Nosso ritmo era constante e rápido, estava claro que o incidente da noite anterior havia afetado nós dois, mas eu duvidava que ele se sentisse como eu me sentia. Mantendo-me inexpressiva e impossível de ser rastreada, continuei minha marcha, ao lado de Deidara que, por incrível que pareça, se mostrava inexpressivo.
Meus pensamentos voltaram-se para dentro de mim, perguntando-me quem eu realmente era. Seria eu, aquela garotinha mimada e fraca, ou esta assassina sem coração? Talvez eu não seja nenhuma das duas. Talvez eu nem saiba quem sou, depois de tantos anos.
Deidara parou novamente para rastrear a área à procura de shinobis. Como estávamos muito próximos de Iwa, não seria bom para a Akatsuki que seus membros fossem encontrados em tal estado.
Eu meramente estava com meu corpo ali, dentro de mim eu procurava algo que pudesse me dizer o que ou quem eu era, pois eu não mais me reconhecia. E então aconteceu.
Um enxame de senbons envenenados estava vindo diretamente em minha direção, eu fui tola em ter deixado minha guarda baixa, e agora arcaria com as conseqüências. Calculei minhas chances: eram 12 senbons, sentindo a fragrância, posso dizer que é o mesmo veneno que Sasori usa para matar. Não há tempo de fazer um jutsu de reposição e não há tempo de jogar kunais bloqueando os senbons.
Resumindo, estou frita.
O veneno penetraria no meu sistema, em corpos normais ele mataria em três minutos, mas como sou uma médica-nin, meu organismo lutará contra o veneno e demorará cerca de...dezenove minutos para minha morte.
Ótimo, agora já estou pensando na minha morte.
O tempo pareceu ir mais devagar, mas de pouco em pouco fui aceitando meu destino. Até que algo me puxou pra trás e eu pude ouvir o som de metal se chocando contra metal.
? Não baixe a guarda em território inimigo, Sakura, un. Olhei para ele surpresa durante alguns segundos, ele me olhava com uma expressão que dizia: 'se ajoelhe e me proclame seu rei'. Algo dentro de mim começou a borbulhar, algo que eu não sentia há muito tempo, uma coisa lacrada. E então ela se soltou.
Sorri docemente para ele e me aproximei mais, colando nossos corpos. Aproximei minha boca de sua orelha, lentamente, deixando meu hálito quente bater livremente no pescoço dele.
Pego de surpresa e, mesmo sendo um shinobi, não deixando de ser um homem (A/N: Ah, que orgulho de ser mulher 8D ), ele deixou sua guarda baixar. Passei meu braço por seu peito ainda desnudo e fui descendo, até que cheguei em contato com sua calça e...nesse momento um jato de sangue espirrou sobre nós dois, atrás de Deidara um ninja segurava uma kunai a meros cinco centímetros do Akatsuki.
? Não baixe a guarda em território inimigo, Deidara.
E então fomos separados por nossas lutas individuais, vez ou outra matávamos o oponente do outro e sorríamos satisfeitos, até o outro matar um dos nossos.
No fim, apenas nós dois restamos em pé e intactos na, mais nova, clareira. No chão havia apenas muito sangue, corpos espalhados, troncos destroçados de árvores e alguns buracos.
Encarávamos-nos sem piscar, esse podia ser um concurso para ver quem pisca antes, mas isso era algo muito além disso. Podia sentir a inquietação dele, mas eu não queria senti-la, pois mal conseguia lidar com a minha própria.
Ainda sem quebrar contato com ele, dei três passos para frente. Passos seguros, sem medo algum de alguém como ele.
Sem medo de um Akatsuki.
? Então isso era um teste. Afirmei, odiando cada minuto disso. Odiava ser testava, odiava ter minha força questionada, e mais...Odiava ser feita de boba.
? Na verdade ainda temos a missão real, un. Ele disse com aquele sorriso bobo metido.
? Mas eu ainda estava sendo testada. Disse, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
? Na verdade o teste ainda não começou, yeah. Nisso ele tirou mais argila do bolso e colocou naquelas bocas das mãos bizarras dele.
? Vai querer lutar comigo? Ri internamente, talvez o sangue de um Akatsuki como o Deidara fosse mais bem tratado do que o sangue de alguém como o Sasori.
? A luta já começou, yeah. E então o Deidara que até então estava na minha frente virou terra.
Doton Bunshin no Jutsu, tão previsível pra um ninja vindo de Iwa.
Melhor você se concentrar na batalha
Mesmo antes de procurar por sinais do chakra dele, eu já sabia onde ele estava. Com um movimento de punho criei uma grande cratera no chão expondo assim o ninja de Iwa.
Reapareci rapidamente atrás dele, mas ele já sabia disso. Com uma reposição ele jogou aqueles pássaros de argilas estranhos sobre mim.
? Arte é um bang, yeah! Vou te mostrar a minha arte, un! KATSU! Formando um in nas mãos ele fez com que todos aqueles pássaros explodissem, aumentando ainda mais a cratera.
Satisfeito com sua arte e consigo mesmo, deu um sorriso maroto e parou ao sentir uma kunai no pescoço.
? Quer que eu te mostre a minha arte? Novamente era um clone e eu estava ficando cansada desses seus joguinhos. Deixei propositalmente minha guarda baixar e ele não perdeu a oportunidade. Com uma escultura em mãos e uma kunai em outra ele apareceu atrás de mim.
? Game over, ye... Mal podendo terminar sua saudação, ele grunhiu em choque. Minha espada estava cravada em seu abdômen e sangue escorria livremente pelo ferimento feito.
