Salgado...É o gosto que impregna a minha boca, porém não é a água do mar. São lágrimas...Mas de quem? Faz duas
horas que vago pelas areias desta praia, aparentemente infinitas. È quase noite, e na melancolia inexplicável
que dela sinto, ouço um choro. Será que é o mar? Não é apenas o mar. Desespero, dor, melancolia, todos reunidos em
um coro uníssono chamando por ajuda. De quem é o choro? Estou impotente, sinto o sussurro que das águas provém,
elas suplicam por minha ajuda. Eu respondo " perdoe-me, pois nada posso fazer". Olho para o ceú, refletindo...Logo
o sol ressurgirá, iluminando essa praia, e devolverá o brilho às suas areias, e, junto com o canto dos passáros,
restaurará o domínio da luz. Crianças que brincavam até sua eventual exaustão, voltarão revitalizadas pelo brilho
da manhã. A tarde virá, e a vida torna-se mais demorada, e com ela a fadiga de nossos corpos. Por mais grande que
seja a alma, sucumbe ela ao fim de nossa vitalidade, que se dissipa como a luz lentamente dominada pelo
crepúsculo...Anoitece, e a morte vem aos nossos olhos, consolidando-se o reino de trevas. Retornam as crianças aos
seus respectivos lares, retorna a dor e a melancolia. Em apenas um dia, a vida se resume: Na inocência das crianças
que saem para brincar; na água já avermelhada pelo entardecer, certo sentimento de saudade; e na noite, o
arrependimento. Um ciclo eterno. Porque a tristeza? Essa sensação que esvazia a alma e atormenta? Penso novamente
no salgado sabor. Serão as minhas lágrimas? Ou será o mar, eminente receptor de nossas tristezas, única companhia,
por vezes, de nossas crises existenciais. Penso, e logo encontro a resposta: Essas lágrimas são de todos, todos que
recorreram a esse infinito azul, todos que foram gentilmente acolhidos pelo gentil afago das ondas, junto com o
canto arrastado e calmante dele. Já é tarde, devo retornar, pois logo anoitecerá...