Agora eu era uma Oinin, uma ninja de elite. Ninguém que tivesse inteligência questionaria minha força. Nunca mais ouviria a palavra fraca dirigida a minha pessoa, a não ser que quem a proferiu desejasse a morte ou, pior, tortura.
Todos aqueles sentimentos que um dia demonstrei tão livremente desapareceram. Eu era uma ninja de elite agora, uma rastreadora de nukenins.
Eu estava atrás da Akatsuki, meu alvo? Itachi Uchiha.
Como o destino prega peças, não? Anos antes eu choramingava pelo irmão mais novo dele, irmão que ele abandonou, que ele assombrou todos os anos depois de ter matado a todos de seu clã, exceto ele. Irmão pelo qual chorei, implorei para que não partisse. Irmão que traiu Konoha e agora também estava sendo caçado. Irmão que eu aprendi a odiar.
Traidor.
Essa palavra nunca deveria estar relacionada com um dos maiores clãs do mundo shinobi. Mas, o destino prega peças, não é mesmo? E o papel de comediante nesse espetáculo era o meu: estar caçando o demônio de Sasuke.
Desde que Sasuke nos abandonou, desde que todas nossas tentativas de trazê-lo de volta para casa fracassaram e só nos causaram mais dor, eu cheguei a um veredicto: eu desisti do Uchiha mais novo.
Eu me lembro bem quando este dia chegou. Nós tínhamos mais uma missão para tentar trazer Sasuke de volta, quando nos encontramos novamente, ele nos causou dor. Foi então que alguma coisa desmoronou dentro de mim. Toda a compaixão, todos os sentimentos de amor, de dor, tudo...desapareceu. Quando voltamos à Konoha, eu fui mandada diretamente para o hospital. Meu estado físico era impecável, mas eu não respondia mais para o mundo, eu era um zumbi, um robô.
Tsunade-shishou continuou me treinando, meu horário havia estado mais apertado do que nunca. De manhã bem cedo, por volta das 5 horas, treinamento individual, o qual Tsunade e nem ninguém tinha conhecimento, pelas 9 era a sessão de terapia, que embora eu viesse fazendo todo dia ainda não tinha dado efeito algum, já que eu não falava nada. Depois da sessão de uma hora eu me encaminhava para meu turno no hospital e ficava lá até as 19 horas, então eu ia treinar com a Shishou durante 3 horas, para depois voltar para casa e dormir até o dia seguinte, em que tudo começava novamente.
Isso se repetiu durante 2 anos, até que a sessão de terapia foi substituída por mais uma hora de treinamento. Neste ano eu me tornei jounin. Fui convocada quase que imediatamente para a elite ANBU e, devido ao meu conhecimento no corpo humano, minha inteligência e minha eficácia no controle do chakra, fui escalada como Oinin.
Nos últimos anos fui me tornando fria, inexpressiva, de certa forma incapaz de demonstrar meus sentimentos. Eu havia me tornado a shinobi perfeita, a máquina de matar.
Meus laços com Naruto e Kakashi se tornaram quase nulos, a ponto de meu querido companheiro de equipe esquecer de me convidar para seu casamento. Mero detalhe. E se eu fiquei chateada ou brava? Sim...foi naquele dia que a segunda parte de mim quebrou.
Eu não fiquei triste quando Naruto não me contou que Hinata estava esperando um filho dele, nem mesmo quando ele festejou com os amigos a declaração de que Tsunade havia indicado ele como próximo Hokage.
Não...eu não me importei muito. O que fez a terceira parte de meu coração quebrar foi quando eu fui parabenizá-lo e ele ficou me fitando até que me perguntou:
- Quem é você?
O sorriso falso que traçava meus lábios desapareceu no mesmo instante e a sala ficou quieta. Hinata veio ao lado de Naruto e sorriu timidamente para mim.
- Oi Sakura-san.
Nunca me esquecerei da expressão de dor que Naruto fez ao perceber a mancada que havia dado, até mesmo Kakashi veio ficar ao lado dele. E eu vi ali, naquele ato em que nosso antigo sensei colocou a mão sob o ombro de Naruto, que eu nunca fui nada além de um incômodo para todos eles.
- Sakura...eu... Naruto ainda tentou remediar suas palavras, e eu ri internamente, ri da dor que eu podia ver em seus olhos, e dei gargalhadas histéricas por poder vê-lo sofrer.