? Acho que isso é game over pra você. Retirei a espada de seu abdômen e o vi cair no chão, de sua boca sangue saia também.
Talvez eu tenha pegado um pouco pesado demais.
Pensei enquanto o via se retorcer no chão, com as mãos sob seu abdômen e gritando profanações contra minha pessoa.
Oh, eu não conhecia aquela!
Ignorei a Inner e pensei se eu devia ou não liberar enfim o genjutsu, ele não ficaria feliz em saber que tudo, desde o começo de nossa 'luta' foi um mero genjutsu.
Foi um bom trabalho.
Não posso deixar de concordar com a Inner, tenho certeza que até o Uchiha se orgulharia.
Não é pra tanto.
Duas horas e meia depois, eu finalmente decidi que já era o suficiente o genjutsu. Quando o livrei da ilusão ele não fez nada mais do que respirar com dificuldade no chão, eu podia sentir sua atmosfera de alivio e isso era meio engraçado.
Quando ele pôde se levantar, ele me olhou fixamente nos olhos, não havia ódio ou rancor naqueles orbes azuis, mas sim curiosidade além de alguns outros sentimentos que alguém como nós, Akatsuki, não devemos ter.
? O que era aquilo, un? Ele perguntou quando finalmente armamos um acampamento próximo de Iwa.
? Um genjutsu. Disse com indiferença como se ele fosse a pessoa mais burra do mundo. Nem sequer fiz questão de olhar para ele, apenas continuei comendo meu peixe.
Ele grunhiu baixo e pude sentir seu olhar fixo sobre mim.
? Que tipo de genjutsu? Pude sentir o medo dele por trás de suas palavras e me forcei a parar de comer. Algo de mim se sentia mal por estar fazendo-o se sentir dessa maneira, mas, relembrei a mim mesma, eu sou uma nukenin, uma kunoichi sem sentimentos e sem emoções que mata sem rancor.
Sem culpa.
Eu não podia deixar de sentir culpar, então olhei para ele, fixando novamente nossos olhares.
? O que há, Deidara? É um simples genjutsu. Eu disse, embora encobrisse que era um dos melhores genjutsus que eu já havia criado.
? É... É... Ele tentou falar diversas vezes, mas nada saía. Depois de alguns minutos desistiu e jogou o resto de seu jantar no fogo, se oferecendo para tomar a primeira vigilância.
Deitei no meu saco de dormir e fechei os olhos, meu corpo estava cansado e necessitava de sono e descanso, porém minha mente não parava de trabalhar e milhares de vezes, voltava-se para o shinobi nem alguns metros longe de mim.
Depois de me virar pela, se não contei errado, qüinquagésima vez em menos de dez minutos, me levantei e meus pés me levaram até ele. O olhei por alguns instantes, incerta do que fazer.
? Não gosto que as pessoas me espiem, un. Ele falou, sem olhar para mim e recebi isso como um convite. Andei até onde ele estava deitado e me deitei ao seu lado.
? Noite linda, não? Tentei começar com a primeira coisa que me veio em mente, não pude impedir-me de falar isso.
Parabéns, Sakura, muito bom. Grande Progresso.
Estar levando lição de moral da sua própria Inner é pedir pra se internar, mas eu simplesmente ignorei isso, novamente, e tentei me focar no brilho das estrelas.
? Sim, un. As estrelas aqui têm um brilho diferente, yeah. Ele ser tão aberto comigo me pegou desprevenida. Pensei que aquela demonstração na janta deixasse claro que ele não confiava em mim, parece que talvez eu estivesse enganada.
? Que tipo de brilho? Perguntei desviando meu olhar do céu para o dele. Lutei bravamente para não corar ao vê-lo fitando-me com algo tão...doce e ao mesmo tempo tão...azedo em seus olhos.
? Este era o lugar onde ficava minha casa, un. Um dia esse foi o lugar ao qual pude chamar de 'lar'. E, quando venho aqui, reencontro minhas dores, meus fantasmas. Mas, dessa vez...eu encontrei outra coisa... Ele não terminou a frase, seus olhos voltaram a focar-se nas estrelas, mas antes que isso me ocorresse pude ver um brilho estranho por trás deles, um brilho que eu me lembrava vagamente de já ter visto em algum lugar.
? E o que você encontrou? Perguntei deixando pela primeira vez em tempos a curiosidade tomar conta de mim.
Ele não me respondeu. Continuou encarando as estrelas, mas eu não tinha mais interesse nelas. Eu continuava o encarando e cada vez mais o achava mais e mais bonito.
Ele tornou a virar seu rosto, e o aproximou do meu, nossos lábios roçando, fazendo com que nossos hálitos se conectassem no meio dessa estranha ligação.
? Você. Foi o que ele disse antes de tomar meus lábios aos seus em um beijo que transbordava sentimentos. Eu havia me tornado alguém incapaz de sentir, então porque eu me sentia consumida por ele? Apaguei esses pensamentos, guardando-os na 'lixeira' para ver depois, e apenas agi.
Ele estava fazendo algo impossível comigo...
Ele estava recriando um coração inexistente.
((xoxXOXOxox))
Tudo ficaria bem se um par de orbes vermelhos sangue não observassem a cena rodeados de uma aura nada...digamos, amigável.
O que ele está fazendo com ela? Por que eu sequer me importo? O que estou pensando?
Você a quer?
Eu...
Você a quer, não é?
...
Você é um Uchiha...e...
Um Uchiha sempre consegue o que ele quer.
Haruno Sakura será minha.