
? Fale apenas quando eu perguntar. ? disse ele friamente. ? Entendeu? ? questionou batendo o chicote no chão.
? Si-Sim Senhor ? respondeu Cloud assustado.
? Quem é você? ? perguntou ele direto, não hesitando em segurar a ponta do chicote com a outra mão.
? Que-Quem eu sou? ? repetiu o Strife confuso. Crispando os lábios, o homem voltou a bater nele com o chicote, acertando seu peito e fazendo o rapaz engolir o gemido. ? Eu sou...
? Nem pense em mentir! ? grunhiu o velho, batendo mais duas vezes nele, dessa vez nas pernas.
? Eu sou... ? o rapaz não conseguiu evitar que lágrimas se formassem em seus olhos.
Sim, quem ele era? Era aquele brinquedo sexual, obediente, medroso e repugnante? Era Mattheo, o patético? Ou era Cloud Strife, o rapaz firme e decidido, que possuía punho firme e responsabilidades?
Cloud franziu o cenho. Não, não voltaria a ser Mattheo, nunca mais! Não voltaria a ser submisso a Rufus, não desejaria a morte por temer a vida! Viver e passaria por cima do medo, das dores ou do sofrimento.
Procuraria a felicidade.
E for por isso que, sem pensar duas vezes, ergueu o rosto. Seus olhos recuperando o brilho de antes de ele conhecer Aerith, e a voz voltando a ser firme.
? Não direi quem sou ? ditou, alto e claro, vendo a surpresa passar na expressão do homem por alguns segundos.
? Como ousa... ? murmurou ele entredentes, apertando firmemente a arma em seu punho. ? Repita! ? desafiou, erguendo o braço onde o chicote estava.
? Não. Direi. Meu. Nome ? Cloud sibilou com todas as letras.
Sorriu para si mesmo, sentindo uma satisfação imensa invadir seu interior. Não havia mais medo ou sofrimento, apenas a sensação de vida, de adrenalina, aquele palpitar no peito que faz o sangue correr livremente.
E Cloud aguentou firme as próximas chibatadas. E a cada pergunta que o homem fazia, uma negação vinha de Cloud. Ele recebeu diversas chicotadas nas costas, no peito e nos braços, chegando a deixar que algumas lágrimas escorressem de seus olhos ao recebê-las nas mãos, mas não se deixou abater.
E toda aquela firmeza durou por quase uma hora, onde da testa do Senhor, fios de suor escorriam. Ele praguejou algo, preparando-se para dar o próximo golpe, enquanto Cloud fechava os olhos para recebê-lo, quando o som de uma porta se abrindo invadiu o local.
? Pare imediatamente! O General solicita a presença dele em seu quarto agora! ? avisou o homem forte que havia aberto a porta, caminhando rapidamente até o rapaz.
Cloud sentiu um gelo descer por sua garganta na menção do termo General, mas, daquela vez, não seria Mattheo que Rufus encontraria, e sim Cloud Strife, um homem decidido a morrer por seu orgulho.
Cloud se surpreendeu quando Sephiroth se levantou de súbito, rumando até a porta do quarto. Exasperado, o rapaz correu para a frente da porta, tentando deter o líder de sair dali.
? O que foi, Sephiroth? ? perguntou, recebendo os olhos verdes, que brilhavam em fúria, sobre si.
? Vou matar aquele desgraçado agora! ? grunhiu o General, segurando Cloud pelos ombros e o tirando de sua frente.
? Não, Sephiroth, espera! ? o rapaz tentava, a todo custo, detê-lo. ? Ele não teve culpa!
? Como não? Por que te tratou daquele modo se nem sabia quem você era? ? questionou ele perplexo.
? Ele estava sob ordens de Reno! ? contou Cloud, sentindo o aperto em seu ombro diminuir. ? Reno havia ordenado que ele me interrogasse daquela forma. Ele não sabia de nada. Tanto que se horrorizou quando Cid informou que eu havia sido encontrado na fronteira ? conforme Cloud ia explicando, Sephiroth ia se acalmando.
? Aquele filho da puta! ? murmurou o General, se virando e voltando para a cama.
? Está tudo bem, acabou ? Cloud disse amavelmente, se deitando ao lado do líder na cama e apoiando a cabeça em seu peito.
? Mas você não precisava passar por aquilo ? resmungou o líder, olhando para o lado.
Pegando o rosto de Sephiroth com as duas mãos, Cloud selou os lábios em um beijo carinhoso, rindo ao sentir as mãos grandes deslizarem por suas costas, de cima para baixo.
? Tudo está resolvido. Reno e Rufus foram punidos e nada pode nos separar ? disse sorrindo calmamente, deslizando os narizes em um beijo esquimó.
? Você é o meu sol, Cloud. ? comentou o General repentinamente, surpreendendo o rapaz. ? Ter você ao meu lado é a melhor coisa que já me aconteceu. Você promete que ficará comigo para sempre? ? perguntou acariciando o rosto dele carinhosamente.
Cloud riu envergonhado, colocando sua mão sobre a do General e a pegando, a levando até seus lábios e beijando a palma levemente, repetindo o gesto várias vezes enquanto lágrimas de emoção escorriam de seu rosto.
? Não posso dizer para sempre, porque é muito tempo, mas posso dizer que, enquanto você permitir que eu fique ao seu lado, eu estarei aqui. Você é a minha lua, Sephiroth, e me completa perfeitamente ? comentou rindo, sendo acompanhado pelo mais velho.
Sephiroth secou lentamente cada uma das lágrimas que escorreram pelo rosto de seu amado Cloud, sorrindo satisfeito por ter aquele homem tão bom e gentil ao seu lado. Deslizou o polegar sensualmente pelo lábio inferior dele, se inclinando sobre o corpo magro e tomando os lábios suculentos com os seus quando, rindo, Cloud mordeu seu polegar, o atiçando.