- Adeus, Naruto.
E eu nunca mais falei com ele, nem sequer o vi. Minha carreira ninja como oinin era solitária. A missão que eu recebia devia ser cumprida, independente do tempo que levasse, e eu não receberia outra missão antes de completá-la. É óbvio que volta ou outra algum nukenin aparecia na minha frente e eu o matava, mas não era realmente a minha missão.
Escolher o Uchiha como missão foi, para não dizer outras coisas, prazeroso.
Eu não posso negar que eu havia me tornado um pouco sádica, ver a dor alheia me fazia bem e eu não podia, nem queria negar. No mundo shinobi eu comecei a ser temida, e minha fama se espalhava aos quatro ventos.
Uma vez refutado seu coração, não tem volta.
E eu não queria voltar atrás.
Pensando seriamente, acho que compreendo o que o Uchiha quis fazer matando seu clã. Ele se livrou das pedras no seu caminho, dos laços que traziam fraqueza para ele. Ele se livrou do lixo de uma maneira que, mesmo mudada, eu não conseguiria fazer.
Eu o invejava.
Nunca admitiria, mas ele é muito melhor que eu.
- Mais um ponto para caçá-lo.
A Inner mais uma vez tinha razão, e minha busca incessante pelo Uchiha só acabaria com ele ou comigo mortos. Nunca me imaginei com tanta fome de poder, realmente não podia culpar esses nukenins.
O poder era como uma droga que no momento em que você experimenta, é impossível parar.
Minha ambição chegou a tal ponto que quando meu ex-sensei veio conversar comigo, alguns dias depois do incidente com o Naruto, eu quase o matei.
Nunca pensei que derrotar alguém que um dia você amou fosse tão...doce.
Ver o sangue de Kakashi cair de minhas mãos me deu uma nostalgia tão grande que eu me senti impulsionada a ir matar o Naruto. Foi nesse dia que Shishou me deu o Uchiha como alvo e, talvez, ela estivesse com medo de mim.
Mas, chega de lembranças. Melhor nos focarmos no presente, em minha caça ao Uchiha que, esperançosamente (mesmo que eu não mais saiba o que quer dizer essa palavra), acabará logo.
Tudo indica que eles estiveram em Iwagakure nem dois dias atrás. Que interessante escolha, principalmente para o Uchiha. Eu até entenderia se Deidara estivesse junto, já que a vila é sua terra-natal, mas todos os indício apontam para que só haviam dois shinobis e, se o Uchiha era um deles, só sobra seu par, Kisame.
Não sou muito bem conhecida por espionagem, Ibiki, um de meus senseis, disse-me que eu deveria ser interrogadora, mas eu não iria desistir de minha liberdade assim tão facilmente.
Eu me tornei um peixe muito grande para Konoha me alojar, e Tsunade confirmou isso me mandando em busca do Uchiha. É engraçado pensar que fazem 4 anos que não boto meus pés em Konoha. Não sou uma nukenin, pois me comunico mensalmente com Tsunade, mas não me vejo mais como parte de Konoha.
Para mim aquela vila é só uma qualquer, ou melhor, uma que guarda lembranças demais e deve ser destruída.
Talvez eu deva repensar na proposta feita, não muitos dias atrás, pelo líder da Akatsuki. Capturar e matar Naruto seriam coisas extraordinariamente divertidas. Além de que, eles necessitam de shinobis, já que Kakuzu, Hidan e Zetsu (morto por mim em nosso último encontro) foram mortos. Ah, é claro que não posso me esquecer do boneco ambulante, Sasori. A Akatsuki está falindo, que coisa mais hilária para se dizer.
Quem sabe o Uchiha possa me ensinar mais coisas do que eu possa esperar? Talvez a oportunidade de adentrar na Akatsuki não seja tão hedionda assim e, já que sou uma oinin, tenho mais experiência com o jeito que um nukenin deve viver para não ser descoberto.
Talvez este seja um ótimo plano.
- Sim, ele é.
É hora de ser mais forte que qualquer ninja de Konoha, é hora de esfregar na cara de todos que já me machucaram que eles não são nada para mim, a não ser um ótimo exercício.
Sorrindo, vitoriosa, me decidi.
Konoha, Adeus.
Akatsuki, Bem-vinda à minha vida.