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Parte 2 ? a garota que nós queremos...
? Por Paola Tchébrikov
Não pode andar no sol? Tem medo de alho e cruz? Morre ao ser atacado com uma estaca de madeira?
Quem havia criado aqueles boatos bobos? Desde quando alguém imortal iria morrer com coisas como o sol, estaca ou ferir-se com cruzes? Chegava a ser infame. O ponto fraco daquelas criaturas era algo que estava além das mãos e do conhecimento humano...
Um beco escuro sempre foi alvo de especulações e desconfianças. As pessoas teimam com coisas que tenham em si a escuridão. Mas é típico, afinal, eles são feitos de luz. A luz repudia a sombra, então, basicamente, tudo o que não é luz não é bom.
Todos evitavam aquele beco.
Aliás, principalmente de noite.
Mas havia aqueles que não sabiam das fofocas e especulações.
Todos os turistas eram desinformados, mas nem era culpa deles.
Annabelle era a mais tola de todos.
Depois da tarde na presença daquele homem belo, mas estranho, ela passara o dia em seu quarto no hotel, mas, à noite, foi a uma boate badalada e chique, para divertir-se.
Como era de praxe a jovens como ela, não ficou muito, saindo mais ou menos às onze horas e imaginando que cortar caminho pelo beco diante da boate seria mais fácil do que dar a volta no quarteirão.
Era verdade que era mais fácil, mas o beco não ficava ali sem motivos.
Quando ela pisou naquele corredor longo e estreito, havia marcado seu fim.
Ele, Sir Antonny Howard Grimhow Terceiro, estava observando-a desde que pôs seus olhos sobre ela. Várias vezes durante a conversa entre eles sua maior vontade fora de enfiar suas presas no pescoço fino e longo, sentindo a pele morna e macia tornar-se fria e morta diante de seus olhos, ao toque de suas mãos e por culpa de sua sede.
Ele era o que todos chamavam de monstro, vampiro. Bobagem, era apenas um ser da noite, que se alimenta de sangue e oferece carne dos vivos aos deuses.
Tirando a última parte, o resto era verdade.
Passou a língua nos lábios ao observar o corpo esbelto caminhar rapidamente, passando da marca do meio do beco e chegando à área dele. Mas algo inesperado aconteceu.
Annabelle, que caminhava com pressa, prendeu o salto em um buraco e caiu, arranhando os joelhos e as palmas das mãos, obviamente sangrando.
Ela resmungou um muxoxo baixo e sentou-se, encarando o rasgo que havia ficado no vestido na área do joelho machucado. Bem, o vestido podia ser substituído, mas se seu empresário visse aquele machucado ficaria louco.
Riu ao pensar na expressão dele, mas tão rápido quanto a risada veio, foi embora. No instante em que ela levantou os olhos foi surpreendida por duas esferas escarlates muito próximas, que fitavam-na fixamente.
? O-O quê? ? tentou falar, com medo. Aquilo na sombra era um animal ou um homem?
Bem, nenhuma das respostas estava certa. E quando ele avançou sobre ela, pressionando-a contra o chão com seu corpo e segurando seu rosto, virando-o de lado para lamber a pele de seu pescoço e mordê-lo, Annabelle desesperou-se.
Debateu-se, mas foi inútil. Só conseguiu excitar-lhe a sede ainda mais. Quando ela aquietou-se, o vampiro liberou seu rosto, deixando de morder no pescoço para morder no colo, sugando avidamente o sangue dela.
Estava escuro, mas, ao forçar as vistas, Annabelle conseguiu ver os fios encaracolados, assim como a luz fraca do poste deixou a cor da pele visível.
? O que você é... O cara da lanchonete... Você é... ? ele tentava dizer, mas sentia-se levemente tonta.
O retirar rápido de seu sangue afetara seu corpo em segundos, e em poucos minutos ela nem possuía forças para manter os olhos abertos e o rosto erguido. Ele caiu para o lado junto aos olhos, que fecharam-se.
E o vampiro continuava a sugar-lhe o sangue, independentemente do que aconteceria a ela.
A verdade era que ele podia se saciar e deixá-la ir embora, apagando sua memória, mas qual era a graça? Ver a humana morrer por suas mãos era excitante, aliás, matar um ser humano era um espetáculo belíssimo demais para ser ignorado.
E foi por isso que, mesmo quando já estava difícil sugar o sangue, ele continuou, sorrindo para si mesmo diante de seu feito. Ouviu o último suspirar dela com sua audição muito melhor do que de qualquer humano e afastou-se dela, levantando-se.
Limpou os lábios com as costas das mãos e virou-se, um sorriso satisfeito pintando em seus lábios. Caminhou para fora do beco, ficando diante da boate, de onde um som alto saía e esperou.
Esperou, esperou, esperou, suspirou, deu meia volta e voltou ao beco.
Ao observar o corpo inerte diante de si, acendeu um cigarro, assoprando. Ela era bela como humana, como será que ficaria como um vampiro? Quer dizer, não poderia transformá-la de imediato em algo grandioso, mas uma transmutada era o suficiente naquele momento.
Bastaria alimentá-la regularmente com seu sangue para que ela pudesse ter poderes.
Agachando-se, levantou o vestido cor púrpura até a altura da cintura e pegou um estilete no bolso interno do paletó. Rapidamente fez o círculo, cortando a pele da coxa fina com precisão e desenhou o pentagrama, colocando suas iniciais dentro dele e fazendo um corte na altura de seu pulso, fazendo seu sangue jorrar sobre a marca no corpo dela.
O sangue carmesim escorreu até o desenho feito, penetrando nele e sumindo, deixando para trás apenas sua cor a dar forma ao machucado. Erguendo-se, o vampiro encostou-se na parede e pôs-se a esperar. Apenas ela poderia aceitar a transformação, quer dizer, seu corpo e subconsciente.
E foi com satisfação que ele viu, depois de alguns minutos de espera, o corpo dela voltar lentamente à cor que antes possuía. As bochechas tornaram-se rubras, ao redor dos lábios o tom azul de morte sumiu e a pele antes acinzentada ia ficando da cor do leite.
Estava tão extasiado por ter, pela primeira vez, criado um fantoche, que não notou quando ela remexeu-se incomodada, como se houvesse dormido por uma eternidade na mesma posição ? na verdade ela havia morrido e sido ressuscitada em menos de uma hora.
Mas o vampiro viu quando os olhos dela se abriram, revelando não só belas esferas vermelhas, mas também a suave presença de outro ser de sua espécie.